Capítulo 3
Gabriela
A semana toda passou e nada de ver aquele homem.
Inconscientemente me pegava procurando por ele a cada sítio que fôssemos, o que é uma loucura.
Com milhares de pessoas que tem aqui, seria muita coincidência o encontrar em cada sítio por onde passasse. Mas gostaria que isso fosse possível, afinal, tenho a imagem daquele homem gravada na minha mente, e sequer troquei alguma palavra com ele.. apenas o vi de longe.
Facto que me deixava intrigada.. De longe, detinha uma aura formidável, impecável, de predador. Um homem acostumado a pegar o que queria. Como seria se me tocasse?
Pensava nisso o tempo todo, me pegava imaginando cenas e desejando que as fizesse comigo.
Mas que raios? Não conheço o homem e desejo intensamente dar para ele.
Que ridículo Gabi!
Suspirei ao ver as horas e decidi me levantar para me preparar.
- Não demora hein. - Priscilla gritou quando entrei no banheiro.
Me despi e entrei no box, deixando a água morna escorrer pelo meu corpo.
Imaginei seus dedos percorrendo meu corpo e estremeci levemente.
Balancei a cabeça para espantar esses pensamentos e me concentrei em tomar meu banho.
Depois de banhada, hidratei o corpo e coloquei uma roupa interior fio dental preta, sem sutiã.
Um vestido preto com um decote acentuado marcava minhas curvas sem perder um milímetro que fosse. Penteei meus cabelos que estavam ainda mais lisos com a chapinha e os deixei soltos.
Borrifei perfume no pescoço e usei uma sandália de salto preta, batom vermelho nos lábios, rímel e lápis nos olhos e já me encontrava pronta, apenas esperando Priscilla.
Usava um vestido branco rendado, curto e sandálias de salto pretas. Deixou o cabelo loiro solto e estava mais linda do que nunca.
Na saída do hotel, o motorista já nos esperava e entramos logo no carro.
- Então, onde iremos jantar? - pergunto entusiasmada.
- Vamos a um dos restaurantes do Gordon Ramsay, Maze, no The London NYC Hotel. Você vai amar, acredita. - assenti, acreditando nas suas palavras.
Ao chegarmos ao hotel, a segui para a parte do restaurante e ao entrar parei por um momento para tentar decidir se amaria mesmo ou não, pois dei de caras com aquele rosto.
Seria sorte ou azar, mas era aquele homem! Aquele homem que me deixou com pensamentos pecaminosos desde o primeiro dia em que lhe vi.
Aquele homem que não saía da minha mente mesmo sem ter me tocado ou sequer falado comigo.
Aquele homem que era protagonista dos meus sonhos mais eróticos e depravados.
Aquele homem estava ali. E eu não conseguia acreditar.
Por um momento esqueci me de como se respirava, apenas admirando a sua beleza.
Então minha amiga me tirou do transe:
- Vamos, a nossa mesa é aquela ali. - apontou com o dedo e tremi ligeiramente, ao ver que teria que passar pela mesa daquele homem.
Estava acompanhado por um outro homem, mas pouco prestei atenção.
Me dizia mentalmente para ter cuidado, me esquecendo completamente de como se anda.
Uma perna de cada vez, uma perna de casa vez.
Ainda não tinha reparado em mim, mas assim que o fez estremeci de tanto tesão.
Me fitou com desejo, a tensão era palpável e como que por magia me lembrei de andar graciosamente, me sentindo quente sobre o seu olhar, mais mulher e capaz de tudo.
Então passei por ele, me impregnando com o cheiro do seu perfume e olhando directamente nos seus olhos.
Não piscava, apenas me fitava atentamente, como se me analisasse! Imaginei que tivesse um olho clínico e me fizesse um raio x completo.
De repente me senti nua, transparente e me perguntei como seria se estivesse de verdade e em quatro paredes apenas com ele.
Raios!
Deixa de ser ridícula Gabi! Pare de pensar nisso!
Ao me sentar na mesa, soltei o ar que nem sabia que estava contendo.
Mesmo de costas para mim, ainda sentia seus olhos sobre mim e o meu corpo.
Ele era bem maior de perto, embora estivesse sentado.
Tive noção do seu corpo mesmo escondido pelo fato. Tinha braços musculosos e mãos grandes, que imaginei como me pegariam de jeito.
Ah que homem!
- Meu Deus, você viu aquele homem? - ela perguntou, fazendo um leve movimento com a cabeça, indicando de quem ela falava. - Que lindo.
- Demais Cilla, é o homem do carro!! - retruquei ainda abalada.
- Mentira!! É ainda mais bonito do que você disse, nossa!! - exclamou e eu sorri, ainda nervosa.
- Sinto borboletas no estômago Cilla, o que faço? - indago nervosa.
- Por enquanto nada Gabi, vamos comer e depois a gente vê. - responde já pegando no menu.
Estava imune à situação, diferente de mim, que sentia minha pele queimar só de pensar nos seus olhos.
Em uma tentativa vã de ignorar tudo, especialmente aquele homem pecaminoso que me fazia perder as estribeiras, peguei no menu e olhava atentamente, sem ler de facto alguma coisa que estivesse ali.
No fim, Priscilla pediu qualquer coisa que não prestei atenção e quando vi que o garçom esperava pelo meu pedido disse a primeira coisa que me veio a cabeça:
- Uh.. marisco! Lulas e ostras? - falei em tom de pergunta e este olhou para mim com um sorriso, me desculpei e continuei: - Lulas e ostras por favor. - perguntou se queria batatas fritas ou cozidas. Optei pelas fritas.
Pediu licença e saiu, mas não sem antes perguntar o que queríamos beber, Priscilla foi mais rápida e pediu dois mojitos.
- Ainda pensando naquele homem? - perguntou, com um sorriso nos lábios. - Nossa, o que está acontecendo com você? - riu.
- Não, não estou pensando nele Cilla! - neguei, corando tanto que senti minhas bochechas queimarem um bocado.
- Ah eu te conheço Gabi, nem vem. - afirmou com certeza. - Mas olha, eu não te culpo, é mesmo lindo. - sorriu para mim.
- Demais Priscilla, demais. - murmurei de volta e forcei um sorriso.
Quando as bebidas chegaram, olhei interrogativamente para a minha amiga.
Sabia que não consumia bebidas alcoólicas, então porquê pedir uma para mim.
E como se lesse os meus pensamentos explicou, visivelmente divertida:
- Para ver se descontrai um pouco e pára de pensar demais no Deus Grego sentado à umas mesas de distância da nossa. - sorriu, exibindo os dentes brancos.
- Vá se foder, Priscilla. - retruquei, já provando a maldita bebida. - Ok, não é má. - digo, me negando a admitir que até gostei daquilo, principalmente por não saber a álcool mesmo.
- Apenas admita, é boa e você gostou. - sorriu fazendo aquele olhar cínico que eu tanto conheço e me limitei apenas a mostrar lhe a minha língua.
Olhei para o copo, tentando desesperadamente me concentrar apenas no momento que estava tendo com a minha melhor amiga, mas parecia impossível.
Meu olhar estava sempre fixo naquele homem, ainda que estivesse de costas para mim. De certeza que a sua nuca queima, de tanto que me fixo nele.
Porém, em momento algum olhou para trás ou pareceu incomodado como eu estava, o que me faz pensar que talvez não o tenha afetado como achei.
Vejo a comida chegar em sua mesa e ele agradecer o garçom.
Observei tudo.. podendo me fixar apenas em como os seus braços se movimentavam enquanto levava a comida a boca.
Tomei um momento para apreciar o pouco que via.
Tem ombros largos e cheios, e me perguntei mentalmente o quanto ele ia a academia.
Seu cabelo castanho claro parecia tão sedoso que eu só me imaginava puxando-o enquanto metia em mim.
Mais uma vez me martirizei por esses pensamentos.
Saí do meu transe quando o garçom trouxe os nossos pedidos e só depois de olhar para o meu prato, me apercebi do quanto estava faminta.
Saboreei as lulas em um gemido de satisfação baixo.
- Muito bom né? - olhei para a minha amiga que comia peixe e camarão. - Eu disse que você ia gostar. - assenti, continuando a ter a minha refeição.
Tentando afastar a minha atenção daquele homem, tomei um momento para observar o restaurante.
É lindo e o ambiente muito agradável, tem um clima animado de bar, bem descontraído e com uma ótima decoração. Os clientes deviam estar misturados entre hóspedes do hotel e gente atraída pela fama do chef inglês, como nós duas.
Mal percebi quando terminámos a nossa refeição, tão logo o garçom levantou os pratos.
- Quer sobremesa? - minha amiga perguntou, enquanto eu observava o homem sentado a umas mesas de distância.
O garçom levantava a sua mesa e vi que pediu a conta, o que significava que ia sair.
- Não, não quero e você? - respondi rapidamente. - Acho que já deu, o que acha de irmos? - perguntei sentindo o que parecia ser pânico, ao ver que aquele homem ia embora, assim que terminou de pagar a sua conta.
- Como não Gabi? É a sua parte favorita de todas refeições. - surpreendeu-se, mas logo percebeu o que prendia a minha atenção, virando se descaradamente. - Francamente amiga, e o que pensa em fazer? Ele vai embora e você o segue até conseguir falar com ele, é isso? - falou em deboche mas logo fez cara feia ao perceber que era exactamente isso que eu queria fazer. - Ah não, não, não Gabi, esquece. - negou prontamente, porém eu já pedia a conta.
Não me dei o trabalho de lhe responder, apenas preocupara que o garçom estivesse demorando para trazer a conta, enquanto o homem já se levantava.
Saía com o seu amigo quando a conta finalmente chegou e nos apressamos em pagar, Priscilla murmurando:
- Mas você é doida mesmo, quero ver só!
Ao terminar de efectuar o pagamento, vi que o homem já não estava mais ali, o que significava que já tinha saído.
Rapidamente me levantei, pegando minha carteira e dizendo aflita:
- Vamos logo, ele já saiu!
Não respondeu, apenas me seguiu enquanto saía apressada do restaurante.
Nem sinal daquele homem no hall de entrada, o que me fez pensar que já tinha ido embora.
Então saímos do hotel e o vi entrar no carro e logo colocar o motor para trabalhar.
O nosso motorista mal acabava de encostar na calçada eu entrei no carro, seguida por Priscilla, pedindo logo:
- Por favor siga aquele carro, subtilmente. - O senhor de talvez 50 anos me olhou surpreso, mas acatou o pedido.
- O que você pensa que está fazendo amiga? - Priscilla perguntou .
- Olha eu não sei, apenas me deixe continuar fazendo. - respondi beijando sua face.
Cerca de 15 minutos depois, estacionamos em frente a um clube que ficava há umas quadras do que planeávamos ir depois do jantar.
Saí do carro com a minha amiga e nos dirigimos a entrada.
Não havia fila na porta, o que me fez pensar que talvez só entraríamos com um convite. Mas bastou nos aproximarmos, o segurança abriu a porta para nós, revelando um interior totalmente diferente do exterior.
Não havia tantas luzes piscando, o que era ótimo. O ambiente era agradável apesar da música alta.
Estava cheio e quase choraminguei ao me perguntar como o encontraria dentre aquela multidão toda.
Priscilla, entrando totalmente em seu modus operanti de festa, meteu-se entre as pessoas, me puxando consigo para o bar.
Pediu dois shots de tequila e quando viu o meu olhar feio estalou:
- Ah mas você vai beber mesmo, me arrastou na sua maluquice então agora aguenta! - em um tom que não aceitava recusa.
Me entregou o limão e o sal, e ao seu sinal virámos aqueles copinhos de uma vez só.
É amargo e queimou minha garganta.
Chupei o limão rapidamente, para tirar aquele gosto da minha boca.
Passeei os olhos pelo clube e então o vi.
Sentado em um sofá, onde tem poucas pessoas sentadas e conversando.
Me olhava atentamente, me despindo com os olhos.
Em uma mão tinha um copo com o que imaginei ser whiskey e bastante gelo.
Então, com uma coragem tirada de sei lá onde, avancei para ele, ignorando completamente os chamamentos da minha amiga, decidida a chegar perto daquele homem.
Assim que subi para onde estava, a coragem toda que tinha pareceu sumir, mas não fugi.
Parei mesmo a sua frente, ainda olhando nos seus olhos, desde que o vi enquanto estava parada no bar.
- Oi. - foi o que consegui dizer com a voz trémula, perdendo todo ar ao ver ele se levantar.
- Olá. - respondeu cordialmente, em um tom extremamente sexy, que tenho a certeza que molhou minha calcinha. - Tenho a leve impressão de que me seguiu, ou foi apenas uma bela coincidência. - se curvou para falar no meu ouvido e eu voltei a sentir o cheiro daquele perfume maravilhoso.
É alto, bem mais alto do que eu, musculoso, bastante viril e com uma aura assustadora.
Me senti bastante minúscula.
- Oh Deus.. - murmurei em português, então ele se afastou.
- Então você fala português.. - observou, também em português, e vi logo que era do Brasil.
- Sim.. e não estava lhe seguindo, talvez só criando essa bela coincidência. - tomei coragem e respondi.
Sorriu de lado, sacana, safado e totalmente excitante.
- E o que espera conseguir com essa bela coincidência? - perguntou sedutor, enquanto tomava um gole generoso da sua bebida.
E sem um pingo de pudor, talvez pela bebida, respondi no mesmo tom:
- Você.
Observei seu olhar passar de divertido para surpreso, e logo depois para desejo.
- Interessante. - Esfregou o queixo, me observando de cima para baixo. - É tentador mas.. - deu uma pausa. - Não saio com pirralhas. - concluiu, se afastando ligeiramente.
Sorri, com um falso e ao mesmo tempo verdadeiro divertimento.
- Não sou uma pirralha. - retruquei apenas, sem saber o que mais dizer.
Ele riu alto.
- Sério? Tem certeza que tem idade suficiente até para beber o que entornou antes de vir aqui ter comigo? - sorriu, tentando disfarçar o desejo, mas eu sabia que estava lá. - Sou perigoso demais para você, acredite. Não sabe nem metade do que poderia fazer com você.
Sorri, com a ajuda do álcool e respondi:
- Sei que me faria estremecer enquanto faz amor comigo. - mordi o lábio inferior e os seus olhos escureceram por um momento.
- Talvez, mas eu não faço amor.. apenas fodo. E é o que faria com você. Mas, não me envolvo com crianças. Acredite, é para o seu bem.
Disse com a voz carregada de tesão, me fazendo pensar que poderia gozar só de lhe ouvir, e então ele se afastou.. simplesmente se afastou, me deixando parada, com cara de tacho por ter sido dispensada por aquele homem.
Procurei a minha amiga no bar e a encontrei conversando com uma menina vestida de azul.
Me aproximei e pedi mais um shot de tequila, decidida a buscar mais um empurrãozinho para depois falar com aquele homem.