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03 - Amélie Petit

Amélie Petit

Onde estava com a cabeça quando aceitei vir com a Laura para o Moulin Rouge, sei que meu emprego como assistente da Noely me dá uma boa renda, tenho todas as minhas contas do mês paga, existe apenas uma que tenho certeza que não conseguirei honrar.

Se não fosse meu pai se meter nessa enrascada e o agiota que ele deve, me encontrar não estaria aqui me sujeitando a isso, não que esteja desmerecendo a vida de prostituição que a minha melhor amiga vive, mas sei muito bem que nem sempre ela tem sorte de pegar um bom cliente que a trate com carinho e não apenas como um saco de pancadas.

Quantas vezes precisei ajudá-la chegar em casa, depois que ela me ligava pedindo ajuda, porque sofreu mais uma agressão de algum político sujo de Paris ou da Europa que adoram vir até o Moulin Rouge para aproveitar alguma das meninas da casa de prostituição mais famosa do mundo.

— Escolha uma máscara e rebole no palco, você dança tão bem, sabe que não precisa ir para os privativos se não quiser, mas se decidir precisa apenas pagar a taxa da casa e o resto é seu. — Laura fala, enquanto termina de se maquiar.

Mesmo que estejamos usando máscaras, a dona da casa pede que estejamos sempre impecáveis, porque a decisão de nos revelar cade somente a nós. E os clientes conhecem as regras da casa. Antes de entrar no camarim, a madame Françoasi, me mostrou o lugar e disse que sempre seria bem-vinda a dançar.

Minha beleza era exótica, dizendo ela. Graças, uma anomalia que herdei da minha mãe, tenho uma mecha de cabelo em um tom mais escuro em meio aos meus cabelos dourados e lisos, é algo que amo.

Infelizmente perdi a minha mãe durante um assalto que ela e meu pai sofreram enquanto ele foi buscá-la no serviço, passamos por tempos terríveis após essa fatalidade. Ainda era muito pequena, tinha apenas oito anos, mas mesmo assim vi como a depressão profunda que meu pai sofreu o afundou quando ele entrou de cabeça no vício da jogatina.

Sai de casa quando tinha dezesseis, no momento que ele resolveu vender a minha virgindade para algum idiota que ele iria jogar, consegui escapar com muita sorte. A mesma que tive por encontrar pessoas tão boas que me ajudaram muito, até que um dia tropecei na Laura, uma imigrante brasileira que não falava nada de francês e não conseguia compra uma garrafa de água.

Sorte que aprendi um pouco de português, mas o de Portugal, então nossa amizade surgiu e até hoje moramos juntas, uma sendo apoio da outra, nas alegrias e principalmente nas decepções amorosas.

Porque uma coisa que temos em comum é dedo podre para homem, que às vezes é até inacreditável. Enquanto penso na tragédia cômica que é a minha vida escolho uma das peças exclusivas que a Noely Miller desenhou e elaborou para mim, usarei uma pequena branca com algumas rendas cobrindo uma parte da minha bunda.

Me aproximo da minha amiga que já estava com uma peça escura e meias finas na altura das coxas, segurando a sua máscara.

— Está linda, não esqueça de pôr a máscara, acho que o próximo show é o seu, caminharei um pouco entre os clientes para ver se consigo algum cliente para essa noite. — Ela fala me deixando um pouquinho mais confiante.

Vejo quando ela se afasta, respiro fundo e pego a primeira máscara que me é oferecida por outra menina que dançaria essa noite. A mascara veneziana com penas de pavão saindo pela lateral deixando que algumas caíssem sobre os meus seios, ela é linda, retribuo o sorriso meigo e a ouço me desejar sorte na minha apresentação, subo no palco e deixo que meu corpo seja conduzido pelo som sensual que sai dos amplificadores.

Enquanto uso a barra de poli dance, meu olhar cai até um dos camarotes e uma corrente elétrica passa pelo meu corpo assim que reconheço o olhar do sobrinho mulherengo da minha chefe, continuo dançando exibindo a minha bunda na direção ao camarote que ele estava.

A cada rebolada é como se estivesse me oferecendo para o Tommáz Walker, o maior mulherengo da América e provavelmente de Paris, pelo menos quando ele está aqui para visitar a sua avó Enora Miller e a tia. Me rendo as batidas da música e a cada acrobacia dou um leve olhar na direção que ele estava, sentia seus olhos me queimando e me deixando ainda mais excitada.

— Amélie? — Ouço o meu nome sendo chamado por um garçom que se aproximou do palco, paro a apresentação e me aproximo dele. — Um cliente do camarote pede exclusividade.

“Exclusividade”

O nome usado para informar que existe uma pessoa interessada em ter uma hora de sexo sem compromisso e consensual, mas não é a minha intenção de ir para a cama com nenhum homem hoje, fico feliz apenas em receber os dois mil euros por dançar e ganhar a gorjeta após terminar a minha apresentação.

Nego com a cabeça, até porque como posso transar com o sobrinho da minha chefe!

Volto a dançar lentamente até chegar no centro do palco, continuo olhando em direção ao camarote, me preparo para realizar mais uma acrobacia no poli dance. Quando meu olhar não encontra os olhos azuis pertencentes ao homem mais galinha e mulherengo que conheço, me sinto frustrada por não encontrá-lo novamente, tento localizar, mas minha música está quase chegando ao fim, me aproximo da borda do palco e ganho algumas notas de euro, dólares e libras, que guardo e me retiro no palco.

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