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CAPÍTULO 06

Ângela Souza

Meu coração pulsava com tanta força, que podia senti-lo querendo atravessar o peito. Minha respiração ficou acelerada, as minhas pernas fracas e a impressão que eu tinha, era de que a qualquer momento cairia no chão. Jamais imaginei que o amigo do meu pai, fosse justamente o professor César.

Enquanto observava sua postura a minha frente, perdi a noção de espaço e do tempo. Ele me olhava da cabeça aos pés, como se estivesse apreciando a imagem diante de si, estremeci, sentindo a pele de todo o meu corpo se arrepiar e quando saí do momento de estupor em que me encontrava, as minhas pernas, que antes estavam pesadas demais sob meus joelhos, de repente voltaram ao normal me fazendo prosseguir.

Eu andava com meus passos vacilantes, sob o olhar de reprovação da minha mãe, já que mudei uma das peças de roupa que ela havia escolhido. Como se eu fosse usar aquela blusa cropped, que me deixou com a sensação de estar pelada e ainda ter que passar aquele spray fixador nos meus cabelos. Meus pensamentos foram interrompidos quando me livrei do último degrau e pela aparência visível da minha mãe sabia que estava incomodada com o que eu estava vestindo, mas sendo quem é não manteve sua boca fechada e as palavras duras logo foram proferidas.

— Como sempre desleixada, seu cabelo está todo desalinhado e porque não passou uma maquiagem para esconder essa pele pálida e sem vida?

Eu não consigo explicar, mas, embora já soubesse da sua possível reação, aquilo me incomodou de tal forma, que sentir algo me queimando por dentro e desta vez foi o som da minha voz que reverberou no ar.

— Achei que era somente um jantar e não que estariam dando uma festa.

Gisele olha fixamente para mim, em seu pescoço aparecem veias saltadas e sua mandíbula se contrai. Um silêncio constrangedor se fez presente, seus olhos revelam toda a raiva que revolvia sua alma, no entanto, a calmaria que parecia não ter fim, foi rompida pelo barulho da voz do meu pai.

— Filha, este é César. Um velho amigo.

— Prazer em revê-la, Ângela — falou estendo um dos braços em minha direção. Um tanto hesitante, segurei a sua mão e o contato do seu toque fez uma onda escaldante pairar sobre mim. Por alguns instantes, tamanha proximidade me impediu de pensar com clareza, pois, a energia poderosa que veio dele, me deixava confusa e temerosa, como se estivesse encurralada dentro de um lugar fechado e o ar se tornava cada vez mais escasso. Volto à realidade no momento em que ouço o som da voz da minha mãe, e rapidamente puxei a minha mão.

— Vocês se conhecem?

Antes que eu viesse a responder, o som grave da voz dele se fez presente.

— Sim. Ângela é uma das minhas alunas. Eu só não imaginava que ela fosse justamente a filha de vocês.

— César, não sabia que você continuava lecionando, embora sempre fosse desde o tempo da faculdade, o melhor aluno da classe — disse o meu pai, mas foi as palavras ditas por Gisele, que novamente se tornaram o centro da atenção de todos.

— Nunca entendi como um homem tão rico pode ocupar seu tempo dando aulas para adolescentes. Conviver com um já é difícil, imagina centenas deles.

— Como você mesma disse, dinheiro é algo que tenho em abundância, porém, o importante é fazer aquilo que se gosta e nos dão prazer. Sempre fui fascinado por descobrir mais sobre o comportamento humano. Acredito que por detrás de uma sociedade que vive de aparências, sempre tem segredos obscuros.

Eu tive a leve impressão que as palavras dele deixaram minha mãe um tanto desconcertada. Mas, o clima que ficou um tanto pesado, se desfez assim que Nina surgiu no cômodo, avisando que o jantar seria servido. Todos seguiram em direção à mesa de refeição, que certamente estaria cheia daquelas comidas que minha mãe acha tão chique. Eu trocaria tudo, sem hesitar, por um farto prato de arroz, feijão e bife.

Ao entrar no ambiente que ostentava luxo em excesso, pois a mesa posta estava impecável, sobre ela, o brilho dos cristais, pratos e talheres polidos, que refletiam uma iluminação que impressionam pelo requinte, nos sentamos e a comida começou a ser servida, começamos com uma pequena poção de "Clam chowder", uma sopa cremosa feita com mariscos, logo em seguida trouxeram o prato principal, "Costelas de porco marinado ao milho de Cranberry", temperadas com ervas, alho, cebola e azeite, acompanhado de uma "Layered Salad", que consiste em sete camadas feitas com alface, tomate, pepino, cebola, ervilha, ovo cozido, queijo cheddar e bacon.

O prato de fato é delicioso, porém, não quando era feito com a supervisão de Gisele Johnson, que mandava retirar as gorduras da carne e a comida nunca podia ser bem temperada. Durante a refeição, meu pai não parava de falar, parecia muito feliz com a presença do professor César. Até me distraí ouvindo os relatos de quando estudavam juntos. O que não estava sendo muito apreciado pela mulher a minha frente.

Entre as lembranças do passado que geraram várias gargalhadas, o jantar ocorreu num clima bem agradável e descontraído. Coisa essa, difícil de acontecer, pois sempre fazíamos a refeição em silêncio ou com minha mãe falando de algo sobre os eventos que ia.

Depois de alguns minutos que terminamos, seguimos para sala.

Meu pai e o professor foram até o barzinho luxuoso que tinha no ambiente, minha mãe estava num canto, atendendo uma ligação. Acomodei-me, porém, tudo que eu queria era subir para o meu quarto. Instantes depois, Gisele se sentou na poltrona perto de mim e o som da sua voz repercutiu a minha volta.

— Ângela, o simulado que você fez foi da matéria dada pelo Cesar?

— Sim.

Não acredito que novamente ela ia tocar nesse assunto. No entanto, fiquei desorientada quando ela dirigindo-se para o homem a nossa frente, que estava ao lado do meu pai, com um copo de uísque na mão e disse:

— César, me lembro de que certa vez, ajudou algumas alunas dando aulas fora da instituição e acabaram sendo as melhores da turma.

— Nada é mais gratificante para um professor do que ver a evolução do seu aluno.

Meu coração começou a palpitar fortemente, sentindo um mau presságio.

— Como já viu, não tivemos a sorte de ser agraciados com uma filha inteligente, tanto que foi um fracasso no simulado — às vezes eu me questionava se era realmente filha dela.

— Poucas tiveram um bom resultado e ainda poderão reverter a situação.

— Já estava pensando na possibilidade de contratar um professor particular.

Meu olhar ficou fixo no meu pai e gelei com o que veio em seguida.

— Sei que é um homem bastante ocupado, mas ninguém além de você poderá fazer com que ela tenha um melhor desempenho. Sem contar que é alguém que confio e pela nossa velha amizade, gostaria que você desse, aulas particulares a minha pequena Angel.

Meus olhos se arregalaram na direção do homem que se tornou o centro da atenção de todos. E, todos os meus pensamentos gritavam para que a resposta fosse não.

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