Capítulo 03
Tocava Toxic ao fundo enquanto Gisele fazia seu show de sensualidade, ela deslizava pelo pole dance com agilidade, rebolava como se fosse invertebrada, ia às vezes até a extremidade do palco para os homens colocarem notas altas dentro de seu sutiã, às vezes até na sua calcinha. Me perguntava como ela não caía usando botas tão altas, ou se o seu cabelo molhado grudado em seu rosto não atrapalhava sua apresentação.
Ethan observava o espetáculo de braços cruzados ao meu lado, olhava de relance para ele às vezes, me sentindo incomodada.
Dado momento ela desceu do palco e sentou no colo de um homem estranho, só por ela ter rebolado em seu colo, ele colocou um bolo de notas no meio de seus seios. Depois ela saiu e se aproximou de nós dando uma piscadela para Ethan. Ele sorriu, por que ele tinha que sorrir?
— Tem baba no canto dos seus lábios, Ethan. — Passo o dedo sobre a borda meu lábio.
Ele balança a cabeça.
— Não sei do que está falando.
Olho para ele incrédula.
— Não seja sonso.
Ele vira-se para eu sorrindo.
— Gisele não faz meu tipo, não chega nem perto, na verdade.
— Então qual é seu tipo?
Sua expressão muda para pensativo, demorou tanto tempo que eu quase fui embora.
— Garotas que enfiam um lápis na perna de um homem. — Respondeu de maneira estoica. Um formigamento tomou conta do meu rosto. — Não tem coisa mais sexy.
Pisco algumas vezes desviando o olhar dele. Ethan nunca havia sido tão claro, talvez fosse as margaritas que tomou mais cedo.
A música acaba, finalmente tirando os olhos dele de cima de mim. Gisele desceu do palco, agora veríamos quantos homens pagariam por ela essa noite. Não sabia como conseguia, por isso passei a admirá-la mesmo ela me odiando.
Esse era o momento que eu odiava, as meninas faziam de tudo por meras moedas, tudo isso por culpa da May.
Saí do salão sentindo meu estômago revirar, podia ser por comer apenas pão duro nos últimos dias ou por ver tudo aquilo acontecendo todas as noites.
Fui para um dos quartos ficar sozinha, esses momentos eu usava para escrever algumas músicas no caderno de notas velho que Ethan me deu, o escondia em um buraco na parede junto de lápis, mas hoje preferi arrancar as cascas das feridas no meu corpo. Doía, meu corpo inteiro ardia, entretanto, eu faria tudo para não precisar viver a mesma vida que as outras.
Olhei meu reflexo no espelho, minhas olheiras eram tão fundas que o verde dos meus olhos sumia. Era possível contar minhas costelas, minha pele não era tão pálida e seca antes de vir, por isso evitava me olhar no espelho.
A roupa que eu usava manchou de sangue, Maria me mataria, pois, era seu vestido.
Cansada, adormeci na cama que tinha no quarto.
Acordei com a porta sendo aberta, por sorte eu me escondi debaixo da cama antes que alguém pudesse me ver.
Pelas vozes era Gisele e um homem, ele fechou a porta com força em seguida jogou a em cima da cama com tanta força que fez as molas do colchão rangerem.
— Não pode ser, Gisele... — Resmungou o homem.
— Eu também não queria.
— Você tem certeza?
Ambos pareciam atônitos.
— Sim, fiz o teste mais de duas vezes. — Pela sua voz ela estava chorando.
— Vai dar um jeito de tirar essa criança!
Arregalei os olhos. Criança? Gisele estava grávida?
As coisas que aconteceram a seguir nunca mais sairiam da minha mente, Gisele levou vários tapas no rosto, foi asfixiada e humilhada pelo homem. Ela gritava enquanto ele estava encima dela.
Tampei minha boca para que não me encontrassem escondida, imagino o que May faria comigo.
Após longos e torturantes minutos ele finalmente saiu de cima dela.
— Eu realmente espero que acabe com isso. Esse filho com certeza não é meu, já que você é uma puta!
Gisele desabou em lágrimas em cima da cama assim que o homem bateu a porta. Eu nunca a vi chorar, nunca a vi tão magoada.
Pensei em ir consolá-la, mas lembrei do que Ethan disse, nenhuma daquelas meninas eram minhas amigas, entretanto, Gisele continuava sendo um ser humano.
Saí de baixo da cama lentamente, a vi com a cabeça enterrada no travesseiro e um líquido gosmento em suas costas.
— G-Gisele? — Chamei.
Ela olhou para mim assustada, seu rosto estava inchado e tinha sangue em seu nariz.
— Que merda você tá fazendo aqui, garota? — Enxugou suas lágrimas fazendo o rímel borrar em sua bochecha. — Isso é algum fetiche doentio seu?!
Balanço a cabeça.
— Eu já estava aqui antes de tudo acontecer.
Seus olhos caíram para o chão, ela percebeu que mais alguém sabia de seu segredo.
— Você está grávida?
Ela levanta da cama, caminha até mim de forma amedrontadora, estávamos a uma polegada de distância, tive que olhar para cima para encará-la.
— Ninguém vai acreditar em você! — Ela fala enquanto cutuca com força meu ombro.
— Não vou dizer nada do que ouvi, pode confiar em mim.
— Por que eu faria isso? — Cruzou os braços.
— Por que é a sua única escolha. Por mais que May não acredite em mim, ela iria averiguar a situação, não acha?
Gisele sai de perto de mim indo em direção ao banheiro, eu a sigo preocupada com a forma estranha que ela andava. Lá, ela termina de tirar seu sutiã e a calcinha rasgada de sua perna.
Faz uma concha com as mãos e joga em seu rosto, então pego um pedaço de papel higiênico e limpo aquele líquido de suas costas. Ela apoia as mãos na pia e olha para mim pelo reflexo do espelho.
— O que ainda tá fazendo aqui? — Sua voz estava mais calma.
Jogo o papel no lixo e lavo minhas mãos tentando me livrar daquilo.
— Por mais que eu te odeie você continua sendo uma mulher e está tão presa aqui quando eu. — Respondo.
Ela rir debochando.
— Não estou, querida. Não me iguale a você. — Conseguia sentir o cheiro de álcool.
— Ah, não? — Apoio meu braço na pia e olho diretamente para ela. — Se você pedisse para sair daqui agora acredita que Vicent ou May deixariam? Acorda, estamos todas ferradas.
Ela não fala mais nada, invés disso ela volta a chorar. Sem jeito eu a puxo para meus braços, Gisele estava tão cansada que não hesitou, se desfez em lágrimas sobre meu peito. Passei minha mão em seu cabelo tentando consolá-la, mas me senti tão franca quanto.
Acredito que ela sentia falta da única amiga que tinha, logo que cheguei aqui também não tinha ninguém para me apoiar ou enxugar minhas lágrimas, mas Ethan apareceu e agora eu apareci-lhe também. Não me importava se ela fosse fingir que não existo na manhã seguinte, porém eu não a deixaria sozinha hoje.
A ajudei a tomar banho e se livrar daquele cheiro de sexo e dinheiro. Enquanto limpava o sangue seco em seu nariz me perguntava por quantas coisas ela passou durante essa noite, conclui que Gisele era sim, forte, a mesma forte de nós, e pensei em quando teria que me fortalecer também.
Antes de amanhecer fomos para o nosso quarto, ambas em silêncio. Eu a coloquei na cama e puxei seu lençol.
— Obrigada, Jade. — Sussurrou para mim.