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AHHHHHHHH! Como me sentia um ET!

Quando papai percebeu o meu desinteresse, ele mudou sua tática, e agora atacava com um homem em especial, Francisco Oliver Ferrazzo, filho de um banqueiro. Fiz uma careta e afastando meus pensamentos, me fitei no espelho.

Sorri satisfeita. Estava pronta...

Mamãe... A imagem dela mais moça, era eu, a cópia dela. Os mesmos cabelos negros, o mesmo formato do rosto e os mesmos olhos verdes. Mas a semelhança terminava aí, pois nossa personalidade era muito diferente.

Na verdade, eu desprezava a imagem de minha mãe: Uma mulher fútil, cercada de um luxo, uma vida sem sentindo. Rodeada de empregados, numa casa fria, sem calor humano, parecíamos marionetes, cada um representando seu papel no lar.

Nunca seria como minha mãe, um bibelô.

AHHHHHHHH! Como me sentia um ET!

Suspirei novamente.

Quem me ouvisse, com certeza me julgaria:

O que você tanto reclama? Tem de tudo. Não te falta nada.

Eu responderia:

Não é o dinheiro que me incomoda, e sim o que nos transformamos com ele.

Penteei meus cabelos até que eles ficassem brilhantes e ajeitados. Eles estavam compridos, um pouco abaixo dos ombros, nas pontas ele fazia leves cachos.

Fiquei satisfeita, estava bonita, mas não a ponto de chamar muito a atenção.

Era a primeira vez que eu ia à festa de Raquel. Meu pai estava viajando, isso significava uma pequena liberdade. Embora convencer minha mãe, não foi tarefa fácil, foi depois de muita conversa e muitas promessas... blá, blá, blá... Aleluia!

Antes de sair, passei um perfume suave e coloquei uma gargantilha de pedrinhas negras.

— Pronto! —Disse alto.

Feliz, rodopiei em frente ao espelho. O vestido tubinho preto, não se moveu do lugar, pois era um pouco justo.

Como a festa terminaria tarde, combinei de dormir na casa de Raquel. Por isso preparei uma pequena mala para o dia seguinte, onde continha uma camisola, produtos de higiene pessoal e um vestido branco com tons preto. Peguei minha pequena bolsa onde tinha um batom, e o iphone.

Sai do quarto com a pequena mala na mão e desci as escadas lentamente. Logo avistei mamãe tocando piano, uma linda melodia, "Can you feel the love tonight". Eu sorri, me sentindo feliz pelas minhas asinhas crescidas. Eu aproveitaria o máximo, pois meu pai chegando, elas com certeza, seriam cortadas.

Eu parei em frente ao piano. Mamãe subiu seu olhar e quando me viu parou de tocar. Ela ficou em pé para me ver melhor. Seus olhos correram pela minha figura e estacionaram no meu vestido.

— Você trocará de roupa na casa de Raquel?

Ri por dentro, mamãe estava estranhando o vestido de corte simples que eu usava, não adiantava explicar para ela minha opção.

Menti, concordando com um gesto de cabeça.

— Mas não irá amassar?

— Não mamãe, não se preocupe.

Ela se levantou da banqueta e pegou meu braço.

—Estou louca para te mostrar uma coisa.

Suspirei.

—Agora?

O que ela ia me mostrar agora?

Ela pegou a revista “People. ”

—Lembra da Margareth Howard? Dá uma olhada nesse vestido?

Soltei o ar impaciente e peguei a revista das mãos dela.

Margareth sorria ao lado do marido, com um vestido rico em detalhes e pedraria, lindíssimo. Na legenda dizia que ela vestia “Chanel. ”

—Linda!

—Ela sempre tem algo assim para mostrar. Seu pai ultimamente anda muito pão duro. Faz um bom tempo que não compro um vestido para mim desse nível.

Fitei meu braço por costume para ver as horas, e percebi que não estava usando meu relógio de ouro, pois o tinha tirado para não chamar a atenção.

Disfarçando cocei meu pulso.

—Mamãe, preciso ir. Não quero chegar muito tarde. Depois conversa com papai. O motorista está lá fora?

Lucinda confirmou.

— Ele já está te esperando.

— Então até amanhã à noite.

Ela me encarou séria.

—Juízo lá, hein Natasha. Seu pai está fora, e a responsabilidade é toda minha. Deixa o celular ligado.

Eu respirei fundo.

— Mamãe, eu tenho vinte e dois anos, sou madura o suficiente para fazer as escolhas certas. Tchau.

Dei um beijo em seu rosto. Quando me afastei ela me encarava séria.

—Você só irá porque é na casa de Raquel. —Ela fez questão de me lembrar “novamente. ”

—Eu sei mamãe, você já me disse isso.

—Não sei o que tem lá que te atraia tanto para te dar essa vontade de ir?

Liberdade! Pessoas que não se preocupavam só com o umbigo.

Sorri para ela e arrumei uma boa desculpa.

—Raquel ficará chateada se eu não for. Ela sempre vem aqui.

Lucinda sorriu.

—Tudo bem. Mas tome cuidado lá. Nunca se sabe o que pode acontecer no meio dessa gente. Fique longe de brigas, drogas e bebidas.

—Claro! —Forcei um sorriso. —Não vou lá para brigar, beber ou me drogar.

Ela riu.

—Tudo bem, então. E quanto aos rapazes, lembre-se que é uma Bertolini, eles sempre se aproximarão de você com algum interesse.

Será que eu estava iludida com esse mundo que me cercava? Será que um homem não me amaria por meus predicados, minhas qualidades, por eu mesma?

Com uma sensação ruim, respirei fundo e peguei minha mala.

—Até amanhã, à noite. —Frisei o a noite.

Com minha pequena mala na mão, me dirigi ao Hall, abri a porta que me levaria à garagem, onde Roger, meu motorista, me esperava.

Roger era um senhor de sessenta anos, magro e muito sério. Trabalhava há anos na família. Foi motorista do meu falecido avô paterno e agora trabalhava para papai.

— Estou pronta Roger. A festa é na casa de Raquel, você só irá me buscar amanhã umas nove horas da noite. —Eu disse com um largo sorriso, não me contendo de alegria pela momentânea liberdade.

Ele sorriu ao ver minha alegria.

—Tudo bem senhorita.

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