Capítulo 7
Marília começou a trabalhar na casa de Vinícius mesmo contra sua vontade, não tinha outra alternativa a não ser ceder a imposição daquele homem poderoso. A raiva por ter sua vida manipulada a estava deixando cega, não queria descontar tudo na garota e fazer um mau serviço.
Arrumou sua bolsa, passou um suave batom nos lábios e mandou uma mensagem para Rafaela dizendo que iria começar no trabalho e pediu que a desejasse muita sorte: ela iria precisar.
A jovem chegou na casa grande e a garota correu para os braços dela... Marília tinha que manter o sorriso, afinal a menina não tinha culpa de o pai ser tão autoritário com ela.
Yasmin estava adorando ter uma companhia feminina e estava cada vez mais empolgada em ter alguém com quem conversar. Naquela mansão ela tinha muito luxo, mas apenas isso e fazia falta para ela ter uma amiga, Marília ficou encantada com as coisas belas que ela tinha e seu material escolar muito provavelmente custava o valor de um mês de seu aluguel.
– Eu não gosto de fazer meu dever de casa com as empregadas, elas são chatas demais.
Marília sorriu e balançou a cabeça.
– Não fale assim Yasmin, é que esse trabalho não faz parte do serviço que elas são pagas para fazer.
– Você veio só pelo dinheiro que meu pai vai te dar?
– Não vamos falar sobre isso, apenas aproveitar o dia… certo?
Estar naquele lugar era estranho, ela gostava da ideia de cuidar de uma criança, mas Vinícius era alguém complicado de entender e a forma que usou para trazê-la estava engasgada em sua garganta.
Marília tentou fazer sua estadia com a menina a melhor possível, brincaram juntas o dia inteiro no quintal e estavam se dando muito bem. A cada canto que ela descobria daquela mansão percebia o poder que Vinícius ostentava, sentia que jamais poderia ir contra a vontade de alguém como ele. Seu pensamento a levou por um momento a uma hipótese… se ele realmente estava fazendo isso por algum tipo de interesse sexual, não ela descartou imediatamente. Com tanto poder e dinheiro, Vinícius poderia conseguir todas as mulheres que quisesse e ela se colocou naquele momento em uma situação inferior e a sensação não foi nada boa.
Apesar de achar que algumas das perguntas da garotinha eram muito intrusivas e que ela até poderia estar adivinhando seus pensamentos.
– Agora vamos subir, você precisa de um bom banho.
– E eu acho que você precisa de um novo penteado! – Sugeriu Yasmin, gostava dos cabelos da nova amiga.
As duas estavam no quarto da garotinha, Marília estava sentada enquanto a menina penteava seus cabelos longos e escuros. Ambas olhavam para o espelho, haviam algumas almofadas sobre a cama e vários brinquedos ainda na caixa.
– Seu cabelo brilha e é muito bonito.
– O seu também é lindo Yasmin, tem a cor do sol.
– Acho que meu papai gosta de você!
Marília virou-se para ela de repente e ficou surpresa, querendo saber obviamente de onde a menina poderia ter tirado isso.
– Que absurdo é esses Yasmin? – Ela perguntou curiosa, não imaginava o que poderia fazer a garotinha pensar tal absurdo, mas queria sondar e descobrir.
– Eu acho sim e eu também gosto de você… eu sonhei muito tempo em ter uma mãe legal e que fosse assim!
Marília virou-se para ela e as duas se olharam nos olhos.
– Acho que está misturando as coisas linda, eu não sou sua mãe e nem posso ser. – Yasmin ficou triste ao saber que Marília não gostava que a menina a chamasse assim e encheu seus olhos de lágrimas no mesmo instante, o olhar triste daquela menina a fez derreter o coração. – Desculpe-me pelo que eu disse, você pode me chamar da forma que preferir!
– Está bem, então mamãe.
Marília a abraçou.
Marília
Sinto pena dessa menina, mesmo que seja complicado para mim ouvir isso de alguém que mal conheço… não me custa nada deixar que ela me chame assim, ela é carente de amor e afeto. Eu também sou sozinha nesse mundo, cedo ou tarde ela vai entender que amigas é o máximo que podemos ser uma da outra.
Marília colocou a garota para tomar um bom banho e se arrumar para o jantar, ela mesma estava muito cansada daquele dia exaustivo e queria muito ir embora, poder descansar
. A rotina de cuidar de uma criança não era tão tranquila quanto ela pensou que fosse e seu corpo pedia por descanso. A casa ficava a uma distância razoável da sua e ela ainda teria que pegar um ônibus para voltar.
[...]
A noite chegou, Vinícius voltou do trabalho e as viu juntas assistindo televisão. Ele tomou um banho e depois juntou-se a elas na sala por um momento, ele nunca fazia isso e Yasmin percebeu que o motivo daquela mudança repentina poderia ser a vontade de ficar perto de Marília.
Ela pensou em perguntar isso para ele, mas resolveu apenas observar o comportamento dos adultos e se divertir com ele. Até que uma das empregadas chegou e chamou atenção dele, cortando o seu olhar insistente para as pernas da babá;
– Senhor, o jantar já está servido! – Uma das empregadas anunciou, ele olhou para Yasmin e depois para Marília convidando-as.
Ela então achou que seu trabalho já estava concluído naquele dia e que já poderia ir embora finalmente. Um alívio grande tomou conta dela e até sorriu.
– Eu já terminei meu trabalho, Yasmin já tomou banho e fez seus deveres de casa.
Ele negou com a cabeça e Marília achou que seria liberada para ir para casa, afinal estava cansada e faminta… suas funções já estavam em dia, porém aquela negativa a preparou para a frase dele que veio em seguida.
– Você irá ficar conosco!
Marília se levantou imediatamente.
– Por favor, Vinícius, já está tão tarde e eu muito cansada...
– É só um jantar e obviamente você estaria muito mais cansada se ao invés de cuidando de Yasmin, estivesse servindo mesas. – Ele insistiu e Yasmin saiu puxando-a pela mão até a sala de jantar, Marília olhava para ele com muita fúria.
Marília
Me sentei irritada, dane-se que ele perceberia meu mau-humor. Eu não queria estar ali, já fiz tudo o que deveria e me pagam para fazer… ele pensa que o dinheiro dele vale mais do que o dos outros, não é justo que eu tenha que passar por isso.
– Coma Marília, você disse estar com fome mais cedo. – Yasmin tentava me ajudar a sair do estado de revolta que eu estava, mas ela não sabe o quanto me custa ter que ficar olhando para a cara do pai dela.
– Eu quero que você fique aqui em casa por alguns dias, Yasmin irá começar a fazer as provas da escola e seu dever é fazer com que ela se saia bem em todas!
– Para isso, eu não preciso morar aqui, Vinícius. Eu venho todos os dias e até mais cedo se for necessário para ensiná-la as lições da escola.
Não posso acreditar no que estou ouvindo, ele é muito mais maluco do que eu podia imaginar. Como pode manipular a vida de alguém dessa forma e sequer mudar de expressão?
– Eu já decidi e não quero mais discutir sobre esse assunto!
Não suportei a arrogância dele e falei mais forte.
– Isso não existe, não pode me forçar a ficar aqui!
– Lembre-se de que temos um contrato e ele determina que você deve dormir no trabalho se essa for minha vontade e tenho certeza de que não vai querer violar o acordo que você mesma assinou, então trate de aceitar o que precisa ser feito e apenas cumpra seu dever profissional com a minha filha e comigo.
Me deu uma vontade enorme de xingar e jogar aquele suco inteiro nele, mas não posso me deixar levar pela raiva. Criei uma armadilha para mim mesma ao assinar aquela droga de contrato, tudo o que posso fazer é aguentar calada. O fiz pensar que concordei, mas não posso passar tanto tempo aqui na casa dele.
Eu sabia que naquele momento ele não iria aceitar um acordo, esperei que Yasmin dormisse e depois ele. Saí daquela casa, eu não tinha por que pernoitar ali e muito menos sem ter nenhuma roupa ou me preparado para ficar, Vinícius vai entender e tenho certeza de que não vai surtar por uma bobagem como essas.
Pedi um táxi para ir para casa, era tardiamente para ir ao ponto de ônibus e ficar por lá sozinha esperando o ônibus.
Cheguei em casa, tomei um banho e preparei um macarrão instantâneo. Apesar de ter tido a minha disposição aquele jantar todo requintado, eu não quis nada daquela casa. Comi e dormi tranquila na minha cama, que por mais simples que seja, é minha!
Vinícius vai ficar uma fera comigo, mas eu tenho que me impor… e Yasmin, pobre menina tão triste e sozinha naquela casa tão enorme.
É a prova de que dinheiro não traz felicidade!
Dormi feito um bebê e deixe que o amanhã se resolverá.