Capítulo 02
─ Não acredito que você está interessada no hóspede dos seus pais! ─ Emma, minha melhor amiga grita durante a ligação.
─ Fala baixo! ─ digo enquanto afasto o celular do meu ouvido. ─ quase fiquei surda.
─ Isso é nojento, Charlie. ─ ela zomba.
─ Eu não estou interessada, eu apenas disse que ele é bonito e tem um sotaque diferente. ─ tento parecer indiferente.
─ Está caidinha por ele, você não presta, meu deus! ─ ela se diverte com o assunto.
─ Ele não é velho, deve ter uns 24 anos... isso não interessa. Eu apenas comentei sobre ele. ─ Reviro os olhos e lembrando do homem.
─ E como ele é? ─ perguntou com voz maliciosa.
─ Bem alto, cabelos castanhos, olhos cor de mel... vá, eu não reparei muito nele. Mas eu sei que ele é bem diferente dos outros hóspedes. ─ falo enquanto roo minha enorme cutícula.
─ Eu pensei que você não fosse mais se interessar por outro cara tão cedo, desde o que Bruce fez com você.
─ Eu não disse isso, não quero nada com esse novo hóspede. ─ Deito de barriga para cima em minha cama. ─ e sobre o Bruce, dizer que eu perdi a virgindade com ele foi totalmente babaca e mentiroso, você sabe como quem aconteceu.
─ Eu sei. Olha, eu tenho que conhecer esse cara primeiro, aí eu digo se você pode ou não ficar com ele. ─ ambas rimos. ─ você é a garota que todos os caras querem, não pode se entregar para qualquer um.
─ Eu não vou ficar com ele, Emma, eu nem sei o nome dele ainda... ─ ouço minha mãe me chamando no andar abaixo. ─ tenho que ir. Beijos.
Ela me deu “tchau” e eu desliguei o telefone, olhei ao redor de meu quarto e suspirei.
Desço as escadas rapidamente e vou até a cozinha onde minha mãe preparava o jantar.
─ Já falei para não descer as escadas assim, pode se machucar! ─ ela me repreende. ─ coloque a mesa e chame o senhor Hunter para jantar. É o primeiro dia dele, ainda não se acostumou com os horários.
Eu solto um suspiro longo.
─ Por que não vai lá?
Minha bufa e larga as panelas vindo até a sala de jantar comigo.
─ Será se não pode me ajudar? Eu tenho que fazer tudo sozinha...
─ Tudo bem, eu vou lá!
Coloquei os pratos na mesa lentamente, eu não queria encarar aqueles olhos profundos novamente. Ele havia me deixado com as pernas bambas, e com vergonha da primeira vez que nos vimos. Fora a voz e o sotaque, eram um complemento e tanto para a sua beleza, deveria ser pecado alguém ser tão belo daquele jeito.
Quando terminei, subi as escadas calmamente e fui em direção a porta do quarto dele, era quase de frente para a porta do meu. Bati duas vezes na porta até ouvir passos pesados dentro. Destrancaram a porta e logo ele apareceu, com os cabelos castanhos bagunçados, esfregando os olhos.
─ Minha mãe mandou eu vir lhe avisar que o jantar está pronto. ─ digo retraída.
─ Obrigado. ─ disse esfregando os olhos.
Sorri de volta e saí de lá, por que diabos era tão difícil encara-lo? Eu estava tímida e sem jeito.Lavei minhas mãos e sentei a mesa, minha mãe era uma ótima cozinheira e eu sempre comia bem, fora as suas maravilhosas sobremesas. Tudo que ela fazia era tão bom, nunca errava na receita, mas hoje eu não sabia como iria comer com aquele bolo se formando em minha garganta.Começamos a comer e logo em seguida o Hunter se juntou a nós, eu me sentia incomodada com a sua presença, era como se eu estivesse sendo vigiada todo tempo, e não podia passar nenhuma vergonha que eu morreria, sendo assim, acabei comendo pouco no jantar.
─ Então, senhor Lins, como está a comida? ─ perguntou minha mãe enquanto cortava as batatas em seu prato. ─ Sinto muito, eu não sei cozinhar as comidas de seu país.
─ Está muito bom, minha tia é americana então já estou habituado. ─ ele indagou com um sorriso no final da frase. Falava tão formalmente, com o sotaque que dava todo um charme, com certeza fazia sucesso com as garotas. Coloquei as mãos no rosto e me senti envergonhada por pensar aquilo.
─ Charlie está tão calada, sempre costuma fazer um interrogatório para os hóspedes estrangeiros. ─ meu pai comenta e franzindo o cenho.
─ Mamãe pediu para que não fizesse isso, para não incomodar, estou obedecendo. ─ digo timidamente.
─ Pode perguntar qualquer coisa, vou adorar responder. ─ Hunter diz olhando diretamente para mim com aqueles olhos castanhos mel. Meu coração acelerou, pensei que fosse explodir. Eu estava prestes a morrer na mesa de jantar.
─ Após o jantar. ─ falei e soltei um sorriso amarelo.
Comi lentamente e pouco. Assim que terminamos minha mãe pediu para que a ajudasse a limpar e lavar as louças. Fui para a cozinha lavar as louças enquanto ela tirava a mesa, mas ao invés de minha mãe veio Hunter.
─ Pedi a sua mãe para que a ajudasse, ela parecia exausta. ─ indagou ele deixando os pratos na pia.
─ Eu posso lavar tudo e guardar, é melhor descansar. ─ digo numa tentativa desesperada de ficar longe dele.
─ Eu insisto. Não ficarei satisfeito se não fizer nada. ─ ele arregaçou suas mangas e tomou um prato de minhas mãos por segundos ele tocou nelas, uma onda de calor subiu em meu corpo e o local que ele triscou ardeu. ─ eu enxugo as louças.
Aquele homem era a visão dos céus, seu maxilar era perfeitamente marcado, seus lábios tinham o formato ideal e os seus olhos eram fundos, eram como um labirinto que eu poderia me perder a qualquer momento.Um silêncio constrangedor reinou sobre nós, eu estava totalmente sem jeito, já havia deixado o mesmo prato cair umas 10 vezes, por outro lado, ele estava calmo e me encarava de vez enquanto.
─ Por que em meio a tantos países e culturas melhores, escolheu vir para cá? ─ pergunto tentando quebrar aquele clima estranho.
─ Eu não sei, você falando sobre isso me faz pensar que foi uma decisão de emergência. ─ responde calmamente. ─ Também quero terminar minha faculdade aqui.
Talvez eu tivesse deixado ele envergonhado.
─ Faz faculdade de quê?
─ Advocacia, estou no meu último ano. ─ ele pega o prato da minha mão. ─ e você, ainda está no colégio?
─ Sim, apenas esse ano para concluir e finalmente sair daquele inferno, bem, faz um mês que voltamos ás aulas. ─ ele sorrir assim que eu termino de falar. ─ Que idade tem?
─ Tenho vinte e seis anos. ─ ele diz. Era perceptível minha cara de decepção, até mesmo Hunter percebeu. ─ Talvez seja bem mais do que você esperava.
─ Anh, me desculpa. ─ Digo envergonhada.
─ Não reclamei, parece que estou em boa forma. ─ ele diz enquanto me encara e sorrir. Senti minhas bochechas arderem, com toda certeza estava parecendo um tomate. ─ E você, quantos anos tem?
─ Bem, tenho dezessete.
─ Bem jovem.
E o silêncio reinou novamente, mas felizmente já faltavam poucas louças. Parecia que ele fazia questão de pegar em minha mão quando puxava os pratos. Terminei meu trabalho e corri para subir as escadas. Entrei no meu quarto e respirei bem fundo, nunca tinha ficado tão nervosa e tensa perto de alguém, ele tinha algo em sua voz que me deixava tensa e envergonhada. Me joguei em minha cama e coloquei minhas mãos em meu rosto. Estava em chamas.
No dia seguinte eu tinha que ir a aula, era mais um dia de quarta-feira cheios, meu último ano estava a todo vapor. Desde que as aulas começaram em agosto, nós não paramos de fazer trabalhos e seminários. Eu procurava cursos e clubes para acrescentar na minha grade curricular, afinal, eu precisava ir para uma faculdade boa no ano que vem. Desci as escadas e lá estava ele novamente, por momentos eu tinha esquecido que ele estava lá.
─ Bom dia, querida. ─ minha mãe diz enquanto leva as panquecas para a mesa.
─ Bom dia, mamãe. ─ calço meu velho para de tênis. ─ Eu tenho que ir porque tenho um trabalho para fazer antes da aula começar então, já vou indo.
─ Pegue pelo menos uma maçã. ─ indaga ela com a sobrancelha arqueada.
Pego uma maçã e saio da cozinha, abrir a porta e senti uma mão em meu ombro, era ele, novamente.
─ Sua mãe pediu para que eu entregasse isso a você. ─ ele estende um caderno cujo deixei pela casa na noite anterior.
─ Obrigada. ─ sorrio para ele e absorvo todo aquele aroma masculino misturado com menta do creme dental.