Capítulo 4
O homem a quem Roberta havia ido se encontrar era Leandro. Kanne era o sobrenome de sua mãe e apenas mais uma forma de encontrá-lo. No passado, ele havia sido ferido em uma briga voraz e salvo por Daniel, o pai de Roberta, e isso o fez ter uma dívida com ele. Ela, por sua vez, observou por que ele usava um anel semelhante ao que o pai revelava em sua carta. Este anel era característico e utilizado pelos integrantes da facção Serpente Negra.
Roberta sabia que estava no lugar certo, agora precisava encontrar um meio de persuadi-lo a ajudá-la a encontrar sua irmã.
— Essa mocinha precisa falar com você! — Jéssica avisou, deixando Roberta e ele a sós. Ele a olhou de cima a baixo e não parecia muito interessado em dedicar seu tempo e atenção para aquela jovem desconhecida.
— Não tenho tempo agora, sente e espere. — Ele saiu, deixando-a ansiosa e sem poder pedir por sua ajuda.
As palavras rudes dele fizeram Roberta ter uma péssima impressão sobre ele, ela estava sozinha naquela casa e então resolveu dar uma olhada ao seu redor. Já tinha enfrentado tantos perigos que estar na casa de mais deles era algo rotineiro.
Aquele local que eu acreditava ser tão simples por fora, na verdade, era uma grande mansão. Caminhando por aquele lugar, pude ver os emblemas que caracterizavam um dos cartéis que haviam sido originados da ruptura. O passado ainda estava presente; eu podia sentir o clima de nostalgia desde a mobília da casa até o cheiro de antiguidade.
— Estou no lugar certo!
Leandro era um homem elegante, porém completamente esnobe. O fato é que ele irá ajudar para que eu possa ter a minha vingança contra aqueles que acabaram com a vida do meu pai e proteger minha irmã. Ele não pode se recusar em nome do passado!
Já não tenho medo de mais nada, se esse homem for mesmo um dos inimigos ou aliados do meu pai... estou disposta a descobrir.
As horas passaram e nada dele voltar. Felizmente, uma empregada me ofereceu comida e eu não pude recusar. A sala de jantar era muito bonita, eu parecia estar no cenário de um filme antigo... A comida estava maravilhosa e não sei se era a fome que eu estava sentindo, mas não gostei muito da forma como as empregadas me olhavam e pareciam estar me confundindo... Ele deve ser do tipo promíscuo que traz uma mulher diferente todos os dias. Só quero conseguir dele o que vim buscar. Sempre que estou sozinha, penso em Thais e temo que ela esteja nas mãos de traficantes de mulheres... Ela é só uma menina e não merece sofrer.
Comecei a chorar pensando nela. Não havia ninguém ali naquele momento para que eu voltasse a fingir ter uma força que nem sempre tenho. Meu pai guardava aquele mapa com a própria vida, deu tudo por um tesouro que sequer poderá desfrutar...
Me cansei de esperar por ele aqui sentada. Me levantei e voltei a esperar por ele na sala de estar...
Para minha surpresa, ele estava por lá, com a mesma expressão de altivez de antes.
— Estava andando pela minha casa feito uma assombração, até agora não me disse o que quer? — Leandro questionou, tomando um gole de vinho.
— Claro que não falei, você saiu!
— Não tenho tempo para debater com você. Diga o que quer ou vá embora.
— Você salvou a minha vida, preciso e quero que você case comigo!
Ele gargalhou, até mesmo se engasgou com a bebida ao debochar do meu pedido.
— E o que te faz pensar que eu me casaria e ainda mais com alguém como você?
Ele me olhou de cima a baixo com uma expressão nada feliz e esnobe como antes.
— Meu pai disse em uma carta que salvou sua vida no passado, e você não sente que é hora de retribuir me ajudando e ajudando a minha irmã?
Ele ficou pensativo, mas apenas franziu o cenho.
— Pode ficar se quiser, garota. O que posso oferecer é proteção a você e sua irmã, isso é tudo! — Ele apenas subiu as escadas. Leandro é soberbo, mas eu não sairei daqui sem conseguir o que vim procurar.
Eu previa que ele não concordaria comigo sem ter um motivo melhor. Eu tirei o mapa de dentro das minhas coisas e subi até o quarto dele sem medo algum de que ele me expulsasse ou fosse mais grosseiro do que já havia sido. Assim que abri a porta, eu o flagrei tirando a camisa. Ele era forte e másculo...
Ele respirou profundamente, irritado, e se aproximou de mim.
— Não te ensinaram a bater nas portas? — debochou ele.
— Não terminamos nossa conversa, Leandro!
— Veio insistir naquela proposta de casamento completamente absurda?
— Sabe o que é isso? — entreguei a ele o mapa, e seus olhos então cresceram naquele instante. Nada como um bom motivo bilionário para fazê-lo mudar de ideia.
— Isso é o que eu acho que é? — perguntou ele.
— Sim, um mapa que meu pai deixou para encontrar uma imensa fortuna do passado. Se estiver disposto a assinar um contrato de casamento comigo por três anos, podemos encontrar este tesouro e dividir ao meio.
— E como eu poderia confiar em você Roberta? — então ele deu alguns passos ao redor de mim, olhando-me fixamente. — Estaria disposta a assinar um contrato redigido pelo meu advogado?
— Se eu pudesse ter acesso a todas as cláusulas, obviamente!
— Certo, então o telefonarei para ele, e amanhã acertaremos os detalhes sobre este acordo.
Sabia que ele cederia ao ver que eu não estava brincando. Eu seria capaz de dar a ele toda a fortuna em troca da vingança pela morte do meu pai.
Eu saí, e ele havia pedido para que me dessem um quarto de hóspedes naquela mansão. Parece que Leandro ficou realmente interessado no dinheiro. Tomei um banho e deitei naquela cama. Estava tão cansada que acabei dormindo por toda a noite e me senti culpada por não ter pensado na minha irmã durante a noite inteira.
Assim que acordei e desci as escadas para ir até a sala de jantar, me deparei com Leandro e um homem desconhecido com uma mala escura na mão. Certamente era o tal advogado.
Ele me mostrou uma cópia do documento que havia passado toda a noite redigindo para que nós dois assinássemos. Eu não entendo de leis e cláusulas, mas li todas as páginas uma a uma.
— Como pode ver, o contrato estípula que não haverá qualquer tipo de intimidade entre ambas as partes, e o tesouro será dividido em partes iguais. Se um dos dois descumprir, perderá tudo.
Eu concordei. Em nenhum momento me interessei em tornar aquele casamento real, e para mim pouco importava o que Leandro quisesse também. Jamais permitiria que acontecesse mais do que planejei entre nós.
No dia seguinte, nos casamos no civil ainda em Porto Rico, e Leandro me ajudou a ter uma nova identidade. Assim, aqueles marginais não poderiam mais me encontrar como antes. Mesmo que eu tenha uma nova vida, a vingança vai me seguir enquanto eu existir, e nada me fará esquecer tudo o que passei nesses terríveis dias.
[...]
Após firmar e planejar seu casamento com Roberta, Leandro então telefonou para um de seus subordinados e enviou alguém que pudesse eliminar Érick de uma vez por todas e deixar sua esposa livre de qualquer ameaça causada por ele. Um de seus homens de confiança havia criado uma emboscada para acabar com a vida dele.
Em meio a um verdadeiro mar de tiros disparados em direção ao carro, Érick conseguiu se arrastar e fugir, mesmo ainda gravemente baleado e sangrando.
Ele foi mandado para ser submetido aos cuidados de um dos médicos da facção que comanda Pantera escarlate, não conseguiu se recuperar em boa parte, e decidiu fugir para viver em Cuba, onde poderia ter um pouco mais de segurança. Mas antes de fazer isso, telefonou para dar a notícia sobre a existência daquele mapa do tesouro de Murath. Passou todas as informações relevantes para Palman, seu cunhado cruel e sanguinário.