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Capítulo 5

- O que há de tão especial nesse creme Eva? - pergunto sentindo o cheiro dos dedos que, apesar de tê-los lavado diversas vezes, o fedor não passou.

- Para ela é como uma droga, um afrodisíaco. -

Meus olhos se abrem.

- Então é verdade! Eu também tive... - Abro as pálpebras - Ah, hum... nada, nada! – Balanço a cabeça tentando mudar de assunto – O que faremos quando chegarmos? -

O que diabos eu ia dizer a ele, desculpe?

Que quase fiz isso no banheiro?

- Você tinha que? Continue. - repete ele, colocando as mãos nos bolsos com um sorriso travesso.

- Nada - cerro os dentes - Prefiro me dizer o que vai acontecer em breve. - Cruzo os braços sobre o peito.

O bipe do elevador nos informa que chegamos ao andar - Fique ao meu lado e não se afaste. - De repente ele fica sério e se vira de costas para mim.

Franzo a testa quando ouço sons abafados além da porta ainda fechada.

Inclino a cabeça para o lado e tento me concentrar naqueles sons que estão ficando mais altos, mais confusos e cada vez mais...

- Que porra é essa... - sussurro assim que abro.

A música, o cheiro de álcool e até a fumaça invadiram o elevador como uma onda de choque.

- Que tipo de lugar é esse? - grito na esperança de que isso me faça entender alguma coisa.

E que ele me ouve, mas duvido.

Na verdade, é claro, ele me ignora e deixa o que acho que será meu esconderijo pelo resto da noite.

- Não vou tirar um dedo daqui. - ele murmurou, balançando a cabeça e cruzando os braços sobre o peito.

Absolutamente não.

E agora que praticamente falei baixinho, ele se vira e me lança um olhar nada menos que assustador.

Reviro os olhos e respiro fundo.

Quanto mais cedo nos apressarmos, mais cedo tudo isso acabará, certo?

Estou atrás dele quando entramos na briga.

Não consigo ver bem, mas parece uma garagem enorme.

Como metrôs de supermercado.

Paredes cinza e piso de asfalto, luzes LED vermelhas, roxas e azuis.

Olho para os ombros de quem me guia e aperto os braços contra o peito, evitando tocar em alguém.

O que, durante os primeiros dez metros, pareceu funcionar, mas imediatamente depois uma música ainda mais agressiva começou a enfurecer toda a multidão.

Eles gritam, riem e dançam assim... Meu Deus, é constrangedor.

Caminhar agora não é mais tão fácil.

O espaço ao meu redor começa a ficar cada vez mais estreito.

Rui parece não pestanejar, enquanto sou atirado da esquerda para a direita.

Que nojo .

Todas essas pessoas suadas me empurrando enquanto me respiravam horrivelmente, para dizer o mínimo, estão começando a me fazer sentir a primeira vontade de vomitar.

Felizmente eles estavam tão ocupados se esfregando uns nos outros que nem nos notaram, quando chegamos em frente a uma tenda vermelha.

- Então – ele se vira de repente – de agora em diante você terá que permanecer impassível e tentar manter sua língua grande sob controle, ok? -

Eu franzo a testa e começo a mordiscar minha bochecha.

Nada está claro, mas eu aceno.

- Bom. - ele declara depois de um tempo e, pela sua expressão, não parece tão certo.

Se é ele quem está preocupado, estamos bem.

Ela tira o tecido da barraca e o segue para dentro.

É uma sala totalmente pintada de vermelho escuro.

Luzes, carpetes, paredes e móveis incluídos.

Há uma coisa esfumaçada no ar, parecida com uma neblina, e acho que reconheço o cheiro de incenso.

Tusso ao olhar em volta e congelo ao ver dois homens, ou melhor, guarda-costas, de cada lado de uma poltrona no centro da sala.

Mais que uma poltrona, é a porra de um trono.

É enorme mas não consigo ver a famosa Eva, pois ela está virada de cabeça para baixo.

- Já chegaram. - diz um dos dois macacos.

À medida que a cadeira começa a girar lentamente, aproximo-me do Rui.

- Finalmente! Estava te esperando. - exclama uma voz

profundamente e terrivelmente... masculino? Eu franzo a testa em confusão e abro a boca.

Cabelo rosa curto.

Óculos de sol rosa muito finos.

Um manto de penas que envolve seu pescoço, amarelo fluorescente.

Bem.

Ele é um cara estranho, mas... Eve nisso tudo?

Tenho que usar todas as minhas forças para não cair na gargalhada, porque esse cara parece que saiu de um cosplay.

Mas quando o vejo se levantar, não tenho mais essa grande vontade de fazê-lo.

É enorme, para dizer o mínimo.

Um maldito gigante de smoking branco.

Agarro e aperto com força a mão do Rui assim que o vejo avançando em nossa direção.

Eu não gosto nada dele, ele tem um sorriso estranho.

- Meu Deus - exclama ela com voz grave - Que elixir você bebeu para ficar ainda mais linda? - acaricia sua bochecha e depois o abraça.

Eu imediatamente solto sua mão e dou alguns passos para trás para manter distância.

Estremeço e começo a morder o lábio ao vê-lo cheirar o pescoço do Rui - Hum, que saudade desse cheiro... - ele sussurra, passando a língua entre os lábios.

Foda-se, Rui.

Para quem diabos você me levou?

Estremeço quando o olhar do psicopata cai sobre mim.

- E esse bocado deveria ser seu chefe? - dá alguns passos para frente, depois começa a andar ao meu redor.

Estou literalmente fazendo xixi em mim mesmo.

- Qual o seu nome? - ele pergunta, em tom mais suave.

-Alícia. - Cerro os punhos.

- Uau! Que vozinha adorável. - ele exulta, parando atrás de mim.

Sinto seus dedos escovarem meu cabelo para o lado e aproximarem seu nariz do meu pescoço exposto.

Ele inala violentamente, me fazendo tremer.

Olho para Rui pelo canto do olho e tento transmitir todo o ódio e ressentimento que estou sentindo neste momento.

Então levanto o queixo e me viro para o louco.

Puta merda.

Este aqui tem mais de dois metros de altura.

- O que é seu? - ele perguntou estreitando os olhos.

Vejo Rui tenso enquanto o homem grande à minha frente levanta as duas sobrancelhas.

O quê, não posso nem perguntar o nome dele?

Vejo ele morder o lábio, sorrir e colocar as mãos nos meus ombros - Você realmente não ouviu meu nome desde que chegou aqui? -

Bem, um nome que ouço com frequência é-

Meus olhos se arregalam.

- Véspera? - pergunto, não conseguindo mais entender nada.

Ele começa a rir com voz rouca – Você adivinhou – ele se abaixa beijando a ponta do meu nariz, fazendo-o enrugar.

- Talvez pareça estranho para você? - ele franze a testa, fingindo estar ofendido.

Rui lentamente começa a balançar a cabeça em negação.

Você definitivamente está me convidando a dizer não quando, em vez disso, quero lhe dizer que isso parece mais do que um pouco estranho.

- Não. - Minto bufando.

Ele sorri - Muito bem! Mas noto algo estranho, sabe? - pergunta virando-se para Rui.

- Você é. - ele indica inclinando a cabeça.

- Não foi isso que você sempre pensou de mim? - responde o homem de cabelos negros, com sua habitual expressão entediada.

- Rui, Rui... - balança a cabeça, voltando para a cadeira - Como se não te conhecesse. - ele murmura, cruzando as pernas de um quilômetro de comprimento.

- Então me diga, o que eu poderia fazer por você? - ele finalmente vai direto ao ponto, olhando apenas para Rui.

Dirijo-me também à pessoa que me deve esta resposta há muito tempo.

- Acho que você já sabe desde que Hiro te contou. - estreita o olhar.

De repente, o ar começa a ficar pesado.

Os dois se entreolham em silêncio, como se estivessem se comunicando em sua própria língua.

O gigante sorri e balança a cabeça - Para um pedido desse calibre, imagino que você já saiba o que vou pedir em troca, certo? -

Estou ficando cada vez mais confuso e ver Rui tenso e cerrando a mandíbula não é nada reconfortante.

- Admito que a visão desse lindo pedaço me deixou sem palavras, sem falar no meu cheiro, - ele me olha sorrindo - Delicioso! Mas para tirar aquele idiota do Nakamura do caminho pensei em algo... satisfatório, digamos. -

Tirar isso do caminho?

O que você tem em mente?

- E isso é? -Rui pergunta.

- Estava pensando na Joyce com esse esplendor aqui. - e olha para mim novamente.

Que porra é Joyce agora?

- Com ela? - exclama o moreno, passando as mãos nos cabelos.

- Ah sim, acho que você vai me divertir muito e sabe o quanto sou insaciável. - continue sorrindo.

Insaciável aqui, satisfatório ali.

Mas vá se foder.

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