Capítulo 4
- Daquele dia em diante ele começou a beber muito. Quando tiraram a carteira dele ele também perdeu automaticamente o emprego, sendo taxista e... ele também me perdeu, ou pelo menos meu respeito. - Balanço a cabeça lentamente.
- Algumas semanas depois, quando fui para a clínica, eles me confiaram aos meus avós maternos e morei com eles até ficar mais velho, - me pego sorrindo - Eram as pessoas mais doces do mundo e nunca precisei deles. por nada. Eles se amavam muito e eu gostei do amor deles até o fim. O primeiro a sair foi meu avô, devido a um infarto, e alguns anos depois minha avó também o seguiu. -
- Quais eram os nomes deles? - suspiro ao ouvir sua voz baixa e profunda.
Não esperava a sua intervenção, pelo contrário.
Achei que o estava entediando.
-Pier e Lucie. - respondo em um sussurro.
Já fazia muito tempo que ele não dizia seus nomes em voz alta.
Ele balança a cabeça silenciosamente, permanecendo sério.
- É graças a eles que estou aqui hoje, eles me deixaram tudo. - Sorrio novamente enquanto brinco com os dedos dele.
Deus, como ele tem mãos assim?
- Como ela era? -
Eu fico tenso.
Como foi .
É aquele verbo no pretérito que me mata toda vez.
- Bem... todo mundo diz que eu me pareço muito com ele, exceto pelos olhos. Esses são do meu pai. E nem mesmo o caráter dela porque ela era paciente, gentil, generosa enquanto eu- -
- Mal-humorada, irritante, um pé no saco- - Interrompo seus lindos elogios, colocando as duas mãos sobre sua boca sorridente.
E dane-se todo mundo porque eu automaticamente sorrio também.
Ainda.
- Mas bonito. - ele diz debaixo das minhas mãos, olhando para mim com um olhar tão sério.
Eu me torno uma estátua de pedra.
Meus lábios sobem e descem em uma linha dura e sinto meu batimento cardíaco ecoando na minha garganta.
Até as pupilas vibram a cada batimento cardíaco e começa a esquentar.
- Posso te perguntar uma coisa? - Mal posso perguntar.
- Depende. -
- Na verdade, tenho uma longa lista que parece um pergaminho. - Sorrio ao vê-lo revirar os olhos.
- Seus pais são japoneses? -
Ele se acomoda melhor no sofá, me fazendo balançar para a esquerda e para a direita - Ele faz isso, enquanto minha mãe era colombiana. – coloca a mão na minha coxa.
Época.
Novamente aquele verbo no pretérito que me dá controle sobre meu estômago.
Eu gostaria de perguntar, ou melhor, quero que você comece a falar como eu fiz há pouco.
Mas a diferença é justamente esta.
Eu comecei a conversa por minha própria vontade e pensei que seria certo simplesmente acenar com a cabeça.
Depois de alguns minutos de silêncio, ele coloca a mão no meu quadril e me puxa contra seu peito.
Seus braços envolvem meus ombros e meus olhos se abrem de espanto com o abraço estranho, inesperado e acima de tudo caloroso.
- Não te esperava. - Ele diz apoiando o queixo no meu cabelo.
Para quem você conta?
Sua voz baixa e rouca faz meu ouvido vibrar - O quê? - pergunto me diminuindo em cima dele.
- Achei que você iria me condenar à morte com sua longa lista em forma de pergaminho. - ele repete minhas palavras, me fazendo sorrir.
- Bem, então acho que você está sofrendo com o início do Alzheimer. - Me aninhei contra seu peito.
- E por que diabos? -
Fecho os olhos e acaricio a curva de seu pescoço, Deus, seu cheiro.
- Porque quando você fugiu do Hiro e eu manquei atrás de você, parece que eu te disse que queria ouvir o seu silêncio. E agora – movo-me um pouco acima dele, ficando mais confortável – gostaria que você me deixasse fazer isso em paz. - Concluo bocejando de boca fechada.
Eu sorrio sentindo-o tenso.
Talvez você esteja pensando quando coloquei meus lábios nos seus, Rui?
Seu batimento cardíaco acelerado atinge meu tímpano esquerdo e eu egoisticamente considero isso um sim.
Algo faz cócegas no meu nariz.
Franzo o nariz e levanto lentamente as pálpebras, encontrando o cabelo dela no meu rosto.
Ainda estou agachada sobre ele e... Ai! - exclamo com voz sonolenta, sentindo que meu pescoço dói.
Maldito seja seu ombro duro.
Eu levanto minha cabeça, esticando-a para a esquerda e para a direita.
Olho para suas feições relaxadas e percebo que minhas íris estúpidas não conseguem se desvencilhar de seus lábios.
Gordinho, entreaberta e ligeiramente rachado.
Mas muito macio e quente.
Como se estivesse enfeitiçado, seu dedo indicador começa a traçar sua superfície e meu coração salta para a garganta quando ele de repente o segura entre os dentes, aplicando uma pressão leve, mas não dolorosa.
Ele meio que levanta uma pálpebra, percebendo a expressão ridícula de alguém que acabou de ser pego em flagrante.
Retiro o dedo e finjo uma indiferença que não me pertence - Que horas são? - pergunto, me espreguiçando.
- Definitivamente é hora de você levantar daqui porque minhas pernas pararam de formigar por mais de uma hora b- - ele para, arregalando os olhos.
- Merda! - ele exclama, levantando-se de repente, me fazendo cair de bunda no chão.
- Ah, que diabos! - reclamo massageando a parte machucada.
- Anda logo, temos que encontrar Eva em quinze minutos. -
- Huh? - Fiquei pálido, sem conseguir acreditar que dormi mais de duas horas naquela posição desconfortável.
E acima de tudo, sinta a ansiedade aumentar com esse encontro.
- Acho que não consigo andar, você tirou eles de mim. - ele bufa, esfregando as coxas.
- Exagerado. - Movo minha mão entediada ao passar na frente dele mas assim que sinto uma sensação de queimação seguida de um estalo eu congelo.
- Você acabou de me bater? - exclamei com olhos selvagens.
- Exagerado, isso foi mais um carinho. - Agora é ele quem mexe a mão, passando por mim - Vamos, vem aqui. - ele me convida, afastando a cortina.
- O que fazer? - Levanto uma sobrancelha.
- Vamos ver o que podemos pensar para esse ninho que você tem na cabeça. -
Depois de minutos e segundos em que tentei recusar, e não, não estou brincando porque ele cronometrou, nos encontramos diante do espelho.
Ela está atrás de mim, segurando uma escova e vários grampos escuros.
- Pode? - ele pergunta, apontando para o ninho.
Pode?
Cruzo os braços sobre o peito e olho para ele pelo espelho – Desde quando você pede permissão? -
Ele balança a cabeça, sorrindo.
Decido fechar os olhos porque não quero olhar para ele como uma idiota.
Os segundos passam e seu toque é quase inexistente.
- Pronto, agora coloque isso. -
Abro os olhos e automaticamente a boca também.
Os fios nas laterais das orelhas são trançados e fixados com grampos, alguns fios ondulados caem suavemente nas costas e graças à escova foram criados pequenos cachos nas pontas.
É simples, mas definitivamente limpo e arrumado.
- Cale a boca, eu vi uma mosca mais cedo. - ele ri, levantando meu queixo com dois dedos.
Engulo e pego o creme nas mãos – O que é? -
- Coloque no pescoço, braços e rosto. -
- Porque eu deveria? - pergunto, cheirando a garrafa - Ah, - torço o nariz.
É forte.
Tem gosto de mirra, argan e... - Por que cheira a tabaco? -
- Porque Eva gosta. - ele responde enquanto bagunça seu cabelo, deixando-o mais bagunçado, mas muito adequado para ele.
- Deixe ela colocar então! - Coloco o pote na lateral da pia.
Com o que devo me preocupar?
Ele bufa, revira os olhos e depois enfia dois dedos e os leva até meu pescoço.
Dou um passo para trás, franzindo a testa - O que você quer? -
- Eu te odeio, já que você está se comportando como uma criança travessa. – fica atrás de mim, movendo meu cabelo para o lado.
Assim que toca minha pele, meus ombros ficam tensos e eu tremo.
Esse ponto é sempre crucial para mim.
- Você está me fazendo cócegas. - Me afasto novamente mas ele me agarra novamente pelo quadril com a mão livre e continua espalhando sobre mim com muito menos graça.
O cheiro deste creme é tão forte que começo a sentir um pouco de tontura.
Suo frio e calor ao mesmo tempo, meus olhos ardem como se estivessem queimando e tenho a mesma sensação na parte inferior do abdômen de quando você está em alta velocidade em um carro e há uma ladeira.
Entranhas em nós.
E especialmente está se intensificando agora que ele esfrega nas minhas clavículas.
Ah Merda.
Sou forçada a morder o lábio e apoiar as mãos na pia.
Que porra é essa?
Olho para ele pelo espelho, em busca de respostas, mas assim que encontro seus olhos, que também são brilhantes e finos e mais baixos para ver meus lábios, prefiro fechá-los permanentemente.
- Você pode pelo menos caminhar até lá? - aponta os saltos que estou usando.
Sim, é verdade que são mais altos do que os que costumo usar, mas espero que não sejam tão desajeitados.
Concordo com a cabeça, mal-humorado, incapaz de falar devido à ansiedade crescente.
E também me incomoda o fato de me sentir bastante vulnerável agora.
- Vista isso e vamos embora. - ele diz me entregando um batom vermelho.
Levanto uma sobrancelha: sinto muito, mas tenho que recusar. -
Além de nunca conseguir dizer com precisão, também acaba entre os meus dentes.
Ele tira o capuz e agarra meu queixo com força - Você está começando a ficar cansado. - afine as pálpebras aproximando-as com o tubo.
Eu arranco-o de suas mãos.
Se for realmente necessário, eu mesmo faço.
- Para quem você está contando! - respondo revirando os olhos.
Aplico a tinta nos lábios e depois de fazer uma careta, me viro e o encontro já do lado de fora da porta.
Finjo uma expressão feliz e faço uma pirueta: Dona Mignotta está pronta para receber Eva! - Concluo com uma reverência.
Ele me encara com uma expressão entre divertida e séria – Mexa-se, idiota. - ele começa a balançar a cabeça.
Entramos no elevador vazio e vejo um clique no andar ST.
Subterrâneo .
Eu engulo.