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Capítulo 9

No dia seguinte, Marília acordou bem cedo, resolveu ir para casa e lavar algumas roupas. Na casa grande ela não tinha liberdade para fazer essas coisas, sentia falta de casa e de sua privacidade. Não quis pedir carona ao motorista de Vinícius, afinal, ela era uma empregada assim como ele.

– Vai sair dona Marília?

– Sim, mas não se preocupe, eu vou de ônibus!

Ele estranhou que a moça que podia usufruir de regalias não estava aproveitando isso, as empregadas já comentavam sobre ela e o patrão, mas aquela atitude demonstrava o oposto. Ele nunca quis mostrar qualquer sinal de vulnerabilidade, estar ali já era o bastante.

Marília entrou em um ônibus lotado, percorreu trinta minutos e chegando lá, teve uma grande surpresa ao ver boa parte das suas coisas sendo retiradas da casa e colocadas do lado de fora, correndo o risco de serem danificadas caso chovesse. O medo tomou conta dela, não podia pensar que o que ela tanto temia estava acontecendo.

– Espere, por que estão retirando minhas coisas da casa desse jeito?

Ela perguntou tirando o abajur das mãos de uma dos carregadores.

– Desculpe senhorita Marília, o filho do dono da casa vai se mudar para cá e ele não quer mais que você a ocupe.

– Me deixe buscar minhas coisas amanhã, prometo que bem cedinho eu venho para buscar tudo. Só preciso de um prazo, isso não se faz… eu sempre fui uma boa inquilina!

As lágrimas dela o comoveram e decidiu dar um prazo para que ela se organizasse melhor.

– Está bem, mas se não vier pegar suas coisas amanhã mesmo nós jogaremos tudo no lixo!

– Prometo que virei.

Ela não tinha saída e não queria incomodar a amiga pedindo para ficar na casa dela, apenas pegou as coisas que pode carregar e saiu caminhando e á procura de uma nova casa alugar.

Não seria nada fácil encontrar alguma assim tão rapidamente e ela temia ter que pedir ajuda para o novo patrão. Caminhou por algumas horas sem ter sucesso em sua busca e seu celular tocou, ela se sentou em um dos bancos da praça para atender. Não sabia o que esperar mais, tudo de ruim que poderia acontecer com ela já estava se tornando realidade.

– Onde você está? – Vinícius perguntou interessado e ela respondeu com ironia.

– Dando uma volta pela cidade, patrão!

– Não seja engraçadinha, eu preciso que venha aqui para casa agora.

Ela suspirou, não tinha como negar e nem poderia por não ter para onde ir. Era ceder ao patrão ou dormir em um daqueles bancos frios da praça, ela engoliu o orgulho.

– Está bem, senhor, estou indo para aí!

– Diga onde você está e mandarei o motorista.

Marília disse a ele onde estava e seria melhor que alguém a ajudasse com as coisas que ela pode retirar da casa, alguns minutos mais tarde o motorista chegou, eles foram para a mansão e já havia escurecido. Dentro daquele carro e ao deixar sua casa, Marília chorou… temia muito o que estava acontecendo e ter tomado aquela decisão de ir para a mansão levando todas as suas coisas.

Do andar de cima, Vinícius a viu chegar, percebeu haver malas no banco de trás e ela parecia muito triste...

– Pode deixar as malas aqui. – Ela pediu ao motorista, afinal ainda precisava do aval do dono para saber se poderia ou não ficar.

Mesmo que fosse apenas por um tempo ela se sentia humilhada, se Vinícius fosse um pouco diferente quem sabe ela poderia não estar sentindo tanto medo.

Marília foi até a sala de estar para falar com ele e poucos segundos depois, Vinícius desceu as escadas. Ela estava com seu travesseiro favorito abraçado ao corpo e o olhava muito triste, ele, em contrapartida, sorriu ao vê-la pronta para ficar.

– Acho que dessa vez vou conseguir fazer com que você fique!

Ela percebeu pela fala dele que não precisaria entrar em maiores detalhes, pois o principal ele já parecia saber.

– Fui despejada da casa onde eu morava Vinícius, peço apenas que deixe-me ficar até que eu possa encontrar outro lugar. Um que eu possa pagar, juro que não vou incomodar em nada e posso dormir em qualquer quarto que possa me oferecer!

Ele sorriu ao pensar no seu em especial, mas não diria isso na tentativa de irritá-la ainda mais.

– Mandarei pegarem suas coisas e as trarão para cá amanhã mesmo.

Ela ficou incomodada, não pretendia ficar morando de favor por muito tempo e muito menos na casa de alguém como ele.

– Não precisa trazer minhas coisas aqui para sua casa, apenas peça para guardarem… não ficarei muito tempo aqui.

– Temos um contrato e eu dou as ordens, vou contratar a empresa de mudanças, Marília.

Ela subiu as escadas enquanto o olhar dele a perseguiu por todo o caminho.

Marília

Fui até o quarto de Yasmin e ela ainda tomava banho, esperei que ela se arrumasse e fomos jantar. Fiquei muito triste por perder o meu lar e o pior de tudo, porque Vinícius de certa forma estava conseguindo me manter aqui e era assustadora a forma que ele tem usado para me manipular… aquele maldito contrato outra vez. Estávamos sentados ao redor daquela mesa e eu não conseguia disfarçar o quanto estava incomodada com a situação.

– Tenho uma novidade, filha! – Ele falou ao limpar os lábios com o guardanapo.

– Então fale de uma vez papai, o senhor vai e casar com Marília?

Yasmin me deixou ainda mais constrangida com aquela pergunta absurda, Vinícius me olhou sorrindo como se eu tivesse gostado da sugestão. Não sei como pode se divertir me humilhando dessa maneira!

– Marília vai morar aqui conosco.

– É sério, papai? – Ela se levantou e correu para abraçá-lo e depois a mim.

Eu tive que forçar um sorriso para não deixar a pobrezinha envergonhada, mas era um grande contraste ver a alegria dela e a minha revolta. Eu não podia deixar ele “sambar” na minha cara desse jeito sem reagir, não quero que ela fique acreditando nas loucuras que ele fala e depois fique com o coração partido ao me ver indo embora.

– Eu só vou ficar aqui por um tempo, Yasmin, até que eu consiga alugar outra casa!

Ele retrucou,

– Não, Yasmin, Marília vai ficar até quando você quiser que ela fique aqui.

Vinícius sabia me irritar como ninguém, era constrangedora como ele colocava uma decisão como essas nas mãos de uma menina. Não é atoa que ela seja assim tão carente á ponto de chamar uma completa desconhecida de mãe e se entregar de coração a mim.

Peguei na mão dela e seguimos para o quarto, tentei explicar que só estou passando uma temporada e que temos que seguir rumos diferentes quando eu conseguir me instalar em outro lugar. Ela repetiu mil vezes que ela tinha me escolhido e que o pai dela disse que eu ia ficar… e eu ia ficar.

A cobri com o lençol, fiz um carinho em seu pequeno nariz arrebitado e ela sorriu.

– Eu gosto muito de você Yasmin, sei que tem um bom coração. Você só precisa entender que eu tenho que ter minha própria vida e minha casa… essa é sua e do seu papai!

– Pode ser sua também, ele quer e eu quero também.

– Já chega desse assunto pimentinha, vá para cama e pare de falar besteiras.

Dei um beijo em sua testa e antes que eu saísse ela me pediu que deixasse uma das luzes acesas.

– Está bem, tenha uma boa noite!

Após colocar a garotinha na cama, fui arrumar as minhas coisas no quarto de hóspedes e mandei uma mensagem para Rafaela, ouvi baterem na porta de maneira insistente… me assuntei ao ver ser ele.

– Precisa de alguma coisa Vinícius?

– Apenas saber se você está bem acomodada, prefere que te deem um quarto maior do que esse?

– Não será necessário!

– Se precisar de alguma coisa peça as empregadas, tenha uma boa noite.

– Para você também.

Fechei a porta e fui tomar um banho, ao menos o quarto é lindo e confortável e me faz lembrar da noite maluca em que fiquei cuidando dele. Mas ainda assim essa situação não é nem um pouco confortável, Vinícius não pode se divertir às minhas custas colocando minhas decisões nas mãos da fofa pirralha só para me ver submissa.

– Isso é loucura, aquele sangue não era dele… não sei se ficar aqui pode ser uma boa ideia ou seguro para mim.

[...]

Yasmin sequer dormiu naquela noite, estava muito feliz em ter a nova mãe em casa de forma definitiva. Não queria voltar para a solidão de antes de tê-la em sua vida, para que isso fosse duradouro ela precisava fazer com que eles se casassem.

Percebia que o pai estava fazendo as coisas para agradá-la e bastaria a ela, pedir o que tanto queria desde sempre e ele poderia dar-lhe em breve.

Vinícius também estava satisfeito em tê-la em sua casa, tudo estava acontecendo da forma que deveria ser desde o começo e ele pretendia avançar.

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