Capítulo 2
CRIS MILLER
Eu entrei naquele escritório pronto para negar qualquer oferta que ela tivesse, mas fui vencido. Junto com o e-mail que troquei com a secretária havia uma proposta para fazer a segurança pessoal de Elizabeth e eu vim para recusá-la, mas também para convencê-la a aceitar Isaac, um dos meus melhores homens.
Só não esperava que fosse ficar tão fascinado com ela logo de cara. A mulher era linda, e por mais que eu tivesse pensado que a altivez dela a deixaria menos atraente, tinha me engando completamente.
Nem mesmo a tristeza em seu olhar era capaz de tirar a beleza dela.
Os cabelos castanhos escuro caíam longos como um véu negro e perfeitamente alinhado, dando a ela um ar ainda mais duro, mas sem perder a sensualidade.
Eu precisei me lembrar mentalmente o motivo de estar ali quando ela andou até o outro lado da mesa e o vestido se moldou as curvas, me dando uma bela visão do corpo que ela escondia por baixo da roupa elegante e o semblante implacável.
Elizabeth estava ali para fazer negócios e eu deveria ter minha mente no mesmo lugar, ao invés de me perder observando sua beleza, mas certas coisas eram impossíveis de evitar.
O olhar penetrante, que ela não desviava dos meus, estava tornando difíceis as minhas negações, especialmente quando eu sabia o que tinha acontecido com ela, o motivo real dela estar atrás de proteção ainda mais elevada.
— Eu entendo a sua situação, mas...
— Você entende? Entende o que é não se sentir segura dentro da própria casa? Ou como é dormir apenas um par de horas por dia, porque sua mente não consegue se desligar do perigo que pode estar a sua volta? Acordar tendo pesadelos, ser apunhalada pela pessoa que você acreditava te amar? Já passou por isso? Então, entende?
Engoli em seco tendo em mente todas as notícias que a mídia havia notificado nos últimos dias. Não, eu nunca tinha passado por isso, eu tive uma alta segurança desde o dia que nasci e quando era grande o suficiente para aguentar o peso de uma arma me ensinaram a me defender.
Então não, eu não podia imaginar o que ela tinha passado e o medo que ainda estava sentindo.
— Não senhora, não tenho ideia de como é estar no seu lugar. Mas eu posso prometer que meus homens farão um trabalho excelente e eu estarei próximo tomando conta de todos os detalhes.
— Isso não funcionaria para mim, nunca me sentiria completamente segura com eles. Você tem um código, é o melhor em tudo o que faz e é isso o que eu preciso, do melhor para me proteger.
Porra, ela não estava jogando limpo, especialmente quando os olhos decididos se desviaram dos meus para esconder o desapontamento.
— Elizabeth... — Um choro irrompeu na sala, me interrompendo e atraindo minha atenção, fazendo com que ela se levantasse imediatamente.
Meus olhos pousaram na bebê sentada do outro lado do escritório, chorando inconsolavelmente e me fazendo questionar meus sentidos. Como eu tinha estado tão desatento ao entrar ali que não a notei? Fiquei tão focado na mulher a minha frente que sequer notei a menina no canto brincando.
Bastou Elizabeth pegá-la no colo para que o choro cessasse. Me levantei no mesmo instante observando as duas trocando um sorriso. Ela era muito parecida com a mãe, os cabelos escuros, os olhos castanhos, mas a bebê era tão inocente e pequena, frágil e indefesa nos braços da mãe. E eu não pude deixar de lembrar as notícias, ela estaria com aquele monstro desgraçado se o pior tivesse acontecido.
— Essa é Angel, minha filha e a coisa mais preciosa que eu tenho na vida. — Elizabeth a apresentou chegando mais perto, e eu pude sentir o amor genuíno em suas palavras.
Acenei, sacudindo os dedos, e a pequena esticou a mão, os agarrando e rindo de uma maneira que derretia o coração de qualquer um.
— Oi, pequeno anjo — falei com uma imitação ridícula de uma mulher falando com um bebê, fazia anos que eu não falava com alguma criança, mas isso a fez gargalhar soltando bolhinhas, me deixando todo orgulhoso.
— É por ela que eu preciso do melhor segurança do país! — As palavras me fizeram erguer os olhos da filha e voltar para a expressão determinada dela.
Como eu podia dizer não àquele pedido? Dizer não para proteger as duas? Não existia homem forte no mundo que conseguiria negar aquilo, não com os olhos inquisidores e ao mesmo tempo apreensivos me encarando, junto com os dedos pequenos apertando os meus como se sua vida dependesse disso.
Qualquer coisa que eu tivesse vindo pronto para dizer tinha ido por água abaixo, sido completamente apagado da minha mente e eu me peguei dizendo:
— Sim, eu vou ser seu segurança particular!
Elizabeth abriu um sorriso pequeno que nem mesmo chegou a esticar seus lábios carnudos, mas eu entendi que o pequeno sorriso e o suspiro aliviado era tudo o que ela se permitiria demonstrar, por dentro de sua armadura ela estava feliz e aliviada por ter conseguido o segurança que queria.
Angel fez um barulho engraçadinho, tentando chegar mais perto enquanto puxava meu dedo e isso quebrou nosso contato visual. Sua mãe respirou fundo e se afastou, levando para longe a pequena, ainda com os bracinhos estendidos em minha direção. Ela se sentou atrás da mesa imponente voltando à pose de CEO implacável.
— Ótimo! Espero que saiba que quero que comece imediatamente. — Não consegui conter o riso com toda a altivez de volta, até mesmo no tom de voz dela. — Posso te dar até o fim do dia para que se organize, mas a partir de amanhã não posso me dar ao luxo de não tê-lo em minha casa.
As palavras tiveram um efeito inesperado, eu sabia que ela estava falando sobre ser seu segurança pessoal, mas foi impossível segurar os pensamentos que voaram para outro lugar.
— Pode ficar tranquila. Prometo que hoje mesmo estarei lá e você vai poder dormir tranquila essa noite! Vocês duas vão estar seguras.
Ela poderia entender como uma coisa banal, afinal, eu seria mais um dos seus milhões de funcionários, mas para mim promessas eram algo sério. Mesmo que eu estivesse fora da máfia, ainda era um Rossi e nós cumpríamos nossas promessas. Dávamos o sangue e a vida para cumprir!
— Conta pra gente mais uma vez como a madame dobrou você e te fez voltar a ser segurança particular? — Bob questionou por puro deboche, fazendo todos os outros quatro homens na sala rirem.
— Até quando vocês vão me perturbar com isso?
— Para sempre! — Isaac gritou, ele era o homem que ficaria como chefe no meu lugar na empresa e nem isso o fazia parar de rir. — Qual é cara? O que quer que a gente faça quando você aceitou ser segurança dela depois de negar isso a membros do senado, cantores famosos e atores?
Ergui o dedo do meio, tentando ignorá-los e me concentrar na tela do computador onde estava a planta da casa dela. Eu precisava montar um esquema de segurança, e nenhum dos idiotas calava a maldita boca desde que anunciei que Isaac assumiria meu posto enquanto durasse meu contrato com Elizabeth. Não que eu soubesse quando acabaria; não havíamos estipulado uma data ainda.
— Fala a verdade, o que ela colocou na mesa como oferta? Porque sabemos que não foi dinheiro ou fama, todos os outros ofereceram isso. Então o que a rainha de gelo gostosa te ofereceu no acordo?
— Olha como fala, porra! Mais respeito com ela se quiser manter o emprego e os dentes. — Todos eles se calaram no instante em que ergui a voz me alterando totalmente. Os cinco homens ficaram ali paralisados, me encarando, como se eu estivesse com um terceiro olho nascendo no meio da testa. — Elizabeth é uma cliente como qualquer outra e eu exijo respeito!
— Desculpa, chefe, não vai se repetir. — Adam foi o primeiro a se desculpar por suas insinuações.
— Agora vou dizer o que me fez aceitar o trabalho para que as donzelas fofoqueiras deixem meu maldito escritório, foi a filha dela. A pequena Angel é apenas um bebê e se o pior acontecer com a mãe não quero nem imaginar quantos abutres vão querer colocar as mãos nela apenas para ficar com a herança.
— Sem falar no filho da puta do pai dela! — um deles gritou agitando todos os outros e me trazendo a mente novamente aquele homem. Ele é quem coroava a lista de quem queria por as mãos em Angel.
Depois de ter estado em seu escritório hoje de manhã e finalmente a conhecido pessoalmente eu não consegui parar de pensar nele, no desgraçado do marido dela e tudo o que Elizabeth pode ter passado nas mãos dele sem que viesse a público.
Um por um meus homens saíram me deixando sozinho com meus pensamentos perturbadores e um tanto assassinos. Eu podia detestar matar e torturar pessoas, mas odiava ainda mais homens que faziam mal a mulheres. Com toda certeza abriria uma exceção para matar o bastardo de forma lenta pelo que ele fez com Elizabeth.
Mas afastei os pensamentos e me obriguei a voltar os olhos para a tela. O desgraçado estava desaparecido e se eu queria vê-la bem e em segurança tinha que focar no meu trabalho, só assim manteria aquele animal longe delas!