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Capítulo 5

* Corvus *

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A água gelada cai em meu corpo, enquanto mantenho minha cabeça escorada na parede. Hannah Galaretto, o que você tem de diferente que chamou minha atenção, durante vinte anos mantive meu coração fechado como uma rocha, um lugar que nenhuma mulher ousou colocar os pés.

Então você apareceu e me olhou daquele jeito, curiosa e teimosa isso que vejo em seus olhos azuis como o céu.

Eu sabia o que tinha de fazer essa noite, sabia que tinha de te marcar como minha, mas vi que estava com medo de mim, com medo da máscara em meu rosto, todos a temem e eu sabia que você não seria diferente.

Então não consegui ir até o fim, não seria correto, não com você tão tensa como estava, mas o final foi satisfatório, ouvir seus gemidos e seu sabor, tão bom quanto um vinho envelhecido no barril de carvalho francês, picante e sutil, assim é você e isso me chamou atenção.

Mas sei até onde posso ir, e existe uma linha clara na minha mente que não posso passar, você é minha por um ano e nesse ano vou te ensinar e te provar de todas as formas.

Só preciso ter paciência, pois você é diferente, não te quero com medo e sim com desejo.

Ainda não acredito que Giácomo Galaretto aceitou esse acordo, ninguém nunca o aceitou quando eu propus, e com isso alguns de meus homens se casaram construindo alianças, pensei que ele seria o mesmo, mas quando eu falei do acordo ele concordou sem pensar duas vezes, disse que a filha era forte e que suportaria o que eu fizesse, só pediu para não a machucar permanentemente ou deixar marcas, então eu penso que tipo de pai é esse? Ele sabe o que posso fazer com Hannah, e mesmo assim não se importou, vou usar a sua filha para satisfazer o meu prazer, sem nenhum compromisso, sem nenhum sentimento, apenas sexo, e ele não se incomodou com isso. Sei que a família Galaretto é diferente, que ele treinou as filhas como viúvas negras, para chegar nos alvos mais difíceis, quando os outros não conseguem chegar, mas ele é o único, o único chefe de organização que treinou as filhas, pois os outros as usam apenas como moedas de troca.

Eu sabia até que ponto podia ir com uma mulher sobre esse acordo, durante anos eu treinei, conheci pessoas mais experientes e mulheres dispostas a serem cobaias no começo, depois com o tempo acabei gostando e me tornado um dominador na cama.

Mas nenhuma mulher voltou, e não minto algumas já saíram machucadas, mas, porque gostavam disso, gostavam de sentir dor e eu dava apenas o que elas queriam.

Moro em um lugar deserto, escondido pela vegetação, e quem se propunha a passar a noite comigo nessas condições não sabia meu endereço, entravam vendadas e saiam vendadas.

Com o tempo a parte boa em mim, morreu, assim como aquela mulher tentou fazer aquele dia. Eu morri, e renasci como o Corvus, sem sentimentos, sem medos, sem passado.

Já existiram outros piores que eu, sou até benevolente em alguns casos, nunca mato alguém na frente da família, não quero destruir a alma de algum inocente com esse tipo de lembrança.

Saio enrolado na toalha, vendo minha máscara sobre a cama, a única pessoa nessa casa que conhece meu rosto é Antônia, ela era governanta de meus pais e quando assumi o lugar que estou hoje, ela prometeu não falar nada, ela é uma boa mulher, me criou junto com minha mãe, a única parte humana que restou em meu peito é ela.

Porém, olhar para aquela máscara me faz voltar no tempo e me lembrar o motivo de me tornar, quem me tornei...

20 anos atrás.

— Liandra, o que está acontecendo?

— Sinto muito querido, mas é o meu trabalho, assim como é o seu.

Foi o que ela disse antes de apertar o gatilho e matar a minha mãe, bem na minha frente, logo depois de matar meu pai.

Pensei que morreria nesse dia, quando Liandra apontou a arma em minha direção, ouvi um tiro, acreditei que não escaparia da morte. Mas, o tiro não era meu e sim de Liandra. Um tiro que a desarmou e aproveitei a chance, quando sua arma caiu ao chão, pegando a arma e usando para atirar contra ela.

Olho os corpos sem vida, caídos ao chão. Minha família e minha noiva com um tiro no peito, um tiro que eu mesmo disparei.

“Como pude ser tão idiota e confiar nela?”

Treinado para não confiar e confiei, entreguei meus pais de bandeja na mão de uma assassina, abaixei a guarda e não vi os sinais, causei a morte de toda a família que eu tinha.

Meu chefe, o Corvus tinha desarmado Liandra, só ele viu quando matei aquela mulher. O Corvus, andou devagar ao lado dos corpos de meus pais e suspirando fundo olhou para si mesmo, que ainda tinha o sangue de Liandra, em sua roupa.

— Depois do velório, vá até meu escritório. Tenho algo para falar com você, agente 186.

Eu não disse nenhuma palavra, não tinha forças para falar, tinha perdido meus pais e a mulher que achei que me amava. Estava destruído, quebrado, meu coração sangrava de tal forma, que nem lágrimas conseguia soltar.

*** ... ***

O velório foi rápido, eu não tenho ninguém mais, além de Antônia, que me criou desde o dia que nasci. Coloco uma rosa branca na lápide de meus pais e vou para o escritório do meu chefe, Corvus. Meu coração ainda dói, mas eu tenho obrigação de ir, além de ser meu trabalho, ele salvou a minha vida.

***

Assim que entrei na sala, fui recebido com um abraço profissional, e dois beijos no rosto. Me sentia tão perdido em meio a tristeza, que nada daquilo fez sentido.

— Sinto muito com o que aconteceu com seus pais, agente 186. Mas não é sobre esse o assunto que preciso falar com você. — O chefe disse sem delongas, indo até o bar em sua sala enchendo o copo de uísque e o virando de uma vez. — Vou me aposentar, e preciso de alguém para assumir o meu lugar, alguém que eu sei que será capaz de cuidar de tudo, quando eu me for.

— Mas ainda é novo chefe.

— Estou doente, vou morrer em breve, no máximo dois anos. Mas será o tempo necessário para treinar meu sucessor.

— E onde eu entro nisso?

— Você assumirá o meu lugar, e carregará o legado de ser o próximo Corvus.

— Eu?

— A partir de agora, você é o novo chefe da organização de Turim. Você é o Corvus de hoje em diante. — Ele tirou a máscara de ferro que escondia o seu rosto, se revelando pela primeira vez, me mostrando sua identidade e me entregou a máscara. — Parabéns, agente 186, você é o meu escolhido. A partir de hoje o seu passado não existe mais. O que existe é apenas o Corvus e o seu legado. – Pegando a máscara ele olhou dentro dos seus olhos.

— Não sei se vou conseguir.

— Eu vou te ajudar. Vou te ensinar tudo o que precisa saber sobre os acordos e as punições.

— Eu nunca vou firmar um acordo com outra organização em forma de casamento chefe. Não depois de Liandra.

— Você sabe que os acordos são formados, e casamentos arranjados, agente 186.

— Eu não vou me casar chefe. — Ele se virou e passou a mão no cabelo.

— Tem um jeito de formar acordo que beneficia a organização, agente 186. Mas são poucos que os aceitam.

— Que forma?

— Acordo de submissão. – O ex-chefe se virou, o olhando firme.

— Como seria?

— A organização que vier até você oferecendo um acordo você vai, dizer que não aceita o de casamento e vão entender. Apenas os chefes sabem como funcionam esses acordos. O prazo para o acordo de submissão é um ano, depois disso a moça que o pai te oferecer, será devolvida e o acordo é firmado. Mas em hipótese alguma, você poderá machucar, essa é uma regra.

— Entendo, mas como é?

— Eu vou te ensinar, agente 186, e sei que você vai gostar. Mas agora venha aqui e sente na sua cadeira. — Ele se levantou e foi até onde o ex-chefe mandou, se sentou devagar e ele se sentou à sua frente.

— Coloque a máscara e não tire mais. Apenas sua mulher, pode saber sua identidade.

— Então ninguém nunca saberá quem é o Corvus. — Eu disse colocando a máscara, assumindo o meu lugar de chefe na organização de Turim.

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