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Capítulo 5

Rose

Acordei em um silêncio absoluto, tudo estava escuro e não havia nem sinal de Antônio e nem de Otávio em lugar algum. Me sentei na cama tentando lembrar exatamente o que tinha acontecido para eu dormir tanto e me lembrei da noite turbulenta que tivemos.

Me levantei correndo e fui até o banheiro, me assustei com a minha aparência, parecia que uma boiada inteira tinha passado por cima de mim. Tomei um banho para ficar mais apresentável, antes de ir atrás do meu patrão e do seu filho.

— Já está desgostoso com o meu trabalho, imagina agora que passei a tarde inteira dormindo.

Sai apressada e ouvi a gargalhada de Otávio, fui em sua direção e me deparei com a senhora condessa com o pequeno no colo e Antônio ao lado dela brincando com o bebê.

— Sinto muito, senhor — falei assim que entrei na sala. Os olhos dos dois pousaram em mim e Otávio virou o rostinho para me olhar abrindo um largo sorriso — Vejo que o pequeno está bem melhor.

— Com certeza está, minha querida — Lady Dion se levantou com ele e veio em minha direção me dar um abraço. Otávio se agarrou ao meu cabelo como sempre fazia e ameaçou chorar quando a avó tentou tirar os fios de sua mão.

— Acho que ele não quer mais ficar comigo — ela me passou o pequeno que sorriu ainda mais para mim — Mas também com essa beldade, quem não iria querer ficar perto. — Fiquei sem graça. — Ah esqueci de falar para Antônio e para você. — Evitei olhar para ele e me sentei no sofá a sua frente, dando toda a minha atenção a Otávio. — A mãe do duque foi até minha casa, disse que os filhos estão encantados com vocês.

— Conosco? — eu e Antônio falamos ao mesmo tempo.

— Sim, as meninas o acharam um partidão, meu filho! Já pode pensar em se casar novamente — ela bateu palmas e eu tive vontade de vomitar. Não era ela que dizia que as mulheres eram horríveis? — E o filho disse que você é a moça mais linda que ele já viu — fiquei roxa com o comentário.

— Ele deve dizer isso a todas. — Antônio falou e eu o olhei irritada.

— Então não sou digna de ser cortejada? De ser admirada? — quando percebi já tinha falado, e me arrependi mortalmente.

— Não é isso, é que... — me levantei com Otávio no colo.

— Não precisa dizer nada, senhor Campos, eu já entendi. Vou levar o pequeno para jantar, se me dão licença. — Eu não esperei respostas de nenhum deles. Eu estava muito irritada com o que ele tinha dito e comigo, como pude ser tão burra de falar uma coisa daquelas?

— A bela adormecida acordou — Bianca falou sorrindo. Quando viu minha cara tratou de não brincar mais.

— A comida de Otávio já está pronta? — falei sem dar direito a me perguntarem o que estava acontecendo.

— Sim, senhorita — ela falou já arrumando e eu me sentei e o coloquei sentado em meu colo.

Ninguém falou mais nada, estava tão difícil a convivência com Antônio, ele fazia questão de me provar a todo tempo que eu não estava à altura deles. Será que ele achava isso de Emma também?

— Qual o problema agora? — Janice sentou-se à minha frente.

— Não é nada — continuei dando comida para o bebê.

— Claro que é, achei que depois de dormir o sono restaurador você acordaria reluzente, mas ficou mais escura do que antes.

— Já disse que não é nada, Janice. Vou alimentar o bebê e dar banho nele, essa é minha função aqui e não ficar de fofoquinha pela casa. — A revolução que se formava dentro de mim estava cada vez mais negra o que não me permitia ver com clareza o que estava acontecendo a minha volta.

— Nossa Rosely, que ignorância, não está mais aqui quem perguntou. Sinto muito se o patrão começou a implicar com você, ele sempre faz isso e logo todas pedem as contas. Você foi a que durou mais, porém vejo que já está por um fio.

Não me desculpei pelo que falei, mas também não me ofendi pelo que ela disse, eu merecia cada palavra. Terminei o que tinha que fazer calada, subi para o banheiro e dei um banho em Otávio que brincou o tempo todo com a água a jogando mais em mim do que nele mesmo.

— Ah rapazinho, hoje você está mais bagunceiro do que nunca. — Sorri para ele. Era assim que eu gostava de vê-lo, brincando e feliz. — Espero que durma bem essa noite, o senhor precisa acordar disposto amanhã, quero brincar muito no jardim. — Pelo menos assim eu me distrairia.

Ouvi batidas na porta do quarto e autorizei a entrada já imaginando quem seria.

— Precisamos conversar, Rosely — a voz tempestuosa de Antônio tomou todo o quarto. Otávio se virou para o pai e esticou os bracinhos enquanto eu o tirava da banheira.

— Pode aguardar apenas um minuto, não quero que ele fique com frio — falei o mais sincera possível.

— Claro. — Ele sentou na poltrona que existia perto do berço e me observou trocar Otávio que se revirava de um lado para o outro. Mais parecia uma luta do que um simples colocar de roupas.

— Ele sempre faz isso? — Não percebi que Antônio tinha se levantado e estava do meu lado tentando me ajudar a segurar Otávio.

— Sim, senhor — minha voz saiu em um sussurro. Eu não queria ter percebido aquele cheiro que invadiu minhas narinas. Antônio me atraia de todas as formas e eu não podia negar isso. Mesmo brava meu corpo reagia a cada pequena coisa que ele fazia.

— Pare com isso filho, você vai se machucar — ele tentou segurar os bracinhos do bebê enquanto eu colocava a roupa por sua cabecinha. Eu sabia que quanto mais segurava, mais Otávio se debatia, e seria assim até o final. Antônio ficou impaciente e se afastou me dando espaço para terminar o processo de vestir o bebê.

Era um momento que apenas eu e Otávio compartilhávamos, não era fácil, mas era especial para mim. Era como se ele quisesse mostrar que era tão capaz quanto qualquer outro e me deixava orgulhosa de ser tão forte.

— Pronto, acabamos — o levantei no ar o vendo sorrir satisfeito. — Quem vê um bebê tão pequeno não imagina do que ele é capaz.

— Não mesmo — Otávio coçou os olhinhos e o embalei em meus braços.

— Já está na sua hora de dormir. Se me permitir, já te encontro no escritório. — Ele apenas acenou e saiu do quarto me dando o momento que eu precisava para fazer Otávio adormecer.

Antônio

Qualquer coisa que ela disser eu vou aceitar. Qualquer coisa.

Sempre que eu achava que estávamos melhorando em nossa relação, algo acontecia, agora era essa maldita mania de querer interferir em qualquer coisas que falam para ela. Eu sei que não tenho nada com isso e mesmo assim quero que ela entenda o meu ponto de vista. Ela é uma mulher incrível, mas não é para aquele idiota. Para nenhum idiota. Rosely sempre mereceria mais de qualquer pessoa, até mesmo de mim. Eu sabia que ela precisava de uma pessoa que visse toda a força que ela tinha, que aceitasse a mulher esperta e interessante.

Até agora eu não tinha conhecido nenhum homem que cumprisse todos os requisitos para ocupar um lugar em sua vida, além do que eu ainda me sentia responsável por ela desde que tinha ajudado a resgatá-la dos sequestradores.

— Posso entrar? — falou não me encarando.

—Claro — eu estava de costas fingindo encarar qualquer coisa, para ela não perceber a disputa que existia dentro de mim. A ouvi arrastar a cadeira e se sentar. Esperei por alguns minutos para lhe olhar, eu sabia que sempre que nossos olhares se cruzavam algo disparava dentro de mim.

— Eu gostaria de pedir desculpas — falei.

— E eu agradeço por isso, o senhor foi realmente muito rude. — Ela nunca abaixaria a cabeça para mim.

— Não foi a intenção, na verdade.

— Já sei o que vai dizer, e não precisa se preocupar, eu não vou atrás dos seus amigos ricos só porque trabalho aqui ou minha irmã é casada com seu irmão.

— Do que está falando? — eu não estava entendendo a linha de pensamentos dela.

— Seu medo é eu ser uma oportunista querendo subir socialmente. Já entendi. — fiquei estarrecido com as palavras dela. Eu nunca nem se quer pensei em algo como aquilo.

— Você é louca? — perguntei me alterando — Quando foi que eu sequer mencionei algo como isso? — Me levantei da cadeira irado — Eu acho que você está se fazendo de vítima por um mal-entendido.

— Me fazendo de vítima? — ela também se levantou e me encarou. — Eu nunca me coloquei nesse papel ridículo, você que está me colocando para baixo cada vez mais. Eu entendo sua posição e a minha. Sou apenas sua babá nessa casa e espero que logo arrume uma governanta. — Fiz menção de sair do escritório.

— Eu ainda não terminei — a parei tentando entender como aquela conversa tinha chegado naquele ponto. Minha voz estava mais alta do que eu pretendia e vi que ela se retraiu um pouco com meu tom —Eu só queria me desculpar pela frase errada que falei mais cedo. Não quis dizer que você não é digna dele e sim o contrário. Arthur é um dos homens mais mulherengos que existe, esse foi um dos motivos de Margareth ter terminado com ele. Ela descobriu diversas escapadas do noivo. Só estava te alertando, agora se você realmente acha que ele é um bom partido, siga em frente. Eu não vou me opor — me joguei na cadeira.

— Faz bem, o que faço da minha vida não é problema seu! — deu sua última palavra e saiu da sala. Mulherzinha irritante.

Rose

Eu não conseguia acreditar que ele ainda tinha a capacidade de negar, estava escrito em sua testa que ele me achava inferior a ele. Eu só queria sair correndo de lá e nunca mais ter que olhar para ninguém, mas então eu me lembrava de Otávio e seu jeito angelical que me conquistaram de tal forma.

— Senhorita, suas irmãs estão na sala a sua espera — Janice me interceptou assim que eu subia a escada. Tentei não me irritar com a moça que só fazia o seu trabalho, mas eu não queria minhas irmãs ali, não naquele momento.

Voltei ao primeiro degrau e alisei meu vestido, coloquei um sorriso no rosto e fui até a sala de estar onde elas estavam. A primeira que vi foi Dulce em um elegante vestido, depois Bria com suas marias Chiquinha e por fim Emma com seu barrigão de 5 meses.

— A que devo tão ilustre honra? — as pequenas sairão correndo em minha direção e Emma esperou que as duas se afastassem para vir me dar um abraço.

— Achou mesmo que não viríamos te visitar?

— Eu realmente achei que tinham desistido, as esperava pela manhã — sorri com suas caras.

— Surpresa! — Emma disse e eu revirei os olhos — Você quase não vai mais em casa então viemos até você, tivemos um pequeno empecilho cedo.

— Algo grave? — indiquei que se sentassem — Nada com o bebê, espero.

— Não, Álvaro quis me levar para conhecer uma loja nova.

— Loja de bebê — Dulce falou e entendi tudo.

— E onde está Otávio? — seu sorriso era empolgante — Quero ver meu sobrinho.

— Ele acabou de dormir — falei e ela murchou — Como disse, ele tende a ficar mais acordado na parte da manhã.

— Eu sei, me desculpe. — Dei de ombros e elas começaram a me contar todas as novidades que estavam acontecendo em sua casa. Falaram tanto que tinha me esquecido de como era ter as três a minha volta o tempo todo. Hoje minha vida se resumia uma enorme quietude, tirando Otávio.

— Senhorita? — Janice estava a porta com um enorme buquê de rosas vermelhas. — Foram entregues para a senhorita. — Me levantei sem entender, olhei para as meninas que estavam tão chocadas quanto eu.

— E de quem são? — Dulce perguntou assim que as peguei.

— Não tem cartão? — Emma perguntou.

— Tem! — o tirei do meio das flores e Dulce veio me ajudar a segurar as flores enquanto eu abria o bilhete.

" Minha missão de vida mudou desde que te conheci, agora e sempre será garantir que sua vida seja repleta de sorrisos. Ass: Arthur Vasconcelos."

— Quem mandou? — li mais duas vezes antes de levantar os olhos para responder Emma, mas ao invés disso os olhos que se prenderam aos meus foram os do meu patrão, tão negro como eu nunca tinha visto antes.

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