Cap. 3
A vida de pai solteiro não é fácil, nunca foi e Daniel podia explicar isso em alguns dias, mas não hoje, e nem no momento.
Adrian chorava quando Daniel saltou do colchão, suas costas doíam e ao olhar o relógio de frente para sua estadia no chão, ele pulou para fora dos lençóis. Nove horas da manhã, aquele relógio só podia estar louco. Daniel não podia estar atrasado.
Pegou seu filho no colo e rodeou aquele quarto, duas vezes, afim de uma solução para tudo que ocorria, sentiu falta de Kesia só ela podia dar-lhe algo para fazer o menino calar a boca. Correu para a cozinha para preparar o tal mingau, mas tudo parecia pior quando tentava fazer duas coisas ao mesmo tempo. Nada estava do lado do pai atrasado. O garoto berrava cada vez mais e Daniel ficava nervoso e tudo que ele queria era chorar também.
Quando a campainha tocou outra vez, ele agradeceu quase chorando por ser Stella ou sua mãe, ele não ia se importar, ele só precisava de ajuda. Ao abrir a porta, uma lágrima quis cair, mas ele guardou não mostraria sentimentos na frente de uma mulher que ele mal conhecia. Ela riu gentilmente e olhou para Adrian em seu colo.
— Achei que precisasse de ajuda – Ela comentou desviando o olhar do bebê para Daniel, ele suspirou — Me dê ele – Daniel entregou Adrian e deu passagem para ela entrar. — Ele estar com fome... E... Sujo – Stella riu e Daniel respirou ofegante, ele mal sabia o que fazer.
Caminhou para a cozinha de volta e terminou de fazer o mingau para seu filho, Stella ficou ao seu lado até o moreno terminar. Daniel levou o garoto já calado para tomar banho, quando começou despi-lo, Stella notou algumas pintinhas no corpo do menino, logo segurou o braço de Daniel antes de colocá-lo dentro da banheira.
— O que foi? – Daniel perguntou confuso, ofegante e nervoso.
— Pode ferver um pouco de água para banhá-lo? Essa é gelada demais para a pele dele nesse horário – Daniel suspirou agradecido, ele não sabia.
A mulher pegou o menino enquanto Daniel fervia a água. Olhou o garoto da cabeça aos pés, as pintinhas eram vermelhas em todo o corpo dele, quando Daniel voltou e ela virou para ele.
— O que são essas pintinhas? – Ela perguntou. Daniel olhou para seu filho e estreitou os olhos, nem ele tinha percebido. — Daniel, ele tem alergia a massa que você faz. Você precisa achar leite materno.
Daniel ficou olhando para Stella por um momento, e depois para seu filho, deixou a vasilha que trazia com água quente e colocou a mão na cintura. Há um ano, Daniel jamais se mostraria fraco na frente de uma mulher, mas naquele momento, ele não fez esforço para esconder sua tristeza e as lágrimas em seus olhos.
Naquela manhã fazia três dias que Kesia havia partido, e seu coração doía todas as vezes que ele lembrava. Daniel era um pai presente e animado, mas para cuidar do seu filho daquele jeito ele não tinha tempo. Daniel aceitou trabalhar durante a tarde e fazer sua faculdade pela manhã, queria dar tudo a Kesia e ao seu filho. Mas a vida não foi justa consigo. Mesmo que não amasse aquela mulher, doía no coração sua partida ligeira. E ele sofria por seu filho, sofria por si mesmo. Agora estava sozinho e não sabia de tantas coisas. Ele precisa de ajuda e não sabia a quem recorrer.
Stella viu o outro se ajoelhar no chão e simplesmente começar a chorar. Ela não entendeu no começo, olhou para os lados tentando achar uma solução, mas foi em vão. Homens quando são colocados para fazer esse tipo de papel, geralmente eles tem duas reações, a primeira é manter a cabeça firme, e a outra é chorar. Gentilmente ela deu as costas e banhou o pequeno.
Na cozinha, fez um chá morno e deu ao garoto, andou até o quarto da noite anterior e achou fraldas, trocou o bebê e ninou ele alguns minutos antes de voltar a deitá-lo no berço. Adrian dormiu outra vez e ela saiu dali. Voltou para o terraço do apartamento e viu Daniel encostado na grade de segurança, se aproximou cautelosamente e riu quando ele virou para si.
— Obrigado de novo – ele murmurou enxugando as lágrimas. Stella parou a sua frente.
— Sou Stella Arden. Ainda não havia me apresentado completamente. – Ele sorriu, e a olhou rapidamente.
— Daniel Flint — Ele respondeu e riu sem graça. — Muito obrigado.
— Não precisa agradecer – Daniel voltou a olhar a paisagem e Stella encostou-se na grade também — Quer conversar? Você parece tão... Deprimido.
— Eu estou – Começou sem ter controle do que sentia em seu coração. Ele tinha que colocar tudo para fora antes que explodisse — Quando sua mãe disser para ficar em casa, você fique, ok? Mesmo que seja maior de idade – Avisou, Stella inclinou sua cabeça para um lado — Caso contrário, dormirá com uma vadia qualquer e quando você achar que tudo pode dar certo, ela vai embora e te deixar sozinho com um filho pequeno, o qual você mal consegue fazer a comida direito – Stella o fitou.
— Sinto muito.
— Não me olhe com pena – Eles se encararam.
— Não estou com pena.
— Você não sabe o quanto estar sendo difícil, só faz três dias, mas dói, dói muito. Eu não consigo nem calar a boca do meu próprio filho, o que eu vou fazer sozinho? – Stella entreabriu os lábios — Me pergunto o que eu fiz de errado? Eu comprei tudo que ela pediu, tudo que meu filho precisava, tudo, e ainda assim, ela simplesmente virou as costas e foi embora. Sinto vontade de desistir, eu tenho faculdade, eu arranjei um emprego... E...
— É difícil, eu sei, fui criada somente com minha mãe, e sempre a via chorando. Mas fiz de tudo para ajudá-la e... Bom, hoje ela não estar mais comigo, mas a agradeço. Pode parecer difícil no começo, mas não desista, tudo bem? – Daniel riu sem graça de novo — Você só precisa se acostumar com a ideia, ok? Na clinica onde trabalho, a muitos pais solteiros que cuidam de seus filhos, e não desistiram, e pela pouca idade que tem as crianças, elas sempre dizem que o pai delas, são os seus maiores heróis, contam isso com um sorriso maravilhoso nos lábios.
Stella contou sorrindo, e consequentemente fez Daniel sorrir igualmente.
— Seja o herói do seu filho, e não desista assim tão fácil. Como você disse, faz poucos dias, se acostume com tudo – Afirmou à médica — Pode contar com minha ajuda.
— Não posso te chamar todas as vezes que eu não conseguir fazê-lo calar a boca.
— Se não ir me chamar cedo, eu venho tarde demais – Ela riu e Daniel acompanhou novamente.
A mulher era gentil, bonita, e tinha um sorriso contagiante.
— Vou procurar por leite materno, como pediatra eu entendo muito de criança, e sei que você quer o melhor para seu filho, certo? – Daniel confirmou — O leite materno é a mágica para o pequeno crescer saudável.
— Obrigado – Ele disse de novo, e Stella sorriu abrindo os braços para ele.
Daniel hesitou por alguns minutos. Seu coração acelerou, mas ele precisava daquele abraçou, deixou a grade de lado e abraçou a rosada. Não evitou as lágrimas mais uma vez, mas prometeu a si mesmo que não choraria mais. Os braços de Stella eram aconchegantes, ele pôde sentir o carinho que ela oferecia, e toda a força que precisava.
— Daniel... Querido, o que, que é isso? – Daniel desfez o abraço, e olhou para a porta, Cassia sorriu de canto alternando os olhares, — Bom dia...
— Mãe – Daniel sorriu sem graça e soltando Stella lentamente, a mulher de cabelos escuros, assim como os de Daniel, riu para Stella que retribuiu o gesto com alegria.
— Bom dia, senhora – Stella andou até Cassia com um sorriso gentil e segurou-lhe as mãos — Sou Stella Arden, a vizinha de Daniel. Ontem e hoje pela manhã, notei o quanto o bebê chorava e o ajudei com algumas coisas.
— Ah – A mulher riu para a moça e tocou em rosto fino e elegante — Que bonita você é. E muito obrigada por ajudá-lo, ele estar mesmo precisando. Uma mulherzinha sem cultura de...
— Mãe – Daniel interrompeu a explicação e chamou atenção das mulheres. Cassia se calou, ela já devia ter aprendido junto com o que Daniel havia dito no dia anterior: Kesia podia ser a pior mãe do mundo, uma mulher sem valor algum, mas ele não queria ninguém falando mal dela - além dele, é claro - apenas porque era mãe do seu filho.
— Oh, tudo bem querido – Ela olhou o relógio — Filho, sua faculdade – o avisou, Daniel arregalou os olhos e pediu licença para se arrumar, ele não perderia um dia inteiro, pelo menos assistiria à última aula e iria direito para o emprego. — Ele não é um amor? – Cassia comentou ao vê-lo correndo, Stella riu.
— Sim, é um homem muito legal.
— Não me diga que se apaixonou – Cassia foi direta. Stella se assustou dando alguns passos para longe.
— Oh, não, eu não... — Ficou sem jeito — Não é nada disso que a senhora estar pensando. Eu sou apenas a vizinha da frente, vi que ele precisava de ajuda, e aqui estou eu.
— Ah, isso muito bom de ouvir – Cassia a trouxe para dentro novamente e olhou o corredor vazio — Ele é solteiro, não se esqueça disso.
— O que? – Stella riu corando e Cassia tirou os óculos e a bolsa colocando os objetos em cima da mesa.
— Você é uma moça muito bonita, tem namorado? — Perguntou Cassia, curiosa até demais, Stella se esquivou se sentindo mais sem graça ainda.
— Não, senhora.
— PERFEITOOO — Cassia gritou batendo palmas, Stella gargalhou da senhora.
— Foi bom lhe conhecer. Mas preciso ir agora.
— Ah, poxa, porque não fica? Para sempre? - As duas voltaram a rir.
— Eu sou médica pediatra, e já estou atrasada, comecei a trabalhar recentemente em um novo hospital, e não quero ter motivos para ser demitida — falou sorridente e Cassia segurou-lhe as mãos.
— Muito obrigada pela ajuda, e não esqueça que Daniel é solteiro.
A médica riu outra vez.
— Eu não vou esquecer, senhora. — Stella se despediu e logo foi embora sorrindo.
Cassia voltou-se para trás e foi até o quarto do seu filho, vendo-o terminar de ajeitar os livros para em breve sair para a faculdade.
— Querido, sua namorada é linda — Daniel a fitou na mesma hora derrubando sua bolsa no chão.
— Que namorada? Tá louca? — Desesperou-se de repente e riu se abaixando para pega sua bolsa.
— A moça de cabelos dourados, é tão linda, que sorte a sua.
— Ela não é a minha namorada, é apenas a minha vizinha, e uma amiga agora.
— Mas eu vou orar bastante para que isso aconteça, eu gostei dela.
Daniel suspirou e jogou a bolsa nas costas, andou até sua mãe e segurou-lhe os ombros fitando-a nos olhos.
— Dona Cassia Flint, tira isso da cabeça, agora, por favor. Eu não quero saber de mulher alguma, eu... Não quero isso... Agora.
Disse sério, Cassia riu triste e Daniel saiu de casa.
— Isso é o que você diz, querido... — Riu maliciosa.