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Fodeu! (II)

- Ele não me estuprou ou algo do tipo... – Tentei defender o professor.

Senti a mão de Nadine no meu ombro:

- Não fale como se o que este homem fez não fosse algo terrível, Danna. Assédio, importunação, estupro... Tudo é muito parecido e fere a honra da mulher. Sei que é difícil e você deve estar com muito medo neste momento. Mas precisa denunciar. Estaremos ao seu lado... Seu pai e eu.

Ela tentou me abraçar, fazendo com que eu me esquivasse violentamente de seu toque.

Percebi que Nadine deu um passo para trás e mordeu o lábio, falando ao meu pai:

- Ela precisa... De apoio, Júlio!

- Eu... Estou apoiando.

- E carinho. – Nadine continuou.

- Carinho? – Ele perguntou, confuso.

- Carinho? – Olhei-a, sem entender nada.

- Dê um abraço na sua filha, Júlio... – Os olhos dela se encheram de lágrimas.

Meu pai se aproximou e sem jeito pôs os braços sobre meus ombros, já não sabendo mais como se fazia para “abraçar” a própria. Eu não lembrava a última vez que ele me tocou daquela forma, com os olhos fixos nos meus, parecendo preocupado. Ou melhor, lembrava sim... Como se fosse naquele exato momento. Havia sido há 11 anos atrás, no dia em que minha mãe morreu.

Dei um passo para trás e ri, com desdém:

- Como você consegue ser tão dissimulada, Nadine?

- Dissimulada? – Ela arregalou os olhos – Por favor, Danna... Me dê uma chance. Eu não quero o lugar da sua mãe... Tampouco exijo que me aceite. Só peço que não me odeie... Porque não mereço isto.

Meu pai pegou-me pelo pulso, com força:

- Peça desculpas à Nadine.

- Não! – Recusei-me furtivamente.

- Agora, peça desculpas!

- Eu já disse que não! Vai fazer o que para me obrigar? Me bater? – Eu ri, com escárnio.

Ele soltou-me com força e certa agressividade, causando uma leve dor.

- Júlio, por favor, está tudo bem... Não se preocupe com isto agora. Precisamos focar no que aconteceu com Danna.

Eu não conseguia parar de rir. Como aquela mulher conseguia ser tão falsa e tentar manipular meu pai daquela maneira?

Virei as costas quando ele disse, entredentes:

- Farei o que for preciso para que o professor que lhe assediou seja punido na forma da lei. E se a lei não fizer o que lhe cabe, tomarei providências que a infrinjam.

Engoli em seco e o olhei:

- Faça o que quiser!

- Danna, precisa falar com a sua terapeuta. Isto é bem importante neste momento. – Ouvi a voz de Nadine.

Antes de subir as escadas olhei na direção dela:

- Você não é nada nesta casa... Tampouco na minha vida. Não quero sua opinião. E não lhe dou o direito de se intrometer em qualquer coisa que diga respeito a mim.

- Me desculpe... Você tem razão... – ela abaixou a cabeça – Eu... Não tenho nada a ver com isto.

Enquanto eu subia as escadas, ouvi meu pai dizer a ela:

- O fato de Danna ter sido assediada sexualmente não lhe dá o direito de tratá-la desta forma, Nadine. Precisa ser mais enérgica e firme com Danna. Lembre-se que ela não é uma adolescente rebelde... Danna é uma mulher adulta, mimada e inconsequente e só aprenderá a ser alguém quando a vida lhe der uma lição.

- Ela... Ainda sente a falta da mãe, Júlio.

- E ela pode sentir para o resto da vida... Eu também sinto falta de Celli. Mas nem por isto trato o mundo inteiro como se fosse culpado pelo que aconteceu.

- Sabe que ela se sente culpada.

- Ela não teve culpa, porra! – Ele gritou.

- Acalme-se, meu amor... – A voz dela foi gentil e imaginei que o consolou com um abraço, como ela tentava fazer comigo.

Recostei-me na parede, não ouvindo mais a voz deles e fiquei incerta se estavam ainda na sala de estar ou haviam voltado para a mesa de jantar. Fechei os olhos e respirei fundo, sentindo meus olhos secos e irritados. Eu não precisava de pena de ninguém... Tampouco de afeto de qualquer pessoa. Aprendi a ser autossuficiente e estava satisfeita com a forma como eu me comportava.

Se meu pai casasse com Nadine, eu faria da vida dela um inferno e sabia exatamente como agir, já que eu vivia lá há exatos onze anos.

Subi para o meu quarto e deitei na cama, incerta sobre como agir. Eu não queria prejudicar Jax daquela maneira. Uma coisa era ele perder o emprego... Outra era ficar preso junto de pessoas que haviam cometido os mais diversos crimes.

Mas não tinha como voltar atrás. Era impossível eu dizer que havia inventado aquilo ou que não era exatamente da maneira que contei porque seria taxada de mentirosa e aquilo era inconcebível.

Liguei para Moana.

- Danna?

- Ah, finalmente decidiu me atender e não fingir que não me conhece! – Debochei, lembrando do que eu havia ouvido há pouco tempo atrás vindo da própria boca dela.

- Eu nunca fingi que não a conhecia, Danna!

- Pouco importa... Estou ligando porque preciso de você. – Falei de forma séria.

- O que você aprontou desta vez?

- Eu... Falei que o professor Jax me assediou sexualmente e quero que você confirme.

Ela riu, nervosamente:

- Não posso fazer isto!

- Por que não?

- Simplesmente porque não é verdade!

- Você sabe tudo que ele fez para mim, Moana.

- E o que ele fez, Danna?

- Me recusou... Me humilhou!

- Ele simplesmente não quis ficar com você. Mas acusá-lo de assédio sexual... Não acha foi longe demais?

- Não há como voltar atrás.

- Como assim não há como voltar atrás? Que porra você fez?

- Eu falei com o reitor.

- Não... Você não foi capaz de fazer isto.

- Era para ser só uma... Brincadeira.

- Brincadeira? Acha mesmo que jogar com a vida de uma pessoa é uma brincadeira?

- Não joguei com a vida dele, Moana. Falei com o senhor Jackson e imaginei que o demitiria. Jax viria até mim e pediria ajuda... Então... Ele teria a oportunidade de me conhecer melhor e se apaixonar.

Esperei que Moana falasse alguma coisa, mas não ouvi nada do outro lado da linha a não ser a respiração dela.

- Você está aí, Moana?

- Sim, estou... Mas sinceramente, não gostaria de estar, Danna.

- Fodeu tudo, porque o senhor Jackson chamou meu pai... E eu... Contei o que houve e papai chamou advogados e...

- Você vai foder com a vida do professor Jax desta forma? Precisa impedir esta porra, Danna. Você não é mais criança.

- Eu não tenho o que fazer, Moana! – Gritei.

- Claro que tem... Diga a verdade.

- Não farei isto. Preciso que confirme o que viu...

- Eu não vi nada...

- Sim... Você viu o professor Jax me observando de maneira libidinosa e me chamando depois da aula... Ele inclusive me tocou, nos seios.

- Eu vi “você” observando-o de forma libidinosa e ficando depois da aula, me mandando inclusive fechar a porta para que ninguém interrompesse sua “investida”.

- Posso lhe pagar o quanto quiser, Moana.

- Eu não preciso do seu dinheiro.

- Não me faça agir de forma enérgica com você, Moana.

- Foda-se, Danna! – Ela encerrou a ligação.

Olhei para o telefone, incerta se ela realmente havia ousado desligar na minha cara ou a se a ligação havia caído. Então redisquei o número dela, que chamou até cair na caixa postal.

Fiz aquilo no mínimo mais umas dez vezes para ter certeza de que realmente Moana tinha dito que não me ajudaria e estava ciente daquilo.

Eu estava fodida. Ou melhor, o professor Jax estava fodido! E por minha culpa.

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