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Capítulo 3

-Isabelle...?-.

-Ele está se preparando, agora desça-. Evelyn havia antecipado minha pergunta, aparecendo de repente da cozinha e parando para olhar para mim, encostada no batente da porta. Ela era exatamente o oposto de sua irmã. Olhos castanhos, morena e aquela expressão eternamente intrigante que dificultava entendê-la completamente. Ela também não parecia muito animada com aquele almoço e, assim como eu, parecia decidida a fugir o mais rápido possível.

Josephine, com a cunhada, desapareceu novamente na cozinha, depois de gritar do alto que havia trazido a sobremesa, deixando-me na antessala com a filha mais velha ainda olhando para mim. Eu estava tentando esconder um sorriso divertido, talvez por causa da minha expressão.

Abri a boca para dizer a primeira coisa estúpida que consegui pensar para preencher o silêncio, mas felizmente a campainha me salvou.

Depois disso só houve abraços, beijos e gritos. E todos pareciam se esquecer de mim. Richard, filho mais velho de Luke e Victoria, havia entrado acompanhado da esposa e dos dois filhos que, juntos, não tinham nem cinco anos. Eu não conseguia entender como eles podiam estar tão relaxados e felizes. As criaturas sobre-humanas eram os pais, disso ele tinha cada vez mais certeza.

Aí chegou Violeta, a segunda filha, com o marido e finalmente minha noiva resolveu descer.

Evelyn foi imediatamente sequestrada pelo sobrinho, enquanto Isabelle rapidamente tomou posse da sobrinha.

"Ei, Nina, diga olá para Oliver." Ela se aproximou de mim com um sorriso muito doce com o bebê nos braços e eu não pude deixar de sorrir para ela. Eu tinha que admitir que ele tinha um jeito adorável com crianças. Por mais que ele dissesse repetidamente que odiava sua carreira, tive que admitir que ele tomou a melhor decisão.

Josefina, depois da saudação geral, deu imediatamente ordem para se sentarem à mesa e, como o capitão falara, todos obedeceram sem serem avisados duas vezes.

Então me vi sentado entre Isabelle e Evelyn que, na cabeceira da mesa, olhava para os clientes com um toque de constrangimento. Eu conseguia entendê-la, não deveria ser a melhor coisa passar almoços e jantares vendo primos e irmãs alegremente acompanhados. Lamentei que ela se sentisse excluída porque não era a primeira vez que isso acontecia.

Foi um longo almoço que mais de uma vez rotularam como prova do Dia de Ação de Graças. Muitas vezes me perguntei se eles estavam brincando ou se realmente fizeram aquele teste. Não me pareceria tão absurdo conhecer Josephine e teria sido uma das raridades daquela família.

-Oliver, Isabelle nos contou que você vai trabalhar para Edmund Brown. É verdade? - Josephine de repente ficou interessada, juntando as mãos na frente do rosto.

- Você tem muita coragem! Ele não é o ogro mau do jornalismo? - desatou a rir Violeta, que, durante todo o almoço, não se afastou um só momento do marido. Eles pareciam estar presos juntos.

Sim, foi uma escolha bem pensada. Isso me dá a oportunidade de fazer um trabalho que adoro e estar perto de casa. Os rumores sobre ele me assustam relativamente.

-Edmund é um velho amigo. “Estudamos juntos na escola e ele é um pouco rígido, mas não pede nada importante”, explicou Oskar, que normalmente evitava ceder à esposa.

“Não duvido, na verdade não estou impressionado com o que dizem.”

Richard assentiu, entrando com um sorriso para zombar de Violet. -Bravo, não faça como minha irmã que toma como fato toda bobagem que ouve por aí.

-Veja, Oliver, ter irmãos mais velhos é bem difícil. Certamente Izzy deve ter te contado – a garota se sentiu forçada a se justificar olhando para o irmão. Eles eram como um cachorro e um gato, mas eu tinha a ideia de que eram muito mais parentes do que jamais admitiriam.

“Você não tem irmãos, Oliver?” Richard se pegou perguntando, colocando o braço em volta dos ombros da esposa em um gesto cheio de preocupação.

-Infelizmente não, sou filho único mas tenho um primo que é como um irmão para mim-.

-O mecânico, certo? Estou superpreparado para isso. Violet ficou encantada em aprender tanto sobre mim. Minha namorada teve que falar sobre nós com mais frequência do que o esperado.

- É verdade, que descuido! De vez em quando você pode pedir ao Andrew para almoçar conosco. Ficaríamos muito felizes, certo Oskar? -. O homem acenou com a cabeça, como sempre, diante das complicações de sua esposa, embora não tivesse certeza se ela estava ouvindo. Esse era o segredo para um casamento feliz?

Andrew almoçando na casa dos Mayer seria uma cena que eu não queria perder, mas duvidava que meu primo aparecesse. Eu não era do tipo que jantava em família, especialmente dada a nossa história. Eu estava convencido de que, muitas vezes, ele se perguntava como fazia isso. A resposta foi simples, evitei falar de mim. Naquele dia, porém, não o consegui como gostaria.

-Está tudo bem, não aguento mais…-. A voz de Violet interrompeu violentamente qualquer conversa iniciada naquele momento, fazendo cair o silêncio. Porém, pelo sorriso da garota, não deveria ser nada sério. -Simon e eu temos novidades para compartilhar com todos vocês.

Com uma das mãos ela agarrou a do marido, que a olhava como se estivesse encantado. -Em seis meses seremos pais. Estou grávida!-.

Da mesa surgiram fortes aplausos, seguidos de beijos e algumas lágrimas emocionadas da mãe que, aparentemente, já sabia de tudo e não conseguia mais tentar manter segredo.

“Ah, que beleza, mais um sobrinho!”, exclamou Josefina, feliz, abraçando a sobrinha.

-Parabéns pessoal, estou muito feliz por vocês. Evelyn apenas abraçou os dois e saiu do lado da prima.

-Agora é a sua vez, senhoras, porque sentem-se- Victoria deu um pulo, olhando para suas duas sobrinhas, e então desviou o olhar para sua criada.

Fiquei feliz por Violet. Feliz porque mais um filho estava a caminho, mas, de longe, não tinha intenção de me casar, ou pior ainda, de ter filhos nos próximos anos. Engasguei com minha própria saliva, provocando risadas dos convidados.

"Tia, não o assuste, sério." Isabelle riu muito e eu suspirei de alívio. Ele tinha certeza de que ela também não se imaginava se casando ou tendo filhos num futuro próximo. Ele ainda era muito jovem e nem havia terminado os estudos.

Foi Oskar quem aliviou a tensão ao mencionar o bolo fantasma da minha tia e logo todos mudaram de assunto.

"Vou servir a sobremesa", Evelyn continuou dizendo, indo para a cozinha com a gratidão da mãe ao fundo. Não sei por que critérios, mas levantei-me na minha vez de sentar à mesa e a minha desculpa foi mais do que credível.

-Minha tia me deu algumas instruções sobre a sobremesa. Eu vou te dar uma mão. Ninguém prestou muita atenção em mim e, quando coloquei os pés na cozinha, respirei aliviado.

Um pouco de paz no meio de todo aquele caos era o que eu precisava.

“Você não vai acreditar, mas eu ainda sei servir sobremesa”, respondeu Evelyn, colocando o pacote na bancada de mármore da cozinha.

-Você não vai acreditar mas eu não tenho a menor ideia do que tem nessa caixa.

Ela começou a rir e eu fiz o mesmo. Eu havia dito a primeira coisa que me veio à cabeça para escapar daquele tabuleiro.

-Eu entendo, você também precisava de uma pausa. Embora eu vá usar você como garçom, apenas saiba.

"Faça o que quiser comigo, desde que não conte minhas mentiras."

-Seu segredo está seguro comigo-. Ele sorriu e piscou para mim enquanto pegava uma faca nas mãos. -É... para o Andrew, certo? Eu vi você um pouco hesitante antes, enquanto falava sobre isso.

Bom. "Eles se conhecem, esqueci."

-Fomos para a escola juntos, ele era um ano mais novo.

-O assunto é bastante complicado, como você sabe-.

-Nem todo mundo se lembra disso. Não fique com raiva-.

-Você tem, mas-.

-É difícil esquecer. Éramos crianças. Ficamos marcados para o resto da vida, mas mesmo para quem sabia, deve ter sido um acontecimento traumático.

Forcei um sorriso e lhe entreguei um prato enquanto ela cortava com cuidado o bolo que minha tia acordou de madrugada para fazer.

-Você, por outro lado, se refugiou na cozinha para evitar comentários sobre ele--.

-Minha vida amorosa? adivinhou-.

Ela passou anos longe de Old Calert e não tinha conhecimento de nenhuma dinâmica em sua vida amorosa. Não é que eu já tivesse me interessado antes de partir, mas sendo vizinhos e mais ou menos da mesma idade, era normal sabermos algo um do outro. Depois de todo esse tempo, porém, o assunto parecia ter se tornado um assunto delicado para Evelyn, então não quis insistir mais no assunto.

-Posso entender. Os membros da família às vezes são inadequados, mas o fazem sem maldade.

Evelyn sorriu e balançou a cabeça. -Eu sei perfeitamente. Só não estou com vontade de ouvi-los comentar hoje. Já tenho outras coisas em mente.

Ela não parecia disposta a falar sobre isso, mas agora que ela havia despertado minha curiosidade, eu não tinha certeza se ficaria satisfeito com aquelas palavras enigmáticas. Além disso, Evelyn parecia ter um peso sobre os ombros do qual queria se livrar.

-É pessoal ou posso perguntar do que se trata?-. Desci com pés de chumbo e ela pareceu gostar. Ela olhou para cima e parou para me olhar com incerteza por alguns momentos.

Então ele suspirou. -Não é segredo de estado, só preciso ter coragem de contar aos meus pais. Acabei de ser demitido e agora estou numa grande confusão.

-Ah, pode falar bem, senhorita!-.

A voz de Josephine atrás de mim fez meu sangue gelar e o rosto de Evelyn expressava claramente o sentimento de pânico que eu tinha certeza que acabara de nascer nela.

Evelyn

De mal a pior. Assim foi definida a entrevista que acabou de terminar com o chefe de pessoal de um escritório muito semelhante àquele em que trabalhei até poucos dias antes. Minha mãe me mandou para lá, depois de me queimar na fogueira no domingo no almoço. Aquela cena forçou o tio Luke a me encontrar um possível substituto antes que sua irmã implodisse na frente de todos. Apreciei o seu gesto, especialmente porque me salvou da humilhação pública a que a minha mãe me expôs, mas estava cansado de depender dos meus contactos familiares para encontrar trabalho. Ele não era tão inepto a ponto de sempre precisar de recomendações, especialmente do xerife da cidade. Sem tirar o fato de que eles sempre pareciam me desprezar.

Eu era perfeitamente capaz de encontrar um emprego sozinho.

A vitrine cuidadosamente decorada e a placa com a inscrição cursiva "I Dolci di Clara" me fizeram respirar aliviado. O aroma inconfundível de doces recém-assados chegou até mim antes mesmo de eu abrir a porta da padaria.

Entrei já esperando minha sobremesa de consolo e sorri para um homem mais velho sentado sozinho à mesa. Aquele lugar, mesmo depois de tantos anos, ainda fazia muito sucesso e todo o crédito pertencia ao proprietário. Sempre ia lá no ensino médio, para tomar café da manhã ou lanchar quando passava. Era um local de encontro acolhedor e sobretudo onde se podiam saborear as melhores sobremesas de toda a cidade.

O sorriso de Clara me cumprimentou com surpresa quando a mulher ergueu os olhos de um caderno onde fazia anotações. -Evelyn! É bom ver você aqui novamente. Como vai?-.

Eu sinceramente esperava que você não me fizesse essa pergunta. Não fiquei triste, talvez desapontado, e honestamente teria preferido falar sobre outra coisa do que sobre minha vida desastrosa.

-Oi Clara-. Forcei um sorriso, apoiando-me no balcão. -Estou bem? Se você pode dizer isso. Acabei de sair de uma entrevista.

- Ei, ótimo. Como foi?-.

-Em uma escala que vai de “não têm intenção de me contratar” até “só me entrevistaram porque meu tio interveio”, você diria… ruim? Não aguento mais, estou cansado.

Senti meus olhos arderem e instintivamente olhei para baixo. Eu não tinha ido até lá para sentir pena de mim mesmo, só ia me consolar me empanturrando de doces e uma bebida quente. Nada mais. Eu não entendia por que tinha que ser tão difícil.

Clara colocou uma mão reconfortante em meu ombro e levantou meu rosto suavemente. Encontrei seus olhos me esperando com a intenção de me dar um pouco de calma.

-Não fique triste agora. Se você se jogar no chão verá a situação mais sombria do que realmente é.

-Agora eu passo, é só um momento-. Era uma rotina normal para mim, só precisava de um momento. Limpei os olhos com uma das mãos e me forcei a sorrir para não angustiá-la.

Clara assentiu com incerteza, mas decidiu mudar de assunto mesmo assim. Fiquei grato a ele. -O que levo para meu cliente favorito? -.

- Um chá quente, sem dúvida, e o seu famoso creme folhado. Eu preciso descer com força.

"Ah, não, eu não os recomendo."

-Porque? Acho que é do pecado da gula que preciso agora.

Fiquei com água na boca desde que pensei em ir à padaria. Eu não poderia deixá-lo depois daquela manhã horrível.

-Tenho problemas com o novo aprendiz. Voltei cinco desde esta manhã, os clientes quase me fizeram em pedaços.

Eu não tinha ideia de que Clara havia contratado alguém para ajudá-la. Já fazia muito tempo que não a visitava na padaria. Quase me senti culpado. Ela sempre fez tudo sozinha, mas, provavelmente, depois do ataque cardíaco decidiu contratá-la.

-Oliver insistiu para que eu encontrasse alguém que me ajudasse, mas temo ter encontrado a pessoa errada.

-Você não se sente bem?-.

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