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7. Anjo ferido

||Japão

Imada Keiko empurrou Amitiel, mas não conseguiu afastá-la. Tentou arranhar o rosto dela, mas o arcanjo agarrou seus pulsos e, facilmente, a imobilizou. Keiko gritou, mesmo tendo consciência de que era inútil. Foi quando se lembrou de Jofiel, e fechou os olhos com força, concentrando-se no Serafim.

"Eu aceito", sussurrou a garota.

Amitiel a encarou, confusa. Mas, antes que pudesse perguntar ao que a garota se referia, ouviu um bater de asas atrás de si, e só teve tempo de se levantar e se virar, antes que Jofiel – Agora, numa versão mais velha de Okakura Miyoko – lhe atacasse. Keiko se levantou, rapidamente e deixou a cama, indo para um canto, onde se encolheu, ainda assustada.

— Ah, Jofiel! Estava ansiosa em revê-lo, maninho. — Amitiel disse, sorrindo, e apanhou um vaso de violetas, que estava em cima do criado-mudo e o atirou em Jofiel. O vaso quebrou-se, mas, nenhum caco feriu Jofiel. As violetas espalharam-se pelo chão, e um punhado do que parecia terra sujou a roupa e a pele do Serafim, só que não era terra, e sim, outra coisa venenosa. Jofiel sentiu a pele queimando e, caiu de joelhos, gritando.

— Uma invenção de Azazel, esse pozinho é como ácido para anjos, mata lenta e dolorosamente. — Amitiel recuou, rindo.

— Não me importo em morrer, mas você vai lamentar por isso. — Jofiel disse, se reerguendo com ódio.

— Quanto mais esforço fizer, mais rápido, sucumbirá. — Amitiel disse.

— Acho que não tenho mais nada a perder. — Jofiel sorriu, empunhando seu punhal.

Amitiel não estava pronta para enfrentá-lo por vários motivos, ele era mais forte, ainda que ferido – ela podia ter ser um arcanjo, mas sempre que um anjo ou arcanjo caía, parte de sua força se perdia, então, ela não era páreo para ele –, ele era um dos melhores amigos de Uriel, e se ela o matasse, Uriel não deixaria de procurá-la, não até ter a sua vingança, e todos os caídos sabiam que Uriel não era nenhum pouco misericordioso com seus inimigos, e por último, mas não menos importante, ela o amava. De todos os seus irmãos, os anjos, ela se afeiçoara mais a ele.

— Rafael é o único que conhece o antídoto. — Amitiel disse antes de fugir, correndo em direção à janela e se atirando. Como ela estava fechada, os vidros se estilhaçaram em mil pedaços. Amitiel levantou voo antes que caísse no chão. Felizmente, o prédio decadente era localizado em um lugar praticamente deserto, onde os poucos frequentadores eram tão viciados, que qualquer coisa que dissessem, ninguém levaria a sério.

— Você está bem? — Jofiel perguntou a Keiko.

A garota concordou, meneando a cabeça. Então, se levantou, e se aproximou do Serafim, que empalidecia rapidamente.

— É você que não está nada bem. — Keiko disse.

— Tenho que te tirar daqui. Tem mais caídos vindo. Eu posso senti-los. — Falou Jofiel e agarrou o pulso de Keiko. Os dois mal se teleportaram, e meia dúzia de anjos que estiveram disfarçados como membros da gangue, irromperam no quarto.

||Paris, França

Rafaela notou a forma como Beverly se sentia nos braços de Gabriel, e só pode lamentar por ela, porque o amor que a mortal sentia pelo arcanjo, jamais poderia se concretizar. Não era de se estranhar, no entanto, humanos eram frágeis e se apegavam facilmente. Mas Gabriel parecia um pouco mais envolvido que o normal, aquilo preocupava Rafaela. Como Miguel dissera, certa vez, nem todos os anjos estavam prontos para lidarem com humanos.

||Tóquio, Japão

Jofiel se teleportou com Keiko para a suíte presidencial de um hotel, e isso, o esgotou rapidamente.

— Iremos até Rafael, agora. Segundo os meus contatos, ele está trabalhando em um hospital francês, como Rafaela Arcangeli. É esse o nome que você deve mencionar quando eu nos teleportar até lá, Keiko. Não tenho mais força como antes, e se você não me ajudar, morrerei. — Jofiel disse.

— Eu farei o que quiser. — Keiko disse.

Jofiel tirou seu suéter e o deu a Keiko porque a blusa da garota estava rasgada. Keiko o vestiu, agradecida. Jofiel a abraçou, e teleportou os dois para o hospital onde sabia que Rafael trabalhava. Keiko o encarou, preocupada, mas se sentiu aliviada porque ele continuava em pé e consciente.

— Você fala francês? — Jofiel perguntou.

— Não. — Keiko respondeu.

— Agora fala. — Jofiel apertou o braço dela. Keiko sentiu um leve choque no braço, antes de Jofiel desmaiar. Ela conseguiu segurá-lo por pouco.

— Me ajudem? Por favor? — Gritou Keiko sem se dar conta de que agora, falava francês.

Não demorou para que ajudassem Jofiel, e o levassem para UTI porque ele estava quase morrendo. Encheram Keiko de perguntas.

— Qual é o nome da paciente?

— Okakura Miyoko. — Não era o nome verdadeiro dele, mas Keiko sabia que se dissesse "Jofiel", deixaria as pessoas confusas, porque uma "garota" de aparência tão delicada não podia ter um nome tão masculino.

— Ela ingeriu alguma substância tóxica? Veneno? Drogas? Por favor? O que souber, pode ajudar a salvar a vida dela.

Keiko observou o nome no crachá da mulher "Esther Durand". Era uma mulher alta, morena, com cabelos castanho claros, sardas nas bochechas, olhos cor de amêndoa. Bonita. Aparentava estar na casa dos quarenta. Seria médica ou enfermeira? Keiko não sabia.

— Preciso falar com a doutora Rafaela Arcangeli. — Keiko disse.

— Ela não trabalha mais aqui. Foi para o hospital do câncer há algumas semanas. Você a conhece? — Disse Esther.

— Miyoko conhece. É amiga dos pais dela. — Mentiu Keiko, nervosa, sem saber mais o que inventar.

— Eu vou tentar localizar a doutora. — Disse Esther ao se convencer de que Keiko não lhe ajudaria muito.

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Rafaela estava se preparando para começar mais um turno em seu trabalho no hospital do câncer, quando seu celular tocou. Era Esther. Ela mencionou que uma paciente estava internada em estado grave, e que sua acompanhante, uma adolescente de quatorze anos, garantia que a paciente a conhecia.

— Qual o nome da paciente? — Rafaela perguntou.

— Okakura Miyoko. — Esther respondeu.

Rafaela soube que era Jofiel porque Uriel não parara de falar o quanto ele fora sortudo em ir para o Japão. Uriel adorava os cafés temáticos do país.

— Sim, eu conheço. Estou indo para aí. — Rafaela disse.

A primeira coisa que Rafaela fez quando chegou ao hospital, foi ir falar com Keiko, para entender o que acontecera, embora, já tivesse uma suspeita, só precisava confirmá-la.

— Keiko? — Disse Rafaela ao entrar na sala de espera.

Keiko se levantou e ao ver o nome no crachá da médica, não teve dúvidas de quem ela era.

— Você precisa ajudar ele. Por favor? — Implorou a garota, entre lágrimas.

— Me conte o que aconteceu? — Rafaela pediu, com o semblante calmo.

Keiko contou, e Rafaela lhe garantiu que tudo ficaria bem, então, saiu, apressada. Rafaela foi até um corredor vazio e se teleportou até a sua casa. Não sua morada celestial, mas a casa em que residia agora. Foi até o sótão e pegou um frasco com um líquido azul brilhante, que ficava em uma prateleira junto com outros frascos. Voltou ao hospital, mas dessa vez, invisível, circulou pelos corredores, e foi até a UTI, onde os médicos lutavam para reanimar Jofiel que acabara sofrendo uma parada cardíaca. Rafaela se aproximou do irmão, e abriu o frasco, despejando o conteúdo deste em sua boca. Ninguém percebeu o que aconteceu, nem notaram quando a boca da paciente se abriu lentamente. O antídoto fez efeito imediato em Jofiel, e este recuperou toda a sua vitalidade.

— Conseguimos. — Disse o médico, aliviado por ver a paciente reagindo.

— Obrigado. — Jofiel disse num sussurro a Rafaela.

Rafaela sorriu.

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