Cap. 4
Stella era uma médica competente e por esse motivo, aquele era o segundo hospital para qual foi chamada para trabalhar, as ofertas de empregos nos hospitais sugiram antes dela terminar a faculdade, e quando concluiu, vários hospitais a chamaram, apesar de a maioria serem os melhores da cidade, ela escolheu o que era mais perto do seu apartamento pelo simples motivo de sempre se atrasar demais para tudo.
No almoço, ela preferiu trabalhar ainda mais, quase quarenta minutos de atrasos teria que ser recompensado. As crianças sempre há animavam seu dia, e o que a deixava mais apaixonada por seu trabalho. Sempre fora apaixonada por crianças, bebês e seu maior sonho era ser a melhor mãe do mundo. E seria, assim que encontrasse seu príncipe encantado. Sim, ela sonhava com um príncipe, bonito e romântico, como toda menina.
Perto da hora de ir para casa, Stella resolveu passar pelo berçário, conversou com algumas mães e não conseguiu esquecer o caso do seu vizinho, ou dele mesmo. Lembrou-se no menino enquanto via alguns pais felizes por ver seu pequeno chorar ou dormi tranquilamente. Imaginou Daniel no dia em que Adrian nasceu, ele deveria ser o pai mais feliz do mundo. Riu. Conversou com sua chefa e teve o que queria.
Stella podia entrar na sala a qual varias mães doavam seu leite para outras crianças que perderam sua mãe no parto, ou foram abandonadas ao nascer. Começaria em busca do leite do qual o pequeno gostasse no outro dia, e ela tinha que dar essa noticia para ele.
Quando saiu do hospital, passou por uma lojinha da rua e se apaixonou por um conjunto de roupas para bebês, não tardou a comprá-la para seu vizinho. Chegou ao prédio e foi direito para o apartamento de Daniel e depois de tocar a campainha duas vezes, Cassia abriu e sorriu ao ver Stella parada ali.
— Stella, boa noite querida, como vai? — A médica entrou beijando a senhora e o garotinho nos braços dela.
— Eu, bem, e você, como foi seu dia? — Cassia contou-lhe tudo o que houve e ambas sentaram no sofá, acomodadas com a conversa. Mais tarde, Daniel chagou e se surpreendeu ao encontrar novamente a mulher, mas riu alegremente.
— Querido, como vai? — Cassia o encheu de beijos deixando-o constrangido na frente de Stella que riu.
— Bem mamãe. — Daniel terminou o abraço e Stella levantou com seu filho no colo e deu o bebê a Daniel que riu.
Ele parecia um pai apaixonado, e dava-se para ver o quanto amava aquela criança. Mesmo que as dificuldades aparecessem uma atrás da outra, ele seguiria em frente, pois passara o dia meditando nas palavras de Stella, e ela estava completamente certa.
Ele ia se acostumar com tudo e cuidaria do seu filho sozinho, sem Kesia ao seu lado, ele não precisaria dela para fazer seu filho feliz.
Quando Cassia foi embora, Stella ficou somente para deixar o presente ao menino.
— Daniel, eu passei hoje em uma loja quando estava vindo, e me apaixonei por uma coisa que eu tive que comprar — Ela estendeu o presente e o Flint apenas olhou o embrulho — É para o bebê, espero que goste também.
— Obrigado.
— Ah, tem outra coisa, conversei com algumas mães e minha chefa, eu posso lhe ajudar com o leite dele.
Daniel entreabriu os lábios rapidamente e os fechou, depois que Stella falou, ele rumou a internet para achar mais coisas sobre o assunto e concluiu o que já tinha ouvido, sem o leite materno nos primeiros meses da criança, ele pode desenvolver doenças ao decorrer do seu crescimento. Agradeceu Stella ternamente quando ela parou de falar.
— Obrigado. — Sussurrou desviando o olhar, — Eu nem sei o que fazer por você.
— Não precisa fazer nada, tudo bem? - Stella riu — Faço isso apenas pela criança, eu amo crianças, e quero vê-las felizes e saudáveis - Gentilmente ela aproximou-se de Daniel e beijou a bochecha de Adrian, depois riu para Daniel — Até logo.
Quando ela fechou a porta, Daniel riu.
— Até logo, Dr. Arden. - Riu de novo ao ver seu filho ri de olhinhos fechados — Ela contagiou você também? Mas que médica intrometida. - Sussurrou sorrindo. — Que médica intrometida... — gargalhou caminhando para o quarto do bebê.
Depois daquela noite, Daniel nunca mais viu Stella, Adrian sempre chorava por alguns minutinhos a mais pela noite e ele pedia ajuda a sua mãe que vinha correndo, embora as casas fossem longe. Mesmo que ele não quisesse admitir, sentiu falta de ser contagiado pelo sorriso que Stella dava ao olhá-lo.
Naquela manhã, ele acordou mais cedo, como se obrigou a acostumar, preparou o banho de Adrian, que depois de uma lista de intrusões de Stella, ele soube que teria que mornar a água todas as vezes que fosse dar banho no bebê. Fez o mingau especial, porque até então, Stella ainda não havia trazido o leito que o neném necessitava.
Quando escutou o primeiro miado do seu filho, ele foi andando até o quarto, o pegou sorrindo, pois o menino ao ser tocado sorriu abrindo os olhinhos. Daniel ficou por um momento apenas fitando o garoto, ele tinha olhos azuis iguais aos da sua mãe. Os cabelos negros e a pele eram iguais aos dele, o que pelo menos isso, o garoto tinha de familiar.
Como sempre, sua mãe chegou no horário para ele ir para a faculdade. Os antigos amigos pareciam nunca ter existido, Matthew era único naquela faculdade. Daniel desde que Kesia se foi, contaram com a ajuda de Matthew para desabafar e como todas às vezes, o loiro ouvia tranquilamente. Mas naquele dia, algo de diferente estava para acontecer.
Daniel fazia faculdade de engenharia, e odiava ter que trabalhar com números quando sua cabeça estava cheia, e era assim que se encontrava no momento. A nota da sua prova reduziu tanto ao ser comparado a as outras. Ele suspirou passando as mãos pelos cabelos, tudo que era bom em sua vida, estava se desmanchando em lágrimas, as lágrimas dele.
— Não precisa ficar assim, Daniel - Matthew aconselhou ao saírem da sala de aula — Eu sei que é duro, mas sei também que você vai passar esse semestre novamente, você é forte.
— Tá difícil, Matthew - Daniel encostou-se na parede, e pôde respirar melhor — Como eu vou conta pra minha mãe que as minhas notas estão diminuindo?
— Você é maior de idade Daniel, por que o medo? - Matthew brincou sorrindo, mas Daniel ficou ainda mais sério.
— Meu pai paga a minha faculdade, o trabalho que eu arranjei da mal para eu ficar bem com o meu filho, tem o aluguel do meu apartamento, - Ele respirou de novo fitando o amigo a sua frente — Que droga, o que diabos esta havendo em minha vida?
— Não eu não sei, amigo. Mas pode conta comigo se precisar — Matthew bateu em seu ombro e foi embora.
Daniel se levantou e andou para fora da faculdade, à última coisa que ele queria era que alguém ficasse sabendo da sua dificuldade, não que se achasse popular demais, e sim, porque se sentia envergonhado com tudo o que acontecia.
Ele sempre pareceu firme no futuro que almejava, cuidava das suas notas que eram sempre as melhores. E depois de receber duas notas baixas na frente de todo mundo, sentiu que todo aquele esforço estava sendo jogado fora.
Chegou ao seu emprego e aquelas pessoas sempre o deixava enjoada. O lugar era cheio, sempre cheio, Daniel trabalhava em um bar que ficava aberto até na manhã seguinte e abria depois do almoço. Ver aquelas pessoas beber desde manhã até a noite o deixava enjoado, mas logo se lembrava que há um tempo atrás ele fazia a mesma coisa quando chegava a sexta-feira.
Nunca ouviu sua mãe quando ela pedia para ficar em casa, se ouvisse, não estaria com um bebê para cuidar e solteiro. Logo a noite caiu e Daniel ainda não estava totalmente bem, seu chefe estava sentando quando ele pediu para ir embora.
— Mas já Daniel? Não quer ficar e beber com a gente? - O chefe convidou, Daniel riu e respirou amargamente, aquele cheiro de álcool o deixou extasiado, não seria como antigamente, mas não custava nada ele sentar e beber um ou dois copos.
*
Stella depois de muito insistir e procurar pelo melhor, finalmente havia conseguido o leite que o bebê precisava. Claro que teve que dobrar as horas no hospital e ficar de guarda para quando ele aparecesse. Procurou, pesquisou e agora estava em suas mãos. A mesma mulher doaria de dois em dois dias, afinal, ela perdeu seu pequeno filho, o que a deixou inconformada, mas logo que Stella explicou a situação, ela se acalmou e deixou de chorar. Então Stella voltou a conversar com ela no outro dia e a convenceu a doar todo o leito que tinha, assim, ajudaria outra crianças que não puderam ter sua mãe ao lado.
Não podia conter o sorriso no rosto, de tanta alegria que carregava no coração, Stella era uma médica e seu dever era cuidar das crianças, e amá-las, e assim como no hospital, Adrian, havia se tornado mais que uma simples criança para si. Ao dar quase onze da noite, Stella saiu saltitante. Correria para casa e falaria primeiro com Daniel para contar à novidade que recebera.
Assim que chegou ao prédio, correu para a porta do Flint, tocou a campainha duas vezes, e depois de uma correria, abriram a porta. Stella ficou sorrindo e olhando para a face da senhora Flint que parecia desesperada. Stella foi perdendo o sorriso assim que a mulher voltou para dentro.
— Dona Cassia? - Stella entrou deixando sua bolsa ao lado da porta e seguiu a mulher até a sala — O que houve?
— É quase meia noite, e Daniel ainda não chegou. - Explicou, Stella olhou para os lados — Ele nunca se atrasa, eu tenho certeza.
— Mas... - Stella tentou se acalmar, para deixar Cassia calma, mas uma súbita preocupação tomou de conta do seu ser — Mas aonde ele pode ter ido?
— Eu não sei, ele não atende o celular, e não faço ideia por onde ele anda. Matthew não estar com ele, e falou que ele saiu no mesmo horário para o trabalho.
— Então ele deve estar lá - Stella falou firmemente — Onde ele trabalha?
— No bar, a duas ruas daqui - Avisou — Você pode ir lá para mim? Não posso deixar Adrian sozinho.
— Tudo bem - Ela virou para sair, pegou sua bolsa e deixou um embrulho no chão, entregaria o leite a Daniel, pois prometera para ele que trairia.
Stella saiu do apartamento, sentido seu peito apertar, uma preocupação tomava conta do seu coração ela se desesperava. Saiu do prédio e correu para o bar, ela conhecia, não por viver lá, e sim porque comprara algumas coisas ao lado. Quanto mais perto chegava do lugar, notava-se uma grande barulheira.
Os homens que bebiam, falavam alto e contava sobre os fatos de sua vida miserável. Stella segurou sua bolsa ao passar por um grupo antes de chegar ao bar, mas não pode segurar a mão de um ao encostar em sua bunda. Ela soltou um grito e correu olhando para trás, só parou em frente ao bar e ao olhar duas vezes para a mesa principal sentiu-se decepcionada ao ver Daniel sentando nela.
Ele parecia feliz e gritava alguma coisa, os homens prestavam atenção e logo riram. Ela não conseguia escutar direito porque seu mundinho pequeno não a permitia. Ela passou as mãos no cabelo, e mordeu os lábios. Como ela arrastaria Daniel dali? Pensou em ligar para Cassia e explicar a situação, mas não tinha o número dela, essa barra, Stella teria que lutar sozinha.
Antes de dar um passo à frente, ela perguntou-se porque teria que fazer aquilo? Afinal, Daniel não era nada além de seu vizinho, e pai de um bebê que esperava por seu carinho. Sim, faria isso por Adrian, somente por ele.
Discretamente, ela entrou no bar, alguns homens assobiaram, e até os que estavam na mesa de Daniel a fitaram. Ela corou sem jeito, procurou por outra mulher naquele estabelecimento, mas não encontrou, era a única. Quando Daniel a viu, apenas sorriu chamando-a para mais perto. Ela foi respirando duramente, o cheiro das bebidas era pesado demais até para si própria.
— Daniel - Ela sussurrou perto dele, temendo ele reagir da pior forma — Vamos? - Daniel riu e levantou ficando a sua frente. Stella pode sentir o cheiro de álcool forte, antes mesmo de Daniel beijar seus lábios.
A surpresa foi tremenda, e os gritos foram altos. Stella tentou se afastar, mas Daniel a apertou mais em seus braços.
Definitivamente, aquela não era uma luta para ela.
Ou era?
Beber, nunca foi uma opção para Daniel Flint, não depois da noite em que conseguiu um filho para si. Mas naquele momento, seu mundo estava desabando em sua cabeça, estava sendo destruído tudo graças a Kesia. Seu emprego era uma merda, a faculdade estava indo de mal a pior, e o melhor de tudo, tinha Adrian para chorar a noite toda quando chegasse de todos esses episódios dolorosos.
Ele estava perdido, e ia perder tudo, pois se tirasse mais uma nota baixa, a faculdade ligaria para seu pai, com certeza ele não pagaria mais ela, e Daniel estava na beira do abismo. Teria somente seu emprego para pagar tudo, e ainda o apartamento. Se perdesse o apartamento, Cassia tomaria seu filho e pronto, sua vida estava cada vez melhor.
A cada copo que tomava uma nova vida ele enxergava, bem longe de todos, só ele e seu querido filho, no terceiro copo de vodka, ele mal sabia quem era, contou sua historia e ainda falou mal do seu chefe sem nem perceber, contou sobre a faculdade e depois sobre Kesia, os homens na sua mesa, riram da sua cara, ele riu de si próprio também. Depois mencionou o nome de Stella, e ainda a chamou de intrometida do sorriso contagiante, ele odiava saber que ao lado dela, sorria como se tudo estivesse perfeito.
Depois de risos e choros, ele avistou Stella, bebeu mais um gole somente para ter certeza que era ela. Percebeu que ela entrava com medo, e naquele momento, ele percebeu o quanto ela era gostosa. Stella se aproximou e sussurrou em seu ouvido, e ao se agachar, mostrou o decote gracioso, porém médio para ele e os presentes na mesa, não era por mal, apenas queria que Daniel voltasse para casa. Daniel olhou para cada um ali sentado e quando Stella se endireitou o Flint levantou. Queria mostrar que aquela mulher, bonita que todos olhavam era sua, por isso, agarrou sem mais nem menos.
Os gritos dos outros foi o bastante para Daniel sorrir e trazê-la mais para si. Entretanto, Stella o empurrou e depois o segurou para que não caísse. O olhou com furiosa, ela jamais se submeteu a isso. Não que tivesse sido ruim, mas ele estava bebo, e Stella odiava bebida. Odiava. Odiava. Odiava com todas as suas forças.
— Não faça isso - Ela falou, Daniel se segurou nela e tentou outro beijo — por favor, pare, vamos para casa.
Daniel riu e segurou-se nos ombros dela para começar a andar. Stella respirou duramente ao sentir aquele odor que tanto odiava. Desceu os dois degraus a frente e quando ia saindo do bar, ouviu uma voz dizendo:
— Ai, quem irá pagar a parte dele? - Stella olhou para trás e percebeu que falavam consigo mesmo. Tirou o braço de Daniel dos seus ombros e abriu sua bolsa, não contou quanto era, apenas voltou e jogou tudo o que tinha em cima da mesa.
— Isso deve pagar. - avisou e virou outra vez para sair. Procurou por Daniel que por sua vez, já não estava mais no lugar que ela deixou, o encontrou querendo mais um copo em outra vez. Ela o impediu e saiu dali com ele.
— Stella a lua está linda não é? - Ele ia para lá e para cá, e Stella o acompanhava, sustendo-o para que não caísse. Pensou em ligar mais uma vez para Cassia, mas não sabia o nome dela. — Ei Stella, aqueles homens estão te olhando.
Stella despertou dos seus pensamentos e olhou em volta, o maldito beco estava ainda mais escuro. Encarou os homens e tremeu da cabeça aos pés.
— N-n-não ligue-e, vamos indo. — Sussurrou até um homem parar em frente aos dois, Stella quis chorar naquele momento. Ele encarou Daniel por alguns minutos.
— O que você tá olhando, gigante? - Daniel perguntou meio embolado por causa da bebida. E o que recebeu em troca, deixou Stella ainda mais desesperada.
Agora ela tinha um Daniel bebo, ferido e chorando para levar para casa, certamente, ela nunca mais pisara no apartamento de Daniel. Não se submeteria a arrastá-lo para casa só por Adrian, talvez da próxima vez que ele sumir, Stella mande Cassia e ela cuidara de Adrian.