CAPÍTULO 02
São Francisco – Cidade da Califórnia
Ângela Souza
Quando surgi na porta da sala, como sempre todos os olhares foram direcionados em minha direção. Susan, com seu grupinho, mantinha o olhar cravado em meus cabelos, ostentando um esboço de sorriso no rosto. A cada passo que dava, sentia como se os meus membros inferiores estivessem grudados ao chão, pois, estava cada vez mais difícil me mover e no instante que passei perto dela, um sorriso cínico surgiu em sua face.
Depois que acomodei-me em uma das cadeiras, a voz grave do homem que certamente era o substituto do professor Cristóvão, ecoou no espaço. Mas, no momento que ele iniciou a sua aula e o som da voz enjoativa de Susan se fez presente, minha respiração se tornou escassa, meu coração batia num ritmo alucinante, minha garganta estava ardendo, tamanho era o nó que se formou ao ouvir as palavras que estavam sendo proferidas por ela. Imediatamente, como prevenção, eu peguei minha bombinha de ar. Se minha língua antes estava presa ou enrolada pela revolta que cresceu dentro de mim, agora, ela estava mais solta e livre que antes, pois, mal se aquietou dentro da minha boca e assim que me levantei, comecei a falar sem parar. Contudo, quando meus olhos ficaram fixos no rosto do homem a minha frente, um calafrio me subiu pela espinha, congelando meus ossos e fazendo com que meus pulmões ficassem em chamas, estava difícil respirar. A sensação que eu tinha, era que logo o meu coração iria saltar do meu peito e a minha única reação foi levar o objeto que estava na minha mão direita de encontro a minha boca.
Quando minha respiração voltou ao normal. Um desafio silencioso se fez presente, segundos, minutos... Eu não sei dizer, porque para mim parecia uma eternidade e o homem parado a minha frente continuava me observando, ele parecia ler minha alma. Meu corpo todo estremeceu assim que sua boca entreabriu-se e o som da sua voz ressoou a minha volta.
— Qual é o seu nome?
A resposta veio logo em seguida e não foi dada por mim.
— Ela é a nossa freirinha da sala — falou Susan num tom sarcástico.
As feições do professor logo mudaram, por uma fração de segundos, eu tive a impressão de que ele ficou com raiva, como se estivesse se controlando, pois, dava para ver como sua mandíbula se contraia, mas, logo uma postura autoritária se fez presente e os olhos atentos que me analisavam ganharam outra direção, sua voz grave, num tom rude se fez presente.
— Senhorita Susan, se limite somente a responder algo quando for direcionado a você. — o rosto dela ficou vermelho, devia estar corroendo-se de raiva. Então num fio de voz, acabei dizendo o meu nome.
— Ân... Ângela.
Aquele par de olhos azuis, feito uma lagoa pacífica, novamente me encarou e em seguida se moveu continuando com sua aula. Minutos depois, quando o barulho familiar ecoou dentro do ambiente, todos começaram a se levantar, já que a próxima aula seria no laboratório de biologia. Com o material em mãos, comecei a caminhar, quando levantei a cabeça, talvez fosse só fruto da minha imaginação, mas seus olhos demostravam luxúria, ou talvez fosse desejo, já que era semelhante ao olhar dos homens do restaurante que fui com os meus pais, quando minha mãe me obrigou a vestir uma daquelas roupas que realçavam todas as curvas do meu corpo. Ele parecia um tigre pronto para atacar sua presa, "Eu".
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Gritos e sussurros ecoam a minha volta. Depois do terceiro horário, todos vieram para a cantina. Fiquei no meu cantinho, olhando as fotos que os meus pais tinham enviado até o momento que a calmaria se fez presente por alguns segundos, despertando a minha total atenção. Entretanto, logo descobri o motivo de tanto silêncio, já que todos estavam a observar o professor Medeiros e a vice-diretora Marina, que surgiram no ambiente. Eles dois formam um belo casal, dá para notar no olhar dela o quanto estava radiante, algo que jamais havia visto, já que a mulher sempre teve uma expressão fechada, parecia estar sempre zangada.
Horas depois...
Assim que o carro passou pelo grande portão da minha casa, coloquei a bíblia que estava lendo dentro da mochila e no instante que o veículo parou e a porta foi destrava, saí e caminhei em direção à entrada principal, já que os ruídos vindos do meu estômago estavam me incomodando.
— Nina, cheguei, onde você está?
— Estou aqui na cozinha, Angel.
Corri até lá e avancei na direção do fogão, tirei a tampa de uma das panelas, sentindo o cheiro delicioso da comida invadir minhas narinas.
— Vai lavar as mãos mocinha. Marta já vai arrumar a mesa.
Antes de lavar as minhas mãos, me manifestei.
— Vou comer aqui mesmo na cozinha com vocês.
— Você sabe que isso vai contra as regras da sua mãe — eu me virei na direção da mulher que estava com alguns pratos em suas mãos.
— Quando vocês vão entender que eu também sou dona de tudo isso. As regras da minha mãe são para serem seguidas quando ela estiver aqui, já que isso é uma raridade. Então, vamos seguir as minhas e, eu digo que vamos todos comer juntos.
— Você é tão diferente da sua mãe.
— Devo isso a você, por ter me criado tão bem e me ensinado que todos somos iguais. Agora vamos comer que estou faminta.
Nos instantes seguintes, estava a fazer uma das coisas que mais gosto "comer", porém, desvio a atenção do meu prato para Nina.
— Como foi o primeiro dia de aula?
— Todas estavam suspirando pelo professor novo.
— Deve ser bonito então...
— De fato sim, ele parece àqueles modelos das revistas da minha mãe, mas, o professor César Medeiros deve ter por volta de uns 40 anos e tem idade para ser o pai de qualquer aluna daquele lugar. Não sei como podem ter interesse nele.
— Filha, você ainda é tão nova, quando a atração é fatal, despertando os desejos da carne, não se tem idade. Mas, de fato deve ser só uma fantasia de aluna por um professor bonito, já que um homem na posição dele, jamais terá olhos maliciosos para qualquer uma de vocês.
Nina, assim como eu, voltou a comer e o silêncio reinou a nossa volta. Entretanto, suas palavras martelam em minha mente e lembrei-me de como Susan e até mesmo a senhora Marina, estavam encantadas pelo professor Cesar, porém, o meu corpo jamais será mais forte que a minha mente. Esse mundo de luxúria e desejos profanos não fará parte da minha vida.