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CAPÍTULO 04

São Francisco – Cidade da Califórnia

Ângela Souza

Passei todo trajeto de volta para casa em silêncio. Eu estava nervosa, já que Alberto me informou que meus pais haviam chegado.

Entrei em casa no instante em que minha mãe descia a escada. Fiquei parara no mesmo lugar assim que a vi, enquanto que ela se livrou do último degrau e olhou-me duramente de cima a baixo, semicerrando os olhos, como se me tivesse visto pela primeira vez na vida. Por fim, o silêncio foi quebrado quando ela e repeliu-me com indignação.

— Desleixada como sempre, Ângela. Como se não me bastasse os vários defeitos que você tem. Sempre está muito mal vestida e agora a combinação ficou a pior possível com esse cabe...

— Filha!

Antes que ela terminasse de proferir suas palavras, que certamente iriam terminar ao dizer que tem vergonha de ter uma filha como eu, o som da voz do meu pai se fez presente. Ele logo me envolveu em um forte abraço.

— Eu estava com saudades, pai.

— A garotinha do papai está, cada dia, mais linda — disse isso e deu um beijo no meu rosto. Embora distante, o meu pai sempre me tratou muito bem, eu vejo o brilho nos seus olhos quando são direcionados para mim, ao contrário da mulher a minha frente, que nunca me deixou esquecer o quanto sua vida mudou com a minha chegada.

Gisele Sousa, brasileira, era uma modelo que ganhou fama internacional, após se casar com o meu pai quando tinha somente 17 anos. Além de muito bonito, Richard Johnson, é um dos empresários mais ricos do mundo.

A carreira da minha mãe jamais voltou a ser como era antes, e depois do meu nascimento, ela praticamente se mudou para Moscou. Vive uma vida glamorosa, exuberante, cheia de elegância e esplendor. Meus pensamentos foram interrompidos quando o som da voz dela repercutiu novamente no ambiente.

— O almoço em breve será servido. Tome um banho e vista algo descente.

Tanto ela, quanto o meu pai, caminharam em direção ao escritório e desta vez até que o sermão foi rápido, pois, eu já esperava por sua reação. Coloquei o meu melhor sorriso no rosto e comecei a subir os degraus escada.

A opinião dela de nada influência mais em minha vida, com o passar dos anos, eu deixei de me fazer de vítima e, dessa forma, as palavras e ações da mulher que me deu a vida não tem mais o mesmo efeito que tinha antes sobre mim.

Dois dias depois...

O tempo passou voando. Enquanto muitos no dia de hoje estão aproveitando para acordar mais tarde, em pleno sábado, teríamos o simulado. Ontem, pelo menos, não tivemos a aula do professor César, o homem como professor não deixa a desejar, pois, domina com perfeição cada assunto. Mas, a sala acabou se tornando um campo de guerra, já que começou uma verdadeira disputa entre Susan e as outras, para ver quem será a queridinha dele, entretanto, como se isso não fosse suficiente, a vice-diretora virou um grude. No intervalo sempre está próxima a ele, sei que o homem é bonito, mas parece que lançou um feitiço sobre todas e fui à única sobrevivente.

Dei uma última olhada no meu reflexo no espelho e embora correndo o risco de encontrar a minha mãe antes de chegar até o carro, não irei trocar de roupa, meu corpo, minhas regras. Segurei firme a alça da mochila e deixei o cômodo, passos apressados me levam para bem longe do corredor. Respiro profundamente quando avisto a escada e antes que eu fizesse algum movimento, o som familiar ecoou no espaço.

— Ângela! — Virei-me em sua direção.

— Sim...

A mulher me olhava com reprovação, porém, novamente voltou a se manifestar.

— Você sabe que sempre deve dar o seu melhor. Espero que tenha a melhor nota da sala.

Ela se virou e caminhou em direção ao seu quarto. Nem um desejo de boa sorte foi expresso. Eu deveria estar acostumada, desde criança sempre foi assim, pois, Gisele, nunca foi em nenhuma das escolas que estudei e agradeço por todos sempre me chamarem de Ângela Sousa. Um nome simples e desta forma não estou a mercê de curiosos, como aconteceria com o sobrenome Johnson e nunca saberia se as pessoas estavam se aproximando de mim, por quem eu sou ou pelo fato de quem eu era filha.

Algum tempo depois...

Meus olhos estavam cravados no documento em cima da minha mesa. O silêncio e a tensão eram predominantes no ambiente, permitindo-me ouvir somente o som da minha respiração. Com a caneta em mãos, comecei a responder cada questão e não precisou muito tempo para que o objeto em minhas mãos voltasse novamente para dentro do meu estojo. Peguei minha mochila e com o simulado em minha mão direita, sendo observada por olhos curiosos, andei em direção a mesa do homem que mantinha uma expressão fechada, porém, seus olhos azulados estavam fixos em cada movimento meu.

César Medeiros

A calmaria tomou conta da sala. Olhei para o relógio em meu pulso e o esboço de um sorriso que estava prestes a tomar conta do meu rosto, logo foi contido por mim.

Santiago, certamente deveria ter feito o que mandei, contudo, meus pensamentos se perderam no ar quando percebi uma pequena movimentação em direção a garota e no instante que ela se levantou, sentir a raiva percorrer-me, as veias e o ódio se inflamaram em meu peito.

Ângela começou a caminhar em minha direção. E, embora sabendo que ela seria a primeira a responder as questões, não pensei que seria tão rápido, privando-me assim, de tê-la por mais tempo perto de mim. Ela me entregou o documento, para logo depois sumir do meu campo de visão.

"Esse joguinho de Tom e Jerry, logo chegará ao fim. A ratinha em breve será devorada por mim".

Horas depois...

Minutos, que deram lugar há quase três horas se arrastam. Enquanto, que ela resolveu as 100 questões em minutos, boa parte daqueles incompetentes passaram muito tempo para terminar. Encerrado o horário, entrei na minha Ferrari, e depois de meia hora, estava atravessando o grande portão da minha mansão.

Com passadas firmes, segui confiante, e, no instante que entrei em casa, Santiago apareceu em minha frente.

— Ele já está no escritório lhe a guardando. E, chegou um convite para um evento hoje à noite.

— Não irei. Você sabe que odeio esses encontros.

Caminhei em direção ao ambiente, levando em mãos o envelope que tinha os simulados respondidos pelos alunos. No momento seguinte, entrei no recinto me deparando com Benjamin. Dei mais alguns passos e parei em sua frente, em seguida, abri o envelope e puxei um dos papeis que estavam dentro dele.

— Faça o seu melhor trabalho.

— Você terá sem duvidas um ótimo resultado.

Benjamin era um dos melhores peritos em falsificação de letras e nem um exame grafotécnico é capaz de provar que houve o ato ilícito. O homem que já estava com uma caneta em mãos e o documento, em branco, começou a entrar em ação.

Segundos e minutos que pareciam uma eternidade se passaram e quando o som da voz dele ressoou no cômodo, meu corpo todo vibrou.

— Está feito — falei. — O valor já está disponível em sua conta.

— Estarei sempre a sua disposição.

Depois que ele sumiu da minha vista, sentei-me na poltrona.

— Chefe!

Santiago entrou no escritório com outro envelope em mãos e ao diminuir a distância entre nós, voltou a se manifestar.

— Já consegui todas as informações sobre a garota que o senhor ordenou.

Ele estende o objeto na minha direção e em seguida, a voz do homem se faz presente novamente.

— Nesse relatório tem tudo sobre a vida dela e da família também.

Pego em minhas mãos e começo a analisar minuciosamente cada palavra contida nele. Assim que termino, alguns trechos me chamam atenção.

Nome: Ângela Sousa Johnson.

Idade: 17 anos.

Mãe: Gisele Sousa Johnson.

Sinto minha mandíbula se contrair ao ler as palavras que surgem em seguida.

Pai: Richard Johnson.

Meus pensamentos ficam fixos na última informação contida no documento. O que me deixou ainda intrigado em descobrir os segredos em volta da garota. Sabendo a fama de Gisele Sousa, só me resta uma única opção, já que o primeiro passo foi dado. Agora chegou a hora da segunda parte e, em questão de dias, será aqui nesse lugar que o anjo vai começa a pecar.

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