Os mistérios de Lavínia

… vocês estão aqui para me ouvir!… Finalmente já não aguentava tanta solidão, papai e mamãe já começarão sua briga, eu acho que dessa vez papai vai apanhar… mamãe pegou uma panela… e uma colher... O que ela vai fazer com aquilo? Eu acho que hoje vamos comer guisado humano. Papai pegou as chaves e se foi… mas eu sei que ele vai voltar… ele sempre volta. Mamãe vai sair com o jardineiro… um cara muito feio para o meu gosto…  mas mamãe gosta dele porque ele a mima.

Ninguém me mima, porquê a mamãe pode ser mimada e eu não? Ninguém se lembra de mim, porquê? Será que eu não mereço essa atenção? Porque eles vivem como se não se importassem comigo?

Rios cristalinos vertem dos meus olhos.

Eu sou Lyn Death e essa é a minha sétima vida.

Meu apelido é estranho não é? Meu pai decidiu me dar porque achou engraçado… Ele disse que eu sou uma ironia do destino. Pois escapei da morte certa, e eu havia escapado dela quando nasci.

Papai conduzia em contramão enquanto mamãe estava em trabalho de parto… papai quase bateu o carro contra um caminhão de cimento… essa foi a minha primeira vida! Papai também disse que assim a morte me reconhecerá e eu não devo ter medo dela porque carrego seu nome… ele está mentindo eu sei… eu sei que eles querem que a morte venha me buscar… mas ela não busca pessoas como eu.

Mãe: Lyn o carro da escola está na porta o que você ainda faz sentada?_ ela diz enquanto abri a porta do meu quarto, eu queria dizer para ela que aquele vestido deixava a mostra seu corpo e aquela maquiagem a fazia parecer um espantalho

Eu: eu já vou_ pego a minha mochila e atravesso a porta

Mãe: não estarei em casa quando voltar

Eu: eu sei!_ eu não gosto de ir a escola, principalmente para ver a cara dos meus professores, eu sempre fico sozinha desde que entrei no ensino médio isso porque no primeiro dia um dos garotos viraram minha cabeça na fontenaria os professores tiveram que vir os tirar de cima de mim… aí eu fiquei no hospital por alguns dias… quando voltei para escola levei um monte de escorpiões e joguei nas suas mochilas…

O veneno do escorpião preto e fatal… eu sei aprendi nas aulas de biologia… por isso pedi ao jardineiro que comprasse para mim, caso não contava para o papai que ele fazia sexo com a mamãe, na cama deles.

A professora descobriu que fui eu, ela não gostou… disse que eu podia ter matado os meus colegas… eu não me importo! Ela queria falar com os meus pais porque acha que tenho transtorno mental… mas meus pais não lhe deram ouvidos… eles não tem tempo para escutar uma professora gorda sem marido. Uma vez a professora elaborou um teste e no fim das questões vinha a seguinte  pergunta… o que você quer ser quando crescer?… Eu sabia muito bem o que queria ser… eu queria trabalhar no cemitério… a professora não gostou do meu sonho, deu para ver pela cara de espanto quando levou o teste… ela me acha louca… mais ela não sabe… eu queria ficar próxima de Death.

(...)

Sete foram os números dos dias que Deus usou para construir o mundo;

Sete são os dias da semana;

Sete são os planetas que fazem parte do sistema solar

Sete é o meu número de vida

A minha terceira vida eu perdi quando papai decidiu nós levar para o parque… ele fez isso porque queria agradar a mamãe, mamãe desconfiava que ele a traia com sua secretária… no parque tinha um homem que carregava eu arma, eu sabia que não era de brinquedo no momento que ele disparou contra o guarda, papai estava tão ocupada paparicando mamãe que não viu que uma das balas perdidas havia me atingido… mas eu não morri… a morte não me quer…

O jardineiro não gosta que eu brinque no jardim, mas se ele pode brincar na cama do papai então eu também posso brincar no jardim… eu gosto de tirar as raízes das plantas… sem as raízes na terra as plantas murcham e eu gosto… porque assim ficamos iguais. O jardineiro disse que tenho problemas e agradece por eu não ser filha dele… ele diz que sou estranha… disse que crianças como eu devem estar no hospício é igual ao que a professora gorda diz… mas meus pais não sabem disso… nem sabe o que é um psiquiatra… meus pais dizem que crianças não tem problemas.

Na verdade eu acho que meus pais é que são crianças de mais para ter filhos. Não entendo como Deus pode ter lhe concebido essa dádiva. É tão irresponsável da parte do altíssimo. Dar alma a corpos que sofreram na terra.

Às vezes penso, que lhe satisfaz o caos. Afinal, ele poderia ter acabado com tudo desde o início.

Tsc. Tsc. Tsc. Minha cabeça dói, tanto quando penso nisso.

A minha quarta vida foi quando mamãe e papai brigaram porque papai voltou bêbado… mamãe começou a falar e jogar tudo contra ele… papai disse para eu sair de casa porque mamãe estava louca… eu sou uma boa garota porque obedeci meus pais, abri a porta e sai de casa, naquela madrugada eu queria atravessar a rua para ir na casa da minha avó… eu sabia que a casa dela ficava noutra cidade… mesmo assim não me importei eu só queria fugir de tudo… eu atravessei a estrada sem ver ao longe,  aí um carro me derrubou… porquê eu não morri? Eu não sei…

Ano passado quando completei catorze anos papai me deu uma bicicleta… eu fiquei muito feliz… mamãe havia mandado fazer bolo… um bolo grande de chocolate e gostoso… tinha refrigerante e cerveja para meus pais… depois que a gente comeu e brincou… tudo parecia estar bem, eu sabia que eles estavam fingindo… eles se odeiam eu sei… talvez a culpada seja eu. Mamãe me disse para eu tomar meus comprimidos de insônia antes de tentar dormir… quando subi para o meu quarto eles começaram a brigar… então decidi tomar sete… assim eu dormiria bem, não ouviriam seus gritos… Quando amanheceu eu me sentia pesada… sentia meu corpo dolorido e sentia vontade de dormir… eu nunca tinha vontade de dormir… eu queria inaugurar minha bicicleta nova… então saí com ela pela estrada… só fechei os olhos uma vez, por um minuto, queria sentir a sensacão de dormir andando numa bicicleta… mas quando acordei eu estava numa cama do hospital.