Recordações Amargas
Ethan
Depois de ter desabafado com a Mariana sobre a minha história com a Beatriz, eu me senti um pouco incomodado em continuar ao seu lado, senti que precisava de algum tempo sozinho, longe da sua presença.
Ainda assim, fiz toda questão de deixá-la em frente a sua casa, assim eu poderia saber onde ela morava e após uma breve despedida, eu parti, mas não pretendia ir para a minha casa, como ela pode ter imaginado que eu faria.
Mariana pareceu ficar intrigada pelo que ela considerou uma mudança de planos, e que realmente foi, pois eu pretendia passar aquele dia em sua companhia e, quem sabe, fazer aquilo que eu estava desejando desde que coloquei meus olhos em sua beleza deslumbrante, que era estar dentro dela, me saciando em seu corpo.
Mas eu não poderia fazer aquilo hoje, depois de ter contado para ela sobre a minha história com a Beatriz e, sentindo o meu coração pesado, com uma dor já minha antiga conhecida, eu me dirigi até o cemitério.
Ao chegar ao túmulo da Beatriz e ver a sua foto, onde ela estava exibindo um sorriso radiante e cheio de vida, e que contrastava completamente com a realidade dos fatos, o aperto aumentou, me fazendo lembrar da garota esfuziante que ela sempre foi.
— Da mesma forma que foi tirada a oportunidade de que você fosse feliz, eu também não vou deixar que ele seja feliz, Bea. — falo para a lápide de pedra inanimada. — Murilo Fernandes não pode ficar por aí irradiando felicidade, enquanto eu ainda sinto a sua falta.
Mesmo após longos e angustiantes anos longe da única mulher que já amei, eu continuava a pensar nela todos os dias e fazia toda a questão de visitar o seu túmulo, ao menos uma vez por semana, para desabafar um pouco, contar para a Bea o que eu estava fazendo para dificultar a vida do Murilo.
Eu saí do cemitério com aquele desejo ainda mais forte em mim, pois jamais poderia esquecer tudo o que aconteceu e, enquanto dirigia vagarosamente para a minha casa nos Jardins, pensava sobre a nossa história e na sucessão de acontecimentos que culminou com a tragédia que me tirou a Beatriz.
Quando, alguns anos atrás, a minha namorada faleceu em um acidente de carro, eu fiquei arrasado, pois tinha grandes planos para nós, mas ao tomar conhecimento de como as coisas aconteceram, eu jurei para mim mesmo que aquilo não ficaria impune, de uma forma ou de outra, aquele cara que provocou o descontrole emocional da minha garota iria pagar.
Eu namorava com a Bea desde que éramos apenas dois adolescentes, nossas famílias eram amigas e nós dois crescemos juntos. Eu a amava e sabia que ela me amava também e nós pretendemos nos casar logo que ela concluísse a faculdade de administração.
Como eu era dois anos mais velho que a Bea, eu já estava trabalhando em uma importante empresa multinacional, quando ela ainda estava terminando o curso na faculdade e aquilo nos atrapalhou um pouco, pois eu tinha planos de conquistar uma posição melhor em meu trabalho e nós nos víamos pouco.
Beatriz então, se sentindo abandonada, acabou se envolvendo com um outro homem, e pensou estar apaixonada por ele, e como ela não pretendia me trair, afinal, nós tínhamos um grande amor um pelo outro, ela pediu para terminar tudo entre nós.
Eu sabia que a minha namorada estava apenas confusa, aquilo realmente não iria durar, pois ela me amava, e tentei a convencer a me dar apenas um tempo, para que eu pudesse dar mais atenção para ela.
Ela, no entanto, provavelmente estava sendo iludida pelo cafajeste pelo qual ela pensava estar apaixonada, e não aceitou a minha sugestão, terminando tudo entre nós e começando a namorar com o outro homem, que estudava na mesma sala que ela.
O namoro durou pouco e, e pouco depois de um mês, ele terminou o namoro com ela, o que a deixou completamente transtornada, pois ela me ligou, pedindo perdão, dizendo e que tinha se enganado com um homem que prometeu o mundo para ela, mas que na realidade a tinha deixado totalmente sem chão.
Eu conhecia a Beatriz muito bem e sabia que ela não sabia lidar com perdas, e que ela ficava transtornada quando as coisas não saiam como ela queria ou desejava e fiquei imediatamente preocupado com a sua ligação.
Pedi para que ela me aguardasse onde quer que estivesse, que eu iria até ela, mas Bea não atendeu ao meu pedido e disse que viria até mim, que eu aguardasse por ela.
Eu não cheguei a ver a Beatriz naquela noite, pois quando ela estava vindo para a minha casa, sofreu o acidente que tirou a sua vida, e me deixou completamente sem rumo.
E quando, alguns anos depois, eu descobri através do Joshua, meu melhor amigo e irmão da Beatriz, que o homem pelo qual ela tinha se apaixonado e por quem tinha me deixado era o CEO da FERZ, Murilo Fernandes, eu tomei para mim a responsabilidade de estragar com a vida dela, assim como ele havia feito com a minha.
Apesar de não conhecer Murilo pessoalmente, nós éramos investidores de alguns empreendimentos em comum, e eu sabia muito bem quem ele é, apenas desconhecia o nosso passado em comum.
Saber que ele seguia tranquilamente com a sua vida, quando tinha estragado com a minha, foi algo além do que eu poderia me controlar e agora, após já ter feito várias coisas para estragar a felicidade dele, eu tinha um trunfo na manga, e usaria na melhor oportunidade, e tinha certeza de que aquilo causaria grande comoção na imprensa.
Um escândalo como aquele não seria esquecido jamais, apenas abafado por algum tempo, mas sempre seria lembrado e eu estava disposto a jogar o segredinho sujo do Murilo no ventilador, mesmo que primeiro eu fosse usar aquilo de uma maneira extremamente prazerosa, e só iria ficar satisfeito quando tivesse a Mariana na minha cama.