Capítulo 3
Roberta
Não conseguimos entrar em um avião comercial, e sei que isso poderia chamar a atenção daqueles monstros que nos caçam desde o assassinato de dois animais. Então, precisamos buscar outra forma de sair do país, mesmo que seja com a ajuda de destinatários ilegais que transportam pessoas em meio à fronteira. Sei que seria muito arriscado partirmos assim, mas não há outra alternativa no pouco tempo que temos. Antes de entrarmos naquela pick-up para partirmos em direção à nossa rota de fuga, eu ouvi o responsável por nos atravessar falando ao telefone. Eu tinha que manter a vigilância, minha irmã não tem noção do que estamos fugindo, e até acho melhor que ela se mantenha nessa ilusão.
— Não se preocupe, Érick, as duas coelhinhas estão embarcando em breve, e eu as levarei para que, além do pai, você as elimine também e tenha seu precioso mapa.
Meu coração quase saiu pela boca. Aquele homem estava nos caçando, e certamente esse maldito atravessador é um subordinado do assassino do meu pai. Thaís estava sentada à beira da estrada, esperando que nos dessem a ordem para entrar naquele carro, mas eu puxei sua mão e fiz um sinal pedindo para que ela ficasse calada e fugíssemos de lá.
Corremos para um dos lados, mas logo ouvimos um deles dizer:
— Elas estão fugindo, e se isso acontecer e não levarmos o mapa, Érick nos matará!
Thaís já estava ficando cansada de correr, mas eu não podia parar, e de repente tudo o que havia em nossa frente era um enorme precipício. Olhei para trás e eles estavam se aproximando. Meu coração mal cabia dentro do peito, e jamais poderia prever uma situação como essa. Minha irmã me olhou com lágrimas nos olhos, e eu não podia deixar que aqueles homens nos pegassem. Naquele momento, só havia uma alternativa para nós duas: pular no mar!
— Vamos ter que saltar, Thaís!
Ela arregalou os olhos e negou com a cabeça. Ela sempre teve muito medo de nadar e nunca se atreveria a entrar na água, mas não havia tempo para medo.
— Pule agora mesmo, ou nós duas vamos morrer...
Ela hesitou, então eu tive que empurrá-la, e caímos juntas.
[...]
O forte impacto causado por aquela queda de uma altura tão grande fez com que Thaís perdesse a consciência, e Roberta então precisou mergulhar, procurando por ela no fundo do mar. Ficou alguns segundos procurando, até que finalmente a encontrou e emergiu levantando o corpo dela de dentro daquelas águas profundas. Ela imediatamente nadou até a margem e já estava cansada de ter que puxar o corpo da irmã desacordada. Assim que saíram da água, ela começou a fazer respiração boca a boca para fazer com que a irmã voltasse.
Roberta
Eu não posso perdê-la após ter perdido meu pai, e não posso viver com a herança de sangue por toda a minha vida. Fiz mais força na massagem cardíaca e intensifiquei a respiração boca a boca. Cada segundo perdido levava a minha chance de não ficar sozinha nesse mundo. Ela é apenas uma criança e, entre todos nós, é a que menos tem culpa das decisões erradas do meu pai.
[...]
— Por favor, Thaís, não faz isso comigo! — Roberta tentava reanimá-la com muita dificuldade, até que sua irmã mais nova cuspiu a água e voltou a respirar. Roberta a abraçou rapidamente, mas ouviu pessoas correndo em sua direção. Não havia tempo para chorar ou descansar. Roberta a ajudou a se levantar e continuou correndo com a irmã em meio àquele lugar perigoso e deserto. Caminharam por muitas horas, até que a fome as castigou por completo.
— Eu não aguento mais. Roberta, estou faminta!
— Você tem que aguentar firme. Já estamos perto, e não podemos parar.
As pernas de ambas estavam doloridas, em seus pés havia várias bolhas e calos que sangravam. Thaís não aguentava mais e precisou se encostar em uma árvore para descansar suas pernas, ou sentia que seu corpo iria parar a qualquer momento e não voltaria mais a responder aos seus comandos.
Roberta deixou-a descansar por cinco minutos, lembrando-se do que haviam feito ao seu pai e não querendo que isso se repetisse com a irmã.
— Já chega, vamos nos separar para cobrir uma área maior e procurar comida. Se eu demorar para voltar, este é o nosso ponto de encontro, entendeu? — Roberta pediu a ela, e Thaís assentiu. Logo em seguida, ambas procuraram comida, mas nada parecia estar por perto daquele verdadeiro deserto.
Roberta sentiu que não tinha adiantado nada terem se separado; elas tinham que seguir em frente se quisessem encontrar civilização e alimento. Ela voltou ao local onde havia deixado a irmã e marcado seu retorno, mas para sua tristeza, ela não estava lá.
Ela chorou desesperadamente, gritou seu nome, procurou em todos os locais ao redor até não suportar mais tanta dor e espera. Caminhou e logo viu que havia chegado ao seu destino, Porto Rico. Ficou olhando para aquela fronteira, sem saber o que a esperava ao cruzá-la. Olhou para trás e, se quisesse recuperar a irmã, precisava encontrar aquele homem o mais rápido possível.
Ela então continuou sozinha, com a intenção de chegar até onde seu pai havia indicado e conseguir proteção. Aquelas cidades eram enormes, mas ela estava no lugar certo, conforme as anotações dele... Ainda temia o que a esperaria e com quem teria que lidar para obter proteção e ajuda.
A jovem tinha que passar por um escuro beco. Roberta começou a ouvir os gritos de uma mulher e lembrou-se daquela noite em que havia visto um homem em uma situação parecida. Percebeu que um marginal importunava uma mulher; a mesma estava vestida com trajes curtos e parecia ser uma garota de programa.
Roberta
O homem parecia querer agredi-la. Não pensei duas vezes e a ajudei, golpeando-o na cabeça. Nenhuma roupa ou comportamento pode dar aval a um homem para abusar de uma mulher. Quando vejo uma situação como essa, sinto meu corpo estremecer de tanta revolta.
Então, puxei-a pela mão e começamos a correr, até estarmos a uma distância segura. Minha vida desde então tem sido uma eterna fuga pela vida. Só paramos quando já estávamos longe o suficiente para retomar o fôlego!
— Não sei quem você é, mas tenho que reconhecer que é muito corajosa, menina!
— Meu nome é Roberta e estou procurando um endereço, quem sabe você possa me ajudar?
Ela me cumprimentou com um aperto de mão, se apresentando logo em seguida e sorrindo.
— Meu nome é Jéssica!
Aproveitei que ela parecia conhecer bem aquele lugar. Não posso adiar mais, tenho que falar com ele.
— Eu preciso chegar até a rua San Martin, sabe onde posso encontrar Kanne?
Assim que eu disse esse nome, ela pareceu ficar muito assustada e conhecia certamente a pessoa que eu estava procurando. Depois, ela sorriu e me olhou dos pés à cabeça. Talvez ache que eu possa agradá-lo como mulher, mas não estou aqui para negociar com o meu corpo.
— Eu sei quem você quer encontrar, venha comigo!
Caminhamos para um local afastado e escuro. Para que nos deixassem entrar, ela precisou conversar com um homem todo vestido de preto e com jeito de mal-encarado.
Logo depois, Jéssica veio falar comigo e, pela expressão dela, não eram boas notícias. Aqueles últimos dias já estavam terríveis e nada que ela pudesse dizer pioraria ainda mais.
— A pessoa que você procura não está aqui. Vamos para minha casa e amanhã eu te trarei de volta.
Eu assenti e fomos até a casa dela. Era muito humilde e perceptivelmente ela não tinha muito tempo para cuidar da casa, pois estava tudo sujo e revirado. Não posso reclamar de nada. Pelo menos tenho uma cama e um teto, mas a dor de ter perdido meu pai e agora estar separada da minha irmã castiga o meu coração a cada vez que eu respiro e não os vejo ao meu lado.
Tenho que achar este homem e forçá-lo a me ajudar a encontrar Thais.
Jéssica me serviu um pouco de comida, não estava nada bom, mas eu estava esfomeada e agradecida por sua ajuda.
— Você trabalha há muito tempo nas ruas? — perguntei sem a intenção de causar desconforto, apenas queria conhecê-la melhor e quem sabe sermos amigas. Ela se levantou irritada e me olhou.
— Se não quer que eu te coloque para fora, então nada de perguntas!
Eu não disse mais nada, apenas comi e tentei deitar naquela cama, sabendo que não dormiria nada, pensando no que Thaís poderia estar passando. Fiquei me virando de um lado para o outro até amanhecer. Sinto que vou morrer de tanta dor, não entendo por que o meu pai me achava forte o bastante para carregar esse fardo.
No dia seguinte, Jéssica cumpriu a promessa que havia feito e me levou de volta até aquele lugar, e algum dia eu teria que encontrar aquele homem. Ficamos esperando por ele por um bom tempo, até que finalmente apareceu. Era forte e tinha uma expressão muito séria.