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Capítulo 4

*Nick*

- Então, você toca em uma banda de rock.

- Isso, bateria - eu entrego um copo de água a Sienna. - Eu ofereceria uma cerveja, mas acabou. Nunca viu a gente por aí?

- Trabalho em um hospital. Doze horas por dia, cinco dias na semana.... à noite. Não sobra muito tempo para farra e noitadas.

- Que pena, acho que você ia gostar. Vamos tocar no bar da sua amiga, no sábado, se quiser aparecer.

- Espera aí, você está me convidando? - sua expressão exagerada de perplexidade me faz revirar os olhos. - Achei que não fôssemos amigos.

- Não somos. Mas você ainda pode ser minha groupie.

Eu ignoro a forma como o rosto dela fica vermelho e me atiro de costas no sofá, com um sorriso no rosto. Estou morto de tão exausto. Assisto Sienna olhar ao redor, capturando tudo o que podia a respeito do meu apartamento. O meu abatedouro. Foi assim que ela chamou, uma vez, após ver uma garota saindo dele.

É verdade que eu tenho uma longa coleção de garotas interessadas. Faço muito sexo casual e quase nunca me ligo a ninguém.

Me ajeito no sofá, ficando mais confortável, e seus olhos passeiam pelo meu corpo. Olhos castanhos e brilhantes, mais do que levemente interessados. Foi uma secada involuntária, claro. Vindo de Sienna, eu tenho certeza disso.

Mas mostra que ela não é completamente imune ao meu charme.

- Gosta do que vê? - sussurro, a voz propositalmente baixa e rouca.

Sienna respira fundo e a boca se curva para baixo. Uma boca carnuda na forma de um coração perfeito.

Como eu nunca tinha reparado naquela boca antes? É um convite ao paraíso.

Dois meses morando ao lado daquela deusa? Eu estava completamente cego? Minha desculpa é que Sienna passa tanto tempo escondida naquelas roupas horrorosas de trabalho, que fica impossível ter ideia do que realmente existe por baixo delas.

Mas agora que notei é impossível deixar de pensar, o tempo todo, a respeito.

Enquanto eu olho para os seus peitos lindos, mal cobertos pelo decote redondo da camiseta regata, sua língua ferina volta a me atacar sem piedade.

- Toda vez que eu começo a pensar em você como uma pessoa quase normal, você vai e acaba agindo como um babaca. É de propósito, Nick? Tipo uma armadura de proteção?

- Isso não faz o menor sentido. Além disso, as garotas gostam, faz parte do charme que vem com o pacote - dou de ombros, casualmente.

Essa garota é mais observadora do que eu pensei. E não tem nada de boba. Preciso tomar cuidado ou vou acabar despido diante dela e não é do jeito que eu estou acostumado.

- Não sei com que tipo de garota você anda se relacionando, mas eu me preocupo com a sanidade mental delas, de verdade.

Tranco os lábios para não rir. Eu poderia tentar amenizar o clima. Só que estou adorando essa troca de farpas, por isso, as palavras acabam escapando da minha boca sem que eu possa controlar:

- Não precisa ficar toda agressiva cada vez que um cara dá em cima de você, sabia? Você é uma garota bonita, deveria estar acostumada com elogios.

- Você não me elogiou. Estava tentando ganhar um elogio, o que é bem diferente. E vergonhoso.

Ai.

Enfio uma das mãos por baixo da camisa e coço a barriga. Estou malhando há tempo suficiente para saber que meu corpo mexe com o imaginário de qualquer garota. E eu ainda não encontrei nenhuma que ficasse indiferente.

Os olhos de Sienna são  atraídos para aquela região como se houvesse um imã.

Touch down!

Não resisto e acabo abrindo um sorrisinho convencido.

- Achei que as garotas gostassem de vulnerabilidade, linda. Estou aqui me expondo todo para você e o que eu ganho em troca?

- Na verdade, preferimos a honestidade – ela corrige, me olhando brava quando eu bocejo pelo que deve ser a milésima vez essa noite. - O que há de errado com você? As noites foram feitas para dormir, sabia?

- Não posso evitar. Estou em uma rotina de shows frenética. Não parei um minuto nas últimas semanas.

E é mesmo verdade. Ultimamente, quando não estou tocando, estou ensaiando. E quando não estou fazendo nenhum dos dois, estou me dedicando a minha mais nova paixão.

Compor músicas.

Não acho que sou realmente bom nisso, mas é uma coisa na qual sinto que preciso investir. Escrever me deixa em paz comigo mesmo de um jeito que eu não me sinto há muito, muito tempo.

- Era para você estar nadando em dinheiro, não?

Sienna está prendendo o cabelo em um rabo de cavalo. O movimento chama a atenção de novo para os seios redondos lindos.

- Quem dera. Os donos dos bares em que a gente toca pagam mal. Eles trabalham com a ideia de que a oportunidade é a verdadeira recompensa.

- Que babacas – ela enruga a testa. – Oportunidade é legal, mas não coloca comida na mesa de ninguém.

Sorrio com um sentimento de gratidão.

- Exato. Por que você não senta aqui do meu lado?

O radar de Sienna dispara. Posso ver isso nos seus olhos enormes e assustados.

Meu Deus, que garota desconfiada!

- Por quê?

- Sei lá, conversar com você sem precisar de um megafone? Eu juro que não tenho lepra.

Sienna hesita mas, por fim, acaba se aproximando, relutante. Em vez de vir até o sofá, porém, ela pega um lugar na poltrona, que fica a uma distância segura.

Eu reviro os olhos, cruzando os braços sobre o peito.

Os olhos dela se movem para a tatuagem no meu bíceps. A pequena "love is a drug". Notei como olhou para ela lá fora. Sienna ficou curiosa. Toda garota quer saber a história por trás dessa frase, mas é algo pessoal, algo que nunca vou contar a ninguém.

- Posso fazer uma pergunta?

- Se eu disser que não, você vai ficar calado?

Ignoro o sarcasmo direto e digo:

- Você nunca chega antes da meia noite e fica lendo esses livros chatos até tarde...

- Espera aí, você me ouve? - ela arregala os olhos, vermelha de novo.

- Gata, você lê em voz alta. Quem é que lê em voz alta, afinal? Aliás, quem é que lê, hoje em dia?

- Pessoas alfabetizadas? E eu não estou só lendo – ela murmura de um jeito tímido. - Estou estudando. Diferente de algumas pessoas que almejam viver da caridade do governo.

Sienna dois.

Nick zero.

- Você faz faculdade? - sei que ela deve achar que é provocação, mas eu estou interessado de verdade. - É por isso que arrumou um emprego tão chato que não deixa você sair e se divertir?

- Na verdade, eu ainda nem comecei. Estou estudando com alguns livros emprestados. E sim, arrumei esse emprego para juntar o dinheiro que eu preciso.

- E o que você pretende fazer?

- Enfermagem.

- Não quer trocar fraldas para sempre, não é? – pisco um olho e tenho certeza de que ela vai jogar o sapato na minha cara nessa hora.

- Não tenho nenhum problema com trocar fraldas, dar banhos ou furar veias. Só tenho planos maiores para o meu futuro. E você? Sempre sonhou em ser um estorvo para a sociedade?

- Na verdade, não. Eu aperfeiçoei isso com o tempo - sorrio, me inclinando para pegar o controle remoto em cima da mesa. - Quer ver um filme?

- O que você tem aí?

Eu ligo a tv. Em vez de rodar os canais, acesso o serviço de streamming a procura de um título interessante.

- Tem um muito legal sobre uma ex- policial trabalhando em um necrotério...

- Melhor não- os ombros dela enrijecem. - Não gosto muito de terror.

Meus olhos se acendem.

Agora, sim, eu quero muito ver esse filme. Com ela.

Mas sei, também, que Sienna não vai aceitar. Pelo menos não enquanto não confiar em mim o bastante para isso.

Escolhe outra coisa então - eu atiro o controle remoto na direção dela. - Ei, linda.

- O que? - ela revira os olhos.

- Por que não vem se sentar do meu lado?

Sienna me lança um olhar que quase me faz cair fulminado.

- E por que eu faria uma estupidez dessa?

- A imagem da televisão é uma porcaria daí. Vem logo, eu não mordo – em um movimento rápido, eu me sento, dando dois tapinhas no lugar vazio ao meu lado. - Não precisa ter medo, juro.

Talvez seja pelo desafio, mas Sienna respira fundo e levanta. Ela se aproxima com passos cautelosos. Admito que, quando chamei a garota aqui, eu estava apenas querendo provocá-la. Só que o tiro saiu pela culatra e quem acaba afetado sou eu. Quando ela se senta ao meu lado, sou atingido por um cheiro fantástico de baunilha, doce sem ser enjoativo, que faz meu estômago e meu saco contraírem ao mesmo tempo.

- Mandei não tentar nenhuma gracinha, peste - ela murmura, com a testa enrugada, quando eu passo o braço por trás dela sobre o encosto.

Sorrio, controlando o impulso de me abaixar e provar aquele cheiro com a minha língua.

- Relaxa, eu só estou ficando confortável.

- Você fica confortável demais para o meu gosto.

- Você não curte muito interação humana, não é?

Ela me olha de canto, mau humorada.

- Não com você.

Apesar da sua atitude arisca em relação a mim, a companhia de Sienna não é nem um pouco desagradável. Para minha surpresa, ela não escolhe uma daquelas baboseiras românticas ou dramas melosos. E um filme de ação antigo com o Jason Statham.

Assistimos em silêncio a maior parte do tempo, mas há um ou outro comentário pontual. As observações dela são geniais. Sienna faz o tipo inteligente e confesso que gosto.

Além disso, gosto da forma como ela estuda o meu perfil, quando acha que não estou olhando. Como se eu fosse uma matéria muito complicada. Mas ela é que é. Que garota da sua idade não tem tempo para noitadas? Festejar é uma prioridade para todas as garotas de vinte e poucos anos que eu conheço. É como uma religião.

Só que Sienna não se parece em nada com qualquer uma dessas garotas. Ela tem alguma coisa... peculiar. Algo que fica chamando a minha atenção. E não é a boca carnuda ou o pequeno rosto emoldurado por longos fios de cabelo escuro. Nem mesmo os seios fantásticos. É algo que foge da minha compreensão.

Quando os créditos sobem na tela, ela se vira para mim com um olhar tão intenso que faz eu me mexer desconfortável. Se qualquer garota olhasse para mim desse jeito, eu a beijaria na hora. Mas não Sienna.

Eu tenho que ir com calma se quiser quebrar essa casca grossa que ela construiu.

Porque se ela acha que é boa em analisar as pessoas, acabou de encontrar um especialista a altura.

Não sei o que aconteceu no passado dessa garota, mas estou louco para dar um jeito de reverter as coisas.

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