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CAPÍTULO 08

Ângela Souza

As poucas palavras ditas por ele, me deixaram no estado de petrificação, pois, os meus pés pareciam que haviam grudados no chão, enquanto isso, o par de olhos azuis me sondava intensamente. Eu estava cada vez mais confusa e intrigada com os efeitos que a voz e o olhar de César Medeiros, causavam sobre mim e, aqui estou eu, frente a frente com o homem de beleza estonteante, que despertou a luxúria e o interesse em várias alunas, porém, era eu, a única pessoa que queria manter distância dele, que estava prestes a entrar no lugar onde por duas horas, só ficaria nós dois.

— Ângela!

E, o som da sua voz reverberou novamente no espaço, meus pensamentos se voltaram para minha bombinha, que estava guardada na minha bolsa e só espero que não seja preciso usá-la.

— Professor! — falei em um sussurro.

— Entre, por favor.

Ele fez um gesto com uma das mãos, me incitando a me mover e foi inacreditável, pois, meus membros inferiores obedeceram aquele comando e, ao diminuir a distância, todos os meus sentidos ficaram a mercê do cheiro inebriante e delicioso que invadiu minhas narinas, deixando-me embriagada, como se tivesse enfeitiçada. No entanto, acabei sendo arrancada do estado de estupor em que me encontrava, quando ouvi de novo a voz grave que enviou arrepios em minha pele.

— Pode se sentar na poltrona atrás da minha mesa.

Com apenas três passos, cautelosos, ando na direção do objeto, já que não entendi o motivo da cadeira e mesa estarem justamente no centro do ambiente, depois de me acomodar, meus olhos passeiam em volta do lugar extremamente luxuoso, com móveis projetados, dando um ar sofisticado ao local. Havia um grande sofá de couro vermelho e de linhas modernas, todo estofado no canto, uma das paredes estava adornada com cortinas de cetim, cor de fogo, as demais eram pintadas de preto e novamente me deparo com quadros gigantes, semelhantes aos do corredor, porém, nesses o erotismo estava mais em evidência, tanto as partes íntimas do homem, quanto da mulher, estavam à mostra.

Embora soubesse que tudo era uma retratação da diversidade de gênero, está no ambiente que refletia a pura luxúria e o desejo carnal, me deixou agoniada, fazendo a bile ardente subir na minha garganta. Todavia, minha atenção foi direcionada para o homem que começou a se mover na direção da porta e assim que a fechou, com um simples giro nos calcanhares, avançou em minha direção, mas, se deteve alguns centímetros de distância de mim. Virou-se para a parede a minha frente e só aí percebi o objeto em sua mão. Quando ele apontou o controle na direção da cortina vermelha e ela, lentamente foi se afastando, dando lugar a um enorme telão que ocupava toda extensão da parede. Quase dou um pulo quando ele voltou a se manifestar.

— Está pronta Ângela?

— Si... Sim — por pouco não me engasguei com a minha própria saliva, que desceu rasgando pela garganta abaixo. Uma imagem apareceu na tela e comecei a suar frio quando li o nome exibido.

— Hoje vamos falar sobre sexualidade.

Por que esse homem tinha que escolher justamente esse assunto? As perguntas martelavam em minha cabeça e, como se tivesse uma bola de cristal, as respostas logo vieram.

— Por que a sociologia se preocupa com esse tema? — o silêncio se fez presente por uma fração de segundos até que foi rompida pelo som potente da sua voz.

— Simplesmente, devido as desigualdade de gênero que acabam causando até violência a determinados grupos da nossa sociedade.

Eu não esperava que fosse justamente com ele que iria estudar sobre essa temática.

— Antes de nos aprofundamos no assunto, vamos ver um pouco sobre a diversidade de gênero.

No monitor, surgiu a imagem de duas crianças. Um menino e uma menina, ele levou umas das mãos até um dos bolsos da calça e puxou uma caneta laser pointer verde e apontou para tela.

— Gênero é o terno utilizado para designar a construção social do sexo biológico.

— Professor, temos mesmo que estudar esse assunto? Eu já sei que a dimensão social à cultura, damos a definição de gênero.

Quando ele girou o pescoço e seus olhos encontraram os meus. Engoli em seco, pois, seu olhar parecia uma lâmina afiada, que penetrou em minha carne e no tom ríspido, ele disse:

— Você tem duas opções. Eu me sento no seu lugar e você pode assim administrar a aula ou pode se levantar agora mesmo e ir embora.

Vibrei por dentro e estava prestes a me levantar, porém, fico paralisada com que escuto em seguida.

— Mas, saiba que por ter tirado a pior nota da sala, fui eu quem pediu a coordenação uma nova oportunidade, não só para os outros, como principalmente para você, mas depois de ver sua falta de interesse, o melhor a ser feito é manter sua nota do simulado.

Minha boca ficou seca, ele mantinha seu olhar cravado em mim, como se tivesse travando um duelo para ver quem ia vencer. César Medeiros não tinha nada a perder, mas, era o meu futuro que estava em jogo. Respirei profundamente e com a voz trêmula, falei.

— Pode continuar.

— Boa menina — o esboço de sorriso surgiu no seu rosto que antes tinha uma expressão fechada.

— Já que você sabe tudo sobre diversidade de gênero, vamos pular essa parte e ir direto para o tema que é considerado polêmico, mas, que você irá ver em várias questões, não só da minha disciplina, como na de outros professores.

No visor pareceu ao lado da imagem das duas crianças, novamente o nome sexualidade e tinha sua definição, que ele fez questão de ler em voz alta.

— É um componente humano e está presente em todas as fases da vida.

Em meio à confusão que se formou em minha cabeça, meus olhos ficaram esbugalhados quando ele terminou de proferir as palavras e a imagem de um homem e uma mulher totalmente pelados, ficaram estampados no monitor. Senti meus pulmões se agitarem freneticamente, comecei a balança minhas pernas, ele deu alguns passos e faltou pouco para ficar colado em mim.

— Está se sentindo bem Ângela?

Eu queria falar, mas nenhum som saiu pela minha boca e só consegui balança a cabeça, fazendo um gesto de confirmação.

— A maioria das pessoas confunde sexualidade com sexo e simplesmente, remete tal significado apenas à relação sexual. Mas, chegou o momento de sair do caixote e descobrir o que é ser homem ou mulher.

Novamente ele apontou a caneta e outra imagem surgiu no painel, agora tinha um casal, um em cada canto da tela, o homem estava vestido com roupas de bombeiro e a mulher era uma secretária, ambos ostentando um belo sorriso no rosto.

— Aqui você tem o exemplo da sexualidade como instrumento para a busca da felicidade pessoal.

Em forma de slide, outra imagem surgiu e desta vez, minha respiração disparou. Um homem estava posicionado atrás da garota, que se encontrava nua e aparentava ter a minha idade. A mão direita dele estava grudada na intimidade dela e a outra, apertando um dos seios. Havia desejo visível no rosto da mulher e quando o professor começou a falar, senti como se o sangue em minhas veias estivesse esquentado.

— Aqui temos a sexualidade apenas como uma possibilidade de prazer, onde muitos ligam ao pecado, às questões imorais e sujas.

De novo, outra gravura apareceu, no entanto, agora a mulher estava abaixada e sua cabeça cobriu a parte íntima do homem, que tinha o peitoral nu e perfeitamente bem esculpido, o rosto dele tinha uma leve semelhança com o do professor César, mas, tinha traços diferentes, olhos negros e os cabelos ruivos. Não sei o que estava acontecendo com o meu corpo, já que uma onda escaldante tomou conta de mim por inteira, meus pulmões começaram a funcionar aos espasmos. Levei uma de minhas mãos na direção da minha mochila em busca de alívio, que só minha bombinha poderia me dar. Quando minha respiração parecia ter se estabilizado, estremeci violentamente na poltrona, assim que ouvi suas palavras.

— Por hoje podemos encerrar a aula. Na próxima veremos a diferença entre sexualidade e sexo.

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