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Capítulo dois

O meu queixo e o do Marco cai ao mesmo tempo. Gabriela da um sorrisinho de puro nervosismo enquanto tentamos digerir a bomba que ela jogou.

- Como? São anos... - O meu marido questiona.

- Pois é. As viagens de trabalho? As franquias da empresa? Era ele na casa dele.

- Amiga do céu. Mas, como? Como você descobriu? Céus, como você está?

- Péssima. - O sorriso estica mas seus olhos ficam vermelhos. Sinto-me mal por ela.

- Da um pé no rabo dele. - Marco da os ombros.

- Eu dei.

- Quando você descobriu isso? - Pergunto.

- Há duas horas. Terminei com ele pelo telefone enquanto dirigia pra cá.

- E como descobriu?

- Ela apareceu na porta da minha casa. - Respondeu naturalmente.

- Gabriela! - Levanto desacreditada - Por que você não tá surtando?

- Porque eu se eu surtar eu esmago as bolas dele com a minha própria mão.

Olho para as suas mãos e vejo que elas estão trêmulas, a marca no dedo onde estava a aliança corta o meu coração. A minha amiga nunca fui de expor totalmente o que sente, porém nessa situação deveria estar sendo a coisa mais difícil do mundo ela não conseguir soltar a fera que estava dentro dela.

Pouso minha mão acima da sua e solto uma lufada de ar triste. Sorrateiramente o Marco sai da cozinha sabendo que precisaríamos ficar a sós.

Quero lhe dizer que ela é incrível. Que quando ela sorri consegue canalizar toda a felicidade existente dentro dela. Quero dizer o quanto ela é especial, altruísta e única. Queria muito dizer que nenhum babaca deveria ferir seu coração puro, e amassaria o dele com as minhas mãos se fosse possível.

Porém nada disso seria escutado no momento. Sua mente e corpo devem estar em modo automático acreditando em uma única coisa: sou um nada.

Puxo seu braço e a abraço com força tentando mostrar que estou ali com ela. Que vai ficar tudo bem.

O choro vem alto e falta o fôlego. A seguro com mais força, não vou deixá-la cair nunca.

- Você é incrível. - Afago os seus cabelos enquanto ela molha o meu ombro por completo.

- Então por quê ele fez isso? - Pergunta entre o choro e fungadas.

- Deve ter esquecido o cérebro no útero da mãe dele.

- Aposto que sim. - Concordou com um sorrisinho, mas voltou a chorar em seguida.

A sua crise de choro demorou um pouco, mas cessou. Ficamos em silêncio e tudo o que conseguíamos ouvir era o Marco e o Pedro jogando vídeo-game na sala.

- Onde ele está?

- Não sei. - Ela da os ombros. - Deve estar na casa dele, ou na minha, talvez na dela. Quem sabe...

- E os pais dele?

- Absurdo, não? Acobertaram tudo! - Indagou - Passei feriado com eles, fim de ano e muitos finais de semana! É capaz dele ter filhos... - Os olhos dela ficam molhados.

- O que ela disse?

- Ah. - Estalou a língua - Estava aos prantos. Disse que não me culpava, mas que ele era casado. Não sei como ela descobriu endereço.

Há uma pausa. Nós nos encaramos, faço uma cara triste e ela faz o mesmo.

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