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Revelações

Ethan

Pelo visto, Mariana não é nada maleável e, por mais que esteja aceitando aquilo que imponho para ela, ainda assim, ela não fazia exatamente aquilo que eu queria e isso é algo que me deixa bastante contrariado.

Apesar disso, eu tinha convicção de que em algum momento, ela iria ceder totalmente, pois eu não estava fazendo ameaças vazias, e logo ela iria entender que eu estava falando muito sério e que o Murilo não poderia escapar daquilo que eu desejava fazer para ele.

De qualquer forma, continuo seguindo os meus planos, mesmo que eles tenham sofrido uma pequena alteração, e com a minha bagagem já no porta-malas, aguardo pela Mariana dentro do meu carro, já me sentindo bastante inquieto com a sua demora.

Ela entra no carro alguns minutos depois, nitidamente aborrecida, mas eu realmente não me preocupo com o seu temperamento, afinal, deve ser deliciosa na cama, com toda aquela pitada de insubordinação que ela claramente demonstrava ter.

— Não entendo por que não posso simplesmente voltar de helicóptero para São Paulo, em companhia agradável dos meus amigos. — reclama. — Isso é absolutamente desnecessário.

Não ouço os seus resmungos e ligo o carro, saindo da propriedade ostentação do Murilo, e entrando no trânsito bastante tranquilo da cidade litorânea e a minha atitude parece aborrecer ainda mais a Mariana.

Ao invés de continuar com o seu discurso sobre as minhas atitudes, percebo que ela opta pelo castigo do silêncio, o que considero ainda mais cômodo para mim, pois dessa forma poderia apreciar calmamente as duas paisagens, tanto a que se descortinava à minha volta, quanto a belissíma e irritada mulher ao meu lado, o que é bastante inspirador.

Mas após quase uma hora de viagem, o silêncio absoluto da Mariana começou a me aborrecer, diferentemente do que acontecia com a Bruna, que eu agradecia mil vezes ao pai celestial quando ela mantinha a sua boca fechada.

— Eu gosto de viajar de carro. — falei, quebrando o silêncio reinante dentro do veículo. — Gosto verdadeiramente de dirigir, ver a paisagem, de aproveitar um pouco esse tempo que posso apenas me concentrar na direção, sem ter que estar tomando decisões importantes e mudando destinos.

Ela não respondeu nada, mas olhei para o seu perfil e percebi que ela não parecia mais tão irritada, como quando entrou dentro do carro, o que já posso entender como algo bastante positivo.

— Não gosto de andar de carro? — pergunto, tentando fazê-la falar. — Prefere os meios aéreos para se locomover?

Ela me encarou parecendo se decidir se respondia ou não a minha questão, e depois de exalar um longo suspiro, entendi que ela não me deixaria no vácuo.

— Eu nunca tinha andado de “meios aéreos" até ontem. — ela fez o sinal de aspas nas palavras, e usou um tom de ironia para dizer aquilo. — O problema não é estar voltando para São Paulo de carro, ou helicóptero. Eu estava me referindo às companhias. Foi isso que me aborreceu.

— Sou assim tão desagradável? — pergunto, também de modo irônico.

— Qualquer pessoa que force a sua companhia para uma outra pessoa, será sempre desagradável. — ela diz prontamente.

Pelo jeito, a Mariana não tinha mesmo papa na língua e dizia mesmo, o que estava pensando, algo que poderia ter me desagradado, mas que causou o efeito contrário.

— Diz isso agora, mas logo mudará de ideia. — falo, com convicção.

— Você é tão pedante!

— Você também não é nenhum pouco fácil. — respondo, concentrado na estrada. — Ou seja, somos o casal perfeito.

Mariana soltou uma sonora gargalhada, como eu já imaginava que faria, e foi justamente por esse motivo que eu a provoquei. Gostava de ouvir a sua risada estrondosa e totalmente despreocupada.

— Tenho absoluta certeza de que não é um relacionamento que você procura.

— Claro que não! — digo com espanto. — Eu estou me referindo a um casal perfeito… na cama. Pura dinamite.

Ao dizer isso, encarei o rosto da Mariana e pude notar um rubor bastante expressivo, algo que me surpreendeu, pois ela não parecia ser nenhum pouco tímida.

Tínhamos acabado de entrar na capital, e o trânsito se tornou bem mais intenso, mesmo sendo aquele um domingo de manhã e eu precisei me concentrar ainda mais na direção, mas o silêncio dentro do carro não era desagradável, e constatei que gostava da companhia da Mariana.

Pensando melhor sobre a noite anterior, mesmo que tenhamos dormido juntos, sem ter feito sexo, como eu ardentemente gostaria que tivesse acontecido, ainda assim, eu tinha gostado de estar com a Mariana, apenas por sua companhia, algo que nunca tinha acontecido antes comigo.

O sexo sempre foi algo muito importante para mim, e se o sexo era bom, a relação era boa, o que fazia com que as minhas relações fossem todas baseadas na questão sexual.

— Porque você tem tanta inveja do Murilo? — Mariana pergunta de repente, me deixando imediatamente tenso.

— O que eu sinto pelo Murilo não é inveja! — nego veementemente. — Eu o odeio porque ele tirou algo muito importante de mim, e assim como eu sofri, ele também precisa sofrer.

— Então, o Murilo te passou a perna nos negócios e comprou uma empresa que você desejava comprar e por isso você está tão chateadinho assim como ele? — ela sugere, usando uma voz infantilizada.

— Eu jamais consideraria um inimigo alguém que faça algo assim. — retruco de modo bastante brusco, chateado sim, mas pela maneira que ela estava tratando a situação. — Estou falando sobre uma pessoa, alguém que foi muito especial na minha vida e que por culpa do Murilo, por uma questão de ego, ele provocou uma tragédia.

— Não entendo. — Mariana diz, parecendo confusa. — O que você está querendo dizer com isso?

Naquele momento, enquanto dirigia tranquilamente pelas ruas de São Paulo, eu fiz algo que nunca tinha feito antes daquele dia. Eu contei para a Mariana toda a história sobre a garota que eu tanto amei, mas que acabei perdendo para um grande cafajeste chamado Murilo Fernandes.

A Mariana causava reações inesperadas em mim, e eu ainda não tinha certeza se isso era algo bom, mas ainda assim, eu senti essa necessidade de desabafar, contar para alguém sobre o que aconteceu há oito anos atrás

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