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Capítulo 06

A dor corta meu peito e minha alma chora feito criança, a pouca força que me resta uso para cuidar dos meus pequenos, minha única motivação para seguir em frente.

Além de conviver com a ausência, a vida ganhou novos figurantes, todo dia aparece um policial fazendo mil e uma perguntas como se já não soubessem o bastante.

— De novo? Todo dia vocês vão vir aqui? — Pergunto revirando os olhos — Vocês deviam respeitar meu luto, estou grávida e todo dia isso?

— Senhora, só estamos fazendo o nosso trabalho— O policial fala.

Fazem as mesmas perguntas anteriores, repetem-nas de formas diferentes e pressionam o máximo que podem. Dou o mínimo de informação, a realidade é que eu não sei muita coisa mesmo, e mesmo que soubesse não cairia nessa emboscada deles, meu André só perdeu sua vida por acreditar na palavra deles de que tudo ficaria bem.

O tempo passa dolorosamente, os dias são de angústia e dor, mal consigo me levantar da cama, já faz um mês que estou sem o meu amor, os dias ficaram nebulosos, o ar ganhou peso, meu corpo recusa alimentos, minha mente deseja o toque de André.

Saio de casa apenas para fazer a consulta do pré natal e graças a Deus nossa pequena está crescendo forte, recuso visitas, as únicas pessoas que vêm aqui são os familiares, fico horas olhando meus não sei o que será de nós. Tenho muito apoio tanto da família dele quanto da minha, contudo eu queria ele.

Assim que retorno do postinho e entro em casa meu cunhado chega pelas portas do fundo me chamando.

— Bia, estão nos chamando para uma reunião de família, dizem ser importante— Ele fala confuso.

— Qual o assunto? — Pergunto para saber o grau de importância, estou cansada e quero deitar.

— Não sei, estão todos aí, já esperam há horas! — Ele fala levantando as mãos na altura dos ombros.

Bebo uma água e vou com ele, seja lá o que for é melhor eu ir rápido. Me assusto ao ver que de fato estão todos, alguns dos parentes que estão sentados à mesa só vi uma vez em todos esses anos.

— Bia, minha filha, sente-se! — meu sogro fala me indicando uma cadeira.

Obedeço e corro um olhar sobre todos, fico assustada pois sou o centro das atenções, traumatizada começo a imaginar que mais alguma coisa ruim aconteceu.

— Minha filha, infelizmente Deus recolheu nosso menino e nos deixou com o coração carregado de dor, agora temos de ser fortes e seguir em frente, pois Ele sabe o que faz e se o levou nos resta aceitar. — A mãe dele introduz a conversa.

— Eu jamais aceitarei, Deus que me perdoe, mas eu não consigo! — respondo seca.

Meu sogro me pede calma e explica que essa reunião tem o objetivo de decidir o que é mais viável para mim e meus filhos. Engulo seco e ouço o que eles têm a dizer.

— Você é nova, está grávida e tem outras duas crianças, nós vamos deixar a casa para vocês, ela é de vocês, vamos ajudar nas despesas até que você tenha o bebê e consiga seguir sua vida— Seu João fala com calma, como se escolhesse as palavras.

Ouço enquanto decidem sobre a casa, despesas, cuidado das crianças e sem ao menos me perguntarem decidem que não estou apta a trabalhar, o que é fato, mas não deixa de ser coisas que eu deveria decidir.

— Mas antes de decidir o meu futuro, deveriam ao menos me questionar. — Falo contrariada.

— Só estamos visando o que é melhor para você. — A mãe de André fala e eu reviro os olhos.

— Não seja ingrata Bia! — Uma tia dele fala como se tivesse propriedade para isso, quase nunca a vi por aqui e não sabe nada de nós.

Respiro fundo e minha cabeça começa a latejar, não quero ser ingrata e por isso acabo aceitando as condições absurdas, mesmo achando-as invasivas.

Levo em consideração que não estou em condições, sejam fisicamente, seja emocional e ouço atentamente tudo que estão me falando, me irrito com os palpites sobre meus filhos, mas mordo a língua para não me estressar mais.

— Terminou? Eu quero descansar!

— Pode ir em outro momento vamos conversar sobre as vestes das crianças e a vaidade de Maria.

Reviro os olhos, respiro fundo e viro as costas mesmo com as contratações da minha sogra e da tia do André.

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