Capítulo 4
Genevieve Fontainelles
Conhecerei finalmente aquele homem enigmático, com olhos negros penetrantes que buscam decifrar minha alma. A barba mediana e o cabelo quase na altura do ombro dão um ar sedutor a imagem que havia formado em minha mente.
Quando me apresso a me levantar noto que ele perde tempo demais observando todo meu corpo sem nenhum pudor.
— Boa noite — cumprimento.
Ao invés dele fazer o mesmo, leva minha mão aos lábios e me faz sentir um arrepio em todo meu corpo.
— Buona notte — diz em italiano.
Sua voz rouca e sedutora fazem meus pelos eriçarem e me perco novamente em seu olhar intenso até Romeo quebrar nosso contato.
— Sottocapo, está é a signorina Genevieve Fontainelles.
Percebo como ele possui respeito com "chefe".
— Signorina, este é o braço direito do chefe, signor Giovanni Barletta.
Nome imponente.
Ele poderia apenas ter dito o nome, mas ao invés disso tentou dar ênfase ao sobrenome.
— É um prazer finalmente conhecê-lo, o senhor Romeo me adiantou o assunto e falou muito bem sobre o clã, por favor, sente-se.
Nos sentamos, mas sou interrompida por Romeu que segura minha mão e a leva aos lábios dizendo:
— Me perdoe, signorina, mas preciso ir, o dever me chama, com licença, senhor.
Noto que o Sottocapo está irritado com a cena que presenciou, parece ser um homem possessivo, embora eu não seja nada dele.
Era apenas uma bebida e depois iriamos cada um para sua casa, mas ele faz um questionário completo sobre como atuo e o que faço, se estou disposta a expandir meus negócios e o que eu oferto sobre travessia.
Eu possuo alguns homens de confiança do meu “avô” que atende essas necessidades e nunca são pegos, porque o foco são os destinos das armas e não quem atravessa, ou não teríamos provas suficientes para prender os verdadeiros culpados.
No final do dia eu respiraria aliviada pela ajuda em derrubar mais um, mas parece que nunca tem um fim, em todos estes anos foram tantos alvos que perdi a conta.
O homem à minha frente parece me avaliar constantemente, enquanto comemos ravioli de ervas com carne ao molho branco.
Ele me olha com malicia e desejo, joga bem com as palavras e sinto que se não houvesse pessoas ali ele teria feito algo que talvez eu gostasse. Ele possuía lábia e tem um poder de sedução que deixaria qualquer mulher abalada.
Admito que é um jogo de sedução intenso e bem devagar.
— A maioria das mulheres pedem salada e carne magra. — Ele constata e sorrio tentando parecer interessada.
Eu até estou com fome, mas não é o tipo de envolvimento que quero com um "mafioso".
— Não sou a maioria das mulheres, signor Giovanni.
Sei que ele está avaliando todas as minhas reações, posso avaliar isso pelo ambiente que estamos, porque assim que ele decidiu que jantaríamos ali todos os clientes foram retirados e os seguranças dele entraram.
Estou sozinha com ele e meus seguranças estão longe para não me fazer de alvo.
— Concordo, mas não precisamos de formalidades aqui. — Ele sorri de uma forma muito sexy.
Por que ele tem que ser tão sedutor e intenso?
Prevejo que terei um problema.
— Então por que todos os clientes saíram e estamos jantando com seus seguranças? — Elevo a taça para os homens na mesa e depois para os que estão de pé na porta.
— No ramo que trabalho todo cuidado é pouco.
Mordo o lábio e isso não passa despercebido por ele.
— Eles cuidam de nós para que nada aconteça e seu segurança não chegue tarde demais.
Ele parece saber do Adam, acredito que ele foi indiscreto.
— Aprecio seu cuidado, mas mesmo sabendo me cuidar sozinha ele é minha sombra para todos os lugares.
Ele estreita os olhos tentando entender se dormia com Adam.
Homens são previsíveis demais.
— Dispense sua sombra! — ele exclama e não soa como um pedido, mas uma ordem.
Não posso dizer não ou ele mudará de ideia sobre nossa "parceria", então pego o celular e ligo para o segurança.
— Boa noite, Adam, você foi descoberto e conversamos amanhã sobre isso, mas agora está dispensado. O senhor Giovanni cuidará da minha segurança e me levará até meu quarto.
Ele ouve meu pedido e sabe que sei me cuidar.
— Sim, senhora, se precisar me ligue que estarei acordado.
Sorrio fraco, engulo em seco e concordo.
Sei que é um risco que estou correndo, mas não acho que ele ousará fazer algo ainda mais sabendo quem eu sou.
Desligo o celular e noto seu sorriso vitorioso em sua face.
Acredito que ele gosta de ser obedecido, mas ele que não se acostume com isso.
— Obrigado, eu gosto de ofertar segurança a todos com quem faço negócio, embora meu antigo contratante seja uma exceção — confessa e por um segundo posso sentir que ele está realmente preocupado com minha segurança.
— Agradeço sua segurança, mas não costumo aceitar isso de estranhos e como mal nos conhecemos creio que para construirmos uma relação sólida precisaremos de tempo.
Ele concorda, mas não sei dizer se gostou da minha resposta.
— Eu já terminei, vamos falar de negócios? — pergunto um pouco receosa, afinal ele não gosta de ser contrariado.
— Claro, mas gostaria de falar sobre a sua disponibilidade, tenho vários clientes e eles sempre fazem pedidos grandes, sou o intermediário entre eles e o produto. Seu antecessor viajava alguns dias ou uma semana no máximo, sei que tem outros clientes e respeito isso, mas creio que os clientes que terá serão satisfatórios.
Pego a taça e bebo o resto do líquido.
Ele estende a mão para pedir outra.
— Outra bebida?
Nego balançando a cabeça.
— Não, obrigada, estou satisfeita.
O garçom espera ser liberado.
— Obrigado, traga a conta, por favor.
O garçom se afasta e volto minha atenção à Giovanni.
— Está entendendo onde quero chegar?
— Sim, entendi, quer uma negociadora de armas em tempo quase que integral. Sei que meus lucros serão mais do que satisfatórios e posso trazer um dos meus associados para negociar.
Eu não trabalho sozinha, meu “avô” possui associados que ajudam em certas etapas com os clientes no mundo todo, mesmo que eu seja a palavra final e o primeiro e último contato com o cliente, não tem como estar em todos os lugares.
— Não trabalho com associados, apenas com a pessoa que comanda o negócio, primeiro quero avaliar algo antes de pedir que vá amanhã no quartel e aí irei passar todos os detalhes pertinentes. — Ele faz uma pausa, retira um pedaço de papel do bolso e me entrega. — Eu procuro há algum tempo um bom negociante de armas, nenhum me passou a segurança que me passou em menos de duas horas de conversa e nenhum tem o seu prestígio ou o sobrenome do seu avô. Acredito que a parceria é quase certa, só precisamos acertar os detalhes e saber se aceita as condições exigidas.
— Obrigada pela confiança, faremos o melhor possível para atendê-lo. — Quando percebo já tinha falado e ele entende o duplo sentido da frase. Abro o papel e começo a lê-lo depois concluo: — Isso é o que precisa para um primeiro momento, assim que chegar no meu quarto irei ver como anda a agenda, preços, datas e tudo que for pertinente a entrega.
Sei que preciso passar para os associados alguns clientes, focar nele além de ser o meu objetivo é a minha missão e ele está me ofertando isso.
— Amanhã cedo pedirei a um dos seguranças para entregar uma planilha com tudo que há nesta lista...
— Não — diz me interrompendo. — Só trato de negócios pessoalmente.
Concordo com um leve aceno.
— Me diga a hora que meu motorista irá buscá-la, tenho algumas apresentações antes.
— Avisarei, mas como farei isso?
Ele estende a mão.
— Me dê seu celular — ordena e entrego o aparelho.
Estendo o dedo para desbloqueá-lo, ele digita algo e depois me devolve.
— Pronto, tem meu telefone pessoal na sua agenda.
Ele é estranho, não parece de fato um membro da máfia.
— Obrigada.
Ele olha no relógio e se levanta.
— Vamos? — pergunta e pela forma como olha o relógio deve estar atrasado para algum compromisso.
— Irei pedir que Adam venha me buscar, não precisa se incomodar, acredito que tem algum lugar para ir.
Ele balança a cabeça em negativa e espera me levantar.
— Não, primeiro quero levá-la em segurança até o resort, depois irá me passar o orçamento que pedi na lista e se eu gostar do que receber vemos o próximo passo.
Ele parece confiante e não há nada no meu quarto que entregue meu disfarce, mas não vejo isso como uma boa ideia.
Estou encurralada e se não entregar um bom orçamento falho na minha missão.
— Vamos então.
Ele não me deixa pagar metade da conta, me leva até o carro e abre a porta para mim. Um dos seguranças fortemente armado entra no banco do passageiro, enquanto os demais seguranças seguem no carro da frente.
É estranho estar no mesmo carro que Giovanni, nunca precisei me expor tanto em uma missão como estou fazendo com ele, talvez seja esse o motivo de estar apreensiva, mas tento não transparecer.
— Esperem aqui — diz assim que o carro para.
Ele abre a porta e me ajuda a sair do veículo, me acompanhando até meu quarto. Estendo a mão e dou sinal para que os rapazes não se intrometam, então abro a porta e o convido para entrar.
— Entre, por favor.
Giovanni entra e estremeço ao ficar sozinha com ele, pois não deveria estar sendo tão rápido essa interação próxima. Fecho a porta atrás de mim, aponto para a mesa e ele se senta enquanto pego o notebook e me sento em seguida na sua frente.
— O cliente que pediu estas armas específicas precisa de todos os itens para a próxima lua cheia, é um tempo razoável para a quantidade pedida. Receberá a porcentagem que pediu para a compra, o carregamento será entregue em um porto a escolha do cliente e depois farei a entrega. Não vai negociar diretamente com o consumidor final, essa é a minha função.
Concordo balançando a cabeça.
— Submetralhadoras, granadas, C-4 e mísseis, além de drones de longo alcance.
Monto uma planilha e começo a pesquisar, preço e rapidez em entrega. Ele não fala nada apenas fica me vendo trabalhar, após procurar com todos os meus contatos e as listas atualizadas que sempre tenho na nuvem, monto a quantidade, valores, prazo de entrega e valor final. Não é difícil fazer este trabalho, porém é interessante como precisamos conquistar o cliente.
— Aqui, tenho três opções para o seu cliente, o primeiro fornecedor oferta tempo e demanda, porém o valor é maior; o segundo oferta qualidade e preço razoável, o último oferta qualidade e tempo, porém o preço é duas vezes maior que os demais porque a entrega é bem antes do prazo exigido, dando uma margem razoável de atraso.
— Perfeito, irei falar com o cliente e depois negociamos o que ele decidir. — Ele me encara novamente me devolvendo o notebook, encaminho a planilha e fecho o notebook. — Vamos a parte que me interessa, possuo uma vasta lista de clientes e todos recebem o produto na data estipulada com a qualidade esperada. Amanhã irei passar os detalhes de cada um dos negócios e se aceitar o emprego precisamos rever o local que irá morar, terá uma pista de pouso sempre aberta para que possa viajar desde que me avise quando vai e quando volta, não gosto de surpresas.
— Está bem, amanhã conversamos melhor sobre essa função e se estiver ao meu alcance fechamos negócio.
Ele se levanta da cadeira e penso que está indo embora.
— Por mim está perfeito, me avise a hora que o motorista virá buscá-la. Romeu me falou que tem quatro seguranças e aqui temos um código, todos meus funcionários possuem uma segurança especial, gostaria que siga este código também se aceitar.
É arriscado demais, mas pelo menos eu terei mais liberdade e poderei enviá-los para cuidarem dos associados.
— Irei pensar no assunto, não costumo trabalhar assim. — Eu me levanto e fico na sua frente.
Seus olhos possuem um brilho que antes não havia notado, inclina o corpo e beija o canto da minha boca.
Um arrepio transpassa por todo o meu corpo e involuntariamente acabo fechando meus olhos. Posso sentir seu hálito quente tocar minha bochecha, ele afasta o cabelo do meu pescoço e beija a pele. Meu corpo reage ao seu toque e engulo em seco porque sinto coisas que não deveria.
— Buona notte, mia perla preziosa — sussurra perto do meu ouvido.
Meu coração começa a acelerar, tenho que controlar as emoções ou perderei o controle.
Deveria ter arrumado um namorado ou algo para me satisfazer antes de começar esses joguinhos.
— Irei esperar ansiosamente sua ligação. — Ele se afasta e lentamente abro os olhos.
Sei que estou vermelha e sem graça.
Levo Giovanni até a porta e antes que possa abrir ele me vira para encará-lo.
— Espero poder provar seus lábios em breve, gosto de misturar prazer com negócios é mais excitante. — Seus lábios roçam os meus e posso sentir como ele exala masculinidade e muito autocontrole, tudo isso unido de sedução.
Não desvio o olhar e mal sinto as minhas pernas.
Ele abre a porta, passa por mim e sorrio ao constatar que ele aprecia e muito o jogo de sedução.
Esta é a hora da minha cartada.
Dou dois passos e paro na soleira da porta com uma distância ínfima entre nossos corpos.
— Eu não misturo prazer com negócios, signor.
Ele sorri de lado e nem sei se consigo resistir a esse charme, depois passa a língua nos lábios e sei que isso é uma provocação.
— Gosto de mulheres difíceis, gosto do jogo que fizemos e acredito que vai ser muito interessante nossa parceria. — Toca meus lábios com a ponta do polegar.
— Eu não sou como as mulheres que descarta após usá-las em sua cama, mas também não sou do tipo que me caso, vai ter que fazer melhor que isso para me levar para cama.
Ele começa a rir como se achasse graça disso.
— A cama é uma consequência, o jogo é que faz com que tudo valha a pena e temos bastante tempo.
Sorrio com sua confiança exacerbada.
— Boa noite, senhor Giovanni.
— Boa noite, Genny, gosto deste nome, ele combina com você. — Ele se afasta enquanto fico ali com o coração acelerado, sentindo a falta de controle do meu corpo.
Estou excitada e não deveria, jamais tive um cliente tão ousado, ainda mais sendo quem ele é.
Tenho que rever este caso com o máximo cuidado para que a emoção não tome o lugar da razão...
Preciso diferenciar melhor Genevieve de Kathleen, ou estarei perdida antes mesmo de completar a missão.