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Capítulo 2

Gabriela

Acordei antes do despertador tocar, sem conseguir evitar estar entusiasmada por passear pela cidade e também pela esperança de talvez ver aquele homem.

Tomei um banho demorado, lavando a cabeça e o corpo todo, sem pressa. Depois de limpinha, hidratei meu corpo e me vesti.

Calções brancos, blusa branca e ténis pretos, penteei o cabelo em um rabo de cavalo e esperei a minha amiga de vestir também.

Logo saímos do hotel e seguimos para um pequeno coffee shop onde tomaríamos café da manhã.

- Como dormiu? - minha amiga perguntou e não pude deixar de me perder em pensamentos vagos.

Como dormi? Bem eu acho, não parei de pensar naquele homem.. e claro, nos meus problemas com a louca da minha mãe! Mas, esse era um tópico a deixar de lado.

- Bem eu acho, não consegui pegar muito bem no sono. - Omiti a parte em que fiquei pensando e fantasiando com o desconhecido.

- Imagino, eu também. É sempre complicado nos primeiros dias longe de casa. - ela diz, sem pensar que não foi esse o motivo, mas sim aquele homem. Apenas concordo com ela.

Ao chegarmos ao destino, imediatamente senti o cheiro de café e bolos frescos, o que transmite uma sensação de ótimo bom humor.

Nos sentámos e fizemos os nossos pedidos.

Uma música de fundo tocava, me fazendo prestar bastante atenção, apesar de o volume estar muito baixo.

I'm feeling sexy and free

Like glitter's raining on me

You're like a shot of pure gold

I think I'm 'bout to explode

I can taste the tension like a cloud of smoke in the air

Now I'm breathing like I'm running 'cause you're taking me there

Don't you know? You spin me out of control

Domino - Jessie J

Rapidamente reconheci a música como Domino de Jessie J.

Ao pensar na letra, notei o quanto o refrão transmitia o que pensava.

Me senti acesa sobre o seu olhar, mais capaz de mim mesma, mulher, mas também bastante assustada.

Senti a tensão palpável no ar e quase explodia, de tanto que queria entrar em combustão.

E será que ele percebeu? O quanto me tirou o controle. E mais, será que eu tirei o dele também?

- Aqui é legal, é a primeira vez que venho. - Priscilla me tira dos meus pensamentos.

- É, também estou gostando. - respondo. - Então, o que faremos depois? - pergunto decidida a deixar de pensar naquele homem, embora saiba que seria impossível. Mas, queria aproveitar a viagem ao lado da minha melhor amiga.

- Não sei, o que você prefere? Pontos turísticos primeiro ou compras? - ela pergunta fazendo movimentos com as mãos como se fosse uma balança pesando possibilidades.

- Não sei, mas acho melhor começar pelos pontos turísticos, não? Assim teríamos tempo para compras e nos divertirmos! Como sair à noite e todas essas coisas. - exponho a minha ideia e ela concorda veemente.

- É, ainda é terça feira, teremos tempo. - ela diz animada.

A comida é entregue a mesa e além de ter um cheiro divinal, o aspecto não perdia.

Após a primeira garfada constatei que não era publicidade enganosa, era mesmo delicioso! Divinal!

- Oh meu Deus! Outro orgasmo culinário. - Priscilla exclama deliciada, o que me faz sorrir.

- É verdade. - concordo.

Não demorou muito para que acabássemos de comer e assim que pagámos saímos da cafeteria, com uma promessa implícita e silenciosa de que voltaríamos ali todos os dias para o café da manhã.

Por estarmos perto, começamos pelo Times Square, é de dia mas continua muito lindo, apesar de já o ter visto a noite, e a noite é uma loucura, as luzes, os letreiros luminosos e tudo mais.

Nesta manhã, nos dedicamos estritamente a esta parte de Nova Iorque.

Times Square é muito mais que cartazes e lojas. Se bem que a última parte é muito interessante, mas fica para o dia certo.

Com os meus 20 anos fiquei perdidamente maluca na grande loja Toys R Us! Cara, tem uma parte com construções em LEGO muito divertido.

Entramos na loja da M&M's e claro que saímos com uma variedade de doces na mão.

Encontramos teatros da Broadway e entramos no teatro de Minskoff, onde assistimos a peça musical do Rei Leão e mais tarde tomamos conhecimento de que era exibida há anos!

É simplesmente maravilhoso!

As pessoas, a vida que a cidade tem, as comidas de rua, as diversas línguas que ouvimos durante a caminhada. Reconheci o português brasileiro e o de Portugal, o inglês, italiano e russo. E isso é fascinante!

Visitamos a Estátua da Liberdade e o Central Park.

Já eram 19h e só tínhamos comido um cachorro quente a meio da tarde.

Então decidimos que iríamos jantar antes de ir ao hotel, apesar de que podemos jantar no hotel mesmo, mas combinamos que experimentaríamos diversos restaurantes.

Passávamos pela rua dos restaurantes requintados, onde todos estavam vestidos a rigor e foi quando o vi.

Em um fato azul escuro, cara fechada e uma postura aterrorizadora, mas excitante pra caralho. Estava parado fora do carro, com a porta aberta. Acabava de falar alguma coisa com o outro senhor e depois entrou no carro.

Tão rápido ele se foi.

- Ahh Priscilla!!!! - a segurei pelo pulso assim que saí do transe. - Era ele! Aquele homem. - disse mais baixo.

- E porquê não me mostrou de novo? - colocou as mãos na cintura enquanto me olhava. Ri.

- Ah desculpa Priscilla, é que eu nem consigo perceber o que se passa comigo, bastou lhe ver que eu congelei no lugar. Mas afinal de contas quem é aquele homem? - perguntei mais para mim do que para ela.

- Deve ser o homem bonito, só isso.. - murmurou, desconcentrada.

Sei no que pensava, infelizmente a minha amiga sofreu bastante por um homem com quem teve uma relação de muito tempo, sentia se usada até hoje, por isso não se envolvia com mais ninguém.

Ainda andando pela calçada sentimos o cheiro forte de churrasco e carne, olhamos uma para a outra e rimos, pois uma sabia o que a outra pensava.

Rapidamente entramos ali e nos sentamos.

- Ah eu amo carne!! - minha amiga fez uma cara de apaixonada que me fez rir no mesmo instante.

- Ahh eu também. Para mim, só perde para o sushi! - disse e ela concordou comigo.

Logo fizemos os nossos pedidos, onde nos decidimos por um prato com diversas carnes e molhos.

Enquanto a comida não vinha, apreciava o sumo natural de abacaxi, cenoura e laranja, o que era uma delícia!

- Então, já pensou no que vai dizer a sua mãe e Emílio? - Priscilla perguntou, me fazendo vaguear por um instante.

O que responder a minha amiga? Diria apenas o que sinto.

Minha mãe nunca foi uma mãe de verdade, não sei o que é amor nem como é me sentir apoiada pela minha própria mãe. Toda sua atenção era voltada para Bianca, que agia como a boa puta que ela queria que nós fôssemos.

Carinho de pai eu tive quando o meu pai estava vivo, lembro de como me tratava e como me amava, tal como me lembro de como sofri com a sua morte. Depois minha mãe se envolveu com Emílio, primeiro fingia demais para ele, como se fosse a melhor mãe do mundo e por uns míseros 6 meses me tratava como sempre sonhei. Cheguei a odiar Emílio, por pensar que queria tomar o lugar do meu pai.

Mas depois eu percebi. Ele não faria isso, ele simplesmente seria outro pai para mim, e é como tem sido até hoje. Tudo o que sou, é estritamente graças a Emílio.

Mas a minha relação com a minha mãe só ia de mal a pior, muitos dos episódios prefiro nem lembrar..

Por isso decidi que seria melhor sair, nem que fosse para morar na favela, isso não me incomodava. Falaria com Emílio também, queria trabalhar e me sustentar sozinha, mas imagino que será uma discussão um bocado grave.

- Não sei ao certo. Talvez seria melhor falar com Emílio primeiro. Na verdade, é o único que me importa, porque ele se importa comigo. Tenho certeza que se eu disser a minha mãe que estou saindo, pouco ia ligar, como sempre foi. - respondi sinceramente.

- Entendo.. Só não percebo como a sua mãe consegue ser assim, nossa!

Assenti com a cabeça, tentando deixar o assunto de lado.

Na verdade é por não conseguir pensar direito, pois só consigo ver aquele homem na minha cabeça.

Como seria beijar seus lábios?

Sentir seu toque na pele e ser acariciada por ele?

A comida chegou e comemos nos deliciando, será que tudo em Nova Iorque é simplesmente maravilhoso?

Priscilla pareceu ler minha mente quando disse:

- Parece o paraíso não é, tudo maravilhoso.

Concordei veemente, acrescentando:

- Um verdadeiro orgasmo culinário, não? - sorri.

Ela riu, sabendo que dizia isso em função do que ela já tinha dito antes, com os donuts em cone.

Me deliciava com a comida enquanto prestava atenção a rua, com esperanças de ver aquele carro passar novamente.

Me martirizei mentalmente, que raios estou fazendo?

Esqueça isso Gabi! Meu consciente gritava mas eu parecia incapaz de cumprir com suas ordens.

Então olhei para a minha amiga que tagarelava sem parar, enquanto eu sorria. Não escolheria outra pessoa em qualquer outro universo alternativo para viajar comigo, apenas essa bichinha que eu tanto amo.

++++++++++

Os dias pareciam voar em Nova Iorque, o que me entristecia. Saber que logo voltaria para o Brasil e que os dias estavam passando e ainda não tinha me encontrado com aquele homem.

A velocidade com que fizemos tudo aqui é impressionante.

Já visitamos o Central Park, a Estátua da Liberdade, o Empire State Building, Ponte de Brooklyn, Rockefeller Central, o Time Square claro, o Museu, a Catedral de São Patrício, o Madison Square Garden e a famosa Wall Street.

Iniciámos algumas compras e hoje continuámos comprando.

É sexta feira e combinámos que jantaríamos em um restaurante requintado e depois iríamos a um clube onde tinha uma festa daquelas.

Merecíamos.

Estávamos cansadas, então decidimos ficar de molho até a hora da saída.

Fizemos tantas compras e eu fiz uma nota mental de depois perguntar Emílio se tinha como adicionar bagagem extra na minha passagem de avião, pois sabia que ainda compraríamos coisas.

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