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Capítulo 2

CAPÍTULO 2

Donatello Espinosa

Não foi no mesmo dia que Sara acordou. Eu esperava que naquela mesma data ela pudesse abrir os olhos e dizer pelo menos algumas poucas palavras para mostrar que estava tudo bem, ou que pelo menos estava melhorando aos poucos... eu só queria alguma reação que mostrasse que ela estava lúcida, consciente, e que em breve poderia sair logo dali, daquele lugar horrível que o hospital era: frio, ruim, e que tinha o cheiro de morte impregnado por todas as suas paredes. Por todos os cantos onde se andava se via as esperanças indo embora, era o lugar onde eu perdi parte da minha esperança, parte da minha vida, parte da minha razão de viver. Foi ali onde eu perdi o meu único filho, minha única família, onde eu perdi Kael. Então era mais do que óbvio que eu queria sair dali o mais depressa possível, e também tirar Sara dali, para que não corresse o risco de sofrer um novo ataque, pois isso eu jamais deixaria que acontecesse novamente.

Nem por cima do meu cadáver isso voltaria a acontecer de novo. Eu não deixaria. Eu não poderia suportar sofrer mais uma perda como essa, porque se isso acontecesse outra vez a culpa seria totalmente minha, e eu não teria mais motivos para continuar vivendo, e nem respirando sobre a face da terra. Então estava na hora de fazer as coisas começarem a mudar logo.

-E o que tem a me dizer hoje, Doutor? Como ela está reagindo? Você deveria estar fazendo alguma coisa a respeito, não é? Você é muito bem pago para dar o melhor tratamento a essa paciente, que não é qualquer pessoa, é a paciente mais especial e importante de todo esse hospital, a qual você deveria se lembrar disso.

Eu cobro o médico por respostas, sentindo-me inquieto e impaciente por tamanha demora. Eu já estou quase a ponto de enlouquecer.

-Senhor Espinosa, eu estou fazendo de tudo para que a senhorita Espinosa tenha a melhor recuperação possível, não estou medindo esforços e nem medicamentos, nem o uso dos melhores equipamentos de todo o hospital, para tratar paciente. Porém, o senhor precisa ter um pouco mais de paciência para aguardar que os remédios façam efeito, e o corpo dela comece a desintoxicar dos anestésicos para que assim a paciente possa acordar, e eu consiga verificar o estado de saúde dela.

O doutor diz com a voz um tanto trêmula que ele mal consegue disfarçar, porém, a única coisa que desejo ouvir, ele não fala, e isso me deixa ainda mais irritado.

-Ela retornará à consciência quando for o tempo certo, quando o corpo dela corresponder adequadamente ao seu próprio tempo. O senhor precisa saber que a senhorita está bem fragilizada devido ao acidente, que foi muito grave, pois todos nós sabemos que foi um verdadeiro milagre ela sobreviver por todo esse tempo. Por isso, tenha um pouco mais de calma e me deixe fazer o meu trabalho, tudo bem?

Esse cara só pode ser louco. Mas que tipo de absurdo esse senhor acha que está me pedindo? Calma? Eu vou mandar ele e a tal calma que me pediu para o quinto dos infernos.

-Tem certeza de que você está pedindo calma para o homem certo? Eu espero realmente que você esteja se empenhando ao máximo, porque senão estiver... o seu maior arrependimento terá sido cruzar com o meu caminho.

Eu rosno a ameaça, louco para torcer seu pescoço incompetente e lerdo.

-Eu tenho que ir agora, mas em breve estarei de volta. E quando eu retornar quero ter respostas positivas, estamos entendidos?

-É claro, senhor Donatello.

-Ótimo, sendo assim continue O que estava fazendo.

E antes de eu sair dali, lhe dirijo um olhar sério, firme e ameaçador, que não deixa margens para dúvidas de que estou falando realmente sério. Pois posso muito bem acabar com a vida dele em um estalar de dedos. Todos sabem, conhecem e temem o poder que o nome Donatello Espinosa possui, por isso é bom que ele não tente testar os meus limites, ou eu posso matá-lo com minhas próprias mãos e arruinar a vida de todos que estão ao seu redor.

Saio dali e sigo direto para minha empresa, para o império Espinosa. Deixo o carro no estacionamento e pego o elevador privativo, o qual me leva diretamente para o meu escritório no último andar do prédio da empresa. Com a cabeça fervendo me sento na cadeira giratória, de frente para minha mesa trabalhada em aço inox e vidro, abro meu notebook e acesso ao arquivo em meu e-mail, que contém todas as informações que o investigador particular havia me enviado pela última vez.

Meu advogado, um amigo da época de colégio havia encontrado esse camarada, um ex-agente da inteligência no exército, que agora trabalha como investigador particular, para que eu contratasse o seu serviço, e assim pudesse descobrir toda a ação e quem estava por trás do acidente de carro que havia matado meu filho, e quase tirado a vida de minha nora também, Sara Espinosa.

Há muitos nomes dos quais desconheço citados no e-mail, e anexos de fotos, do suspeito capturado em uma oficina de carros, uma semana antes do ocorrido. Um calafrio percorre minha espinha e me deixa com uma pontada de dor na cabeça, enquanto vou passando as páginas e mais páginas, que contém os arquivos que havia aberto. As imagens são nítidas, porém, os ângulos são um tanto ruins e difíceis de conseguir observar a cara do suspeito. É como se ele já soubesse que estava sendo vigiado de alguma forma. Então, só o que há ali não basta, eu preciso de mais... de provas mais concretas, da imagem do rosto nítido do homem que estava aparecendo ali naquelas fotos, como um dos principais suspeitos de premeditar o acidente de carro.

Mas, quando eu tiver provas concretas e sólidas, finalmente irei pôr as minhas mãos nesses bandidos e acabar com a raça deles. Serei como um furioso furacão, destruirei tudo o que estiver em meu caminho e me vingarei cruelmente da dor e perda que me causaram. Meus punhos não serão o bastante para descontar toda a minha raiva, a minha fúria, e a minha aflição. Porém, satisfará o mínimo do meu desejo de descontar o ódio que corre em minhas veias, enquanto eu tiver forças no meu corpo. Então depois eu irei arruinar e incendiar cada coisa que essa pessoa cruel ama... a pessoa responsável por tudo isso. Esse criminoso vai conhecer o próprio diabo encarnado, ao vivo e em cores, quando estiver frente a frente comigo.

Só então terei paz para seguir em frente, quando a minha vingança estiver concluída. Nada mais poderá me fazer desistir dessa ideia, e nem tirar isso da cabeça em momento algum, pois tenho os melhores recursos: poder, dinheiro, e a vontade sobre-humana de concluir minha vingança, nem que seja a última coisa que eu faça nessa vida.

***

Passa algumas horas e quando dou por mim, olho no relógio em meu pulso e vejo que já são onze horas da noite. Se passou mais tempo do que havia percebido, pois estava disperso e mergulhado nas atividades que se acumularão durante esses dias afastado da empresa, além de estar constantemente conferindo e verificando se havia chegado mais informações, tanto do meu advogado, quanto do meu investigador particular, pelo qual eu estava esperando qualquer notícia do caso, até a menor e mais simples possível. Mas, agora é hora de retornar ao hospital e saber como as coisas estão andando com o Sara.

Eu não posso simplesmente deixa-la sem nenhuma supervisão, além do meu segurança, um homem da minha inteira confiança, que havia contratado para ficar de guarda na porta do quarto da minha nora e vigiá-la constantemente, vinte e quatro horas por dia, para me certificar de que ninguém tentaria se infiltrar no hospital e no quarto dela, para tentar fazer algum mal contra ela. Sara é minha, afinal de contas. E na minha nora ninguém toca nunca mais, a não ser somente eu.

Então, é por esse mesmo motivo que visto de volta o meu terno, desligo o computador, pego as chaves do carro e sigo de volta para o elevador, rumo ao estacionamento. Depois de dar a partida, arranco com o veículo em alta velocidade e me dirijo em direção ao hospital outra vez. Apesar de ser um lugar desagradável, é minha obrigação estar lá por ela, para zelar pela sua segurança e pelo seu bem-estar, com tudo que há em mim. Levo cerca de dez minutos para chegar ao local e deixar meu carro estacionado em uma vaga qualquer. Logo, me encaminho para o quarto de terapia intensiva, número duzentos, um número que eu jamais conseguirei me esquecer pelo resto da vida, pois está marcado em minha memória para sempre, devido as tantas viagens e vezes que estive nesse local frio e desumano.

Com passos apressados sigo pelo mesmo trajeto de sempre, e então, diferentemente das outras diversas vezes, dessa vez algo está diferente... pela primeira vez, quando eu entro no quarto branco e esterilizado, o inédito se faz presente, um verdadeiro milagre tinha acontecido e eu estava presenciando isso com os meus próprios olhos: Sara finalmente estava acordada!

Eu mal podia acreditar no que estava presenciando nesse exato instante. Uma forte onda de emoção me atinge com um grande impacto, de modo certeiro e completamente diferente de tudo que eu já experimentei em toda minha vida muito. É algo surreal, quase sobrenatural, e que me deixa abalado por inteiro, da cabeça à ponta dos pés.

Eu estremeço, impactado e emocionado de ver os olhos cor de mel abertos após cinco meses estando em coma, em estado vegetativo. Tento me conter e não demonstrar como estou tocado com o momento. Escondo isso apenas dentro de mim mesmo ao me aproximar ainda mais da cama hospitalar, e seguro apressadamente sua mão direita entre as minhas.

Está fria, mas, pelo menos agora demonstra um pouco de calor humano, demonstra que ela está viva. E isso é o que mais importa no momento. Na verdade, essa é a única coisa que realmente tem importância para mim. As demais coisas virão com o tempo, desde que Sara esteja viva, bem e se recuperando cada vez melhor, então o resto eu posso virar o mundo de cabeça para baixo para fazer com que aconteça... para fazer dar certo, para fazer com que ela fique bem.

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