Fodeu!
Nossa casa foi construída no alto de um morro. Com engenharia e arquitetura moderna, era baseada na estrutura do lugar onde morava o Homem de Ferro, personagem da Marvel. Tinha dois pavimentos, sendo que o acesso principal se dava pelo superior, de carro. A descida em direção à garagem era em espiral, em volta da casa e o automóvel parava praticamente dentro da nossa sala de estar.
Praticamente 70% da nossa casa era rodeada pela piscina de borda infinita, que nos dava uma vista privilegiada de toda a cidade. Praticamente livre de concreto, a não ser nas estruturas que ligavam a casa à montanha, todas as paredes externas eram de vidro blindado.
Nossa residência chamava a atenção não só pela construção futurista, mas também por ser toda autossustentável. As paredes externas em que os vidros não ficavam evidentes eram ocupadas por trepadeiras verdejantes naturais, que ocultavam os raios de sol nos momentos mais fortes.
No andar inferior, além da piscina na área externa, com sua decoração de extremo bom gosto e sofisticação, com pufs confortáveis na área 1 e espreguiçadeiras com mesas e guarda-sóis na área 2, a parte interna era composta por duas cozinhas, uma industrial onde as cozinheiras e o chefe trabalhavam e outra gourmet, onde meu pai arriscava preparar alguns pratos.
Tínhamos três salas de estar, todas amplas e com decorações semelhantes, em tons creme, bege e gelo, combinando com todos os móveis da casa. Três salas de jantar em diferentes tamanhos faziam parte daquele andar também. Dois lavabos, dois banheiros e duas despensas completavam o andar, que ainda contava com a dependência de empregados, que abrigava mais de sete quartos com banheiros.
O andar superior tinha cinco suítes, contando com a master, que era do meu pai. A minha, um pouco menor que a dele, tinha banheira de hidromassagem, um closet gigantesco e um ofurô numa parte elevada, fazendo parte da área do dormitório. Havia também duas salas e três escritórios além de um ambiente para assistir filmes, com uma tela gigantesca e poltronas no estilo de cinema.
As escadas de ligação entre um pavimento e outro eram com degraus em vidro e tinha também elevador com vista panorâmica da montanha.
Minha mãe sempre foi uma admiradora de arte e por isso tínhamos várias obras espalhadas pela residência, principalmente quadros de pintores famosos, bem como algumas esculturas que poderiam parecer estranhas a quem não conhecesse o que cada uma delas significava. Eu sabia exatamente a história de cada peça, já que minha mãe me explicava cada vez que adquiria algo para seu acervo.
Eu estava no meu quarto, verificando minhas redes sociais e e-mails quando meu pai chegou. Bateu na porta e entrou sem pedir licença:
- Quero que se vista e desça porque Nadine jantará conosco hoje.
Eu não tinha certeza se achava aquilo bom ou ruim, visto que o fato de ela estar presente fazia com que meu pai jantasse em casa.
Quando abri a boca para contestar, ele saiu e fechou a porta.
Fui ao closet e escolhi uma saia justa e camisa branca completando com um scarpin de bico arredondado, meia pata. Penteei meus cabelos com facilidade, devido aos fios mais curtos e borrifei meu perfume mais caro, um dos que eu havia mandado importar em sua primeira edição para venda, de Paco Rabane.
Assim que cheguei na sala de jantar, Nadine estava à mesa, sentada ao lado de meu pai, que ocupava a cabeceira.
- Danna... – Ela levantou-se para me cumprimentar, mas fiz questão de passar direto, ocupando meu lugar à mesa.
- Cumprimente Nadine, Danna. Mostre a ela que você é uma mulher e não a garota mimada e fútil que a mídia retrata. – Meu pai pediu com a voz mansa.
- Mas eu sou a garota mimada e fútil que a mídia retrata. – Observei-a e sorri, com ironia.
Júlio respirou fundo e abriu os lábios para mencionar algo quando Nadine pôs a mão sobre a dele:
- Está tudo bem, Júlio! Não a force.
- Já faz um ano... – ele disse entredentes – Um ano que nos relacionamos. Já está na hora de ela aprender a respeitá-la como minha namorada.
- Não fale comigo se eu não estivesse aqui. – Pedi, não conseguindo tirar os olhos da mão dela sobre a dele, me dando certo pavor.
Tentei conter a minha respiração, que começou a ficar ofegante. Sim, vez ou outra Nadine vinha fazer algumas refeições conosco. Mas não importava quantos anos passassem, eu jamais aceitaria a presença dela na minha casa ou mesmo nas nossas vidas. Tudo ali era de minha mãe: a casa, a filha, o marido... Celli Dave que havia escolhido cada quadro, cada cor das paredes externas, cada escultura que decorava o ambiente minimalista que ela tanto admirava. Eu ainda lembrava quando ela tinha escolhido aquele conjunto de louças numa viagem que fizemos para Portugal, me explicando que a marca daquela porcelana era a Vista Alegre e que embora vendida ali, tinha origem chinesa.
- Pare de agir como uma menina! Estou farto!
- Pare de agir como um pai preocupado! Não pega bem para você. – Revidei.
Júlio Dave suspirou e passou a mão entre os cabelos:
- O que houve na faculdade? O senhor Jackson pediu que eu fosse até lá amanhã. – Respirou fundo, tentando trocar de assunto.
- E o que o faz pensar que é a meu respeito?
- Se não fosse algo importante ele não me chamaria presencialmente.
Suspirei e desviei os olhos dele, abaixando a cabeça:
- Eu... Fui assediada sexualmente. – Minha voz mal saiu, incerta sobre como ele reagiria.
- O que você disse?
Não tive coragem de repetir, incerta se estava disposta a ir até o fim com aquilo que eu havia inventado. Mas percebi que chamou bastante a atenção dele.
- Oh, meu Deus! – Ouvi a voz de Nadine, que tentou pegar minha mão sobre a mesa, fazendo-me retirá-la imediatamente para baixo, descansando-as nas minhas pernas – Isso é horrível, Júlio! – Olhou para meu pai, com os olhos lacrimejando.
- Me explique o que houve imediatamente! – Ele ficou preocupado e seu rosto levemente avermelhado.
- Foi... Um professor.
- Um professor?
- Sim... O senhor Gatti... Que ministra Artes Plásticas.
Júlio Dave levantou-se e pegou imediatamente o celular, se retirando da sala de jantar. Perturbada, levantei-me também e fui atrás dele, percebendo que já estava numa ligação.
- Sim, sim... Quero os dois advogados aqui, imediatamente. – Sua voz demonstrava seriedade e ao mesmo tempo preocupação.
- Pai... O que está fazendo?
- Chamei dois dos meus advogados para virem para cá imediatamente. Colocaremos este homem na cadeia.
Cadeia? Como assim cadeia?
Senti meu coração acelerar e fiquei tensa. Minha intenção era fazer com que Jax perdesse o emprego e precisasse de mim para tê-lo de volta. Mas ir preso não fazia parte do meu planejamento.
- Pai, não... Eu não quero isto.
- Não quer isso? – Ele estreitou os olhos e passou os dedos pelos cabelos, nervoso – Eu não descansarei até este maldito ir para trás das grades e pagar por isto. Ninguém fará isto com a minha filha sem ser punido... Na verdade ele merecia a morte.