Capítulo 03.
" O mar, imenso e vasto,
Cheio de criaturas,
Grandes e pequenas,
Tantas que não podem ser contadas.
No mar viajam os barcos e brinca o Leviatã
O monstro marinho que criou.
Salmos 104.26
Quando eu dormia, conseguia ouvir o som das marés, o som do mar eu gostava daquilo, não podia acreditar que dentro de algo tão lindo haviam monstros e eu não acreditava, eu precisava ver para crer. O som do mar me acalmava, e nos meus tempos livres gostava de ajudar meus pais na pesca, enquanto minha avó parou de insistir nessas histórias, eu gostava muito de convidar meus amigos para minha casa já que ela ficava próximo do mar, era como um emblema para mim. Só um ano antes de eu terminar o secundário minha avó faleceu mais antes dela morrer nos conversamos, naquele dia parecia que tudo estava perfeitamente normal como todos os dias, eu não percebi que aquilo era um aviso e um adeus.
Avó: sabe Eco, eu não entendo muito do que vocês aprendem nas escolas hoje em dia ao ponto de você ser tão descrente, mas
Eu: chama-se filosofia vó_ ela me olhou estava me reprendendo por ter a cortado, eu tinha o péssimo hábito de preferir falar que escutar, principalmente quando o assunto não me agrada_ desculpa vó, pode continuar
Avó: você não reza, não acredita que o mal pode vir de forma invisível, você se denomina ateu, sua alma está desprotegida e você não alimenta seu espírito_ fez uma pausa_ eu não poderei estar aqui sempre para ti esconder, você tem que tomar um rumo
Eu: eu não me denomino ateu vó, eu sou! E o melhor alimento para alma é a sabedoria não andar equivocada com contos de fada, eu sei me proteger vó_ eu era arrogante, rude e ignorante não percebi o que minha vó quis me dizer naquele momento, na verdade eu entendi mais não me permitia mudar de ideia, era demasiado orgulhosa e presunçosa
Avó: quando eu partir_ prestei atenção_ fique longe do mar
Eu: o que a senhora quer dizer com isso vó?
Avó: esse mar que fica de costas para a cidade, e que fica a alguns metros desta casa, esse mar que você cresceu brincando nele quero que fique longe dele
Eu: o que você está me pedindo não faz sentido vó, porquê quer que eu fique longe do mar? Você sabe que eu gosto de brincar nele
Avó: mesmo se eu ti explicasse você não acreditaria, você pode entrar em qualquer água, qualquer mar, menos esse que você cresceu nele
Eu: avó
Avó: prometa Eco
Eu: … eu prometo_ eu menti, e ela sabia disso eu não dava ouvidos a ninguém se não me apresentasse provas
Avó: espero que o cumpras_ ela me olhou com pena temia por mim, mas eu não entendi não queria perceber o que estava na cara, fui ignorante.
(...)
Duas semanas depois do inteiro da minha avó, eu e meus primos estávamos perto do mar como costumamos fazer, o sol já estava se pondo era uma vista linda de se ver, era como o mar estivesse engulindo o sol, não importa quantas vezes eu visse aquilo era belo, as marés brincando de ficarem uma em cima das outras faziam um som agradável, como se estivesse nós contando um segredo, enquanto isso, algumas algas saiam para fora, ou mesmo ....
O mar sempre fazia isso, era como se depois de tirar seus nutrientes o deixasse fora, mas depois vinha os buscar, me perguntava para onde iam? O que os trazia a superfície? Porquê o mar os espulsava de noite e os recolhia pela manhã.
Durante aquele tempo não tinha entrado no mar porque estava atarefada, mas naquele dia não, com os meus primos brincando de correr próximo a água eu também quis ir, me aproximei eu sabia que não devia entrar, sentia isso, mais nunca fui de usar a emoção, sentia o perigo, mas preferi molhar meus pés naquele mar, foi algo inexplicavél, não sei ao certo descrever, só sei que me foquei ao mar levemente escuro, era como se alguém lá me chamasse, não sabia o que fazia, estava hipnotizada até que
Ton: Eco_ diz segurando minha mão, sai do transe e o encarei, mas não me sentia no meu corpo, como se algo faltasse_ vamos sair daqui!_ ele me tirou do mar e quando chegamos na terra onde Sandra nós esperava anciosa, não sei por quanto tempo estive naquele estando até que senti um bilisco
Eu: aí droga_ digo massageando minha mão_ porquê vocês fizeram isso?
Sandra: você ia se afogar
Eu: o que?
Ton: você caminhava para o alto mar, olha Eco, não sei ao certo o que a vovó ti disse, já que ela disse que tinha algo para ti dizer naquela noite_ fez uma pausa_ só sei que melhor você cumprir
Eu: vovó?_ minha cabeça estava baralhada, estava levando um sermão de pessoas da mesma idade que eu era irônico, olha que eu era a certinha da família tirando o fato de ser fala barato. Eu me lembro do que minha avó disse_ ela não me disse nada
Sandra: tem certeza?_ me encarou desconfiada
Eu: se eu disse não é porque não, então larguem do meu pé_ dei uma olhada do mar, não podia ser possível aquilo não estava acontecendo, era fruto da minha imaginação, deve ser delírio_ vamos para casa, vocês sabem que temos escola amanhã
Ton: você quem sabe_ disse dando de ombros, enquanto caminhavamos de volta ao centro da vila meus primos falavam coisas aleatórias, estava tão imersa aos meus pensamentos que nem consegui interagir_ Eco você não quer fazer parte do grupo coral na igreja, a Sandra está nele
Eu: ... grupo? Igreja_ fiz uma pausa_ já falei que sou ateu
Sandra: bobagem sua, você só começou a se denominar ateu ano passado, antes disso você nem sabia que existia essa palavra
Ton: além do mais nós sempre fomos a igreja juntos, desde pequenos larga de ser molenga
Eu: antes eu não via as coisas com clareza, agora vejo, tenho 16 anos sou realista e não acredito em "sobrenatural" nem numa entidade "onipotente, onisciente, onipresente" não acredito_ disse encerando a conversa
Ton: não sei como Deus ti suporta_ diz bufando_ se eu fosse Deus você já estaria no inferno
Sandra: não exagera Ton_ bateu no ombro do irmão, eles são gêmeos e são chatos, ao menos é de como me lembro_ Eco eu só espero que você encontre a luz
Eu: me dá licença que eu vou estudar para passar de classe_ disse entrando na minha casa, a deles ficava ao lado meus pais estão falando de negócios enquanto eu, eu voltei para meu quarto me sentia cansada derepente, era algo que eu não entendia só sei que fechei os olhos, eu conseguia ouvir tudo... eu sempre ouvia... o som do mar, dos animais marinhos, quando fechava os olhos era como se eu pudesse fazer parte do mar, eu pensava que era minha imaginação, eu queria acreditar que era, eu via o mar, via algo nos confins dele.