Capítulo 5
ELIZABETH BIANCHI
As semanas passaram voando. Foi surpreendente como estar de volta a empresa ajudou a não sentir o tempo passar. Infelizmente eu não podia dizer o mesmo do segurança.
Cris tornava os meus dias difíceis. Era impossível que ele passasse despercebido. O homem era uma sombra, e tudo bem, eu o tinha contratado para isso, mas ele fazia questão de me criticar a cada minuto do dia.
Em meio às reuniões eu conseguia sentir seu olhar me queimando. Isso quando ele não fazia caretas com minhas falas ou escolhas, até mesmo o que eu comia o homem conseguia criticar.
Mas infelizmente eu estava pagando por minhas escolhas, eu escolhi ter o melhor para minha proteção e se isso significava ter que aguentar aquele homem insuportável eu ia aprender a lidar com isso.
— Bom dia, senhora. — A voz de Emily me alcançou assim que entrei na cozinha.
— Bom dia, Emily. Aconteceu alguma coisa para o café não estar na varanda? — O dia estava maravilhoso, não havia nem sequer uma nuvem para atrapalhar meu momento de paz ao ar livre.
Era sábado de manhã e eu gostava de tomar meu café em paz na varanda, mas quando passei na área não havia nem sinal do café da manhã.
— Sim, nós temos seu primeiro treino agora pela manhã e a última coisa que queremos é que passe mal depois de comer e ir treinar. — Cris surgiu atrás de mim atraindo minha atenção. O habitual sorriso estampado nos lábios enquanto ele caminhava até a geladeira e tirava uma garrafa de lá. — Bom dia, senhora, esse é o seu café.
— O que? Quem você pensa que é para dizer o que eu vou comer ou não? Posso fazer esse treino estúpido depois, mas não vou tomar um shake ridículo só porque você quer! — bradei fechando as mãos em punho e me segurando para não socar o idiota. Só o que me faltava agora era ele querendo controlar a minha alimentação.
— Isso não é um shake, mas sim uma vitamina especial que eu faço, tem tudo o que você precisa para te saciar e dar energia durante o treino — ele insistiu empurrando a garrafa na bancada à minha frente. — Quando eu terminar com você pode comer o que quiser.
Eu engoli em seco com aquelas palavras de duplo sentido e desviei os olhos para a mão dele segurando a vitamina.
Cris tinha essa coisa de soltar frases duvidosas, que me deixavam totalmente desconcertada e sem saber como reagir. Eu estava começando a achar que ele fazia isso de propósito, para me desestabilizar e ganhar em uma discussão.
Peguei o frasco da sua mão com brutalidade e a contra gosto, mas não consegui deixar de notar o sorrisinho que ele trocou com Emily.
— Vamos logo com isso antes que eu me arrependa e desista!
— Você não vai se arrepender, eu prometo! — ele afirmou saindo a minha frente e me guiando até onde queria que treinássemos.
Eu ainda não acreditava que tinha concordado com aquilo, mas aprender a me defender seria uma boa, especialmente quando a polícia se mostrava inútil em encontrar o desgraçado.
Levei a maldita vitamina a boca, dando de cara com um canudo de metal que me fez erguer os olhos e encarar as costas do homem que caminhava na minha frente.
Emily deve ter colocado, porque eu me recusava a acreditar que Cris notou que eu preferia tomar todas as bebidas geladas com um canudo, seria atencioso demais de sua parte. Sem falar no quão impossível seria, afinal ele era um homem e esses seres não se atentam a detalhes.
Mas quando eu engoli o liquido fui surpreendida mais uma vez com o sabor. Me obriguei a encarar a garrafa, me perguntando se ele não teria comprado aquilo em algum lugar, porque era deliciosa demais para que aquele brutamontes tivesse feito.
— Bom dia! — Uma voz masculina me alcançou tirando-me dos meus devaneios.
Um homem loiro, com uma barba fina, alto e forte, estava parado a nossa frente, vestido de maneira despojada, com shorts e regata, bem diferente de Cris, que usava mais um de seus ternos caros.
— Bom dia. — Acenei com a cabeça sem me aproximar nem um passo.
Então aquilo queria dizer que ele não me daria às aulas? Semicerrei os olhos encarando-o, como se fosse encontrar as respostas assim. Então as minhas suspeitas eram verdadeiras e ele realmente não queria me tocar, a ponto de colocar outro para me ensinar.
— Entendeu o que eu disse, Bianchi?
— Não, não sou eu mesma sem meu café. — Fiz uma careta tentando camuflar a vergonha de ter ficado encarando-o sem ouvir uma palavra do que dizia.
— Você vai sobreviver. — Bufei querendo mandá-lo a merda e arranquei uma risadinha do loiro ali. — Agora escute com atenção, Isaac vai me atacar e eu vou me defender, quero que se atente aos meus movimentos porque quero que você repita todos eles.
Oh, então eu estava errada.
Fiquei atenta aos dois homens se embolando no meu jardim, prestei atenção a cada movimento os vendo repetir aquilo por vários minutos enquanto eu tomava a vitamina. Quando terminei Cris me fez alongar e eu não pude esconder minha frustração, enquanto ele não escondia o quanto adorava mandar em mim, mesmo que por alguns minutos.
— Aqui, deixa eu te ajudar para não se machucar — Isaac falou, chegando rápido por trás de mim e segurando minha cintura enquanto eu estava com uma perna para frente flexionada e a de trás estirada, alongando minha abertura.
Ele me deu o apoio enquanto eu pesava meu quadril para baixo, forçando ainda mais minhas pernas. A respiração dele bateu contra meu pescoço me obrigando a olhar para trás.
Isaac estava estranhamente perto de mais e sorrindo, mas não estava olhando em minha direção, os olhos dele estavam focados onde Cris praguejava ao celular.
— O que é tão engraçado, posso saber? — perguntei fazendo o sorriso dele aumentar ainda mais, assim como minha curiosidade.
— Acho que já deu de alongamento por hoje! — Cris gritou vindo em nossa direção a passadas largas. — Está na sua hora, Isaac, se manda!
O loiro acenou concordando e me puxou para cima, sem perder o sorriso e nem me contar o que era engraçado. Será que ele tinha usado alguma coisa?
— Foi um prazer conhecê-la pessoalmente, senhora. — Ele estendeu a mão e eu aceitei, recebendo um beijo rápido em cima dos meus dedos.
— Chega, Isaac, te mandei embora para cuidar dos outros negócios! — Cris praticamente o empurrou para longe de mim. — Abusado, isso é um lembrete para nunca mais chamá-lo.
O loiro rapidamente saiu do nosso campo de visão, se apressando pelo gramado até sumir na propriedade. Eu não lembrava de tê-lo visto por aqui fazendo a segurança, mas com o plano tático de Cris eu não sabia quem era a maioria dos homens que estavam me vigiando escondidos.
— Por quê? Eu gostei dele, achei que ele iria me dar as aulas. — soltei apenas para contrariá-lo, já gostava de fazer isso, mas depois de perder meu café irritá-lo parecia ser a melhor coisa a se fazer.
— Porque achou isso? Eu disse que lhe daria as aulas e é exatamente isso o que vou fazer, não daria a ninguém essa missão tão difícil.
Lá estava ele de novo com aquelas frases que não me deixavam saber se me detestava ou não.
— E vai fazer isso vestido assim... — perdi minha fala quando ele jogou o terno italiano caro no chão e começou a abrir os botões da camisa atraindo minha atenção.
Os pelos escuros e finos apareceram na altura do seu peito e contrastavam com a pele bronzeada que ia aparecendo, contrariando todas as expectativas pareciam macios e o deixavam com um ar ainda mais sexy.
Engoli em seco quando ele abriu o último botão revelando o abdômen perfeito, antes de puxar a camisa revelando uma pequena tatuagem em seu peito e os braços fortes também desenhados.
Cris se virou para colocar a camisa no mesmo lugar, me dando a bela visão de suas costas cobertas com uma tatuagem enorme. Eram cobras? Ou... dei um passo para frente, querendo entender melhor o desenho escuro que marcava sua pele perfeita, mas antes que eu pudesse decifrar o que era ele se virou me pegando no flagra.
— Você ia dizer alguma coisa?