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Capítulo 3

ELIZABETH BIANCHI

Cheguei em casa quase no fim da tarde e mesmo que tenha passado o dia trancada dentro do escritório, a sensação de estar sendo observada, de ter olhos em mim, não me deixou o dia todo. Ficava a todo instante olhando sobre o ombro a procura de alguém, esperando pegar meu espreitador no flagra, mas não havia nada no último andar da empresa, nada além da minha sala e da vista da cidade.

Deveria me sentir mais calma e segura depois de adentrar os portões da minha propriedade, mas não era assim que me sentia. O medo continuava ali e eu detestava me sentir assim, mas ser atacada dentro da própria casa destruía a confiança de qualquer um.

— Boa noite, Senhora. Oi anjinho. — Zoe, a babá foi a primeira a me receber já pegando Angel dos meus braços e seguindo com ela para o andar de cima.

Eu olhei em volta, procurando minha governanta ou algum dos seguranças, que ficavam na porta desde a tentativa de homicídio que sofri, mas nenhum deles estava ali.

— Emily? — chamei, caminhando devagar pelo corredor, até a sala de estar.

A falta de resposta e o silêncio na casa me fez parar e tirar meus sapatos, se estava acontecendo alguma coisa ali eu não podia deixar que me ouvissem chegando.

Meu pensamento correu por todos os cenários e eu não pude deixar de me arrepender de ter entregado Angel tão rápido, deveria ter desconfiado que algo estava errado desde a porta.

Ergui meu sapato quando alcancei a entrada da sala de jantar, vozes baixas finalmente me alcançaram e eu segurei com ainda mais firmeza a base do salto me escondendo do lado de fora.

— Tudo bem, Senhor. — Ouvi a voz de Emily tranquila e passos soaram em direção à porta.

Não podia acreditar que ela havia se vendido para o desgraçado também. Emily praticamente me viu crescer, como pode fazer algo assim comigo?

Quando um vulto passou ao meu lado eu não pensei, apenas desci minha mão com o salto, pronto para afundá-lo na cara do infeliz. Mas com uma rapidez surpreendente meu pulso foi agarrado e eu fui empurrada contra a parede.

— Me solta seu desgraçado! — gritei me debatendo e uma mão segurou minha cintura com firmeza me impedindo de lutar, enquanto a outra mantinha meu braço preso acima da minha cabeça. — Seu pedaço de merda, você deveria estar morto!

— É bom saber que você está disposta a se defender. — A voz que me atingiu não era de quem eu esperava e eu parei de me sacudir no mesmo instante.

Meus olhos praticamente saltaram das orbitas quando eu dei de cara com Cris na minha frente, segurando meu pulso no alto com tranquilidade e a outra mão em minha cintura me mantendo presa contra a parede. Ele tinha um sorriso nos lábios e o mesmo brilho naqueles olhos castanhos.

Será que ele parava de sorrir em algum momento, chegava a ser irritante vê-lo parecendo tão feliz com a vida a todo instante.

— Meu Deus, o que... como você entrou aqui e... não deveria aparecer amanhã? — Eu ainda estava desnorteada com o ataque e a rapidez dele, não conseguia nem mesmo assimilar meus pensamentos que dirá formar uma frase completa.

— Eu te prometi que hoje você poderia dormir em paz que estaria segura. Cheguei aqui no começo da tarde, derrubei seus homens com facilidade e demiti todos...

— Você o quê? — eu o interrompi ainda perplexa com a última informação.

— Eles não passaram no teste, se eu sozinho consegui derrubar a todos que dirá com mais homens. Não serviam para te manter segura. E eu teria mandado embora a babá também, mas sua secretária me confirmou que você confia nela e que Angel já se apegou a ela — ele continuou como se eu não tivesse dito absolutamente nada. — Troquei seu sistema de segurança, mudei suas câmeras, instalei novas defesas na propriedade, vou explicar tudo melhor para você depois. O que me lembra de mais uma coisinha.

Cris tirou a mão de minha cintura e enfiou dentro da minha bolsa pegando meu celular e o guardou dentro do próprio bolso, antes de tirar outro aparelho do terno estendendo em minha direção.

— O que é isso? O que pensa que está fazendo? E por Deus, solte a droga do meu braço! — Puxei bruscamente, mesmo que não tivesse nenhuma necessidade, afinal ele não estava usando força ali. — Como você entra na minha casa sem me avisar, demite meus funcionários, muda tudo na casa me deixando desprotegida e ainda quer trocar meu celular sem a minha permissão?

Ele franziu as sobrancelhas grossas e me encarou como se eu fosse a maluca da história. A tensão se estendeu no ar e eu não conseguia decifrar o que se passava na mente dele, mas eu sabia que não iria ceder, não abria mão de saber de tudo antes de acontecer.

— Senhora, ele só está ajudando. — Emily tomou a frente, provavelmente notando que nenhum de nós dois cederia ali. — Ele me mostrou tudo, tenho certeza que vai te explicar também.

— É da minha segurança e da minha filha que estávamos falando, eu não tolero surpresas! — afirmei, não dando muita importância para o que ela tinha acabado de falar e não desviando meus olhos dos dele. — O senhor é um funcionário como todos os outros e quero que se atente a isso. Não pode dar passos ou tomar decisões que envolvam a minha vida sem antes me consultar.

Cris nem mesmo desviou o olhar ou piscou enquanto eu falava e por um momento eu pensei que ele não diria nada, apenas ficaria ali me encarando até que eu pedisse desculpas ou iria embora me deixando para lidar com meus problemas.

— Você me contratou para ser seu segurança e é isso o que estou fazendo. Se acha que esteve desprotegida por um segundo desde que deixou o prédio da empresa é porque realmente não sabe quem eu sou e como trabalho! — ele afirmou sem pestanejar. — Meus homens estão posicionados estrategicamente não para aparecer para você ou a qualquer um, o trabalho deles é passar despercebido e serem letais, afinal não quero que meus clientes vivam como se estivessem em uma prisão, mas sim, que sigam suas vidas normalmente.

Ele deu ênfase na palavra clientes, como se tivesse me provocando por chamá-lo de funcionário.

— Mas...

— Seu celular se mostrou uma presa fácil para hackers, poderiam invadir a segurança de sua casa, seus arquivos pessoais e sem contar com o seu computador da empresa. Fiz o teste essa manhã e foi fácil invadir e acessar toda sua agenda e descobrir seus horários, foi assim que programei meus homens a te vigiarem a partir do instante que deixasse o prédio. — Engoli em seco enquanto ele falava sem se alterar, me explicando tudo como se eu fosse burra. — É assim que eu trabalho, não me reporto primeiramente aos meus clientes, eles não precisam saber o quão vulneráveis estão ou quantos pares de olhos os vigiam, do momento que eu assumo em diante eles só precisam descansar e confiar que estão tão seguros quanto o presidente. É por isso que eu sou o melhor no que faço, Elizabeth. E foi por isso que você me contratou, ou não foi?

Suspirei vendo que tinha errado com ele, tudo o que havia escutado sobre a empresa era verdade e Cris estava comprovando isso agora. Mas ainda sim, o medo do pior tomava cada nervo do meu corpo, me impedindo de baixar a guarda e simplesmente acreditar em tudo o que tinha saído de sua boca.

— Eu não posso me dar ao luxo de confiar e descansar, não quando eu tenho uma fortuna que atraiu um desgraçado até minha porta e eu o deixei entrar! Agora eu preciso proteger minha filha, Senhor Miller. Não posso confiar cegamente em ninguém, nem mesmo no Senhor. — Fui sincera e direta, mas guardei minhas garras, por enquanto. — Então daqui em diante para não termos mais problemas eu quero saber de tudo antecipadamente, não sou como seus outros clientes que querem viver uma vida normal, eu apenas quero ter certeza da minha segurança.

Algo nas minhas palavras o incomodou, claramente não era o que ele estava esperando, porque o homem de quase dois metros de altura virou a cabeça de lado me analisando mais profundamente, quase me deixando sem jeito por ter aqueles olhos tão expressivos em cima de mim.

— Estamos de acordo. Então a espero às oito horas na sala de segurança para discutir todas as mudanças daqui em diante.

— Às oito? — questionei confusa enquanto ele já se afastava.

— É o horário que acaba o seu jantar, não é mesmo? Estava na sua agenda pessoal. — Ele sorriu de modo presunçoso e eu quis arrancar aquele sorriso do rosto dele.

— Prepotente! — rosnei batendo os pés em direção as escadas e ouvindo Emily rir atrás de mim.

Tudo o que eu não precisava na minha vida era um homem que se sentia melhor do que eu. Isso era o que eu mais detestava, e eu começava a perceber que Cris Miller era exatamente isso, um homem das cavernas metido a sabe tudo e que adora mandar na vida das pessoas.

Suspirei quando cheguei ao meu quarto e me joguei na cama encarando o teto claro, eu queria apenas não precisar desse idiota de riso fácil. Agora precisava descobrir como conviver com ele sem arrancar meus cabelos!

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