Capítulo 8
Mira abriu a caixinha com muito cuidado e tirou uma linda pulseira de ouro com pequenos amuletos. Ela a girou várias vezes em seus dedos.
- Posso ficar com ela? - ela perguntou baixinho, sem olhar para nenhum dos dois.
- Acho que sim. -
- É claro que você pode. É um presente para você. -
Eles responderam ao mesmo tempo e Louste lhe deu um aviso silencioso com os olhos. Tudo bem, ele era o pai biológico de Mira, mas tínhamos que dar um pequeno passo de cada vez, pois essa situação era muito delicada e tinha que ser tratada com o máximo de cautela. Ele não precisava assumir direitos que ainda não havia adquirido.
"E então... Por que ele trouxe esse presente?", pensou ela, um pouco ressentida. Será que ele já está tentando comprar o afeto de Mira?
O almoço foi longo e muito estranho. Jonas fez o possível para conversar com Mira, que respondia com monossílabos casuais, um tanto confusa com a loquacidade de um homem que ela nunca tinha visto na vida. De vez em quando, ela abria furtivamente a caixinha e dava uma olhada na pulseira com seus muitos amuletos.
Louste sabia que ela era a última pessoa no mundo que poderia aliviar essa tensão. Os velhos amigos da família deveriam ter dezenas de histórias engraçadas para lembrar. Ela e esse homem, no entanto, não tinham nada sobre o que conversar.
Outro momento de desconforto ocorreu quando Mira anunciou, depois do almoço, que precisava ir ao banheiro.
- Eu posso encontrá-la sozinha, tia Sparks", disse ela com determinação, impedindo que Louste se levantasse para acompanhá-la.
- Você tem... tem certeza, cachorrinho? - perguntou ela, insegura.
- Sim, tia. Você está no final da escada. Uma vez, há muito tempo, eu vim aqui com minha mãe e meu pai. -
E essas palavras foram seguidas por outro silêncio constrangedor que Mira, graças a Deus, não percebeu. Louste sorriu sem responder, mas evitou olhar na direção de Jonas. Ela o observou por uma hora e meia, tentando descobrir o que ele estava pensando e falhou miseravelmente.
Ela sentiu que ele não tinha ficado muito impressionado com ela ou com toda a situação que a envolvia. Definitivamente, Jonas Brantley só estava interessado em uma coisa: sua filha.
- Então... - Louste começou, tentando assumir o controle e falar primeiro. - Sua filha... Não, eu me lembro agora! Você mencionou um teste de paternidade... -
- Você mencionou um teste de paternidade... - Pare! Ele sabe muito bem que não vou me submeter a nenhum teste. A criança... -
- Veja, é a fotocópia dele... - Louste terminou para ele.
- E tudo isso dá a você uma enorme satisfação, não é? - ele sibilou por entre os dentes. - Quem diabos deu à sua irmã o direito de fazer o que ela fez? Descobrir que está grávida e decidir por si mesma, como se fosse Deus, sobre a vida e o futuro do filho de outra pessoa? -
Ele se inclinou em direção a ela com um movimento repentino que forçou Louste a se pressionar contra o encosto da cadeira.
- Nós já conversamos sobre tudo isso... - ela tentou acalmá-lo.
Jonas parecia um tigre feroz, pronto para despedaçá-la.
- E então, droga, vamos falar sobre essa situação de novo? -
Ela bateu os punhos na mesa, mostrando a ele com aquele gesto toda a raiva que estava dentro dela e que ainda estava crescendo diante de uma descoberta tão chocante.
Agora que Mira não estava mais lá, ele não precisava manter uma atitude educada, e a rapidez com que ele a afastou foi assustadora. Era isso que Louste temia - a raiva dela!
- A Roxie só fez o que achou certo naquele momento", respondeu ela, inclinando-se na direção dele, sem se deixar abater pela sua expressão agressiva. - Ouça, minha irmã não estava planejando engravidar... -
- Mas... aconteceu! -
- Eu sei, mas... -
- Mas você se sente obrigada a ficar do lado dele, não é? - ele a provocou, em um tom deliberadamente sarcástico. - Na verdade, talvez ele se sinta exatamente da mesma forma. Afinal de contas, você e sua irmã são do mesmo tipo, não são? -
- O que você acabou de dizer não é justo para mim... Mas como você se atreve? -
Louste apertou as mãos com força e esperou, tremendo, que o sangue voltasse a fluir normalmente.
- Sua irmã deu à luz minha filha e não pensou nem por um segundo em me avisar que eu havia me tornado pai. -
Nada poderia refutar esse fato e Louste não se preocupou em procurar uma desculpa. Por um lado, ele entendia por que sua irmã tinha agido daquela forma, mas, por outro lado, não podia negar que tudo tinha sido muito injusto no que dizia respeito a Jonas. De certa forma, ele havia se tornado uma vítima sem querer.
- Mais cedo ou mais tarde, tenho certeza de que Mira a procuraria e a encontraria", tentou apaziguá-lo. - Não adianta você continuar discutindo o assunto agora... -
- E ela teve a coragem de me julgar porque eu dormi com a irmã dela! -
Pelo canto do olho, Louste viu a garota se aproximar da mesa e sorriu vagamente.
- Tia Sparks, você pode me trazer a sobremesa? - perguntou Mira assim que se sentou. - Eu vi uma Banana Split ali no carrinho, que parece realmente deliciosa. -
Ela bebeu ruidosamente do canudo e olhou para a tia através de seus longos cílios negros.
Os mesmos cílios do pai dela... Jonas Brantley...
Como ela não percebeu a impressionante semelhança entre ela e o homem à sua frente? Bem, talvez porque, com muita frequência, as crianças não notam as coisas óbvias.
- Acho que está na hora de você ir embora, minha pequena. -
Louste dobrou seu guardanapo de papel significativamente e o colocou sobre a mesa, enquanto seus olhos procuravam por um garçom.
- Você ainda tem dever de casa para fazer. -
- Eu só tenho lição de casa de matemática - apontou Mira.
- Você gosta de matemática? - perguntou Jonas, mal conseguindo conter sua raiva.
Mira lhe lançou um daqueles olhares indulgentes e ligeiramente superiores que as crianças às vezes lançam aos adultos quando eles tentam puxar conversa.
- Eu não gosto apenas disso. Sou muito bom em matemática. -
Ela deu de ombros e pensou por um momento.
- Meu pai sempre disse que eu era melhor do que ele e minha mãe juntos. -
"Eu também era muito bom em matemática... e em ciências também", respondeu Jonas casualmente, semicerrando os olhos. - A matemática tem sido muito útil para mim na vida. -
A garota parecia não entender o que o estranho queria dizer.
- Você quer encontrar um emprego? - perguntou ela, esvaziando o copo até a última gota.
- Sim, é claro que quero. Embora eu ache que você ainda não tenha pensado no que fará quando crescer. -
- Por outro lado, sim... Quando eu crescer, gostaria de ser uma primeira bailarina", disse ela depois de um momento.
- Acho que isso é muito... Interessante", disse Jonas, um pouco perplexo com a resposta da menina.
- Você conhece alguma bailarina? -
- Não, infelizmente não conheço nenhuma, mas talvez, um dia desses, possamos ir assistir a um espetáculo de balé juntos. -
- Você pode mesmo? -
Os olhos de Mira brilharam por um momento como uma árvore de Natal.
- Talvez... - Louste se interrompeu.
Ela se sentiu presa e ressentida por ter sido ofuscada.
- Em Londres, eles sempre fazem "O Quebra-Nozes" no Natal e, se você quiser.... -
- Vamos ver... - Louste o interrompeu, irritado.
Jonas lhe lançou um olhar de fria determinação.
- Há algum problema para você se eu levar Mira a algum lugar? -
- Oh, não, é claro... - ele mentiu.
- Fico feliz em ouvir isso. -
- Mas já estamos quase no Natal e ainda temos muitas coisas para fazer... -
- Mas, tia Sparks... -
- De qualquer forma, agora é a hora de você ir. -
Louste procurou desesperadamente por um garçom e acenou para o primeiro que passou.
"Talvez", disse Jonas a Mira, pegando a carteira no bolso, "você possa dispensar sua tia por um tempo. Você tem um amigo para passar uma hora com você? Há algumas coisas sobre as quais eu gostaria de conversar com você. -
- Eu estou sentado aqui! - disse Louste com acidez, deixando cair a máscara de um sorriso. - Por favor, deixe a Mira fora disso. -
A menina pareceu confusa com a súbita mudança de tom. Ela olhou primeiro para um e depois para o outro e baixou o olhar, voltando a mexer na pulseira.
- Precisamos conversar um pouco com você. -
A voz de Jonas soou calma e misteriosa. Louste sentiu uma pontada no estômago. Ela não estava acostumada a lidar com homens como Jonas Brantley. Ele manteve seu olhar fixo por alguns instantes e Louste se sentiu completamente perdida.
- É claro", disse ele, "mas podemos concordar com... -
- É melhor que você chegue logo, em vez de mais tarde... -
- Sim, mas é muito difícil encontrar alguém para cuidar de Mira no local. -
- Eu poderia ir brincar na casa da Sophie - ofereceu Mira, feliz por ter encontrado a solução para o problema.
- É domingo à tarde, querida. A Sophie pode estar ocupada... - disse Louste.
- Por que não tentamos? - propôs Jonas. - Ela é sua vizinha? Vou te dar uma carona com o meu carro. -