Capítulo 4
Mark
Após a conversa com Melinda, a voz da ruiva ainda me causava arrepios. Andava de um lado para o outro encarando a demônia que estava sentada na poltrona e revirava os olhos ao me encarar.
Em algumas horas eu verei a ruiva que tira minha paz há anos, que faz meu sangue ferver e meu pênis ficar duro com uma simples ligação.
— Vai acabar afundando o chão!
— Angèle, tem dúvidas sobre a colheita, aquele romance que havia me alertado começou a ser um problema. — Faço uma pausa e paro na sua frente. — Irei à casa dos la Barthe hoje na hora da bruxa para esclarecer as dúvidas e colocar Angèle no caminho certo!
— E de quebra irá levar a ruiva para a cama!
Não era uma pergunta e sim uma afirmação.
— É meu acordo com a deusa Tríplice! — Sorrio ao me lembrar como ela possuía uma pele suave, lábios voluptuosos e um fogo que me consumia em desejo puro.
— Sim, Angèle, tem um grande futuro e o deus Cornífero tem grandes planos para ela, como sua escolhida!
— Imaginei que era esse sentido, mas vamos repassar alguns assuntos, deus Cornífero, ainda preciso me inteirar com todos os desejos dele.
A mulher demoníaca se limita a sorrir, a acompanho até o sofá e lá debatemos alguns quesitos de como será a estadia de Angèle na escola, embora meus pensamentos ainda refletissem meu desejo por Melinda.
Ela me odiava e não possuo o poder de mudar o passado.
O Coven da família exigia um casamento com uma família de prestígio, e quando apresentei Melinda a eles foi unânime a recusa, já que havia um nome escolhido e não tive poder de voto.
Foi como se parte de mim morresse aquele dia...
Aceitei meu destino e no dia do baile da escola, no meu último ano, parti seu coração cruelmente. Não tive coragem de contar que eles não viam a família que cuidava de uma simples casa de chás com bons olhos, eles não tinham prestígio ainda.
Eu levei Heloise ao baile de formatura negra e Melinda estava me esperando. Quando nossos olhos se encontraram e ela viu que estava com outra, o mundo ruiu para mim. Eu quis ir atrás dela e dizer toda a verdade, dizer que fui um completo covarde e não tive escolha, mas a vi correr pelo terreno da escola e ser consumida pela noite.
Nunca fui atrás dela, nem para me explicar.
Eu a deixei me odiar e fui ganhar o mundo através dos ensinamentos do deus Cornífero. Foquei em aprender tudo que podia e quando voltei, anos depois de casado, para lecionar magias ocultas aos alunos descobri que ela partiu com um homem para Londres, onde faria um curso e anos mais tarde seria uma das maiores parteiras do mundo bruxo.
Finalmente, aceitei minha sina. Havia perdido Melinda para sempre, por um casamento de aparências, sem amor, sem sentimentos, com um único propósito...
Perpetuar o nome Clarke.
Foi o que fiz todos estes anos e não me sentia confortável em ter Melinda perto de mim novamente sem poder tocá-la.
“Mas faria tudo isso mudar ainda hoje!”
— Pensando nela ainda?
— Sempre pensarei nela!
— Ela é sua fraqueza e será sua ruína! — exclama a mulher. — Vocês não têm um destino juntos, então, aceite que seu papel aqui é único e exclusivo, pôr Angèle no caminho oculto do Lorde!
— Nunca me esqueceria dos motivos, pela deusa Tríplice! Eu sou grato demais a ela por tudo que conquistei... Minha futura ex-esposa está esperando meu primogênito e pela primeira vez a gravidez dura mais de seis meses!
— Então, faça sua parte que faremos a nossa!
Me levanto do sofá e saio da sala deixando-a sozinha. Subi a escada e abri a porta do quarto. Heloise estava adormecida, os hormônios da gravidez a deixaram fragilizada, sensível e muito cansada. A mulher, a qual compartilho a cama por anos não passava de uma amiga. Um sexo sem compromisso a fim de engravidar já que não nos amávamos. Ela me daria um filho e eu daria o divórcio, foi o combinado e poucos sabem sobre isso.
Entrei no banheiro, tomei um longo banho e ao sair procurei uma roupa negra para vestir. Penteei meu cabelo, passei perfume e terminei de aceitar os últimos detalhes. Não estava indo ver Angèle, mas sim Melinda.
— Mark? — chamou a voz cansada.
— Constantemente, irei à casa das la Barthe, a jovem Angèle tem dúvidas em seguir os mistérios da nossa comunidade, assumir seu lugar ao participar da colheita e irei orientá-la.
— Sim, vou pedir para a empregada preparar algo para comer, nosso filho sente uma fome gigantesca, pela deusa Tríplice, uma bênção!
— Sim, uma grande bênção... Até logo querida!
Saio do quarto e desço a escada. Após sair pela porta, a tranco e vou até o carro. Sempre amei carros antigos e agora possuía um Rolls Royce que era meu xodó. Dirigi até a casa deles e cheguei antecipadamente, o que me deu uma visão privilegiada dos quartos. Lá estava ela penteado seu cabelo e olhando o horizonte, como sempre o fazia quando estava nervosa e isso me deixou sorridente.
Será que ela estava nervosa por minha causa?
Não, esperei muito para saber.
Sai do carro e logo bati na porta. Não tardou e Melinda abriu a porta, me deixando sem voz e sem ar. Ela estava magnífica em um vestido preto com um generoso decote V, mangas 3/4 e com um belo sorriso no rosto, que ao constatar que era eu ali parado, seu sorriso se esvaeceu e ela me escancarou friamente.
— Resplandecente noite, sumo sacerdote!
— Irmã Melinda! — Notei que minha voz saiu mais rouca que o normal ao constatar que ela ainda me odiava. — Os anos fizeram muito bem para sua beleza estonteante. — Estendo a mão, ela a beija suavemente e meu corpo clama por um toque mais íntimo e demorado.
— Galanteador, como sempre! Entre... Angèle, logo chegará e...
— Angèle, não está?
— Como dizia, ela está com os amigos e logo chegará. — Faz uma pausa.
Entrei na casa e ela me levou até a sala onde aconteceria a reunião.
— Sente-se, Rodolpho, trará um chá que vai aquecer a noite e...
— Eu só preciso de uma coisa para me aquecer! — exclamei e notei seu rosto corar.
— Sacerdote, peço que suas gracinhas sejam ditas para as putas que costuma levar para cama e se limite a cuidar do caminho da minha sobrinha! — diz e se retira.
Sim, ela me odeia ainda.
Não demora muito, logo ouvimos o ranger da porta e passos se aproximando, surgindo da escuridão uma loira que possuía o mesmo brilho no olhar de Melinda.
— Angèle, nós temos visita! — Melinda toma a frente e a encaro. — Sacerdote Clarke, irá esclarecer suas dúvidas. Em cinco dias fará aniversário e será uma mocinha!
— Resplandecente noite, Angèle!
— O que faz aqui?
— Sou o sumo sacerdote, a voz que fala em nome da deusa e diretor da academia. Sua tia Melinda, me pediu para conversarmos e esclarecer suas dúvidas sobre a colheita.
— Tenho algumas dúvidas e nem sei por onde começar!
Notei seu olhar perdido e seguro meu cajado com mais força a encarando. Queria saber tudo para poder colocá-la no caminho certo, deus Cornífero, tinha planos para ela e precisava esclarecer e ajudá-la a voltar ao rumo do nosso Stregheria.
— A colheita stregha é o sacramento mais sagrado! — exclamo e continuo a explicação. — Ele é o momento mais esperado pelas bruxas, logo você estará no caminho certo, criança! — Sinto o olhar de Melinda, era como se rasgassem minha alma e ela me visse por trás desta pose de sacerdote. — Sua tia me contou que tem dúvidas, a meu ver, está temerosa que tenha que findar seu namoro e está errada. Mesmo tendo a paz sido selada entre nossos Covens, ainda há um certo pé atrás com eles, assim como eles com a gente. A única coisa que necessita é estar radiante naquela floresta, após serem deixadas se banharão ao luar e receberão a visita da deusa. — Tentei explicar o máximo das suas dúvidas, mal sabe ela o que lhe espera.
Conversamos durante uma hora e ainda me restam dúvidas sobre sua palavra de estar presente e participar da colheita. Respiro fundo e me despeço de todos enquanto Melinda abre a porta para minha saída, mas antes de fechar a porta eu a seguro com o pé.
— Daqui meia hora na minha casa na floresta e não se atrase! — Toquei suas bochechas e notei-a corar, há velhos hábitos que não mudam nem certas reações.
A reunião inteira trocamos provocações e nos alfinetávamos.
— Mark...
— Me deu sua palavra! Ou a poderosa Melinda, não as cumprem?
Nem espero resposta, saio da soleira da porta e caminho até o carro. Ligo-o e vou para a casa que durante anos não consegui entrar. Casa esta que era meu refúgio e ponto de encontro com Melinda para nossas noites tórridas de amor. Não demoro a chegar na casa, entro e fecho a porta atrás de mim, mesmo sem vir aqui sempre fiz questão que cuidassem da casa. Não tinha comida, mas bebida tinha de sobra.
Vou até a cozinha, pego dois copos, volto para a sala e caminho até a estante. Não era hora de contar que me separaria da minha mulher, temo que ela pense ser por ela. Pego o whisky puro e ao abrir a garrafa inalo seu cheiro, estava bom ainda, sirvo o líquido nos copos e me sentei na poltrona para esperar Melinda. Em meio a tudo isso, fecho meus olhos e deixo a lembrança do seu aniversário invadir minha mente.
Vinte e um anos atrás...
Os três dias passaram voando, hoje era o aniversário daquela bruxinha de olhos esverdeados que havia invadido meus sonhos e meus pensamentos mais pecaminosos. Não consigo tirá-la da minha mente e nosso primeiro beijo ainda está tão vivo em minha memória. Ela correu como um cordeiro assustado, após ver a face do lobo mal.
Nunca fui santo, já tive muitas mulheres aos meus pés, para beijos roubados ou somente sexo, mas nenhuma conseguiu fazer o que ela fez em apenas algumas horas. Ela despertou algo dentro de mim que nunca senti e nunca estive tão duro a ponto de ter que me aliviar no banho gelado.
Aquela bruxa despertou em mim um lado possessivo e dominador, precisava sentir seus lábios novamente, seu corpo quente rente ao meu e nossos corpos fundidos em um só em plena libertação de prazer.
Achei a minha companheira...
Só podia ser ela.
Provei seus lábios e senti o fel do mais doce néctar, minha bebida preferida até provar sua buceta quente em meus lábios e como precisava sentir. Reviro os olhos com tais pensamentos, eu queria uma menina que mal me olhava nos olhos.
Não consigo tirá-la da minha mente, nenhuma menina chega aos seus pés e as aulas eram somente no período da manhã devido a festa. Estava tentado a comparecer, ainda mais que ela precisava de um príncipe da noite para ser seu par na dança profana dos dezoito anos e não podia imaginar outro fazendo o papel.
— Mark, finalmente te achei.
Thalia entrava pela porta da biblioteca e me encarava.
— Pensei que já tinha ido para casa se arrumar para a festa da minha irmã.
— Thalia, eu pensei bem, ela me odeia, então é melhor não ir!
— Você tem que ir, Mark! — diz nervosa.
— E por quê?
— Não deveria falar, então não ouviu por mim!
Sorrio com aquele momento.
— Melinda, disse que você não só iria ao aniversário, como dançariam a "valsa negra".
Ela sem dúvida mentira e isso seria a brecha perfeita para me aproximar.
— Me esqueci da minha promessa a Melinda e mal posso esperar pela dança! — Encaro minha amiga com um sorriso malicioso na face, queria Melinda logo na academia, pois seria o responsável pelos trotes.
— Te esperamos às 21 horas e não ouse se atrasar... Minha irmã, odeia atrasos! — exclama e em seguida se retira me deixando perdido em meus pensamentos.