Capítulo 8
Marília
Acordei e tomei um banho para ir ao trabalho, espero que Vinícius já tenha saído de casa para que não me veja chegar e descarregue todo o seu estresse em mim. Acho que ele deveria trocar de trabalho comigo por um dia e com direito a um patrão tão exigente e mandão quanto ele.
Entrei no ônibus sem muita empolgação e cheguei na casa grande, assim que uma das empregadas abriu a porta para mim a cara dele… foi a primeira coisa que vi e ele não parecia nada contente em me ver. Eu também não estava disposta a dar nenhuma desculpa, simplesmente fui para minha casa por que me deu vontade!
– Por que não fez o que eu te mandei fazer? Custava tanto assim pernoitar aqui?
Ele agia como se fosse a coisa mais simples do mundo querer me manipular dessa forma.
– Eu… eu...
– Não quero ouvir sua voz, apenas trate de fazer o seu trabalho e nunca mais se atreva a desafiar as minhas ordens!
Ele sempre desconta as frustrações em mim e pelo visto ele estava muito descontente com alguma outra coisa, intransigente e mandão. A sorte dele é que nasceu bonito!
Subi as escadas para ir até o quarto de Yasmin e deixar de ouvir suas acusações, eu não fiz questão de olhar para ele depois de tantas grosserias. Trabalhei no período da manhã normalmente e esperei que Yasmin se arrumasse para ir até à escola e já tínhamos estudado juntas para a prova que ela tinha naquele dia. Ele nunca estava ao lado dela perguntando sobre como estavam as coisas na escola, sinceramente acho que ele é um pai muito frio. De certa forma ela é órfã como eu sou também, mas ser sozinha e ter um pai vivo deve ser uma dor muito pior do que a minha.
– Tchau linda e faça uma boa prova!
– Obrigada mamãe! – Assim que Yasmin me chamou daquela forma, a empregada me olhou com uma fúria notável, ela deve pensar que convenci a menina a me tratar assim para ter regalias com o pai dela.
Todos aqui me olham assim, eu não consigo entender por que fecham os olhos para o que está acontecendo dentro dessa casa. O dinheiro e o poder dele compram tudo, até a compaixão dessas pessoas.
Fui para casa, tomei um banho e fui dar um jeito na bagunça da casa. A pia tinha tanta louça que passei uns vinte minutos cuidando de tudo aquilo, caí no sofá e o meu programa favorito para aquele momento seria não pensar e nem fazer absolutamente coisa alguma.
Acabei dormindo um pouco mais do que deveria, eu tinha que ir até à casa de Vinícius como sempre às 18:00 para jantar com Yasmin e colocá-la para dormir.
Meu celular já tinha umas oito ligações dele e eu imaginava o humor...
– Ah não!
Eu sabia que de nada adiantaria adiar as broncas que ele me daria, então respirei fundo e atendi ao telefone.
– Por que não ficou aqui de vez? Você sabe que é isso que vai fazer, apenas seja razoável e obedeça!
– Eu tenho uma casa para voltar senhor Vinícius, mas já estou indo para honrar meu compromisso da noite.
– Venha e traga suas roupas, você vai ficar essa noite e todas que eu precisar.
Tapei o celular para poder xingar com cautela, respirei profundamente.
– Filho da mãe!
– Está me ouvindo Marília? Alô? Você e eu temos um contrato...
– Sim, senhor e não precisa me explicar pela milésima vez essa baboseira de contrato, estou indo!
Desliguei na cara dele, apesar de lindo e cheiroso demais… que homem irritante e autoritário, acho que nunca tive um patrão mais teimoso e cabeça dura. Enfiei umas roupas dentro de uma bolsa e itens de higiene pessoal, para minha surpresa o valentão mandou o motorista da casa me buscar. Bati a porta do carro com toda a força e cruzei meus braços deito uma criança mimada.
– Boa noite.
– Boa noite para quem? – O motorista arregalou os olhos com a minha resposta, apenas fomos para a casa.
Não gosto de descontar em ninguém, mas eu estava furiosa demais para deixar isso barato.
Cheguei, Vinícius não estava lá e logo vi por que o carro também não estava na garagem. Entrei na casa, Yasmin parecia uma pipoca pulando loucamente de alegria ao me ver… eu não estava com vontade de brincar com ela e só queria me trancar em um dos quartos de hóspedes, mas para isso eu precisava colocá-la para dormir.
Fiz com que ela tomasse mais um banho, me deitei com ela na cama e para minha surpresa a princesa dormiu em questão de minutos e eu também acabei cochilando vencida pelo cansaço.
Senti alguém tocar minha perna suavemente, me assustei ao abrir os olhos e ver que Vinícius estava ali e me tocando. Ele me puxou pela mão, eu não podia fazer alarme e saímos praticamente abraçados de dentro do quarto para não acordar Yasmin.
– Solte-me, seu maluco! – Ele parecia meio estranho, eu o empurrei para longe de mim, mas me dei conta de que minha roupa ficou suja de sangue e um forte odor de álcool.
Fiquei preocupada com ele, mas pensando bem… ele que se lasque. Eu ia me afastar ainda mais e entrar em um dos quartos, Vinícius ia cair duro no chão e eu tive que segurá-lo mesmo quase sem conseguir.
Ele estava ainda meio acordado e fui guiando-o até um dos quartos e o empurrei deitado na cama.
Me debrucei sobre o corpo dele, claro no maior respeito, e fui abrindo os botões de sua camisa. O peito dele era tão forte e parecia quente, fui retirando suas roupas e ele estava em sono profundo, aproveitei para procurar o ferimento que causou todas aquelas machas de sangue em suas roupas, mas não havia nenhum.
– Você não está ferido coisa nenhuma, só chapado de cachaça e exausto!
Saí de cima dele e joguei um lençol sobre seu corpo, saí de lá imediatamente antes que algum dos empregados ou Yasmin me visse no quarto com ele. Já temos fofocas o bastante sobre nossa relação que nunca existiu… eu ia sair, mas ele gemeu, senti medo de que passasse mal durante a noite. Se ele morresse eu ficaria com remorso, resolvi ficar e velar o sono dele… mesmo que não mereça isso.
[...]
Dia seguinte...
Marília acordou, percebeu que Vinícius já estava acordado e olhando para ela com um sorriso insistente. Ela olhou para todos aqueles músculos do peito dele, sentou-se assustada afastando-se dele repentinamente.
– Não precisa disfarçar, para você ter cuidado tão bem assim de mim e por toda a noite… é por que está caidinha. – Gargalhadas. – Confessa que está apaixonada por mim!
– Que pretensioso… você ainda está bêbado, só pode ser isso!
– Eu não bebo. – Ele respondeu sorrindo e colocando as duas mãos atrás da cabeça confortavelmente.
– O fedor de álcool estava tão forte, que me fez cair dura aqui do seu lado e só por isso eu fiquei!
– E isso te fez tirar minha roupa também princesa?
– Olha aqui, patrão, estou apenas cumprindo meu papel como babá. Já me dei conta de que aqui nessa mansão, há duas crianças que precisam dos meus serviços e uma delas é você!
Ele apenas continuou sorrindo, achou que ela ficava ainda mais linda, envergonhada e com o rosto corado.
Marília
Saí do quarto bem rápido para que nenhuma das empregadas vissem havermos ficado no mesmo e evitar que elas falassem de mim para a menina alimentando coisas que não existem, felizmente Yasmin logo veio até mim.
– Yasmin que bom que te achei mamãe, você precisa me ajudar a escolher a roupa para o balé!
Fui com ela até o quarto, ajudei a escolher a bendita roupa. Me despedi dela e o motorista a levou para a aula...
– Agora você pode descansar, passou a noite inteira ocupada! – A voz dele como sempre invadindo o meu silêncio.
Olhei para Vinícius e apenas subi as escadas, eu precisava mesmo dormir um pouco e isso era indiscutível. Assim que deitei na cama eu me lembrei do quanto seu corpo é quente e tão forte, nunca havia sido tocada por um homem ou estado assim tão próxima como fiquei com ele. Preciso varrer esses pensamentos bobos de dentro de mim, Yasmin não pode me fazer pensar que um homem como ele poderia se apaixonar. Ontem mesmo deve ter voltado de uma farra com mulheres e eu feito boba sofrendo e pensando em coisas impossíveis.
[...]
Vinícius foi para a empresa, lembrou-se do que havia acontecido na noite passada. Ele teve que lidar com um traidor do cartel e esses assuntos ele mesmo preferia resolver. Os subordinados de Vinícius entraram na sala dele para passar-lhes algumas informações… sobre sua mesa, havia uma foto de Marília que chamou a atenção deles.
– Sim, chefe, já temos as informações sobre a garota. A tal Marília... – O homem entregou a ele um papel, Vinícius olhou tudo aquilo com muita atenção e sua expressão tornou-se ainda mais sombria naquele mesmo instante.