Capítulo 4
– Prontinho. A senhorita está cauterizada. Como se sente? – Perguntou o médico enquanto me olhava, atenciosamente. Eu ainda sentia meu olho mega inchado, o rosto cheio de hematomas, mas, se era para agradecer alguma coisa, eu agradecia o fato de estar com o nariz cauterizado e não-quebrado.
– Acho que um pouco melhor. – Murmurei e Zilena deu um leve sorriso. O médico concordou com a cabeça enquanto saia da sala, provavelmente para atender outro paciente em outra sala. Zilena suspirou.
– Peço desculpas por fazê-la passar por isso, querida. – Disse Zilena e eu a olhei. Ela não tinha nenhuma culpa, porque pedia desculpas?
– A culpa não é da Senhora. – Tentei.
– É sim! – Ela vociferou. – Devia ter percebido que Desirèe era uma enganadora. Devia ter lhe poupado de usar nijab.
– O que é nijab? – Perguntei ainda tentando me situar na sala. Zilena estava falando rápido demais e eu suspeitava que ela estava tentando aguentar o nervosismo que sentia e, por isso, falava dessa maneira.
– É uma vestimenta querida. Tapa boa parte do rosto, porém não os olhos. No entanto, damos um jeito nisso. Um óculos escuros e está tudo certo. Foi o que consegui arrumar para você querida, ou melhor, o que eu trouxe na mala. Talvez fique um pouco grande no comprimento, mas é melhor grande do que curto. – Murmurou Zilena. Ela parecia olhar fixamente para o meu rosto, como para ter certeza de que não tinha sido coisa do destino. Tinha acontecido mesmo. Eu estava machucada.
– É claro que você não começará a trabalhar logo de uma vez. Poderá descansar no começo. Já pedi a Rashid que não traga visitas na primeira semana, para você se acostumar com o local e, agora, para que também se recupere. – Sorri.
– Não se preocupe, Senhora Zilena, estarei boa em menos de um dia. – Prometi. Zilena me olhou nos olhos no que pareceram longos segundos antes de me repreender, como se eu fosse uma criança:
– Não prometas o que você não pode ser capaz, Senhorita Agnes. Estará indo contra a nossa religião. Só prometemos aquilo que somos capazes de fazer. Se fazemos uma promessa falsa, pagaremos por Alá as consequências dela. – Concordei tentando não parecer levemente ofendida. Não sabia que ia levar uma repreensão logo assim de cara.
– Desculpe. – Pedi.
– Não há problemas, Senhorita Agnes. Com o tempo você se acostumará com meu lado protetor para com todos os meus empregados. – E dito isso, Zilena alcançou a porta em segundos, saindo de perto de mim. Fiquei dentro da sala do médico, sozinha, desamparada, cheia de hematomas e, pior: Extremamente encucada com a ideia do que eu estava fazendo com a minha vida.
*
Nijab. Uma vestimenta negra que cobria todo o meu corpo. Braços, pernas, cabelo, pescoço e quase todo o rosto. O que sobrava que não era coberto, os olhos e as mãos, estavam ocupados com, respectivamente, óculos escuros e malas. Não havia nada que ninguém pudesse ver.
Depois de sair do hospital e pegar minhas coisas no hotel, aproveitei para dar uma olhada no meu rosto. Um dos meus olhos estava imensamente inchado, quase fechando e roxo. Me senti um ser de outro planeta com aquele olho inchado e sem vida. Meu nariz, cauterizado, estava com dois tampões de algodão para que eu não respirasse pelo nariz com força, tampouco tentasse assoá-lo provocando mais sangue. Meu lábio superior estava com uma pequena fenda rosada e uma das minhas bochechas estava com alguns risquinhos que sabe se lá como foi parar.
A senhora Zilena rapidamente me emprestou um de seus adoráveis nijab e certificou de me explicar porque aquilo era necessário. Rashid era um Sheikh. Como eles iam explicar que ela estava com o rosto partido e cheio de hematomas por causa de uma outra concorrente? A mídia logo apelaria para dizer que eles eram senhores rudes, violentos como todos do Oriente Médio. Culpariam a eles por isso e, talvez, isso pudesse diminuir um pouco das vendas de Rashid. Zilena preferia que todos mencionassem as tradições extremamente seguidas a rixa, como o uso de nijab até mesmo na nova governanta, do que ouvir falarem que eles tinham sido culpados por algo que eles não tinham.
O que era verdade. A única culpada naquilo tudo era eu e Desirèe. Tínhamos causado problemas demais para eles. Acabei concordando em tampar meu corpo todo. Era o mínimo que eu poderia fazer depois de tudo o que causei.
Entramos no jato particular do Senhor Rashid. Seria uma viagem curta, de apenas quatro, cinco horas até o nosso destino. Eu estava curiosa em saber como era a casa do Senhor Rashid e tudo o que me esperava por lá. Minha mãe e Sofia acompanhariam minha jornada pelo jornal? Por que o Senhor Rashid era rico demais para possivelmente estar em toda a mídia.
Isso explicava o trajeto extremamente peculiar que tivemos. Um carro blindado, de vidros escuros. Todos em silêncios por rotas longas e pouco movimentadas, de forma que o motorista parecia correr com o carro 4x4. Entramos no que parecia uma espécie de galpão no qual fomos escoltados para um carrinho de golfe cercado por carros negros até onde estava o jato. Tivemos que esperar pacientemente todos os guardas do Senhor Rashid se movimentarem para suas devidas posições antes que, finalmente, pudéssemos sair, no que, acredito eu, era a segurança máxima da qual o Sheikh precisava.
O jato particular era lindo. Tinha de tudo, desde lanches, a um spa. Todos estavam sentados em silêncio. Mantive-me em meu espaço tentando não causar mais problemas do que eu já tinha causado. Respirei fundo enquanto olhava para frente. O jato logo partiria e estaríamos no ar.
Rapidamente, avistei as nuvens tomando conta do ambiente. Observei o sol que brilhava intenso pelo céu intensamente azul. Parecia uma visão de Deus. Tinha visto a beleza enquanto saia do Brasil, mas, nunca me cansava da visão.
As horas avançavam. Tínhamos saído depois do almoço e a chegada estava prevista para o fim da tarde, quando estivesse anoitecendo. Fechei meus olhos por alguns segundos. Ainda estava incomodada com os tampões no nariz e o olho que parecia coçar agora que devia começar a desinchar.
– Vai perder a visão, Senhorita Agnes. – Comentou Seth enquanto passava por mim indo em direção a mini equipada cozinha. Abri os olhos enquanto me apertava na janela para observar, num tamanho minúsculo a mansão onde eles viviam. Uma belíssima mansão, por sinal!
De longe se percebia luzes e luzes! Tantas luzes que achei que poderia ficar cega! Brilhavam em amarelo dando o ar de que a mansão era feita de ouro! Brilhava tanto que meus olhos quase brilharam juntos! Era gigante!
Deveria caber uns cinquenta quartos naquela construção que tomaria, no mínimo um quilômetro de extensão.
Havia uma cúpula um pouco mais afastada que brilhava em dourado e lilás e parecia dar um conforto sem igual. A cúpula no centro da mansão também brilhava em roxo e parecia extremamente requintada, me lembrando uma daquelas construções de mil e uma noites.
Era tão lindo olhando do alto que quase não percebi o jardim iluminado, parecendo um corredor para se esconder e a piscina que se estendia atrás da mansão em tamanho incalculável brilhando em prata e dourado. A água parecia cristalina e paralisada, tal como eu me sentia. Paralisada por completa afetação. Eu não sabia que seria tão requintado e lindo assim!
Afastamos um pouco da mansão no que pareceu uma pista de pouso. Havia luzes em vermelho vibrante que demonstravam a pista de pouso. Não consegui enxergar mais do que isso, mas acho que foi suficiente para o aviador, que logo parou na imensa propriedade do Sheikh.
– Você não viu nada, se quer saber. É sempre a mesma coisa quando os empregados chegam aqui. – Seth revirou os olhos enquanto fazia esse comentário para mim. Eu não tinha mais voz. Nenhuma palavra conseguia sair dos meus lábios. Eu tinha ficado muda! Completamente sem voz.
Saímos do avião já recebido por um A8 branco no qual entramos. O Senhor Rashid na frente e eu, Zilena e Seth atrás. O trajeto foi feito em completo silêncio no que parecia uma terra batida – ou talvez areia – ainda estava muito escuro para eu enxergar. Saberia no outro dia de manhã.
Quando alcançamos à frente da mansão, percebi que haviam lindos chafarizes brilhando em diversas cores: Anil, Azul, verde, roxo, vermelho, laranja. As águas eram espichadas todas ao mesmo tempo e pareciam encantadoras. A entrada era formada por diversos coqueiros, todos eles com luzes de pisca-pisca de um azul um pouco mais opaco. Eu estava maravilhada! Nunca tinha visto tanta coisa linda, tanta beleza, tanto luxo, tanta coisa cara.
Saímos do carro e seguimos o resto do trajeto a pé. O chão já tinha mudado para um ladrilhado que parecia branco com uma pequena ofuscação lilás. Eu sentia que podia cair morta ali. Como eu ia controlar aquilo tudo como governanta? Perguntas estúpidas como porque eu, um ser tão insignificante tinha sido escolhida para tudo isso, perpassavam a minha mente.
Havia um pequeno córrego no que dividia a escada para subir para a mansão. Alcancei o lado esquerdo, junto de Zilena e o Senhor Rashid, junto de Seth, seguiram pelo lado esquerdo. Quando avistei a mansão novamente, não sabia se chorava por haver tanta desigualdade no mundo, ao ponto de eu encarar uma beleza como aquela, ou se agradecia por poder ver isso.
– Por aqui, Senhorita Agnes. Vamos mostrar alguns quartos para você. Infelizmente, não dará tempo de mostrá-la tudo hoje. Está quase na hora do jantar. Depois você anda pela mansão para conhecer um pouco mais. – Concordei com a fala da Senhora Zilena a acompanhando. Ela estava andando muito rápido.
– Este é o salão de entradas. – Ela disse. Observei o que parecia um teto de, no mínimo, dez metros de altura, com um desenho lindíssimo de figuras geométricas em azul. O salão de entradas era liso. Tinha alguns adornos de plantas ali, umas cadeiras, por lá. Era, como Zilena rapidamente explicou, um local para a visita esperar antes de alcançar a sala de jantar ou, onde, ela costumava oferecer poucas festas. Geralmente, o pessoal ficava ali antes de se encaminhar para o salão de jantares. Só podiam sair do salão de entrada depois que vissem os anfitriões. Era já de praxe. Concordei enquanto era encaminhada para uma lustrosa escada que ficava no meio do salão de entradas que se dividia para o lado direito e esquerdo. Zilena explicou:
– O lado esquerdo todo é para os empregados. Lá vocês têm vossos quartos, seus locais de lazer, suas suítes, para quem é de Islã temos as salas próprias para professar suas orações, bem como uma cozinha própria, caso vocês não queiram descer, ou, se por acaso, pedirmos para alguns dos empregados subir. Geralmente muitos empregados depois que acabam seus serviços, andando pela mansão, enfurecem o Senhor Rashid. Ele acha que eles devem descansar e não ficar andando de um lado para o outro procurando serviço, entende, Senhorita Agnes? – Assenti – Será sua função também lembrá-los de seguir para a ala esquerda. – Concordei.
Muita informação, isso era fato, mas Zilena não parecia ainda nem perto de acabar e eu a alcancei em algumas passadas rápidas quando ela começou a subir a escada para o lado direito. Passamos por um extenso corredor. Todas as paredes eram adornadas com luzes amareladas nas paredes pastel com brilhos e faixas de cores vermelho e douradas, que pareciam ouro. Logo percebi que o corredor se dividia em dois abrindo espaço no meio para o que parecia o andar de baixo. Era uma parte debaixo que estava cheia de tapetes bem desenhados e completamente branco nas paredes. Um espaço fino, mas muito adorável. Havia um banco no meio para o que parecia servir para ajoelhar-se. Seguimos pelo corredor esquerdo.
Na parte anterior da divisão, não havia portas, porém, agora que o corredor tinha se dividido dando espaço para a parte debaixo ser visível, havia uma grade nas laterais de ambos os lados, de cor negra, que possibilitava olhar para baixo e analisar o espaço requintado.
As paredes do lado esquerdo do corredor e do lado direito – agora divididos – eram idênticos. Todos em madeira, com espaço para portas com trabalhos em espirais de cor branca. Havia três portas tanto do lado direito como do lado esquerdo. Depois o corredor se fechava novamente e, mais à frente, se encontrava os quartos dos possíveis visitantes, se houvessem visitantes.
– Eu e Rashid dormimos do lado direito. Seth do lado esquerdo. Aqui temos um quarto para ele, uma suíte, uma sala de vestir-se e um quarto de desenhos. Seth gosta de pintar. Costumamos fazer nossas orações juntos nesse espaço abaixo, como a senhorita pode ver. Do outro lado tem o meu quarto e o do Rashid, nossa suíte, meu quarto de vestir e o quarto dele de vestir. Tudo entendido, Senhorita Agnes? – Concordei meneando a cabeça. Eu devia estar com os olhos mega arregalados tentando entender tudo. Zilena estava enlouquecendo-me.
– Mais à frente tem os quartos de visita. Vamos voltar. Você descobrirá as outras partes daqui com calma. Ah, sim, a cozinha também fica embaixo, na ala a esquerda, depois do salão de entradas, do mini-teatro do Senhor Rashid, após o salão de pescas exóticas, também. Ai fica a cozinha. – Havia tudo isso naquele ambiente? Talvez fosse por isso que as governantas duravam apenas um ano com eles! Não tinha como viver em são consciência num local gigantesco como aquele! Como eles não se perdiam?
– O lado direito, depois do salão de entradas, temos o salão do jantar, o quarto dos chás, o salão das orações e o meu salão de retalhos, onde costumo costurar. – Zelena tomou ar e me deu uma rápida olhada. Ela deu um leve sorriso. Deve ter percebido como eu estava assustada, só pode ter sido.
– Não se assuste, Senhorita Agnes. Vou me preparar para o jantar. Hoje a Senhorita janta conosco. Não se acostume, tudo bem, querida? – Ela murmurou rindo no que devia ter sido tom de brincadeira, mas não me pareceu muito. Assenti e logo Zilena ficou séria. – Vá ao seu quarto e troque de roupas. Aproveitarei para explicar aos outros empregados sobre o seu rosto e o que aconteceu. A sua suíte é a de número treze. – Concordei enquanto tentava respirar. Tinha ficado muito difícil fazer uma coisa dessas depois de ouvir falar de milhares de ambientes. Isso porque eu não tinha os conhecidos ainda!
– Te espero em uma hora, Senhorita Agnes. – Disse Zilena e deu um leve sorriso seguindo em direção às escadas que a levariam para seu quarto.
Consegui respirar por mais estranho que parecesse nesse momento, quando pude bufar, perguntar-me onde eu tinha me metido e olhar a escada toda feita com granito, para alcançar a ala esquerda e meu respectivo quarto.
– Não é fácil para ninguém. – Ouvi e avistei uma moça com bochechas gordinhas, mas muito fofas usando um hijab. O dela era de cor preta e deixava à mostra parte do couro cabeludo, evidenciando um vermelho bem chamativo, mas que combinavam perfeitamente com as pintinhas que ela tinha no rosto e os olhos verdes. Chutaria que possuía uns vinte anos. Perguntei-me o que uma garota tão nova estava fazendo ali, como empregada.
– É mesmo? – Perguntei e a jovem sorriu.
– Na minha primeira vez eu desmaiei. – Comentou e eu não pude deixar de ficar levemente sobressaltada com aquela informação. Quase fiz um “oh”.
– Chamo-me Karen.
– Agnes. – Disse e estendi a mão. Meio sem jeito, logo descobri porque, Karen apertou a minha mão.
– Não costumamos apertar as mãos das outras. É uma coisa legal, até. – Sorri. Seria Karen dali? Não. Não era possível. Ela era muito branca, tinha características que não condiziam com a de uma moça do Oriente Médio.
– Desculpe então. – Disse sem jeito. Karen riu.
– Não tem porque se desculpar! Pelo menos você não é como a Vanette. Ela acha que só porque veio do Ocidente, pode fazer como quiser. A Senhora Zilena só a mantém aqui porque ela é realmente muito boa no que faz, se não… – Comentou Karen rindo. – Venha. Vou te levar até o seu quarto.
Não contestei. Não só porque ainda estava tentando respirar, mas porque parecia fácil falar com Karen. Ela parecia ser um pouco de contar fatos, mas parecia ser muito sincera e uma pessoa muito adorável. Gostei dela.
– De onde você vem? – Perguntei e ela virou-se. Deu um largo sorriso.
– Rússia. A Senhora Zilena pode não escolher pelo local de onde você vem, mas a sua casa é bem cheia de culturas e pessoas, Senhorita Agnes. E de onde você é? – Ela perguntou.
– Brasil. – Respondi timidamente.
– Lá é bom? – Fiquei feliz que Karen não tivesse nenhum comentário tenebroso sobre o lugar de onde vim. As pessoas só sabiam falar mal de lá, das roupas de lá. Talvez só falassem bem da terra fértil, da água, dos meios naturais. No mais, éramos um povo que todos tinham opiniões completamente errôneas.
– É um lugar onde você pode ser como quiser, que ninguém irá te julgar muito. Pelo menos não abertamente.
– Parece bom. – Comentou Karen. Sorri.
– É muito bom.
Rapidamente alcançamos o que parecia ser o quarto número treze. A porta, tal como igual à outra ala, era branca com espirais desenhados sobre ela. Karen me deu um tímido “tchau” enquanto saia para seu quarto, que acho que era 11 se não fosse 17. Observei o número 13 na minha porta. Alguns achavam que era um número sombrio, outros da sorte. Será que a Senhora Zilena estava querendo dizer que tudo dependia do meu ponto de vista?
Não, claro que não. Ela não acredita nessas coisas. Ninguém daqui acredita.
Abri a porta enquanto adentrava meu quarto. Ele era fofo. Não sei se haveria palavra melhor para descrevê-lo. Havia uma cama com dossel de cor lilás, com cortinas pendendo pelas laterais da cama na mesma cor. Tudo no quarto tinha a tonalidade de lilás: Desde a colcha, com pequenas florinhas lilás, até a fechadura do guarda-roupa que me pertencia, ou, até mesmo, os tapetes pelo quarto, que davam um acabamento retrô e muito fashion. As paredes eram extremamente brancas, dando ao quarto um ar calmo e natural. Um local que, certamente, eu gostaria de continuar por um bom tempo.
No entanto, rapidamente me lembrei do compromisso que tinha com Zilena. Não acho que eles toleram atrasos, então abri o armário a procura da minha mala que tinha sumido misteriosamente. Não havia nada ali. Onde tinha vindo parar a minha mala?
Ouvi um toc toc na porta e abri, esperando, ansiosamente, pela minha mala. No entanto, o que recebi foi Karen me entregando outro nijab, esse de cor vermelha. Ótimo. Quantos dias eu teria que passar com a veste que me cobria quase tudo? Não estava gostando disso. Nem um pouco.
– É só por enquanto, enquanto seu nariz ainda está com tampões. – Argumentou Karen e eu concordei, com um meio sorriso, sem jeito, enquanto voltava para o quarto indo ao banheiro.
O banheiro parecia um comprimento do quarto. Era revestido de mármore branca com desenhos no próprio mármore, também em branco. Havia um espelho gigantesco e uma pia maior ainda, com todos os tipos de maquiagem, um secador, toalhas perfumadas. Me senti quase num spa. Tinha uma banheira e um chuveiro. Onde estávamos? Em alguns sonho? No céu?
Despi-me da veste negra percebendo meu corpo. Havia um hematoma na barriga que eu não me lembrava de como tinha conseguido. Olhando no espelho, meu rosto continuava um alien como antes. Acho que eu seria ótima para assustar criancinhas a noite. Nem estava desinchando!
Tomei meu banho rapidamente, sem ter tempo de desfrutar da água quente, dos adoráveis óleos de banho ou hidratantes. Coloquei o nijab vermelho, escondendo meu cabelo volumoso por baixo dele – acho que era a única coisa que realmente valia a pena – esconder o cabelo, a juba, naquele salvador de cabelos.
Respirei fundo. Estava preparada. Podia ouvir Zilena falando mais algumas vezes, tentando me explicar mais sobre a mansão. Sai do quarto, fechando a porta com um bufar espontâneo e singelo. Estava cansada, isso era verdade. O dia tinha sido intenso, rápido, sem freios. No entanto, ele ainda não tinha acabado. O dia continuaria. Agora era o jantar.
O que me esperava. O que me aguardava. Meu algoz.