Capítulo 1
ELIZABETH BIANCHI
Desci do carro me certificando de olhar para os lados mais de uma vez, mesmo que Jack, meu motorista, estivesse segurando a porta para mim e que o segurança da empresa estivesse bem a minha frente. Eu precisava ser cautelosa, não podia me dar ao luxo de correr riscos e ir parar no hospital novamente ou ainda pior.
— Já verificamos a rua antes de parar, senhora, pode seguir tranquila — Jack me garantiu, tentando me passar confiança, mas eu nunca mais teria essa certeza de estar segura.
— Obrigado, Jack. — Me voltei para o interior do carro e tirei a cadeirinha de bebê, segurando minha preciosa anjinha nos braços. — Tenha um bom dia!
Entrei rapidamente no prédio sem olhar para trás ou esperar por ninguém, só quando estava dentro do elevador eu pude respirar um pouco mais tranquila, mas ainda sim, não totalmente relaxada.
Vinha sendo assim nas últimas semanas, enquanto eu estava no hospital me recuperando e depois quando voltei para casa, eu não conseguia me sentir protegida em nenhum lugar.
— Logo vamos estar bem, não é, meu amorzinho? — Acariciei a bochecha da minha Angel, que balbuciou e sacudiu o mordedor babado.
Ela era a parte mais importante da minha vida, o que eu mais presava no mundo. Podia ter uma empresa de renome, ser famosa e a CEO mais jovem do país, mas nada se comparava a tê-la feliz e protegida ao meu lado.
— Bom dia, chefe, pensei que não iria aparecer hoje. Não deveria estar em casa de repouso por ordens médicas? — Hellen me perguntou assim que as portas do elevador se abriram e eu desci no meu andar, o último andar da empresa.
Minha secretária se apressou em me seguir para dentro da minha sala, correndo como uma patinha atrás de mim. Eu gostava dela. Hellen era uma garota doce e atenciosa, que fazia seu trabalho perfeitamente e estava comigo desde que comecei ali.
— Bom dia, Hellen. Eu fui atacada dentro da minha própria casa, acha mesmo que iria ficar lá sentada em uma cama? Aqui ao menos temos seguranças competentes e que não se venderiam para aquele rato!
Tirei Angel da cadeirinha e a coloquei onde estava seu tapete e vários brinquedos espalhados, mesmo com a babá em casa eu não a deixaria sozinha novamente, não podia correr riscos de que ele voltasse e a levasse. Só quando garanti que ela estava entretida foi que me virei para Hellen de novo.
— Claro, como a senhora preferir. Já vou passar sua agenda...
— A reunião mais importante que eu tenho hoje é com o dono daquela empresa de segurança. — Dei a volta na mesa e me sentei em minha cadeira, sentindo o olhar dela me acompanhando. — Me diga a que horas ele vem, quero estar preparada para negociar com ele.
— O Senhor Miller vai chegar às dez, sua primeira reunião do dia!
— Ótimo, até lá não quero ser interrompida, quero ter certeza do que eu tenho a oferecer a ele.
— É bom estar mesmo, eu soube que o homem não faz mais a segurança de ninguém, não importa quem seja. — Ela forçou um sorriso nos lábios, mostrando que não estava nem um pouco confiante sobre minha tentativa de contratação.
— Hoje esse tal de Cris vai ter que abrir uma exceção, pois não pretendo deixá-lo sair daqui enquanto não aceitar meu acordo!
Eu precisava pensar no que poderia fazê-lo aceitar minha oferta. Tinha pensado a noite toda e não cheguei a nenhuma conclusão. A mesma coisa se repetiu naquelas duas horas até anunciarem sua chegada na empresa.
Dinheiro não era algo que o faria ceder ou ele já estaria fazendo a segurança de famosos e não apenas mandando seus subordinados, conexões, renome, tudo isso ele já tinha, era a melhor empresa de segurança do país.
Mas eu não ia desistir de tê-lo ao meu lado e ao lado da minha filha. Ele era o melhor, e eu não me contentaria com nada menos.
— Senhora Bianchi. — Hellen entrou no escritório toda formal e eu prontamente me coloquei de pé, sabendo que só podia ser ele. — O senhor Miller está aqui.
Cris Miller passou por ela me surpreendendo com a sua beleza, as fotos que tinham me mandado não faziam jus ao homem que ele era de verdade. Os cabelos castanhos penteados para trás, mas ainda com um ar casual, a barba cheia emoldurando os lábios carnudos abertos em um sorriso fácil, que quase me fez perder o fôlego.
Mas o que me pegou mesmo foram os olhos em um tom castanho, quase parecidos com mel. As duas esferas brilhavam de um jeito diferente, que me prendeu, como se eu estivesse hipnotizada.
— Bom dia, Senhora Bianchi. — A voz grossa, mas aveludada ressoou pelo escritório, me trazendo de volta a realidade e me lembrando o motivo dele estar ali.
— Bom dia, Senhor Miller. — encarei sua mão estendida, notando as várias tatuagens espalhadas nos dedos e no dorso da mão.
Eu precisei engolir em seco quando nossas peles se tocaram e um arrepio subiu por minhas costas. Ele deslizou a mão grande contra a minha e a segurou de maneira firme, mas de alguma forma ainda pareceu uma carícia para um homem daquele tamanho.
— É um prazer conhecer a senhora. Li muitas coisas a seu respeito. — As palavras dele levaram meu olhar de volta ao seu rosto, encarando o belo par de olhos.
— O senhor aceita uma água ou um café? — foi Hellen quem quebrou aquela áurea estranha que me manteve hipnotizada.
Cris negou gentilmente, e ela saiu da sala com pressa, não tirando os olhos dele até que a porta estivesse fechada. Eu não podia culpá-la; ele era lindo e atraía atenção facilmente. No entanto, não havia tempo para admirações da minha parte. Ele estava ali para que eu o convencesse a assinar um acordo.
— Me chame de Elizabeth e pode se sentar. — Apontei a cadeira em frente a minha mesa, enquanto já assumia meu lugar. — Fico feliz que tenha ouvido falar bem a meu respeito, porque tudo o que me falaram sobre você também foram elogios. O senhor e a sua empresa são os melhores do mercado e eu quero fechar esse acordo.
— Direto ao ponto — ele murmurou, sorrindo ainda mais, quase como se sorrir fosse o respirar dele. — Gostei de você, não faz rodeios ou floreios. Não é atoa que construiu um império, sabe bem o que quer.
— Obrigada pelo elogio. No momento ainda estou construindo meu império, mas não foi por isso que te chamei aqui.
— Basta me falar que tipo de segurança precisa e eu lhe entrego em uma bandeja de prata! — ele afirmou sem pestanejar cruzando as mãos em frente ao corpo com tranquilidade, e me mostrando toda a confiança que disseram que ele tinha.
— Eu preciso de você! — As palavras deixaram minha boca antes que eu conseguisse controlar. Cris ergueu uma sobrancelha parecendo surpreso e ao mesmo tempo estar se divertindo as minhas custas. — Me deixe ser mais clara, eu preciso de você como meu segurança vinte e quatro horas por dia.
Um sorriso mais contido tomou conta do seu rosto e eu soube que ele estava prestes a negar meu pedido. Era como todos olhavam, se desculpando com a expressão antes de dizer que não poderia fazer o que eu queria.
— Não me entenda mal sen... Elizabeth, mas eu não atuo mais como guarda costas, não é apenas com você, já venho negando esses pedidos há alguns anos. Hoje em dia prefiro ficar atrás da mesa como você — ele me informou com o tom ainda mais suave, como se eu fosse uma garotinha a quem estava negando um doce. — Mas ficarei mais do que feliz em designar meus melhores homens para cuidar da sua segurança.
— Infelizmente essa opção não existe para mim. Eu preciso do melhor e sei que você é o melhor!
— Eu entendo a sua situação, mas...
— Você entende? Entende o que é não se sentir segura dentro da própria casa? Ou como é dormir apenas um par de horas por dia, porque sua mente não consegue se desligar do perigo que pode estar a sua volta? Acordar tendo pesadelos, ser apunhalada pela pessoa que você acreditava te amar? — Listei parte de tudo o que eu vinha passando nos últimos meses e que se intensificaram na última semana. — Já passou por isso? Então, me entende?
Ele engoliu com dificuldade, mantendo o olhar preso ao meu enquanto eu contava coisas pessoais demais para alguém que tinha acabado de conhecer, mas vi seu sorriso se esvaindo aos poucos e seu olhar se tornando pesado sobre mim.
Não havia pena ali ou compaixão como vi nos olhos de todos que sabiam da minha situação. Cris parecia estar ficando tenso, seu olhar se transformando em algo selvagem que até mesmo mudou o tom âmbar das íris.
— Não, senhora, não tenho ideia de como é estar no seu lugar. Mas eu posso prometer que meus homens farão um trabalho excelente e eu estarei próximo tomando conta de todos os detalhes.
— Isso não funcionaria para mim, nunca me sentiria completamente segura com eles. — Suspirei, olhando em volta, procurando por um milagre para convencê-lo. — Você tem um código, é o melhor em tudo o que faz e é isso o que eu preciso, do melhor para me proteger.
— Elizabeth...
Angel escolheu o momento certo para chorar atraindo a atenção dele, fazendo parecer que não a havia notado quando entrou ali. Eu me levantei no mesmo instante para pegá-la, me certificando de que ela só estava choramingando por atenção.
Quando me virei para a mesa dei de cara com ele de pé nos encarando atentamente. O sorriso largo estava de volta aos seus lábios enquanto me via caminhar em sua direção.
— Essa é Angel, minha filha e a coisa mais preciosa que eu tenho na vida. — Ele acenou fazendo gracinha com os dedos e minha filha esticou a mãozinha, me obrigando a chegar mais perto para que ela o alcançasse.
— Oi, pequeno anjo — ele murmurou com uma voz fina que a fez rir e agarrar os dedos dele ao mesmo tempo.
Eu não esperava uma entrosação tão rápida dos dois, mas me deixou ainda mais certa de que ele era o único que poderia trabalhar comigo. Minha filha sorria babando ainda mais a cada sacudir dos dedos dele ou o balançar da cabeça enquanto usava uma voz infantil.
— É por ela que eu preciso do melhor segurança do país!