Capítulo 4
Cristina Ade havia virado tudo de cabeça para baixo e também havia procurado em todos os cantos da casa, mas aquele diário em particular simplesmente não apareceu.
- Ok, olhe, eu vou marcar uma visita ao oftalmologista amanhã se você quiser, mas eu sinceramente acho que ainda consigo enxergar bem. Mãe, tudo o que sei é que estou ficando empoeirado aqui, agora vou para a casa da tia Cristina e amanhã pensarei no diário. Olá... Eu disse olá!
Ele se levantou, limpou o jeans azul apertado e colocou a caixa de volta na prateleira superior do cabideiro de ferro, agora enferrujado, ao lado da que continha suas roupas de quando ele era mais jovem.
Ele fechou a porta do terraço, que havia aberto porque estava quente e mofado lá dentro, e deu uma olhada ao redor.
Tudo estava no lugar: nada havia mudado ali também.
A mesma prateleira cheia de caixas contra a parede áspera e sem pintura, a mesma máquina de lavar comprada quinze anos antes, porque a antiga havia inundado tudo, e a mesma poltrona verde remendada, com o estofamento saindo em vários lugares.
Era o último andar de sua antiga casa: um único cômodo grande que sua mãe usava como lavanderia, pois era muito quente no verão e muito frio no inverno para dormir.
Um enorme terraço, com vista panorâmica do Monte Santo Spirito, circundava todo o cômodo.
Eu já havia estado lá muitas vezes com Pietro: o cheiro vinha do mar lá em cima, você podia sentir o cheiro, ele entrava em você, sob sua pele e você podia ver o pôr do sol, os tons alaranjados se misturavam com os rosas e vermelhos e lentamente davam lugar ao azul da noite e suas infinitas estrelas.
Foi bom ir até lá, deitar no cobertor e olhar para cima, ver o mundo de outra perspectiva.
Não era como Turim: há muitos prédios altos e uma nuvem de fumaça sempre pairando no ar, o céu nunca está claro, limpo.
Na Sicília, entretanto, ela tem uma cor diferente, própria, talvez porque se reflita diretamente no mar.
O toque de seu celular a acordou.
"Mamãe, me diga", ele pontuou cada palavra no tom mais calmo que conseguiu reunir e começou a descer as escadas, segurando-se no corrimão.
- Você verificou o interior do armário da cozinha? Talvez eu tenha deixado lá. -
Sua mãe tentava disfarçar o sotaque apenas com os colegas de trabalho, enquanto com Cristina Ade ela quase sempre falava em dialeto, para que ela nunca se esquecesse de suas raízes.
Soprando, Cristina Ade atravessou o primeiro andar da casa e se viu diante de outro lance de escadas.
- Naquela época? Adé, sim de novo? -
- Sim, mamãe. Deixe-me checar. -
Como eu esperava, a porta ao lado do capô estava vazia, exceto por algumas xícaras de café e copos de sorvete.
- Está tudo bem, não há nada. Olhe, mamãe, estou cansado. Pego minha mala e vou para a casa da minha tia. -
Ele trancou o telefone, pegou o carrinho abandonado no sofá de camurça branca e olhou para a cozinha: era uma cozinha antiga, com bancadas de mármore verde e portas de faia laqueada.
Ela colocou as mãos nos quadris e prendeu o lábio inferior entre os dentes, sem conseguir parar de olhar ao seu redor com um misto de nostalgia e admiração: os cantos do armário da TV e da mesa ainda tinham os mesmos arranhões e amassados de quando ela andava pela casa com o andador quando era criança, e a parede verde-clara perto da escada ainda tinha as marcas de lápis da sua altura rabiscadas ao lado dela verão após verão.
Ele não pôde deixar de sorrir quando seu olhar recaiu sobre as fotografias emolduradas, ordenadamente dispostas nas prateleiras acima do sofá, e mal conteve uma risada quando notou o vidro lascado do armário: uma bola de borracha arremessada com muita força por seu primo Frederick que havia custado a ambos um castigo exemplar.
Ele balançou a cabeça, agarrou a alça do carrinho com firmeza, arrastou-o até a porta e saiu.
Enquanto ele alternava o olhar entre a porta branca, suja de poeira e cocô de pombo, e o molho de chaves, tentando lembrar qual era a certa, seu celular tocou pela enésima vez, sempre com a mesma pessoa: sua mãe.
- Meu Deus, mãe, você está brincando comigo? - ela disse, colocando o telefone entre o ombro e a orelha.
- Ocorreu-me que talvez a vovó o tenha levado, talvez ela esteja em casa", exclamou Maria, irritada, do outro lado do telefone.
- Olhe, eu tenho outros problemas no momento, lembra-se do que...?
- Adèle Russo - É realmente você? -
Capítulo revisado (...)
*Tradução do dialeto:
-Adèle. Adèle Russo. Não posso acreditar. É mesmo você? Você parece uma diva de Hollywood.
-E o que é isso, você parece um médico. E ela? Eu vi você crescer. Eu sou sempre a tia Rina.
-Vou me sentar por dois minutos. Tenho que ir ao médico. Eu a vi sentada e disse: 'Mas essa é mesmo a Cristina Ade? Você é muito bonita.
-Bem... estamos aqui pela vontade do Senhor (chamado de siciliano). Mas você? O que você fez nos últimos anos? Eu contei para sua mãe... Mas por que Cristina Ade não desce mais? Será que ela se esqueceu de todos os que estão aqui na cidade?
-Tem razão. O que você deve fazer aqui? Este é um país de pessoas idosas.
Mas você realmente precisa se casar em um mês?
-Você ainda parece uma garotinha para mim. Ah... como o tempo voa. E quem é esse? Ele é legal? Veja esse anel! Deixe-me ver.
-Se ele lhe der esses presentes reais. Bem, você escolheu. Me avise.
-Ele chegou. Não parecia real para mim e não parece real agora. Adèle para o campo. Achei que nunca mais veria você.
-Estou muito feliz, minha linda. O casamento e a família são as coisas mais importantes.
- Adèle Russo - É realmente você? -
Cristina Ade parou instantaneamente, paralisada por aquela voz que ela conhecia tão bem: um vento gelado capaz de queimar sua pele, paradoxalmente mais parecido com um vento norte do que com um siroco, a havia atingido por trás, pegando-a desprevenida, imobilizando seus músculos, bloqueando seus pensamentos e sua respiração.
Ele sentiu o olhar dela picar suas costas, esgueirar-se por baixo das camadas da derme e subir rapidamente pela rede nervosa até chegar ao centro, a área onde as memórias se acumulam, e havia muitos que o viam como protagonista.
- Adélé? Adélé? você ainda está aí?", gritou a mãe em um tom agudo, aparentemente reiniciando suas funções cerebrais.
-Ligo para você mais tarde, mãe. Ele soltou o ar que havia prendido depois de um
Ele passou um número excessivo de segundos em apneia e lentamente se virou, colocando o celular de volta no bolso da calça jeans.