♥ sete ♥
HELENA
Acompanhando Noah há alguns passos de distância, logo atrás dele, deixei que meu olhar percorresse o máximo que pudesse, todo o interior da propriedade, que assim como lá fora, era moderna e muito bem cuidada. Sua estrutura era semelhante a da minha casa, o que possibilitou notar algumas semelhanças, mesmo em meio a tanta diferença. Apresso um pouco mais meus passos ao notar que Noah estava cada vez mais distante de mim, mesmo eu andando rápido, de repente ele parou em uma porta e me olhou impaciente, indicando o interior do cômodo, o olhei confusa, um pouco ansiosa.
— Está perdendo alguns segundos de seus cinco minutos, Helena… — Sua voz soou como um aviso, franzi o cenho, ele suspirou — Meu escritório, vai entrar para me falar o que quer que tenha em mente? — Pisquei algumas vezes, então sorri envergonhada.
— Claro, me desculpe… — Resmunguei já passando a sua frente, e mais uma vez deixei-me absorver pelo ambiante, diferente do escritório de meu pai que se limitava a sua mesa, uma cadeira atrás dela, mais duas a frente, e talvez alguns objetos de decoração, a sala que Noah nomeou como seu escritório. era mais ampla do que a do meu pai, mas o que realmente me chamou atenção foram às três prateleiras recheadas de livros presentes ali, automaticamente, como metal em direção ao ímã, me movi para elas, passando rapidamente meu olhar pelos inúmeros títulos. Sendo uma boa apreciadora da literatura, eu tinha meu canto de leitura em meu quarto, uma prateleira semelhante a que estou diante agora, um balanço em um canto, onde eu pudesse não só ler, como tentar desenvolver minhas histórias… sorrio, surpresa, e um tanto quanto mexida, já que desde um tempo, não consigo ler ou se quer escrever…
Estou perdida em meus pensamentos quando o ranger de uma cadeira sendo arrastada me traz de volta ao agora, olho assustada para de onde vem o barulho, é Noah, ele se encontra agora sentado na poltrona atrás de sua mesa, e aponta a segunda poltrona a sua frente, diante da mesa para mim, pisco algumas vezes, pondero pedir desculpas pela enésima vez, mas acabo me limitando a um meio sorriso, assim, me movo para a poltrona indicada, ao me sentar, suspiro profundamente mantendo o olhar que me perfura de muitas formas, algo parece se passar através dele, confusão, curiosidade… mas existe algo mais ali, algo que não me deixa desviar o meu olhar, tão pouco raciocinar a respeito do que vim fazer aqui.
— Não sei se entendeu bem, mas vou explicar — A voz firme, rouca ecoou, minhas pálpebras abriram e fecharam algumas vezes — Estou em minha hora de almoço, e não gosto de ser incomodado, mas você invadiu minhas terras, a fim de propor algo que estou inclinado a negar, ainda assim, lhe dispus alguns minutos de minha atenção, logo, apreciaria se fosse breve…
— Claro, claro, me desculpe, eu só…
— Sem desculpas, por favor, prossiga com o que tem em mente. — Me cortou, apressando-me, o que não era nada bom a ser feito quando minha mente estava tão agitada, ansiosa… foco, Lena, foco… você só precisa convencê-lo a ajudar você! Alertei-me internamente, então em seguida forcei um sorriso.
— Você como muitos deve saber que minha família não está em seu melhor momento… — Iniciei, sentindo um nó formar em minha garganta, remexi-me sobre a poltrona, desconfortável em me sentir tão vulnerável na frente de um desconhecido. Noah assentiu, cruzando os braços fortes em frente ao tórax mais forte… foco, Lena, foco! — Temos Ultimamente pensado a respeito de uma maneira viável para sairmos das dívidas e recomeçar nossas produções…
— Você disse que tem uma proposta, Helena, sem rodeios, me fale sobre ela. — Me cortou mais uma vez, impaciente desde o instante em que nos vimos frente a frente. Era nítido que minha presença o incomodava, mas eu não entendi o porquê, mesmo que ele tivesse uma certa fama sobre seu comportamento… rústico. Remexo-me um pouco mais na poltrona, cruzo minhas pernas.
— Preciso de um empréstimo. — Murmuro com toda a coragem que desliza em minhas veias, o semblante de Noah franze, seu olhar torna-se mais penetrante se possível.
— Não sei se reparou, mas somos uma fazenda de exportação, não uma agência bancária. — Sua falta de tato em seus palavras mexe comigo, na verdade me enfurece.
— Oh, me desculpe Senhor Noah, estou sem óculos hoje, e não poderia notar tal fato! — Lhe dou uma resposta tão ríspida quanto a ele, mas seu semblante frio, duro e impaciente não muda, suspiro profundamente — Antes que pense que estou atrás de um ato de caridade, tenho que dizer que não é bem isso — Continuo, mesmo que minha resposta nada delicada possa ter tirado qualquer possibilidade de ele me ajudar, e mais… que de certa forma, busco sim, um ato de caridade, pois é isso ou… não posso nem mesmo ponderar o que seguiria após meu pai declarar falência… — O que proponho é que nos empreste uma determinada quantia como um investimento, o qual não só retornaremos, como estaremos dispostos a lhe dar uma porcentagem dos nossos lucros pelos próximos doze meses após o quitamento da dívida com vocês… — Concluo, mantendo seu olhar penetrante. Seu olhar passa por mim com atenção, é como se procurasse algo invisível, o que ocasionalmente me incomoda, me faz mexer sobre a poltrona, trocando o lado em que minha perna cruza, puxar meu vestido discretamente, como se o mesmo estivesse fora do lugar. Ter atenção sobre mim nunca foi tão sufocante quanto agora que tenho o olhar de meu vizinho desafiadoramente sobre mim.
— Alpes Garcia — Resmunga arqueando a sobrancelha, e mesmo que suas palavras não soem como de fato uma pergunta, eu confirmo sem palavras — Seu pai sabe que está aqui? — Questiona desconfiado, eu encolho os ombros.
— Não vejo o porquê de ele ter que saber… — Murmuro confiante, como se minhas palavras tivessem lógica, quando isso não é bem uma verdade…
— Deixe-me ver se entendi, caso esteja equivocado, sinta-se a vontade em me corrigir… — Pontua, deixando seus braços pousarem na mesa, seu corpo inclinar-se ligeiramente para mim, mordo meu lábio inferior, e mesmo que eu sinta muita vontade em me afastar, permaneço onde estou, nem mesmo um metro de distância dele, o que me envia uma onda estranha por minhas terminações nervosas, sensações um tanto quanto adormecidas dentro de mim, só agora, tão intimidada, sinto algo além de incomodo a respeito do homem a minha frente, não é desconhecido, mas é inquietante — Está dizendo que administra toda a Alpes Garcia, que possui passe livre de seu pai para fazer qualquer negociação que seja? — Inquire, com uma expressão que deixava claro que não me levava a sério.
— Em nenhum momento deixei algo assim parecer ser um fato, mas estou dizendo agora que aquelas terras são minha herança, o que me leva a questionar… por que não posso fazer algo a respeito por ela?
— Você tem noção do que faz aqui, menina? — O tom repreensivo me faz arquear a sobrancelha.
— Como disse, venho fazer uma proposta, e posso garantir que já tem um tempo que deixei de ser menina, logo, peço, na verdade, exijo que me leve a sério!
— Não me leve a mal, Helena — Ele se levantou, meu olhar o acompanhou — Não desrespeito sua presença ou algo semelhante, a levo a sério… mas até onde sei, quem administra os negócios da Alpes Garcia, é seu pai, Adalberto Alpes Garcia, com isso, não vejo lógica alguma em sua presença por aqui, fazendo o que está fazendo. Desse modo, se me der licença… — Me levanto abruptamente.
— Recanto é uma cidade pequena, deve saber do estado de saúde de meu pai, sabe que…
— Helena…
— Tem noção do que proponho? — Dou um passo em sua direção, um tanto quanto desesperada — A Alpes Garcia não é uma pequena produtora, é grande… trabalha com exportação a mais de duas décadas, tem contratos assinados dentro e fora do estado… o que proponho, a longo prazo, não só beneficiaria a nós, mas a você também…
— Sua proposta me soa justa, um tanto quanto lucrativa a longo prazo… mas estamos falando de soja, que possui todo um processo, desde a preparação do solo a exportação, ou seja, falamos de uma quantia exorbitante de tempo, investimento, e não só isso, grandes produções assim, tem períodos ruins, quais mais investimos do que lucramos, então me familiarizar com vocês, me soa como uma aposta, eu não gosto de apostas, Helena…
— Então sua resposta é não? — Inquiro, mesmo que esteja claro que sim, a resposta dele é um grande não. Sei que já devia esperar isso, como ele disse, o que peço é muito, mas estou desanimada, como se não pudesse ter esperado uma negação sua, suspiro profundamente, e mesmo que saiba que para preservar minha dignidade, preciso sair e ir embora o mais rápido possível, não o faço, na verdade volto para a cadeira onde estive sentada antes. Sinto o olhar de Noah me acompanhar, mas não deixo nosso olhar se encontrar, olho através da janela do cômodo que dá para o verde de sua propriedade do lado de fora, é lindo… — Você mora sozinho aqui? — Franzo o cenho com minha própria pergunta, maneio a cabeça em negação — Desculpe, não precisa responder.
— Sua família é reconhecida pela amigabilidade das redondezas, creio que apesar de sua fazenda ter um porte maior do que as outras, os conhecidos de seu pai possa ajudar… Talvez ele até tenha conseguido tal ajuda. — Ele sugere, me fazendo deixar nosso olhar se encontrar.
— Como disse, meu pai está em um período delicado, então… — Encolho os ombros — Mas, agradeço seu tempo, e peço desculpas pela forma que entrei sua propriedade, não acontecerá mais… — Forço que um sorriso curve meus lábios, então me levanto — Mais uma vez, obrigada. — Agradeço, então sem o esperar, me movo em direção a porta.
— Helena… — Ele me chama, fazendo-me abruptamente parar, com a mão na maçaneta da porta, o olho confusa, e apesar de ele ter me chamado, ele parece confuso também… — Como disse, isso é algo grande…
— Eu entendi, e está tudo bem… ãn, até mais. — Sorrio novamente, girando a maçaneta,
— Merda, garota me deixe terminar… — Passos trovejaram em minha direção, voltei-me para ele, sem entender sua explosão, sua mão empurra a porta brevemente aberta para ela fechar novamente, e inquietantemente perto, ele me olha, próximo demais… Engulo seco, pisco algumas vezes, pondero me afastar, mas algo me mantém diante dele — Vou aceitar sua proposta, mas… — Antes que ele fale qualquer coisa a mais, eu impensadamente o envolvo em meus braços em um abraço desajeitado, o corpo dele tensiona, o meu simultaneamente faz o mesmo também, nos afastamos na mesma rapidez que o abracei, droga Helena!