Capítulo 1
CAPÍTULO 1
Donatello Espinosa
Sara não morreu naquela noite. Enquanto ela ainda estivesse respirando, apesar dos vários aparelhos ligados em todo o seu corpo ela ainda estava viva... mesmo contra todas as probabilidades e expectativas contrárias dos médicos responsáveis pelo seu caso. A situação era mais do que difícil. Era doloroso ver aquela pequena vida sem reação dia após dia, sem apresentar nenhuma melhora, parecendo que cada vez mais estava piorando, se deteriorando, e que tudo já estava perdido para ela. Mas, eu perseverei. Não deixei que desligassem os aparelhos que a mantinham viva, apesar do tempo estar se passando. Eu sei que o tempo está correndo contra o relógio e tudo indo contra as esperanças.
Porém, cinco meses depois, quando eu estava mais um dia no hospital para visitá-la e saber como os médicos estavam lidando com o caso de Sara, um milagre enfim tinha acontecido. Enquanto eu segurava a sua mão ao lado da cama, mesmo entubada, eu pude sentir que ela havia apertado os meus dedos. Era a primeira reação que Sara tinha tido em muito tempo, e que significava alguma melhora. Ela poderia enfim está recuperando a consciência? As coisas estavam tomando um rumo diferente agora? Então, eu não perdi mais tempo e avisei aos médicos dela o que estava acontecendo.
Eu disse que ela havia tido uma reação, que estava melhorando... eu contei que ela havia apertado os meus dedos, e que não era alucinação minha. Eu estava cem por cento convicto, certeiro de que aquilo tinha realmente ocorrido, e mandei que investigassem na mesma hora o que estava acontecendo. Então no mesmo instante, naquele exato segundo, eles se puseram a trabalhar fazendo como eu havia ordenado. E eu não estava errado, Sara realmente estava manifestando sinais de melhora, sua consciência estava voltando, é o que os médicos me avisaram assim que fizeram os primeiros exames que comprovavam a atividade cerebral da paciente.
-Eu sabia, eu sabia! Eu estava certo o tempo todo. Eu tinha um pouco de fé e esperança de que você iria acordar um dia, pequena Sara.
Digo na direção de seu rosto, bem próximo de seu ouvido.
-Eu não vou permitir que mais ninguém te machuque, eu prometo, eu juro pela minha vida. Você sempre estará protegida, a partir de agora por mim. Eu serei o seu protetor, não deixarei que você se machuque novamente, pois estou aqui para isso... estou aqui para você.
Faço a promessa para ela totalmente determinado.
-Não tenha medo, pode acordar. Conte comigo em tudo, eu estarei ao seu lado e juntos nós dois iremos descobrir quem está por trás disso, e nos vingaremos juntos de quem causou tudo isso. A justiça será feita, mais cedo ou mais tarde todos irão pagar um preço muito caro por tudo o que planejaram e arquitetaram com crueldade e frieza.
Sentencio com as mãos fechadas em punho, com raiva e determinação.
-Eles vão se arrepender de terem nascido nessa vida... de terem me enfrentado. Nunca mais ninguém irá me desafiar dessa forma. Eu protejo tudo aquilo que me pertence, e você, a partir do momento que teve meu sobrenome colocada ao lado do seu nome, você se tornou uma Espinosa, Sara, uma pessoa da minha família. Então agora você pertence somente a mim!
Eu afirmo e decreto a maior verdade da vida dela de agora em diante. Ela é irrevogavelmente minha! Em todos os sentidos e aspectos.
-Senhor Espinosa, ainda é muito cedo para dizer alguma coisa a respeito do caso da senhorita Sara Espinosa, contudo, o diagnóstico é que as coisas podem mudar de realidade, apesar de eu e a minha equipe não querer lhe dar falsas esperanças. O senhor precisa saber que ainda corre um grande risco de que a senhorita tenha algum tipo de lesão ou sequela devido ao dano cerebral que sofreu, e pelo grande tempo que passou desacordada.
O médico responsável fala comigo no momento em que entra no quarto em que minha nora está internada.
-Por hora, nós só podemos garantir que seus órgãos estão funcionando melhor do que o previsto. Aparentemente ela está bem em um primeiro momento, mas somente depois que a senhorita acordar é que poderemos avaliar os danos ou lesões causadas ao cérebro, e também como ela irá reagir, se houve alguma sequela ou não, se é permanente ou temporária. Contudo, nós o avisaremos a cada momento sobre todas as mudanças que ocorrerem no diagnóstico da senhorita Espinosa.
Ele concluiu um tanto vago e sem muita certeza, porém essa não é a resposta que desejo dele.
-É melhor você fazer todo o possível, doutor. Eu não quero somente promessas vazias ou palavras meramente jogadas no ar, eu quero uma garantia certeira, porque não estou pagando o melhor hospital do país, com os tratamentos mais caros e os médicos mais requisitados e bem pagos da região, para ter apenas meia dúzia de palavras, sem nenhum tipo de previsão ou certeza.
Eu digo de maneira intimidante e prossigo feroz.
-Você vai dar nem que seja a sua alma e a dos médicos que trabalham para você, para que essa garota acorde sem nenhum problema. Ou eu farei você se arrepender pelo resto da sua vida. Eu acabarei com a sua carreira, e também com a de todos os que trabalham com você. Posso fazê-lo perder tudo aquilo que tem apenas com um estalar dos meus dedos. Então é melhor você fazer muito mais do que apenas tentar, é melhor você fazer, agir, acordar essa paciente o mais rápido possível e em segurança.
Disparo a ameaça com o semblante sério e frio.
-Eu não estou brincando com você. Posso destruir esse lugar do dia para noite, e sem nem penejar, então dê o seu jeito e se vire, Doutor Smith. Assim como a vida dela está em suas mãos, a sua também está nas minhas. A sua depende de que essa paciente fique bem e de que ela acorde. Lembre-se sempre disso. E saiba que eu estarei de olho em cada movimento das pessoas que estão ao redor dela, inclusive de você e dos seus subordinados.
Eu continuo duro e implacável, ao mesmo tempo em que os olhos escuros do homem faltam pouco pularem para fora de seu rosto redondo e enrugado pelos anos. Ótimo, é bom que ele me tema mesmo.
-Você não quer conhecer a fama dura e cruel de Donatello Espinosa. Você já ouviu apenas falar sobre os rumores, então não queira conhecer a verdadeira face de um homem descontrolado e vingativo. Você não está preparado para enfrentar isso.
Continuo com o dedo em riste, bem próximo de seu nariz, e o cara se treme todo.
-E não leve as minhas palavras só como uma mera ameaça... tente pensar nisso apenas como uma simples conversa, uma lembrancinha do que pode acontecer com você e sua carreira, e até mesmo a sua família, caso alguma coisa de errado com Sara Espinosa.
Meus olhos são como dois raios lasers que fitam diretamente os olhos do doutor baixinho e gordinho, vestido com roupas brancas, e um jaleco impecavelmente alinhado no corpo com o emblema do hospital e o seu sobrenome bordado no bolso da vestimenta. Uma equipe de médicos, enfermeiros, os melhores da unidade intensiva, e do hospital, estão com os olhos completamente arregalados como pratos no rosto, provavelmente assustados com o que eu acabo de dizer a ele, porém, não me retrato e nem volto atrás em nenhuma das minhas palavras.
É bom que cada um deles saibam, tenham consciência de tudo aquilo que estão enfrentando nesse momento, e o risco que estão correndo, caso queiram fazer alguma gracinha, ou se debandar por causa de alguma propina vinda de Fora, de algum dos meus inimigos que tentam destruir a minha vida, e o que restou nela, para tentar prejudicar a paciente.
-Alguém tem alguma pergunta ou algo a mais a me dizer nesse momento?
Eu pergunto com o semblante sério e atento cada rosto ali presente, decorando e gravando em minha memória cada um desses homens e mulheres, para me certificar de que estou lidando com profissionais competentes e que não demonstrem nenhum resquício de terem sido comprados por meus inimigos para me prejudicar, através da vida de Sara, e assim acabar machucando-a ainda mais do que já foi machucada, atingida sem nenhuma razão, apenas usada como objeto de vingança, para me atingir.