Capítulo 7
Eu não tinha certeza do que aconteceria durante a noite, mas a julgar pela aparência dos irmãos Sermindes quando os encontrei a poucos metros do bordel da Sra. Tomlinson, imaginei que algo ruim iria acontecer.
Na entrada, os outros homens abriram caminho para nós. Tomy liderava o grupo, logo atrás estavam Arthur, John e Michael e por último mas não menos importante estávamos Polly e eu. Não entendi porque me convocaram, mas não rejeitei o convite.
Houve muita conversa, mas à medida que passávamos entre as pessoas, elas começaram a sussurrar. Meu olhar encontrou o de Olivia, que estava boquiaberta. Em parte era divertido pertencer à gangue mais temida da cidade, afinal não vivi naquele século, tudo era novidade para mim.
Sentamos na mesa reservada e logo nos serviram bebidas.
“Aí está”, disse John.
Olhei para a entrada e vi Billy Kimber. Um arrepio percorreu meu corpo, ainda me lembrava perfeitamente do que ele tentou fazer comigo.
"Está tudo bem, Kimber não vai te machucar", Polly sussurrou para mim.
— Não, ele nunca mais vai machucar ninguém — disse Tomy ao ouvir o que sua tia dizia e exalou a fumaça do cigarro que fumava.
O tempo passou, os homens à mesa beberam e conversaram um pouco. De vez em quando eu notava Kimber entre os outros. Ele não sabia qual era o plano, mas não demoraria muito para que começassem a executá-lo.
As mulheres do bordel iam o tempo todo com os homens para o segundo andar, as pobres eram as esposas daqueles homens imundos que deveriam ficar em casa cuidando dos filhos.
— Polly, vá para casa — disse Tomy se levantando — Glória, fique com a gente e Arthur pega o cara.
Sua tia fez uma expressão séria e pegou a bolsa da mesa.
—Tommy, não faça isso. - ela disse. - Não deixe seu...
- Eu sei o que estou fazendo. — ele a interrompeu. — Agora vá e leve seu filho com você.
Michael olhou para o primo, mas saiu do bordel em silêncio. Polly olhou para mim e balançou a cabeça antes de ir embora.
John se levantou e fez sinal para que eu me levantasse também. Caminhamos em silêncio até os fundos, onde havia um beco escuro. Eu jogava o lixo quando trabalhava lá na lixeira perto da porta.
Arthur apareceu minutos depois, trazendo Billy Kimber com ele. O homem olhou para mim e sorriu. Ao meu lado, Tomy Sermindes engatilhou uma arma.
— Sabe, Kimber, eu mesmo estava planejando matar você — disse o homem ao meu lado — comecei a sabotar seu cavalo na corrida, você perdeu muito dinheiro. Hoje eu terminaria meu trabalho, mas tem alguém que te odeia mais do que eu.
Tomy me entregou a arma. Eu odiava Billy, mas matá-lo não passou pela minha cabeça. Nunca segurei uma arma na minha vida.
Kimber riu.
— Aquela mulher não tem coragem de me matar — disse ele — Gloria Brown, lembrei de você.
Baixei imediatamente a arma.
- De onde? Eu perguntei.
Ele sorriu.
— Lembro de você de quatro na minha cama nos meus sonhos. Como eu queria que acontecesse naquele dia, mas você preferiu ser a puta dos Sermindes.
- Fique quieto! Eu gritei.
“Droga, Gloria”, disse Tomy ao meu lado.
—Você parece tão jovem, deixe-me adivinhar. Uma pobre garota que veio para Birmingham para encontrar o amor de sua vida, mas a vida é cheia de surpresas, então você se transformou em uma prostituta”, Kimber cuspiu as palavras.
Minha mente estava girando, talvez fosse o efeito da bebida ou das coisas que ele estava me contando. Com as mãos trêmulas, levantei a arma e apontei para o homem parado a poucos metros de mim. Seus olhos pareciam me estudar ao milímetro.
— Atire então vadia ou ainda vou te foder.
Fechei os olhos ouvindo as palavras ecoando em minha mente. Aí atirei, meu corpo recuou um pouco, mas quando abri os olhos, Kimber estava deitada no chão.
— Muito bem, Glória — Tomy tirou a arma da minha mão — Arthur e John, livrem-se do corpo dele. Vamos.
Fiquei imóvel, tremendo, analisando a cena que me parecia em câmera lenta. Eu tinha acabado de matar um homem, mas o que mais me assustou foi não me arrepender.
— Vamos, droga! - Tomy gritou, puxando meu braço para sair dali, então recuperei o juízo.
Segui Tomy em silêncio pela estrada de terra que levava a uma casa de dois andares. Eu nunca tinha estado lá antes, mas não ousei dizer nada quando o vi desviar ainda no carro. Minha cabeça não havia assimilado o que havia acontecido e estava no automático.
Quando ele abriu a porta da frente, examinei todo o corredor. Um lugar enorme com pinturas nas paredes pintadas de verde escuro e uma escada de madeira. Logo, uma mulher com cabelos na altura dos ombros e um vestido preto logo abaixo dos joelhos saiu do corredor.
—Frances, leve essa garota ao banheiro. Estarei no meu escritório.
Lembrei-me vagamente de ter dito no caminho que me sentia mal, mas não achei que ele se lembraria ainda.
A mulher assentiu.
- Sim, Sr. Sermindes. Por aqui, senhorita.
Sem olhar para trás, segui a senhora pelo corredor e entrei no banheiro pela penúltima porta. Encostei-me na pia e me olhei no espelho. Eu não me reconheci. Lavei freneticamente as mãos e o rosto, como se pudesse apagar o que tinha feito.
Sentei-me no assento do vaso sanitário e tentei me controlar. Não havia mais nada a fazer para mudar.
Alguns minutos se passaram antes que eu decidisse que precisava seguir em frente. A senhora ainda estava parada na porta quando a abri, como se fosse um fantasma ou um robô esperando ordens.
O escritório ficava no segundo andar e olhei mais de perto quando entrei. Perto da grande janela havia uma mesa, as paredes eram feitas de estantes com livros diversos, no canto esquerdo um sofá e no lado direito um pequeno bar com garrafas de bebidas diversas.
— Traga-nos uma bebida antes de se sentar.
Silenciosamente, caminhei até o bar e peguei um copo e um copo de uísque vazio. Passei os dedos pelas garrafas e peguei um vinho para mim e um rum para ele. Segurei os óculos com as mãos trêmulas, sentindo seu olhar sobre mim e isso me deixou nervosa.
Quando coloquei a bebida dele na mesa e me sentei, relaxei um pouco.
— A primeira vez pode ser difícil para algumas pessoas — Tomy tirou um cigarro do maço. - Você fuma?
"Ainda não", ele sorri.
Ele encolheu os ombros e acendeu o cigarro. Tomei um gole de vinho.
—As mulheres da minha família não fazem o trabalho sujo, pensei que você também não faria.
— Você me disse para atirar.
— É bom saber que você sempre faz o que eu peço — alternava o cigarro com a bebida. — Procurei você, mas ninguém te conhece, não há registros seus em lugar nenhum. É melhor você me dizer quem você realmente é ou teremos problemas.
— Já disse que não sou daqui, mas não estou mentindo sobre quem sou.
Tomy se levantou e caminhou lentamente ao redor da mesa para ficar ao meu lado.
— Primeiro você espiona meus irmãos, depois deixo você trabalhar para mim para ver se comete algum erro, depois te drogam e depois você mata o cara. Se há uma coisa que sei é que você não é tão ingênuo quanto pensei.
— Só faço o que você me manda porque preciso de dinheiro para sobreviver neste lugar.
Sua mão agarrou meu queixo e me forçou a olhar para ele.
- Eu não acredito mais em você.
—Então por que você me fez trabalhar com você? — gritei ficando animado. —Para uma pessoa como você não foi inteligente colocar um estranho para trabalhar como contador, certo? Polly disse isso e ela estava certa.
Tomy me levantou, me fazendo levantar da cadeira, colocando meu rosto a poucos centímetros do dele. Sua mão agarrou meu pescoço com força e seus olhos azuis pareciam procurar respostas em meus olhos.
—É por isso que agora você vai fazer o trabalho sujo para nós. - ele disse em voz baixa e rouca. —Se você provar que é confiável, mudarei de ideia sobre quem você é.
Ele me deixou ir.
—Vou arriscar minha vida por nada?
— Em nenhum momento eu lhe disse que seria em vão. Agora vá, Frances lhe mostrará um quarto para passar a noite.