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Capítulo 4

CAPÍTULO 4

Sara Espinosa

Eu não entendo o que está acontecendo. Abro os olhos e me deparo com um lugar o qual nunca estive antes, um lugar repleto de paredes brancas, um cheiro muito forte de remédio, e várias máquinas apitando e que estão ligadas ao meu corpo. Vejo um homem gordinho e velhinho usando roupas de médico, de jaleco branco, e outras pessoas vestidas igualmente a ele, ao seu lado, anotando várias coisas que eu não sei o que são, em blocos, como se estivessem seguindo a orientação dele. Elas intercalam o olhar entre eu deitada nessa cama, a qual não faço ideia de como vim parar nela, e sobre o médico, enquanto escrevem apressadamente e registram essas coisas. Me sinto um tanto perdida, tonta e desnorteada, sem saber para quem devo olhar primeiro e o que devo perguntar, mesmo após ter feito tantas perguntas e não obtido nenhum tipo de resposta a respeito delas, quando me dirigi ao senhor Donatello Espinosa, meu sogro.

Então decido insistir mais uma vez na mesma pergunta, para saber o que está se passando, já que ninguém me diz nada, apenas me observam com os olhos arregalados e o semblante um tanto atentos e surpresos.

-Senhor Espinosa, onde está Kael? Por favor me diga onde ele está nesse momento. Eu preciso falar com ele e saber o que houve.

Donatello e o médico, que parece ser o chefe de todos aqui, superior dos funcionários que estão ao seu redor, trocam um rápido olhar um com o outro. Eles parecem tensos, mas, o médico acena uma afirmação muda apenas com o olhar e um menear de cabeça para que Donatello Espinosa possa me dizer o que está havendo. Ele parece um pouco tenso enquanto aperta a minha mão e puxa uma profunda respiração antes de começar a dizer o que está prestes a me contar. Então eu me pergunto porque ele parece tão nervoso, o que será que aconteceu para que ele esteja dessa forma, e tão relutante em me dizer as seguintes palavras?

-Olha Sara, eu sei que está passando por um momento difícil e sua situação é extremamente delicada, então é por isso que primeiramente peço que você tenha bastante calma, não se estresse, pois não pode se dar ao luxo de ficar nervosa ou alterada, e com isso acabar prejudicando a sua saúde e a sua recuperação, ok? E se estiver de acordo com essas condições, eu irei lhe dizer agora.

Donatello Diz ao que eu assinto positivamente concordando com seu pedido.

-Houve um acidente de carro cinco meses atrás. Você e Kael estavam dentro do veículo que sofreu uma forte colisão contra um caminhão, rodopiou na pista e foi jogado para fora do asfalto. O carro teve muitos danos, vocês ficaram muito machucados, ambos foram socorridos na mesma hora, porém... mesmo tendo sido socorridos pela ambulância, Kael não conseguiu chegar com vida ao hospital. Ele teve complicações durante o caminho, várias paradas cardíacas e no fim não conseguiu resistir. Ele teve morte cerebral antes mesmo de chegar ao Hospital... Kael chegou já sem vida e sem consciência.

Não, não, não... isso não pode ser verdade! É o que penso comigo mesma, com a mente já embaralhada e bastante confusa. Eu sinto como se estivesse perdendo o chão sobre os meus pés, como se tivesse recebido a pior notícia do mundo e que me tira totalmente a sanidade. Donatello não pode estar falando a verdade, isso deve ser algum tipo de confusão ou talvez eu tenha entendido errado as suas palavras, talvez não tenha compreendido o sentido real ou até mesmo esteja alucinando por causa do efeito dos Remédios.

-Não... não...

Balanço a cabeça em choque.

-Sara eu disse para você não ficar nervosa! Tente se acalmar pelo amor de Deus!

Donatello Espinosa, meu sogro, diz com certa urgência em seu tom de voz firme e exigente. Ele parece preocupado diante da reação a qual estou demonstrando neste momento, diante da pior notícia que acabo de receber e ainda não consigo acreditar no que ouvi. Alguns aparelhos começam apitar aceleradamente ao mesmo tempo, todos juntos, me deixando quase louca. Minha mente gira, gira e gira sem parar. Por que que isso está acontecendo comigo? É o que eu me pergunto com o coração completamente partido. Por que uma tragédia como essa teve que acontecer comigo justamente nesse momento? Justamente quando a minha vida parecia estar enfim melhorando, após um longo período de abandono e sofrimento?

Isso não é real, não, não pode ser... Eu devo estar tendo um terrível pesadelo do qual eu quero desesperadamente acordar. Isso é o que concluo antes de ver o mundo escurecendo bem diante dos meus olhos, e então, eu perco a consciência ao mergulhar em um mar de profunda escuridão. Eu desmaio.

***

Não sei quanto tempo depois, mas eu acordo e olho ao meu redor tentando me situar mais uma vez onde estou, e aos poucos as informações retornam a minha cabeça. As Memórias vêm rapidamente como uma enchente torrencial, então eu me lembro de tudo, do meu sogro me contando sobre o Terrível acidente de carro que eu e Kael sofrendo juntos, mas, que infelizmente acabou com a vida dele e não a minha. Eu me sinto extremamente triste, perdida, e temerosa diante da presente realidade. Será que Donatello Espinosa, me culpa pela morte de seu filho? Será que ele está me culpando nesse exato momento por ter causado o Infortúnio da sua vida, de ter perdido o seu único filho? O que será que se passa pela cabeça dele nesse exato momento?

Talvez ele esteja cheio de raiva, ódio, e rancor sobre mim, acreditando que eu tive parte no que aconteceu naquele acidente. Apesar de eu não me lembrar de nada do que aconteceu aquele dia, também sinto como se fosse minha culpa. Pois, se eu não estivesse com ele naquele veículo, talvez as coisas tivessem sido bastante diferentes. Talvez ele não teria se desconcentrado ou talvez não teria perdido a direção do veículo na estrada por minha culpa. Mas eu sei que de alguma maneira influenciei no que ocorreu naquela data e tenho certeza absoluta de que meu sogro também pensa da mesma forma, e que provavelmente irá me punir da pior forma possível

Ele irá se vingar de mim, é o que eu acredito em meu interior com total certeza, pois é o que os seus olhos de um azul glacial, cheios de uma ira contida e disfarçada, demonstram nesse exato momento, enquanto ele me fita com o semblante sério e perturbador. O médico ao seu lado diz alguma coisa para ele em um tom de voz tão baixo, que eu mal consigo escutar, então não entendo o que eles estão conversando entre si, mas sei que é alguma coisa com relação a mim e o estado em que estou agora.

Será que ele vai mandar aplicar alguma droga em mim para me matar ou talvez me debilitar por ter prejudicado a sua vida? Meu sogro só teve azar desde que eu entrei em sua família, e ganhei o sobrenome Espinosa como um presente Divino e muito especial, vindo do céu. Eu só trouxe o infortúnio, a perda, e a tragédia para sua família. Então é mais do que compreensível que ele me deteste com toda a sua alma e com todas as forças, e queira acabar comigo

Eu sei que pedir perdão em nada vai adiantar ou mudar o que houve, porém, eu preciso tentar me redimir diante dele, mesmo que eu precise ficar de joelhos e lhe pedir perdão pelo resto da vida, mas farei qualquer coisa para que ele possa me perdoar por ser o grande azar de Kael Espinosa, um homem tão bom, justo e gentil, que me tratou com tamanha bondade e carinho, mesmo sem eu merecer. A família Espinosa, que acolheu uma jovem solitária, uma Órfã sem nome ou sobrenome na vida, agora estava devastada por completo e a culpa era toda minha.

Kael e Donatello jamais tiveram tantos infortúnios e tragédias em suas vidas antes que eu aparecesse, dessa forma, tenho que fazer algo para tentar compensar minimamente a perda do precioso e amado filho de Donatello, diante de seus olhos, e me redimir com ele, da forma que for necessária. Eu farei qualquer coisa que ele me pedir, farei o possível e o impossível para que ele me odeie um pouco menos do que já odeia, e do que sua fúria e rancor ordenam para que se recinta de mim

Não ouso levantar o olhar uma segunda vez na direção do meu sogro, tenho vergonha e medo de fitá-lo diretamente nos olhos nesse momento. Eu sou a desgraça de sua vida, por essa razão continuo calada apenas escutando os ruídos entre ele e o médico, e espero que a conversa chegue ao fim para que ele se dirija novamente a mim e diga o que pretende fazer comigo. Eu aceitarei qualquer castigo ou punição que ele deseje executar sobre mim. O poder está em suas mãos para fazer o que bem entender, afinal de contas Donatello tem toda razão para se sentir da forma como está se sentindo nesse momento, diante da pessoa que destruiu para sempre o seu coração e a sua alma.

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