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Capítulo 3

Capítulo 3

Donatello Espinosa

Tudo o que eu estava esperando há muito tempo, há várias semanas para dizer a verdade, era que esse momento enfim chegasse. Minha nora acordou, abriu os olhos pela primeira vez, depois de ter passado por um longo período em coma sem demonstrar nenhuma melhoria ou sinal de que viria melhorar em algum momento. Mas, eu tive fé, não perdi as esperanças de que ela iria reagir, que iria sair dessa, mesmo contra todas as probabilidades e avisos dos médicos, eu persisti eu me mantive firme no propósito de esperar pelo tempo dela, de esperar pelo tempo em que ela iria abrir os olhos e olhar diretamente para mim.

Nada me tirava da cabeça de que ela, minha nora era uma mulher muito forte, que sobreviveu as diversas coisas que sequer posso imaginar. Porém, se ela pôde sobreviver a uma vida triste miserável no orfanato Raio de Luz, então ela poderia sair dessa também. Não seria um acidente de carro que iria acabar com sua vida tão precocemente, ela tinha uma força dentro de si que gritava que gostaria de viver, de ir a lugares que ainda não foi, e conhecer coisas que ainda não tinha conhecido.

Sara ainda tem uma longa vida para viver e eu sei que no fundo no fundo, ela deseja de todo coração fazer isso, e é por essa razão, que ela lutou bravamente para sair desse estado vegetativo o qual estava aprendendo-a a uma cama de hospital. Mas agora isso chegou ao fim, ela acordou.

-Ei, você consegue me ouvir? Está entendendo o que eu estou lhe dizendo?

Eu digo apressadamente, afoito para escutar sua voz.

-Sara, Sara? Por favor, olha para mim e me diz se está compreendendo qualquer coisa. Se não consegue falar, pisque os olhos para afirmar que está me ouvindo e compreendendo, ok?

Eu peço com um misto de ansiedade e temor, ao aguardar por uma resposta de sua boca. E contra todas as expectativas, ela pisca duas vezes as pálpebras dos olhos, em um claro sinal de que está respondendo a minha pergunta. Pelos céus, ela está entendendo tudo o que estou falando com ela! Sara está consciente, e sã!

Minha garganta fica apertada, enquanto olho para o médico responsável por cuidar dela, Doutora Smith, e espero que ele diga alguma coisa, mas ele está ocupado demais checando os sinais vitais dela nos aparelhos e no monitor a sua frente, e logo em seguida usa uma lanterna para testar o reflexo das pupilas dos olhos cor de mel de minha nora. Ela corresponde muito bem a todos os testes, é o que percebo e concluo, pelo olhar de satisfação que está estampado na cara do doutor. Ele parece bastante contente com o que está vendo e anotando em seu formulário.

E eu não estou muito diferente dele, então abro um sorriso discreto e bem pequeno no canto dos lábios, que mal pode ser percebido por qualquer pessoa que veja a cena. Contudo, por dentro de mim há uma grande sensação de felicidade e contentamento que mal podem ser contidos. E após anotar algumas informações, as mais relevantes e importantes que está checando nesse momento, o doutor com as próprias mãos, começa o processo de desentubar a paciente, e então, eu ouço um ruído estranho escapar por entre os lábios de minha nora. É a sua garganta que está arranhando um pouco nesse instante, mas por quê? Eu estranho.

-Ela deve estar com a garganta seca, traga um pouco de água para ela por favor.

O doutor Smith pede para enfermeira que está ao seu lado para que vá buscar um pouco de líquido para molhar a garganta ressecado de minha nora, pois passou muito tempo sem receber nenhum tipo de líquido ou ser utilizada, mais precisamente durante vários meses, então é normal que esteja assim e talvez sinta até um pouco de desconforto.

Eu observo atentamente todos atenderem rapidamente aos pedidos e comandos do médico e chefe do hospital, para realizar todos os procedimentos pós-operatórios, com extrema de velocidade, eficiência e profissionalismo. Não deixo nenhum detalhe passar desapercebido, estou de olho em tudo, pois nunca se sabe quem é quem em um momento como esses... de desconfiança e intrigas comerciais envolvendo o mundo corporativo.

-Ela já pode falar alguma coisa, Doutor?

Eu faço a pergunta com um misto de curiosidade e preocupação ao mesmo tempo. Apesar de eu querer ouvir a sua voz depois de tanto tempo, ainda assim não arriscaria prejudicar a sua saúde ou a sua recuperação por causa da minha falta de paciência.

-Sim, se ela conseguir se pronunciar sem sentir dor, ela pode dizer algumas poucas palavras para sabermos como se sente.

Com os olhos arregalados observando tudo a sua volta, feito um bichinho medroso, Sara arranha um pouco a garganta antes de pronunciar a primeira palavra em muito tempo

-Hum... Onde eu estou agora? O que eu estou fazendo nesse lugar e como eu vim parar aqui?

Sua voz sou fraca e um tanto trêmula, como se tremesse feito uma vara verde em um grande vendaval. Provavelmente ela está com medo e se sentindo um tanto perdida, desnorteada, sem saber o que está acontecendo, porém este não é o momento de esclarecer tudo a ela. Só de saber como está o seu estado de saúde, revelar o que aconteceu, do acidente de carro que matou meu filho Kael e quase a matou também, pode piorar ainda mais o seu estado mental e fazer com que tudo saia de controle. E isso é o que eu não quero que aconteça, obviamente. Eu só desejo poder tirar ela daqui e levá-la para casa, onde irá repousar e se recuperar tranquilamente, na segurança e no conforto da minha mansão, a casa oficial da família Espinosa, sob a minha proteção, sobre o meu cuidado e sobre o meu olhar.

-Você está no hospital, no melhor lugar do país e com os melhores profissionais que estão vinte e quatro horas do dia cuidando de você, para que possa melhorar rapidamente.

Eu respondo vagamente, não querendo me aprofundar ainda mais no assunto.

-O que aconteceu comigo? Por que eu estou aqui? E onde está Kael? Onde está o meu marido nesse exato momento que eu não o vejo?

Ela questiona olhando ao redor como se fosse encontrá-lo em alguma parte do quarto. Meu coração se aperta, mas preciso me manter firme e assumir o controle da situação.

-Isso não importa agora, você só precisa pensar em si mesma. Deixe que o resto eu cuido. Apenas pense em ficar boa logo, está me entendendo?

-Senhor Espinosa, por que não responde a minha pergunta? Eu não estou entendendo nada do que está havendo. Então, eu não quero parecer muito irritante ou teimosa, porém, preciso saber onde está Kael. Eu não me lembro de muita coisa, mas sei que ele estava comigo da última vez...

Sara diz em um fio de voz, cheia de medo e sentindo-se totalmente desnorteada.

-Nós estávamos juntos, não sei para onde íamos ou que estávamos fazendo ao certo, mas sei... eu tenho quase certeza que a gente estava no mesmo lugar conversando sobre alguma coisa sobre a qual eu não me lembro por hora. E é por esse motivo que eu quero, na verdade eu necessito falar com ele, por favor.

Imediatamente sou atingido por um aperto no peito que me deixa um tanto angustiado e aflito pela situação em que me encontro, tanto por ser lembrado da morte do meu único filho, quanto pela confusão que deve estar se passando na cabeça da minha nora nesse exato momento, em que ela está procura dele. Entretanto, ela jamais terá a oportunidade de reencontrá-lo mais uma vez, e eu não sei como devo lhe dizer isso agora, pois tenho medo de que ela se sinta mal, e isso afete de algum modo o seu processo de recuperação.

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