CAPITULO 05
São Francisco – Cidade da Califórnia
César Medeiros
Havia um demônio adormecido dentro de mim, passei anos tentando sossegar a minha mente para não despertá-lo, mas depois de tudo que aquela maldita me fez passar, acabou acordando o meu lado mais sombrio.
O menino frágil se tornou um homem poderoso, podendo e fazendo tudo que me agradasse. Gosto de luxo e não me reprimo em me dar uma vida de conforto, grandeza e luxo. Com os olhos fixos na direção do espelho da sala, ao observar minha imagem refletida nele, fico satisfeito com o que eu vejo. Estou trajando um terno com corte italiano, azul escuro, com uma impecável camisa branca, gravata de seda, sapatos de couro legítimo e relógio de ouro reluzente. Sigo em direção à garagem e quando o carro entra em movimento, concentro minha atenção no parelho que está em minhas mãos, desviando por um momento para olhar o fluxo de veículos que era intenso a minha volta, pois, a cidade que nunca dorme estava a todo vapor, não me importei com isso.
O tempo foi passando e assim que o veículo parou, abri a porta e no instante que meus pés tocaram o chão, os flashes dispararam em minha direção. Sendo um evento somente para homens, se tornaria muito mais fácil chegar até o meu alvo, pois, se algo der errado, eu ainda tenho uma bela carta na manga contra Gisele Sousa.
Enquanto isso, eu começo a andar e um grupo de repórteres que estavam logo na entrada, começaram a fazer várias perguntas sem parar.
— Senhor Medeiros, o que lhe trouxe de volta ao país?
— Embora minha temporada na Alemanha tenha surtido bons resultados, este sempre foi o meu lar — respondi de forma educada.
— Sendo um dos homens mais ricos do país. Será que o solteiro mais cobiçado da Califórnia, já tem uma pretendente a vista?
— De certo que sim — até parece que algum dia, eu irei colocar uma aliança em meu dedo.
Os seguranças do lugar logo se aproximaram fazendo uma barreira de proteção para que os convidados, assim como eu, entrassem no Califórnia Eventos, este é um espaço amplo, impecável, diferenciado para festas e eventos, que encanta os clientes pela beleza única e de muito bom gosto e requinte.
Continuo andando entre a multidão, por onde passava, ia cumprimentando aqueles que eu já conhecia, e, não demorou muito para me deparar com a única pessoa que realmente me interessava nesse lugar. Depois que dei alguns passos, me detive ao parar na frente de Richard Johnson.
— Richard!
— César!
Ele estendeu a mão na minha direção.
— Quanto tempo, velho amigo — cumprimentou-me.
Apertei a mão dele e o homem ostentava um belo sorriso. O conheci ainda na faculdade, estive em seu casamento e o encontrei junto com Gisele, em vários eventos. Sabia que tinha uma filha, mas jamais imaginei que fosse justamente Ângela. Meus pensamentos foram interrompidos quando ouvi novamente o som da sua voz.
— A última vez que soube algo sobre você, foi por uma reportagem e estava na Alemanha.
— Voltei há poucos dias e não pretendo deixar o país tão cedo.
Seguimos até o bar e dali em diante a conversa foi em volta do passado. Um homem implacável nos negócios, que comanda seu império com mãos de ferro, porém, não consigo entender como nunca viu a verdadeira face da mulher que dorme ao seu lado.
Depois do discurso que foi feito por Raul Gutenberg e, do prêmio recebido por Richard, como melhor empresário do ano, acabamos por devorar quase duas garrafas do melhor uísque do país. Olho para meu relógio de pulso e vejo que se passou um pouco mais de três horas que já estava na presença dele e nada do homem chegar ao ponto que eu desejava. Instantes depois, o celular dele começou a vibrar e não precisava ser nenhum vidente para saber de quem se tratava. No momento que deu a ligação por encerrada, se levantou e o meu corpo todo vibrou com as palavras que foram ditas por ele.
— Na terça estarei indo para Moscou. Pensei que na segunda você poderia ir jantar em minha casa. Gisele ficará feliz em revê-lo novamente e preciso que conheça a minha filha, modéstia parte, ela é dona de uma beleza exuberante.
Um sorriso largo brotou em meu rosto.
“Você não faz ideia de como desejo conhecê-la em todos os sentidos” — pensei.
Segunda feira...
Ângela Souza
Minha respiração começou a falhar. O ar faltava nos meus pulmões. Sentia a vida esvaindo-se aos poucos e imediatamente peguei minha bombinha. Eu me negava a acreditar no que estava vendo. Embora fosse a minha letra, essa prova não poderia ser a minha, já que todas as questões, eu sabia a resposta. Meus batimentos cardíacos ainda estavam acelerados, vários sussurros ecoavam a minha volta.
— Você foi bem em sua prova, Susan?— perguntou Alice.
— Tirei uma nota boa.
— Dessa vez, eu não me saí bem — disse Patrícia.
Mas, foi o som da voz do homem que ressoou no espaço, que me deixou ainda mais agitada.
— Como eu havia dito antes. O simulado era para saber o grau do aprendizado de vocês nos conteúdos que foram dados no ano passado, porém, não avisei que junto com a coordenação da instituição, chegamos à conclusão que o aluno que não atingisse a nota estabelecida. Não teria capacidade para seguir adiante, pois, mostra que houve algum ato ilícito durante sua trajetória no ano anterior, no entanto, voltamos atrás na decisão e para quem não se saiu bem, terá outra oportunidade daqui a um mês, já que acima de tudo, é o nosso dever prepará-los para os desafios que vão surgir na faculdade.
Horas depois...
— Você é uma inútil...
Minha mãe estava aos berros, depois de saber do resultado do simulado. Em vez de uma filha, Gisele queria uma Barbie, que é perfeita em sua aparência e assim poderia ostentando para todos.
— Vá para o seu quarto. Nina levará a sua comida e não saía até segunda ordem.
A mulher estava com o rosto vermelho de tanta raiva, porém, minha cabeça estava a mil e ainda não conseguia entender o que havia acontecido com aquele simulado. Passei o restante do dia trancada no quarto e uma hora atrás, minha mãe veio até o meu quarto e seguiu direto para o meu closet. Fiquei observando cada movimento dela, até que apareceu em minha frente, colocando em cima da minha cama, uma saia rodada curta, uma blusa de manga longa e uma bota preta, cano longo. Depois disso, sentenciou para eu tomar banho e me arrumar, que um amigo do meu pai viria jantar conosco.
Agora, aqui estou eu, em frente ao enorme espelho do meu quarto. Vestindo uma roupa a qual tenho a sensação de estar completamente despida. Puxei um pouco de ar para os meus pulmões e segui para fora do quarto. De repente, senti um calafrio percorrer por todo o meu corpo e uma sensação ruim pairou sobre mim.
Começo a andar pelo extenso corredor. Logo chego ao topo da escada e a imagem que surgiu em minha frente, deixou-me paralisada. Meus olhos se arregalaram, minha respiração ficou acelerada e o coração congelou. É ele.