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Capítulo 6

**DIAS ATUAIS**

** CORVUS **

Enxugo meus cabelos e escuto meu telefone tocar, a essa hora da noite não pode ser coisa boa. Mas é melhor, pois preciso me manter longe daquela moça, só irei me aproximar quando for preciso. Do contrário, quanto menos contato entre nós melhor.

— Alô... Diga.

— Estamos com um problema chefe.

— É grande?

— O agente 35 matou o 57 chefe. — Levo minha mão a testa massageando minha têmpora, eu já sabia que os dois tinham uma rixa, não é porque somos uma organização, que não nos desentendemos e os dois estavam me atormentando desde o dia que o 57 matou o alvo do 35. Ele disse que foi sem querer, mas por Dio, quem mata um homem com três tiros sem querer. Ainda mais de dentro de um carro. Agente 57 fez de propósito por causa do dinheiro alto, mas como o empregador pagou a ele, não podíamos fazer nada por enquanto, só que já estava nas mãos dos tutores. Eles iriam resolver essa merda, mas vejo que agora veio para mim, já que é proibido com pena de morte, matar um membro da organização sem minha autorização.

— Estou a caminho 02, mantenha ele na sala de espera, quero falar com ele primeiro.

Desligo e jogo o aparelho na cama, visto uma roupa social, camisa preta, calça preta, cinto preto e a gravata, bom a gravata é preta também. Coloco minha máscara e desço até a garagem.

Giovam já me espera, assim que apareço ele já liga o carro, entro no banco de trás alinhando o blazer que coloquei antes de sair do quarto. Percebo o olhar de Giovam em mim, durante o trajeto e sei que ele é curioso, mas essa curiosidade pode matar e ele sabe.

— O que quer me dizer Giovam?

— A moça que trouxe chefe. Ela vai dormir na casa hoje? — percebo a curiosidade na sua voz e isso não é bom, Giovam não é o tipo de homem que sabe aceitar o não de uma mulher, por isso o mantenho em punhos de ferro, ao meu lado, para ficar de olho nele. Porque se ele sair da linha e fazer algo que eu não aceite, não penso duas vezes antes de meter uma bala na sua testa.

— Ela vai ficar um tempo ainda.

— Nossa. Essa é a primeira que vai passar a noite chefe. — ele me olha pelo retrovisor e percebo um sorriso diferente, não gosto nenhum pouco.

— Sim.

— Como ela se chama. — Repuxo um sorriso já dei informação demais, mesmo ele sendo um dos meus homens a um bom tempo, não divido informações de dentro da minha casa.

— Melhor cuidar do seu trabalho Giovam. Senão outro tomará ele, e eu tomarei sua vida. — Ele volta a atenção para a estrada, ficando em silêncio o resto do caminho. Sou claro em minhas palavras e ele sabe disso.

Assim que chego na organização ele estaciona no lugar exclusivo na garagem, pego o elevador e aperto o botão do térreo. A organização fica no subsolo de uma empresa de segurança, todos que trabalham aqui são membros nascidos ou recém-chegados que passaram nos testes e nos mostraram valor, eles são separados por seções, temos três, azuis, são para casos mais leves onde apenas investigamos os alvos e vemos se eles se enquadram no nosso sistema. Amarelos, são os que cuidam do armamento e estratégia que melhor se enquadra naquele alvo, e por fim os vermelhos, eles são os assassinos, os que executam as ordens.

Nossa organização é especializada em matar estupradores e pedófilos, assim como a organização dos Galaretto. A diferença que além dessa escória também matamos políticos sujos e corruptos, alguns juízes e advogados entram na lista também.

Mas sou eu que dou a palavra final.

Eu que decido se vive ou se morre.

Eu que decido tudo nessa porra.

***...***

Entro na sala e encontro o agente 35 sentado em uma cadeira, ao lado o 02 e o 07, eles são mentores, eles são os responsáveis pelos agentes de cada esquadrão.

Não pense que somos desorganizados, pois, não somos, sem ordem não tem crescimento e seria uma cobra comendo outra aqui dentro.

Eu era um vermelho, era bom no que fazia, por isso fui escolhido pelo meu chefe e estou onde estou. No cargo mais alto da organização.

O Corvus não é eterno, mas muitos nem sabem quando um vai e outro vem, pois, somos treinados para ser quem somos e isso às vezes é horrível, pois sei que quando chegar a hora eu terei de escolher um, e passarei a ele a máscara e todos os ensinamentos que o meu antigo chefe me passou.

Acendo um cigarro o levando a boca, não gosto de fumar, mas o Corvus fuma e isso eu não pude discordar. Acabei tendo de aprender a me virar com essa sporcizia (porcaria) na boca.

Apoio meu corpo na minha mesa, cruzando as pernas uma sobre a outra enquanto dou um trago naquilo. Dou duas batidas com o cigarro entre os dedos e o coloco no cinzeiro, me virando para o agente 35. Outra coisa que aprendi é a não ter sentimentos pelos meus agentes, hoje eles estão vivos, amanhã eu posso ter de matá-los, então não tenho amigos isso é algo tirado do meu vocabulário. O Corvus é uma alma solitária que vaga sem um passado. Mas o meu passado me persegue me fazendo ter pesadelos, com aquela cena maledetta de meus pais sem vida e a mulher que mais amei na vida com a arma apontada em minha direção. Eu não sei o que é ter um sonho, não sei o que é dormir direito a um bom tempo. Tudo culpa dela.

Tudo culpa daquela mulher do diavolo.

— Agente 35 você sabe as regras.

— Sim, chefe.

— Eu não dei a ordem de execução e mesmo assim você a executou.

— Ele mereceu. — Sua voz é ríspida, mas ele sabe o que vai acontecer.

— Ainda estava em investigação agente 35. Você tinha de esperar. — Ele abre um sorriso de lado e me olha firme nos olhos.

— Já faz um mês essa investigação chefe. E sabemos que não ia dar em nada. 57 tinha as costas quentes, ele já fez muita merda, e mesmo assim continuava respirando. Até parece que o chefe não sabia... — não deixo ele terminar de falar, seguro em seu colarinho o erguendo com apenas uma mão.

— Eu sei de tudo que acontece aqui 35, e se ele estava vivo era por um motivo. E você sabe disso. — Cada palavra sai da minha boca entre dentes, falo como um cachorro raivoso, cuspindo cada palavra na sua cara. Ele desfaz o rosto de surpresa e abaixa a cabeça, o solto com força e ele cai sentado na cadeira.

— Perdão chefe. Eu passei dos limites.

— Agora é tarde 35.

Saco minha arma e atiro na sua cabeça, sem piedade, sem segunda chance, ele errou tomando a frente de algo que era maior que ele.

Há alguns dias estavam investigando o 57, fontes afirmavam que ele era um agente duplo, por isso deixamos passar aquele problema entre os dois.

Agora com ele morto voltamos à estaca zero, se tinha um agente duplo, poderia ter mais e eles querer a minha cabeça. Ou apenas descobrir os alvos da minha lista e tentar passar a perna em mim.

— 02 providencie dois novatos para assumir o lugar do 35 e do 57.

— Sim, chefe.

— Quero eles treinados essa semana, sem atrasos. — Não espero ele responder e saio.

Volto para casa já passando das três horas da manhã, passo em meu escritório tomo duas doses de uísque Blanton's, preciso para conseguir dormir, sei que não vou conseguir porque aquela maledetta vai invadir os meus sonhos, e a cena se repeti todas às vezes, ela tentando me matar e eu a mato.

Subo as escadas indo em direção ao meu quarto, mas assim que passo pela porta do quarto da senhorita Galaretto escuto algo que me chama atenção.

Abro a porta a vendo se mexer na cama de um lado para o outro, sua pele está suada e ofegante, parece estar tendo um pesadelo.

Me aproximo para a chamar, odeio pesadelos e sei como são terríveis.

Não sei sobre o que ela sonha, mas está em sono profundo, a chamo e mexo em seu braço, mas nada adianta.

Então ela me puxa para a cama e acabo caindo do seu lado, apoio para não cair sobre seu corpo, ela se agarra em meu braço e tento sair dali, tudo que eu não preciso agora é uma histérica ao meu lado. Eu só quero descansar e dormir um pouco.

Ela para de se mexer e me segura forte, eu puxo meu braço, mas ela não solta, parece um chiclete grudado nos fios de cabelo do meu braço.

Depois de insistir em tirar meu braço dali, acabei desistindo e me dando por vencido, ela me segurava com tanta força, que se eu forçasse para soltar a machucaria. Me deitei melhor naquela cama e fechei meus olhos, eu dormia pouco mesmo e logo ia acordar e sair dali, ela não ia nem saber que me usou como escudo protetor de seus pesadelos.

***...***

Acordei com o sol batendo em meu rosto, assim que abri os olhos, prendi a minha respiração, o rosto dela próximo ao meu, de um jeito íntimo demais, sua boca no tom rosa avermelhado, perto da minha, me fez engolir seco, eu não tocava a boca de uma mulher a vinte anos.

Sua mão jogada sobre meu peito, e sua perna entre as minhas, passei a mão em meu telefone e vi que faltava cinco minutos para as sete da manhã. Eu havia dormido e nem percebi, dormi de uma forma profunda que aquela maledetta não entrou em meus sonhos, me deixando em paz.

Puxo meu corpo devagar e levanto sua mão para conseguir sair dali, e assim que me levantei apressei em me retirar daquele quarto, fechando a porta sou surpreso com Antônia me olhando e com um sorriso no rosto.

— Dormiu no quarto da moça senhor? — tinha um tom de malícia em sua voz, mas Antônia era a única que eu podia falar a verdade nessa casa.

— Não como você pensa Antônia. Cheguei do trabalho e a escutei resmungando, quando abri a porta vi que estava tendo um pesadelo. Me aproximei para a acordar, mas ela me puxou pelo braço e cai na cama. Ela me agarrou como um chiclete mascado, e não consegui me soltar. Acabei dormindo e sim acordei agora.

— E como foi?

— Como foi oque?

— A noite. Dormiu bem, ou... O senhor sabe. — Solto um suspiro, pois só ela sabe o meu tormento.

— Dormi. E não sonhei com nada, na verdade, nem me lembro de ter sonhado. Dormi feito uma pedra.

— Fico feliz chefe. Quem sabe ela seja a moça para o senhor?

— Não Antônia. Não existe ninguém para mim, e não crie esperanças já disse mais de uma vez. Não quero ninguém ao meu lado. Nem hoje e nem nunca.

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