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Capítulo 4

CRIS MILLER

Aquela mulher era a mesmo uma mistura perversa de esnobe com um toque de sensualidade, que conseguiu me irritar além do esperado. Eu era conhecido por ser paciente e ter um bom humor, mas ver Elizabeth chegando e surtando com as mudanças que fiz conseguiu me tirar do sério.

Eu entendia que ela estava com medo, assustada com as coisas que podiam acontecer e sentisse uma necessidade de ter o controle de tudo. Mas ela deveria manter em mente que tinha insistido para que eu aceitasse trabalhar pessoalmente com ela justamente por eu ser o melhor. Não colocaria sua vida em risco e com toda certeza não ficaria esperando por sua aprovação antes de fazer o meu trabalho.

O fato dela ter tentado me lembrar do meu lugar, como um funcionário que deveria apenas obedecer, deixou claro a megera que ela era e me lembrou a razão para eu não aceitar trabalhar diretamente. As pessoas com dinheiro tinham uma tendência a serem esnobes e eu detestava profundamente pessoas assim.

— Pode aceitar o trabalho com os Mancini. — Foi a primeira coisa que falei assim que Isaac atendeu ao celular.

— Tem certeza? Não vamos acabar ficando sem pessoal?

— Vamos, mas estou sentindo que o trabalho aqui vai terminar antes do esperado, então teremos muitos homens disponíveis para trabalhos individuais.

— O que aconteceu? Você estava tão engajado em fazer o melhor plano de defesa para a chefinha. O que te deu que não durou um dia?

Bufei pensando em quanto tempo havia gastado fazendo toda a escala dos seguranças, tudo pensado e planejado para devolver a ela a liberdade de ir e vir dentro da sua propriedade sem parecer que era vigiada a todo instante.

Tinha feito tudo de forma impecável e até mesmo havia entrado em contato com a secretária para organizar a mudança dela de andar. Mas ser recebido com grosserias e soberba me fizeram questionar a promessa que eu havia feito sobre protegê-las.

— As coisas não saíram como planejado, a senhora Bianchi e eu não nos entendemos direito.

— Já até imagino o que aconteceu, ela bancou a rainha Cleópatra e você se emputeceu. — Ele gargalhou do outro lado, me fazendo revirar os olhos, porque era a mais pura verdade.

— Faça o que eu falei idiota. — resmunguei, desligando o celular e encarando a tela à minha frente com a foto dela no relatório.

Ela conseguia ser prepotente e sexy ao mesmo tempo, vê-la falando comigo de forma altiva sem nenhuma razão me fez desejar tê-la embaixo de mim, implorando por mais e gemendo meu nome, ao mesmo passo que pensei em vê-la cavalgando em cima de mim me dominando completamente, usando apenas aquele salto que quase me acertou.

O problema é que por mais sexy que ela fosse, eu não suportava pessoas que tentavam diminuir os outros apenas por terem um pouco de poder em suas mãos. Tinha sido criado cercado de homens assim, meu pai em especial, e isso só me fez desejar ser o total oposto.

No começo da empresa não podia ficar escolhendo meus clientes nem nada do tipo, mas a partir do momento que consegui essa autonomia eu passei a me recusar a proteger boçais, qualquer um que destratasse um empregado não era digno da minha proteção.

— Será mesmo que errei em relação a você? — questionei a tela, encarando os olhos castanhos sempre tão sérios.

— Posso entrar ou interrompo alguma coisa? — A voz de Elizabeth soou atraindo minha atenção direto para a porta.

Não a esperava ali antes das oito, mas lá estava ela, vestindo um conjunto de seda preto, com os cabelos molhados, o olhar penetrante e ainda sem nenhum resquício de sorriso.

— Pode entrar, a casa é sua. — Fiz questão de lembrar assim como ela havia feito comigo. Sem esboçar nenhuma reação, ela entrou no pequeno escritório e se sentou à minha frente. — Esse é o plano de ação que projetei para sua segurança.

Elizabeth pegou o tablet das minhas mãos e começou a passar os olhos enquanto eu explicava mais detalhadamente. Era muita coisa para ler e eu duvidava que ela tivesse tempo e paciência para saber todos os pormenores.

— E onde estão todos esses homens por quem eu estou pagando que estão listados aqui?

Semicerrei os olhos, querendo realmente só anunciar que ela deveria procurar outra empresa pela manhã porque eu não trabalharia com ela e pagaria feliz a multa contratual, mas me contive e me levantei dando a volta até estar atrás dela.

Deslizei a tela para o lado mostrando o desenho do posicionamento de cada um dos meus homens. Vi o instante que ela franziu os lábios observando a planta de sua casa e os arredores onde eles estavam.

— Isso aqui é...

— Um atirador de elite? Sim. — respondi antes mesmo que ela terminasse a pergunta. — Se passar para o lado vai ver a mudança de turno de cada um deles e na próxima vai encontrar as informações dos homens que a acompanharam fora da casa.

— Achei que você me acompanharia fora daqui? — Ela ergueu os olhos rapidamente me questionando. O vinco entre as sobrancelhas era a primeira demonstração de expressão sincera que ela esboçava desde que entrou ali.

Não sei porque Elizabeth mantinha essa armadura, uma máscara dura e fria, tentando se mostrar indiferente a tudo quando eu sabia que não era a verdade.

Os olhos dela eram a parte mais expressiva de seu rosto, o que ela não conseguia camuflar com tanta perfeição quanto o resto do corpo. Eu tinha visto o medo assim como o alivio tomarem seus olhos no seu escritório, só não compreendia porque ela se mantinha tão presa naquela personagem inabalável mesmo ali, onde estava segura, e não se permitia mostrar ao menos um pouco da verdade.

— E eu vou, o tempo todo! — garanti a ela, tentando passar firmeza em minhas palavras para que ela confiasse ao menos minimamente em mim. — Mas se caso algo acontecer comigo temos que garantir que você ainda vai estar segura.

Ela se levantou colocando o tablet na mesa e andou, fugindo do meu olhar e da proximidade, mas não conseguiu se afastar o suficiente no espaço pequeno.

Elizabeth se manteve de costas, evitando totalmente o contato visual. Mas aquilo deixou claro que meu olhar direto e minhas palavras sinceras a tinham atingido de certa maneira.

As palavras dela de mais cedo voltaram a minha mente “Eu não posso me dar ao luxo de confiar”, por mais que ela quisesse acreditar em minhas palavras e confiar no que eu dizia, seu medo a impedia, a paralisava completamente, a obrigando a manter distância para não correr os riscos de acreditar nas pessoas novamente.

— Se caso algo acontecer com você? — A voz soou um tanto incerta. — Se algo acontecer com você eu já estarei morta, como isso vai me dar alguma segurança?

— Não sei qual era a prioridade dos seus outros seguranças, mas a minha e da minha equipe é garantir que você esteja a salvo sempre. Se cairmos vai ser protegendo você e sua filha, então sim, posso morrer garantindo sua segurança e meus homens estarão logo atrás para completar o trabalho.

Ela se virou parecendo surpresa e me olhou com as mãos unidas na frente do corpo. Seus olhos demonstrando toda a desconfiança, o descredito nas minhas palavras.

— Está falando sério quando diz que morreria tentando garantir minha segurança e a da minha filha? O senhor por acaso foi do exercito ou algo do tipo, Senhor Miller?

— Algo do tipo. — Ela não gostaria de saber onde aprendi sobre lealdade. — O que você tem que ter em mente é que eu usarei meu corpo como escudo se for preciso, tudo para manter vocês duas a salvo!

Uma risada forçada escapou de sua boca e, mesmo que ela estivesse debochando, eu me questionei como seria o som do seu riso de verdade.

— Me desculpe se não acredito nisso, então vai ser um pouco difícil manter em mente algo que eu não tenho fé. — Ela colocou as mãos atrás do corpo, estufando o peito em um claro desafio para provar que eu estava errado.

— Vamos trabalhar nisso. Vou ganhar a sua confiança, e a senhora vai acreditar em cada palavra que sair da minha boca. Vou fazer disso a minha missão de vida! — Os lábios dela se entreabriram em uma mínima demonstração de surpresa. Eu só não sabia se era por minhas palavras ou minha ousadia, talvez os dois. — Mas até lá quero que a senhora aprenda a se defender.

— Como disse? — ela questionou e pelo tom de voz já parecia pronta para a discussão.

Elizabeth era boa de briga, seria fácil ensinar ela como derrubar algum desgraçado que ousasse se aproximar, mesmo que eu não fosse permitir que isso acontecesse.

Tinha falado sério ao dizer que minha nova missão de vida seria fazê-la confiar em mim, podia até ter ligado para Isaac cogitando desistir do trabalho, mas ela havia acabado de mudar meus planos mais uma vez.

O que essa mulher complicada tinha que estava me fazendo ceder tão rápido?

— Você foi impressionante enfrentando um "invasor" com aquele salto, mas tenho certeza de que sua confiança vai aumentar quando aprender a lutar de verdade. Quando você souber que consegue derrubar uma ameaça sozinha. E então, o que me diz, vai me deixar te ensinar a se defender, senhora Bianchi?

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